No estudo anterior, exploramos a beleza da graça, e vimos que a palavra grega para "graça" está intimamente ligada a uma palavra que significa "alegria". A graça de Deus é uma fonte inesgotável de alegria.
Isso nos leva a uma conclusão poderosa e, talvez, desconfortável: a alegria autêntica só pode ser encontrada naqueles que vivem pela graça de Deus. Por outro lado, onde a ira de Deus paira por causa do pecado, toda alegria verdadeira desaparece. É impossível viver no pecado e, ao mesmo tempo, desfrutar da genuína alegria do Senhor.
Se pesquisarmos as palavras "alegria", "júbilo" e "regozijo" nas Escrituras, ficaremos impressionados com a frequência com que aparecem. E, provavelmente, ficaremos envergonhados com a falta de alegria que muitas vezes caracteriza a nossa própria vida.
A culpa por essa ausência não é de Deus, mas nossa. Deus deseja que Seu povo viva uma vida alegre. Ele é a fonte de toda alegria verdadeira. A pergunta que nos guia hoje é: Se a alegria é um fruto do Espírito e um mandamento bíblico, por que tantos de nós vivemos uma vida cristã tão desprovida dela? E como podemos recuperar essa força vital para nossa caminhada?
1. A alegria é um mandamento, não um sentimento
O Senhor se agrada em ser servido por Seu povo com alegria. Devemos nos alegrar em Sua graça, no perdão dos pecados e na vida que Ele nos concede. Os justos do Antigo Testamento eram instruídos a se alegrar com as bênçãos do pão, da colheita, de um lar próspero e de uma família crescente.
Essa alegria não era apenas um sentimento íntimo e inexpressável; ela deveria ser manifestada. Lemos nas Escrituras sobre justos que saltavam de alegria, davam gritos de júbilo, cantavam e dançavam na presença do Senhor. Instrumentos como harpa, trombeta, cítara e flauta eram usados para louvar a Deus.
As grandes festas de Israel, com suas peregrinações a Jerusalém, eram momentos de intensa alegria comunitária. Isso não foi uma invenção humana para criar dias de folga; foi uma ordem do próprio Senhor.
Deuteronômio 12:12
E vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas.
Essa alegria não era uma permissão para a libertinagem pagã, mas um convite para comer, beber e celebrar como um povo que se deleita na indescritível graça de seu Deus.
Um dos momentos mais marcantes dessa verdade está em Neemias, capítulo 8. Após o exílio, o povo se reúne para ouvir Esdras ler e explicar a Lei. Ao compreenderem a Palavra, eles começam a chorar, talvez por tristeza por seus pecados. Mas Neemias os interrompe com uma instrução surpreendente:
Neemias 8:10
... não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.
Um povo alegre, que se deleita na graça de Deus, é um povo forte. A alegria no Senhor nos fortalece na luta contra o diabo, o mundo e o pecado. Quando encontramos nossa satisfação Nele, não suspiramos pelos prazeres vazios que o mundo oferece.
Aplicação
- Pratique a alegria como uma disciplina espiritual. Assim como você disciplina a si mesmo para orar ou ler a Bíblia, discipline-se para se alegrar no Senhor. Comece seu dia listando motivos de gratidão. Cante louvores mesmo quando não sentir vontade. A alegria, muitas vezes, é uma escolha que precede o sentimento.
- Transforme sua adoração de dever em deleite. As festas de Israel eram mandamentos, mas eram mandamentos de celebração. Como você pode tornar a adoração em sua igreja menos sobre "cumprir uma obrigação" e mais sobre "celebrar a graça"? Envolva-se de todo o coração, seja na música, na oração ou na escuta da Palavra.
- Use a alegria como sua força na semana. Quando se sentir sobrecarregado no trabalho ou em casa, pare por um momento e lembre-se de quem Deus é e do que Ele fez por você em Cristo. Recorra à "alegria do Senhor" como sua fonte de energia e resiliência.
2. A alegria se aprofunda na pessoa de Jesus
O Novo Testamento transborda de alegria, e não poderia ser diferente. O próprio Evangelho é, por definição, "boa nova". A chegada de Jesus é anunciada como "novas de grande alegria" (Lucas 2:10).
O Evangelho de Lucas, em particular, é muitas vezes chamado de o livro da alegria. O programa de Jesus, anunciado em Lucas 4, é uma agenda de libertação e restauração: boas novas aos pobres, cura aos quebrantados de coração, liberdade aos cativos. Onde essas coisas acontecem, como não haveria alegria?
No capítulo 15, Lucas nos mostra a alegria de um pastor que encontra sua ovelha, a alegria de uma mulher que encontra sua moeda e, culminando, a alegria no céu — a alegria do próprio Deus — por um pecador que se arrepende. A festa que o pai faz pelo filho pródigo que voltou é um retrato da alegria extravagante de Deus.
Embora nunca leiamos que Jesus riu, lemos sobre a Sua alegria. E, mais importante, Ele deseja compartilhar essa alegria conosco. Em João 15, após falar sobre a importância de permanecer Nele como o ramo na videira, Ele diz:
João 15:11
Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa.
A alegria que Jesus nos oferece não é uma alegria qualquer; é a Sua própria alegria. Uma alegria completa, profunda e inabalável, enraizada em uma comunhão perfeita com o Pai. E Ele nos diz que podemos receber e manter essa alegria através da oração: "Pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa" (João 16:24).
Aplicação
- Busque a alegria na fonte certa: Cristo. A alegria que o mundo oferece é superficial e passageira. A alegria que Jesus oferece é profunda e duradoura. Em vez de buscar alegria em circunstâncias, posses ou pessoas, concentre-se em cultivar seu relacionamento com Jesus através da Palavra e da oração.
- Ore especificamente por alegria. Jesus nos convidou a pedir para que nossa alegria seja completa. Inclua a alegria em suas orações. Peça a Deus para encher você com a alegria de Cristo, para que você possa ver o mundo, as pessoas e seus problemas através da perspectiva Dele.
- "Permaneça na videira". A alegria de Cristo flui para nós quando estamos conectados a Ele. O que em sua vida está impedindo essa conexão? Dedique tempo diário para "permanecer" em Sua presença, meditando em Suas palavras e ouvindo Sua voz.
3. A alegria floresce paradoxalmente no sofrimento
Aqui chegamos a um dos maiores paradoxos da fé cristã. Jesus disse aos Seus discípulos que eles seriam perseguidos, mas que deveriam se alegrar precisamente por causa disso.
Mateus 5:12
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
E foi exatamente isso que eles fizeram. Os apóstolos, que enfrentaram dificuldades que a maioria de nós jamais conhecerá, viviam e ensinavam essa alegria desafiadora. Eles se alegravam quando eram insultados, presos e açoitados. Não porque a dor fosse agradável, mas porque a graça de Deus estava sobre eles. Eles se alegravam por serem considerados dignos de sofrer pelo nome do Senhor.
Tiago escreve aos crentes dispersos: "Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações" (Tiago 1:2). Pedro diz: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós... mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo" (1 Pedro 4:12-13).
E o apóstolo Paulo, escrevendo da prisão em Roma, sem saber se seria executado, enche sua carta aos Filipenses com a palavra "alegria", culminando em seu famoso mandamento: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Outra vez digo: alegrai-vos!" (Filipenses 4:4).
Essa não é uma alegria que nega a dor. Paulo fala sobre "sobreabundar de gozo em todas as nossas tribulações" (2 Coríntios 7:4), reconhecendo a presença de ambos. A alegria cristã não depende da ausência de sofrimento, mas da presença de Cristo no meio do sofrimento. É a certeza de que nada pode nos separar do Seu amor que nos permite "rir em meio às lágrimas".
Aplicação
- Reenquadre seu sofrimento. Em vez de ver as provações apenas como interrupções indesejadas, comece a vê-las, como Tiago ensina, como oportunidades para o crescimento da sua fé e do seu caráter. A alegria vem não do problema em si, mas do propósito de Deus nele.
- Lembre-se da recompensa eterna. A alegria no sofrimento é alimentada pela esperança. Quando a vida aqui for difícil, fixe seus olhos no "grande galardão nos céus". Essa perspectiva eterna muda o peso das nossas aflições temporárias.
- Não sofra sozinho. Parte da alegria no sofrimento vem da comunhão com outros crentes que também estão passando por lutas. Compartilhe suas dores e encontre força e encorajamento na comunidade da fé.
4. O pecado é o ladrão da nossa alegria
Se a alegria é tão central, o que a rouba de nós? A resposta é clara: o pecado e a persistência nele. Se andamos por um caminho errado e nos recusamos a voltar, o Senhor esconde Seu rosto. E como podemos continuar alegres sem a luz de Sua presença?
Esta, me parece, é a ferida mortal na vida de muitos cristãos. Deus não deixa uma vida desordenada sem disciplina. Nunca pecamos "impunemente". Mesmo o pecado confessado e perdoado pode projetar uma sombra sobre nossa alegria por um tempo.
Paulo nunca se esqueceu de que havia perseguido a igreja de Deus; talvez essa fosse a sua "espinha na carne". Quando persistimos em um pecado, a alegria se esvai, pois a comunhão com a Fonte da alegria foi quebrada.
No entanto, a boa notícia é que, quando nos convertemos e nos voltamos para o Senhor, descobrimos e experimentamos que a vivificação do novo homem é, em sua essência, "alegrar-se de todo o coração em Deus por meio de Cristo".
Aplicação
- Faça um inventário honesto do seu coração. Existe algum pecado não confessado, algum ressentimento guardado, algum hábito secreto que está roubando sua alegria? O pecado prospera no escuro. Traga-o à luz da graça de Deus.
- Pratique o arrependimento rápido. Quando o Espírito Santo o convencer de um pecado, não demore a confessá-lo e abandoná-lo. O arrependimento não é para reconquistar seu lugar no céu, mas para restaurar a alegria da comunhão com seu Pai.
- Ore como Davi no Salmo 51. Após seu pecado, Davi não orou por sucesso ou conforto. Ele orou: "Restitui-me a alegria da tua salvação". Faça dessa oração a sua quando você tropeçar.
Conclusão
Alguns cristãos parecem ter medo de ser alegres, como se a espiritualidade exigisse uma expressão sombria. Isso é um erro. Um "cristianismo alegre" que busca sua alegria nos ídolos deste mundo é amaldiçoado por Deus. Mas um cristianismo alegre que encontra seu deleite em Cristo é o nosso chamado e o nosso direito.
Se amamos nosso Senhor Jesus, se confiamos Nele como nosso único Salvador e reconhecemos Seus caminhos, podemos viver com tranquilidade e alegria. Podemos nos alegrar em nossa juventude, em nosso casamento, no sucesso do nosso trabalho. Podemos desfrutar dos prazeres "naturais" que o Senhor nos concede — a beleza da criação, o sabor de uma boa refeição, a companhia de amigos — como presentes de Sua graça.
A vida para o povo de Deus é para ser uma festa. Que possamos abraçar essa verdade e buscar ativamente a alegria que nos foi prometida, olhando com esperança para a alegria eterna que nos aguarda no reino de nosso Senhor.
