Como a Igreja Medieval definiu o culto: sacramentos, santos e catedrais





Destaques do Artigo:
⛪ Os 7 sacramentos: Pilares da salvação na liturgia medieval.
🕊️ Missa e transubstanciação: O ápice do culto e suas controvérsias.
🏛️ Catedrais góticas: Símbolos do poder religioso e da arte sacra.

Os 7 sacramentos: Mecanismos de salvação na Idade Média
No culto que a igreja medieval ministrava ao seu povo, a administração dos sacramentos ocupava a maior parte da adoração, especialmente a missa. 

Os sacramentos eram sete:

(1) Batismo,
(2) Confirmação,
(3) Eucaristia,
(4) Penitência,
(5) Extrema Unção,
(6) Ordem,
(7) Matrimonio. 

Pensava-se e ensinava-se que eles constituíam meio de salvação. Não eram meros símbolos ensinando verdades religiosas ou espirituais; ou ainda cerimônias que ensinassem meios de graça dos que tinham fé em Cristo, absolutamente não.

Os simples atos dos sacramentos tinham em si mesmos poder salvador positivo. Eles realizavam sua obra salvadora independentemente da condição espiritual do pecador, da sua fé ou falta de fé. 

Receber o batismo significava ser regenerado; participar da comunhão, era receber a vida de Cristo.

Mas os sacramentos só eram meios de salvação quando ministrados por um sacerdote ordenado pela Igreja.


A missa como sacrifício: Transubstanciação e esplendor ritual
A Missa era o elemento central do culto, o maior dos sacramentos. 

Ela era celebrada, no caso da missa solene, com muito esplendor, por meio de cerimônias, movimentos, vestimentas riquíssimas, música solene, em belíssimos templos; muita coisa só para ser vista e ouvida, tudo com o propósito de produzir uma poderosa impressão no espírito, pelos sentidos.

No século XIII, depois de se ter criado e ensinado, desde muito tempo, que o pão e o vinho usados no sacramento, eram milagrosamente transformados na carne e no sangue de Cristo, a igreja papal adotou a transubstanciação como um dos seus dogmas. De sorte que, este sacramento era repetição real do sacrifício do Calvário.

Cada vez que era celebrada, o corpo de Cristo era partido e seu sangue derramado pelos pecados dos homens.

Receber este sacramento era participar dos benefícios desse sacrifício, e participar alguém do sangue e da carne de Cristo, era receber a vida eterna. 

(Aos leigos era dado somente o pão pelo temor do desperdício do vinho; pois desde que o corpo [pão ou hóstia] continha o sangue, era bastante ao leigo participar do pão).

Pregação negligenciada: O silêncio dos púlpitos medievais
Em virtude de os sacramentos serem colocados em tão grande destaque, a pregação passou para lugar secundário e de muito pouca importância.

Raramente um pároco pregava, pois a maioria do clero era bastante ignorante para pregar. Quando surgiram os frades dominicanos e franciscanos, dedicaram-se muito a essa obra tão negligenciada por parte dos sacerdotes.

O culto era celebrado estritamente de acordo com as ordens prescritas pela Igreja, tanto quanto às palavras, como quanto à forma. Em qualquer parte o rito era celebrado em latim; por consequência, poucas pessoas entendiam o que ouviam na Igreja.


Culto aos santos e relíquias: Superstição e devoção popular
Nos primeiros artigos vimos como os elementos da superstição pagã invadiram, em larga escala, o culto cristão. Esta situação continuou e piorou durante a Idade Média.

O culto dos santos em todas as formas descritas no capítulo VI, dominou inteiramente a religião popular.

A intercessão dos incontáveis santos padroeiros era invocada continuamente visando-se a graças especiais. A Igreja patrocinou o culto de relíquias e a crença nos supostos poderes miraculosos.

As inúmeras histórias sobre os milagres realizados pelas relíquias eram acreditados sem qualquer dúvida.

Como, por exemplo, a do comerciante de Groningen que roubara um braço de uma imagem de João Batista, de um certo lugar, e o escondera na própria casa. Quando um grande incêndio destruiu a cidade, somente a sua casa escapou.

Peregrinações a lugares santos e aos relicários constituíam grande devoção na vida religiosa da Idade Média. Multidões visitavam esses lugares penitencialmente ou para ganhar indulgências ou à procura de restabelecimento de males físicos.

No famoso relicário de Tomas Becket, em Cantuária, e em muitos outros lugares, foram empilhadas verdadeiras fortunas em joias e objetos custosos que constituíam as ofertas dos peregrinos, que despendiam grandes somas, conforme as posses de cada um.


Mariolatria: A Virgem Maria como intercessora divina
O culto da Virgem constituía parte muito importante da religião popular. 

No ensino da Igreja papal nunca se atribuira divindade à mãe de Jesus. Ela, porém, recebia tal consagração e louvor, tão grande culto da parte do povo que pouco faltava para ultrapassar o próprio Deus.

Pensava-se que ela, sendo mulher e mãe, podia demonstrar mais compaixão e graça. E esses atributos o povo não encontrava em Deus Pai e Deus Filho, segundo o ensino dessa igreja.

Deus era apresentado ao povo, principalmente como Criador e Dominador supremo; Jesus era apresentado, particularmente, como juiz muito severo.

De sorte que as massas ignorantes do ensino bíblico convenciam-se de que só podiam encontrar simpatia quando suas orações fossem dirigidas à Virgem Maria.

Considerando-a intercessora e protetora, o povo construiu grandes e custosos altares e magníficos templos em sua honra e promoveu grandiosas festas.


Arquitetura gótica: Catedrais como monumentos da fé medieval
Quem quer que se refira à religião medieval não pode deixar de mencionar os magníficos templos daquele período.

As catedrais e as abadias que os modernos turistas procuram visitar, como muitas outras igrejas paroquiais, apresentam uma expressão bem significativa do sentimento religioso do período medieval.

Pelo número desses suntuosos templos, pelo tamanho, pela beleza arquitetônica, pelo custo ou magnificência, verifica-se a poderosa e grande influência que a religião e a igreja exerceram na vida dos povos daqueles dias.

Os principais edifícios da Idade Média não foram construídos para fins comerciais ou administrativos, mas para a religião.

A importância desses templos também reside no fato de serem as maiores expressões da arte principal da Idade Média.

Desde que a arquitetura foi a arte dominante desse período, e porque a religião era o assunto predominante na mente humana, naturalmente as suas tendências artísticas foram grandemente orientadas e empregadas na construção dessas magníficas catedrais.

O despertar religioso do século XI revelou-se principalmente na construção de igrejas. "A terra despertou da sua sonolência e se vestiu das vestes brancas das catedrais".

Tal movimento prolongou-se por quatro séculos, até que por toda a Europa ocidental havia centenas de suntuosos templos. Para isto contribuíram reis, nobres, bispos, monges e o povo das grandes cidades e dos povoados: todos participaram dessa obra em que o povo demonstrava grande devoção.

No século XI, e grande parte do XII, o estilo arquitetônico dominante foi o normando, assinalado pelo arco redondo, do qual a catedral de Durham é um famoso exemplo.

Na última parte do século XII surgiu o estilo gótico, assinalado pelo arco em ponta (ogiva), estilo que se universalizou pela Europa ocidental e é o estilo característico da Idade Média. Nenhuma outra forma de arquitetura é tão apropriada, tão conveniente ao culto.

É impossível entrar-se num grande templo gótico sem se emocionar, sem ser conduzido a pensamentos graves, à reverência, e sem sentir-se que é um monumento de uma época quando a religião exercia um grandioso poder sobre os homens.




A Igreja Matriz São João Batista (Santa Cruz do Sul, RS)
é um dos maiores templos da América do Sul
em estilo neogótico tardio. (fotos - Andrei Barros)


ÍNDICE
A preparação para o Cristianismo 

A fundação e expansão da Igreja 

A Igreja antiga (100 - 313) 

A Igreja antiga (313- 590) 

A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073) 

A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294) 
18 - O culto da Igreja ⬅️ Você está aqui! 

Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517) 

Revolução e reconstrução (1517 - 1648) 

A era da Reforma (1517 - 1648) 

O cristianismo na Europa (1648 - 1800) 

O Século 19 na Europa 

O Século 20 na Europa 

O cristianismo na América 

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