Mateus


Os quatro Evangelhos
O prólogo do terceiro livro do Novo Testamento nos informa das tentativas, talvez numerosas, dos cronistas dos primeiros séculos da era cristã, desejosos de redigir um resumo da vida terrena do Senhor Jesus.

Mas para comunicar-nos esse acontecimento de importância primordial, era desígnio de Deus escolher quatro testemunhas: Mateus, ex-cobrador de impostos (Mateus 9:9); Marcos, o discípulo de Pedro (I Pedro 5:13); Lucas, o médico (Colossenses 4:14) e João, o pescador da Galiléia (Marcos 1:19). Esses quatro escritores sagrados apresentam-nos Jesus Cristo sob quatro ângulos diferentes:

Mateus - Jesus, o Rei dos judeus 
Marcos - Jesus, o Servo
Lucas - Jesus, o Filho do homem
João - Jesus, o Filho de Deus

Necessidade dos Evangelhos
Durante os primeiros anos da Igreja primitiva, as comunidades cristãs não tinham possibilidade de ler um relato da vida do Senhor Jesus na terra. 

Tinham que se contentar com a visita ocasional das testemunhas de Sua crucificação e de Sua ressurreição; empenhavam-se em sua marcha na carreira cristã, segundo os ensinos das Epístolas que lhes eram pessoalmente dirigidas. 

Entretanto, era evidente que os discípulos, que haviam sido os privilegiados companheiros do Mestre durante Seu ministério terreno, só poderiam viver alguns anos mais; só um relato escrito poderia assegurar a transmissão de uma tal mensagem.



Necessidade da inspiração
O Espírito Santo ia prover a essa lacuna, não somente usando os quatro escritores que Ele mesmo escolhera, como também de acordo com a promessa particular do Senhor, lembrando-lhes o ensino pronunciado pelo Filho de Deus (João 14.26). 

Toda a tentativa de imitação só pode empalidecer diante da limpidez e autoridade divinas desses textos inspirados. Os quatro evangelistas estiveram sempre a mercê do poder do Espírito que impregnou em suas mentes o pensamento divino e afastou de sua redação todo o defeito humano ou elemento estranho (confira João 21.25).

O autor
Mateus, o publicano, filho de Alfeu, também chamado Levi (Marcos 2.14) estava assentado na coletoria quando o Senhor o chamou (Mateus 9.9). 

Ele atendeu sem hesitar, deixando seu trabalho para seguir a Jesus. Exemplo frisante de um ato de obediência e consagração na base de uma vocação Mateus foi colocado no número dos doze apóstolos (Mateus 10:3). 

A tradição afirma que Mateus partiu em seguida para pregar o Evangelho na Mesopotâmia; ainda hoje, certas comunidades nestorianas da Ásia ocidental reivindicam o ministério de Mateus.

As circunstâncias da redação
Como publicano, Mateus recolhia impostos em proveito das autoridades romanas, coisa que devia torná-lo impopular entre os israelitas, naturalmente hostis ao ocupante estrangeiro. 

Mas se o Senhor Jesus tinha escolhido Mateus, era antes de tudo para mostrar aos judeus que Ele não tinha vindo chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento (Lucas 5:32).

Na própria casa de Mateus, Jesus afirmou: "Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes" (Mateus 9:12). Mateus era, pois, o instrumento apropriado para comunicar a seus compatriotas a mais trágica mensagem da história: a rejeição do Messias que Israel deveria ter reconhecido e recebido (confira João 1:11).

Ao contrário de outros textos do Novo Testamento, todos escritos em grego, é possível que este Evangelho tenha sido redigido primitivamente em aramaico, provavelmente entre os anos 60 e 70 A.D.


A finalidade do Evangelho
O Evangelho segundo Mateus une o Velho Testamento, que narra sobretudo a história de Israel, ao Novo Testamento, que anuncia a graça divina a todo o mundo.

Do ponto de vista cronológico, Mateus não foi o primeiro livro do Novo Testamento. Entretanto, colocado à frente dos 27 livros da segunda parte da Bíblia, preenche uma função bem determinada: apresenta aos judeus as primícias de uma mensagem destinada a todas as raças.

Isso fazia parte do plano de Deus expresso em diversas passagens: Atos 3:26; 13:46; Romanos 1:16; 2:10, etc.

O tema característico
Uma das frases dominantes deste Evangelho, que nele se encontra 18 vezes, é esta: "Para que se cumprisse o que fora dito”. 

A vinda de Jesus Cristo foi prevista pela totalidade dos profetas; todos os escritos sagrados da antiga aliança fazem alusão a esse fato.

No primeiro, todos os judeus esperavam esse Messias, anunciado pelo Velho Testamento; e a maior parte dos israelitas do século XX ainda O espera. 

Era preciso, pois, que Mateus demonstrasse aos compatriotas que Jesus era exatamente Aquele que haveria de vir: o Filho de Davi (logo, Rei), o filho de Abraão (logo, judeu). O primeiro versículo do Evangelho coloca-nos subitamente diante dessa perspectiva.

Jesus Cristo Rei
Uma única mensagem atravessa todo este Evangelho: Jesus Cristo, Rei dos judeus.

Em Mateus 1 - Ele apresenta Suas credenciais genealógicas de Rei

Em Mateus 2 - o Menino Rei recebe a homenagem dos sábios do Oriente, suscitando a inveja de outro monarca, Herodes.

Mateus 3 apresenta-nos João Batista, o mensageiro e precursor do Rei.

Em Mateus 4, o próprio Jesus Cristo anuncia a Iminência de Seu reino.
O sermão da montanha de Mateus 5-7 revela os princípios fundamentais desse reino.

Os capítulos seguintes (8 e 9) demonstram que esse reino de Deus "não consiste em palavras, mas em poder" (1 Coríntios 4:20); eles relatam uma sucessão de milagres messiânicos.

Os capítulos 10 a 12 descrevem-nos a missão dos enviados do Rei, o assassinato de Seu precursor, e a decisão tomada pelas autoridades eclesiásticas de rejeitar o seu Rei

Mateus 13 traz as parábolas do reino dos céus.



Os capítulos 14 a 16 narram as circunstâncias da rejeição do Messias. Esse tema é ainda mais salientado nos capítulos seguintes (17 a 23), em que Jesus Cristo sobe a Jerusalém; Ele entra em Sua cidade como Rei, montado em um jumentinho (21:5). É aclamado pela multidão, mas proscrito pelos chefes religiosos que, cheios de inveja, planejam matá-lo (21:46;26:3-5).

Depois, dois capítulos proféticos (24 e 25) deixam entrever as circunstâncias que precedem a vinda de Cristo e Seu reino de glória aqui na terra.

O final do Evangelho (capítulos 26 a 28) é inteiramente dedicado à paixão do Rei dos judeus, pregado na Cruz do Gólgota (confira 27:32-37), e à Sua ressurreição dentre os mortos.

Divisões do livro (segundo o tema do primeiro versículo do Evangelho)

1 - Mateus 1:1-16:20 - Jesus Cristo, Filho de Davi. 
O Rei dá aos judeus as provas de que era o Messias. O Senhor havia prometido a Davi um Filho que ocuparia o trono de Israel (2 Samuel 7:12-16). A nação de Israel, porém, não quis aceitar a realeza desse Filho, nem mesmo reconhecê-lo.

2 - Mateus 16.21 - 28.20 - Jesus Cristo, Filho de Abraão.
O Rei rejeitado e crucificado por Israel e pelo mundo. O Senhor havia outrora pedido a Abraão que oferecesse seu filho em sacrifício (Gênesis 22:1-14). 

Abraão recobrou seu filho em uma prefiguração da ressurreição (Hebreus 11:19), recebendo então promessas de bênção para todas as nações, (Gênesis 22:15-19). 

Do mesmo modo, o sacrifício do Filho de Deus, obediente até a Cruz (Filipenses 2:7-8), foi o prelúdio de Sua ressurreição, fonte de bênção derramando-se sobre todas as nações (cp. Mateus 28:19).

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