É com um senso de urgência pastoral que iniciamos este estudo. Tenho a impressão de que a obra do Espírito Santo nem sempre recebe a atenção que merece em nossas vidas e em nossas igrejas.
Às vezes, parece que o nosso justo e necessário foco na obra redentora de Cristo acaba, sem querer, deixando a Terceira Pessoa da Trindade na sombra. Contudo, essa não é a imagem que as Sagradas Escrituras nos apresentam.
Por isso, é de grande importância que nos dediquemos a compreender a vinda e o derramamento do Espírito Santo. Ao longo deste estudo, faremos algumas observações essenciais sobre quem é o Espírito e como Ele atua.
Sabemos que tratados imensos já foram escritos sobre este tema, então nosso objetivo aqui não é esgotar o assunto, mas lançar luz sobre verdades que podem renovar nossa fé e nossa caminhada.
A pergunta que nos guiará é: Como podemos conhecer e experimentar a obra do Espírito Santo de uma maneira verdadeiramente bíblica, sem cair em misticismos ou negligência?
1. O milagre de Pentecostes aconteceu uma vez para durar para sempre
Ao lermos Atos 2 e o relato do primeiro Pentecostes cristão, é natural que um pensamento surja em nosso coração: "Como eu gostaria de ter estado lá!".
Que experiência maravilhosa deve ter sido ouvir o som como de um vento impetuoso, ver as línguas como de fogo e ouvir os apóstolos declarando as maravilhas de Deus em diversas línguas.
Talvez até desejemos que algo semelhante aconteça em nossos dias, pensando que um evento tão espetacular seria uma ajuda poderosa para a nossa fé. É um desejo humano, muito parecido com o de Tomé, que queria ver e tocar para crer.
Contudo, não devemos alimentar esses pensamentos, pois a Palavra de Deus nos ensina que os grandes atos salvíficos da história aconteceram uma única vez. O nascimento, o sofrimento, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo são eventos únicos e irrepetíveis.
O mesmo se aplica à vinda do Espírito Santo no Pentecostes. Aqueles sinais poderosos – o vento, o fogo, as línguas – cumpriram seu propósito e cessaram. Eles não se repetiram e não devemos esperar que se repitam.
Mas o que permanece é o essencial: o Espírito Santo, derramado por Jesus sobre Seu povo, habita na Igreja por todos os séculos. Ele vive em cada crente e continua Sua obra. Os sinais prodigiosos de Pentecostes servem como um memorial eterno do poder do Espírito, que até hoje abranda corações, desata línguas e renova vidas, preparando-nos para a eternidade.
Aplicação
- Substitua a busca por experiências espetaculares pela alegria da presença constante. Em vez de pedir a Deus que repita Pentecostes, agradeça porque o resultado de Pentecostes — a habitação do Espírito — já é uma realidade em sua vida. A maior maravilha não é um evento externo, mas a presença interna e contínua de Deus em você.
- Não meça a ação do Espírito pela intensidade de suas emoções. A obra do Espírito é real tanto nos momentos de grande fervor quanto na fidelidade silenciosa do dia a dia. Ele está trabalhando quando você escolhe perdoar em vez de guardar rancor, quando busca a Palavra mesmo cansado, e quando serve aos outros sem buscar reconhecimento.
- Confie no poder que já lhe foi dado. Os sinais de Pentecostes apontavam para um poder transformador. Esse mesmo poder reside em você. Ao enfrentar uma tentação, um medo ou um desafio, lembre-se de que o mesmo Espírito que desceu com poder em Atos 2 é o seu Ajudador e Consolador hoje.
2. O Espírito Santo se revela na Palavra, não fora dela
Não podemos falar corretamente sobre o Espírito Santo se nos afastarmos das Escrituras. Assim como conhecemos o amor do Pai e a graça do Filho por meio da Palavra, também conhecemos a comunhão do Espírito por meio dela. Como disse J. Calvino, Cristo nos chega "envolto nas vestes das Escrituras". O mesmo vale para o Espírito.
Infelizmente, alguns cristãos parecem pensar diferente. Encontrei pessoas que afirmavam crer no Pai e no Filho, mas sentiam que lhes faltava "algo" do Espírito Santo.
Para elas, o Pai e o Filho podiam ser conhecidos pela Palavra, mas o Espírito precisava ser encontrado através de uma experiência misteriosa, uma vivência inexplicável que elas ainda esperavam.
Isso é um equívoco perigoso. É verdade que os crentes têm "vivências" ou, como prefiro dizer, "experiências". Nós experimentamos a misericórdia do Pai, a graça do Filho e a comunhão do Espírito.
Mas essa experiência consiste em constatar que aquilo que a Palavra revela é verdadeiro em nossas vidas. Sem a fé que se ancora na revelação de Deus, não podemos conhecer nenhuma das Pessoas da Trindade.
Buscar experiências com o Espírito fora da Palavra é andar por caminhos de erro. Por isso, o Catecismo de Heidelberg está corretíssimo ao responder à pergunta "O que você crê a respeito do Espírito Santo?" com uma confissão firmemente baseada na Bíblia: que Ele é Deus verdadeiro e eterno, que me foi dado para me fazer participante de Cristo e de todos os Seus benefícios, para me consolar e para permanecer comigo para sempre.
Aplicação
- Procure a voz do Espírito nas páginas da Bíblia. Em vez de esperar por uma revelação subjetiva e isolada, peça ao Espírito que ilumine seu entendimento enquanto você lê as Escrituras. A experiência mais profunda com o Espírito acontece quando um versículo que você já leu dezenas de vezes de repente salta da página e transforma seu coração.
- Valorize a pregação fiel da Palavra. A pregação expositiva não é apenas um exercício intelectual; é um dos principais meios pelos quais o Espírito Santo fala à Sua Igreja hoje. Vá ao culto com um coração expectante, não por sinais e maravilhas, mas para ouvir o Espírito falar por meio da exposição fiel de Sua Palavra.
- Teste suas "experiências" pela Palavra. Sentimentos, impressões e emoções podem ser enganosos. Se você acredita que o Espírito está lhe dizendo algo, sempre compare essa "direção" com a verdade clara e objetiva das Escrituras. O Espírito de Deus nunca contradirá a Palavra de Deus.
3. No dom do Espírito, o próprio Deus se entrega a nós
Quando dizemos que o Espírito Santo foi "derramado", a imagem é de abundância. Não estamos falando de algumas gotas de bênção, mas de um torrente de bens, uma fonte abundante de tesouros celestiais.
Se lamentamos uma vida espiritual seca, pobre ou morta, a culpa nunca é do Espírito, como se Ele quisesse nos manter em miséria.
A falha está em nós: ou não bebemos com ousadia e fé da fonte que nos é oferecida, ou, por nossos pecados, bloqueamos o canal pelo qual o Espírito deseja fluir em nós. É sempre nossa culpa se não recebemos "graça sobre graça" do Espírito Santo.
É terrível pensar que podemos expulsar o Espírito de nossa vida. Ao fazer isso, estamos expulsando o próprio Deus e deixando Cristo do lado de fora de nosso coração. Pois Deus habita em nós por meio de Seu Espírito.
Como Paulo escreve em Romanos 5:5, "...o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".
O amor e a graça do Espírito são imensos! Pense nisto: Ele, o Santo, escolhe habitar e operar em criaturas pecadoras, fracas e cheias de falhas como nós, que só merecíamos a ira de Deus. Quanta paciência Ele tem conosco!
Constantemente nos opomos à Sua obra, O entristecemos, resistimos e O apagamos. Por natureza, preferimos viver segundo a carne. Devemos nos envergonhar de nosso desamor e ser imensamente gratos por Ele nos ter sido dado com poder soberano para vencer nossa fraqueza.
Aplicação
- Ore com ousadia pela plenitude do Espírito. Não se contente com uma experiência cristã medíocre. A Bíblia nos convida a sermos "cheios do Espírito" (Efésios 5:18). Isso não é uma segunda bênção mística, mas uma entrega diária e contínua ao Seu senhorio, bebendo abundantemente da fonte da vida que já está em você.
- Examine seu coração em busca de "bloqueios". Existe algum pecado não confessado, alguma área de rebelião ou amargura em sua vida? Essas coisas "entristecem" o Espírito e impedem o fluir de Sua graça. Confesse, arrependa-se e peça a Ele que limpe o canal para que Seu rio de vida possa fluir livremente.
- Agradeça pela paciência do Espírito. Quando você falhar, não se entregue ao desespero. Em vez disso, maravilhe-se com a paciência do Espírito Santo que, apesar de suas falhas, permanece com você, pronto para restaurar, consolar e fortalecer. Essa gratidão alimentará sua busca por santidade.
4. O Espírito Santo é uma Pessoa para se relacionar, não uma força para usar
Quando falamos que o Espírito nos foi "dado", precisamos ter muito cuidado. Normalmente, quando recebemos um "dom", pensamos em um objeto, um presente que podemos controlar ou uma ferramenta que podemos usar. Muitas vezes, falamos do "dom do Espírito" como se fosse "algo" que recebemos e que depois opera em nós de forma automática, como um remédio.
Precisamos entender que o Espírito Santo não é "algo", mas alguém. Ele é uma Pessoa. O dom do Espírito é análogo ao dom do Filho. Deus deu Seu Filho para nos salvar; Ele nos deu Seu Espírito para nos governar, consolar, conduzir e renovar. A obra do Espírito é a obra de uma Pessoa em nós.
Recebemos Seu governo, consolo e renovação pela graça, mediante a fé. Não ocorre uma "fusão" entre Deus e o homem. O Espírito permanece Deus, e nós permanecemos humanos. Nenhuma substância divina é infundida em nós.
Ele é uma Pessoa, e nós somos pessoas, com nossa própria responsabilidade e atividade. Por isso, devemos ser cautelosos com analogias.
Muitas vezes, a obra do Espírito foi descrita com imagens impessoais: a seiva que sobe em uma planta, uma faísca elétrica, uma injeção aplicada em um paciente inconsciente.
Embora bem-intencionadas, essas imagens podem fazer mais mal do que bem, pois o Espírito não é uma "força" e o homem não é uma "planta".
Sua ação é pessoal, não natural. Ele não nos trata como objetos, mas nos vivifica, cura e dobra nossa vontade com amor e poder, restaurando nossa liberdade, como afirmam os Cânones de Dordt.
Aplicação
- Mude a forma como você ora ao Espírito. Em vez de pedir "mais do Teu poder" como se fosse uma energia, peça "mais de Ti". Em vez de dizer "usa-me", experimente orar "guia-me", "consola-me", "ensina-me". Relacione-se com Ele como uma Pessoa, não como uma ferramenta.
- Converse com o Espírito ao longo do seu dia. Reconheça Sua presença pessoal com você no trabalho, em casa, no trânsito. Peça Sua sabedoria antes de uma reunião importante. Peça Seu consolo em um momento de tristeza. Peça Seu fruto de paciência quando estiver irritado. Cultive um relacionamento contínuo com Ele.
- Assuma sua responsabilidade na santificação. O Espírito não anula sua vontade; Ele a liberta e a fortalece para obedecer. A santificação é uma parceria. Ele opera em você, mas você é chamado a "desenvolver a sua salvação", a "fugir da imoralidade" e a "revestir-se do novo homem".
5. A obra do Espírito em nós é um milagre poderoso e insondável
A ação do Espírito Santo é, em sua essência, um milagre. E isso significa duas coisas: ela é insondável e é poderosa.
Primeiro, ela é insondável. Ninguém pode esquadrinhar completamente sua origem, seu curso ou seu alvo. Não devemos nem tentar, lembrando as palavras de Jesus a Nicodemos: "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito" (João 3:8).
Os crentes não compreendem perfeitamente como essa obra acontece; contentamo-nos em saber e sentir que, por essa graça, cremos e amamos nosso Salvador.
Segundo, essa obra é milagrosamente poderosa. A criação do universo pela Palavra de Deus foi um milagre de poder. A ressurreição de Jesus dentre os mortos foi um milagre de poder. Da mesma forma, a regeneração de um pecador corrompido, transformando-o em um filho de Deus que crê e se arrepende, não é um milagre menor.
Que consolo imenso saber que podemos contar com o poder onipotente do Espírito Santo! É esse poder que nos faz triunfar sobre o diabo, o mundo e nossa própria carne. É Ele quem nos guardará e nos apresentará sem mancha diante de Deus.
Ao olharmos para nossa fraqueza e para a persistência do pecado em nós, o grito de Paulo em Romanos 7 pode ser o nosso: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?". Mas, pela fé no poder do Espírito, podemos também declarar com ele a resposta: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!".
Aplicação
- Descanse no mistério da sua salvação. Você não precisa entender todos os mecanismos da regeneração para desfrutar de seus benefícios. Se você crê em Cristo e O ama, isso é evidência da obra milagrosa e insondável do Espírito em sua vida. Agradeça a Deus por um milagre que você não pode explicar, mas pode experimentar.
- Enfrente seus pecados mais difíceis com esperança. Há algum hábito, vício ou padrão de pensamento que parece invencível? Lembre-se de que o poder que opera em você é o mesmo poder que ressuscitou Cristo dos mortos. A obra de santificação é um milagre contínuo. Não desista. Confie no poder Dele, que é maior do que a sua fraqueza.
- Substitua a autoconfiança pela confiança no Espírito. O cristianismo não é sobre tentar mais forte, mas sobre render-se mais profundamente. Sua vitória sobre o pecado não virá de sua força de vontade, mas de sua dependência do poder do Espírito que habita em você.