Como posso ter certeza da minha salvação? Como sei que minha fé é real? Essas são, talvez, algumas das perguntas mais profundas e angustiantes que um cristão pode se fazer.
Em nossa busca por segurança, muitos de nós fomos ensinados, direta ou indiretamente, a procurar por um sinal interno, uma experiência emocional, uma "prova" de que Deus está agindo em nós.
Essa busca, embora bem-intencionada, pode nos levar a um labirinto de incertezas, onde nossa paz com Deus sobe e desce conforme as marés de nossos sentimentos. O apóstolo Paulo, no entanto, nos oferece um caminho diferente em um dos capítulos mais belos da Bíblia, Romanos 5.
Ele escreve uma sequência extraordinária que vale a pena memorizarmos:
Romanos 5:1-5
Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
No centro dessa passagem está uma palavra frequentemente mal compreendida: a "prova" ou, como traduzido aqui, o "caráter aprovado". O que é essa "prova" que nasce da perseverança? Seria o sentimento especial que tanto buscamos ou algo completamente diferente? A resposta a essa pergunta pode revolucionar nossa forma de encarar as lutas da vida e firmar nossa fé sobre uma rocha inabalável.
1. O perigo de buscar um sentimento em vez de um fundamento
Muitas traduções antigas usaram a palavra "prova" (ou palavras análogas como *vivência* em espanhol), o que levou muitos cristãos a interpretá-la como uma experiência íntima, uma percepção na alma, um sentimento de comunhão com Deus. Essa interpretação transforma a vida cristã em uma busca por sensações e emoções que confirmem nossa fé.
O problema dessa abordagem é que ela transfere o campo de batalha do mundo real — das tribulações e perseguições — para o nosso interior.
Em vez de lutarmos contra o pecado e as adversidades, passamos a lutar para "sentir" algo, para encontrar uma validação emocional. Como um teólogo antigo comentou, de forma equivocada, que essa "prova" era um "conhecimento prático obtido por meio de uma atenção minuciosa ao que nos acontece, seja por sensações íntimas da alma ou ideias".
O apóstolo Paulo, no entanto, não nos convida a uma autoinspeção minuciosa para ver se "sentimos" as coisas da maneira certa. Ele nos assegura que os crentes são forjados e fortalecidos *através* das tribulações, não pela análise delas. Quando baseamos nossa segurança em sentimentos, construímos nossa casa sobre a areia. Emoções são passageiras; a Palavra de Deus é eterna.
É essa busca por um sentimento que gera a incerteza que assola tantos crentes. Eles creem em Cristo, andam nos caminhos do Senhor, mas vivem com um medo persistente: "Será que eu realmente conheço a Deus? Eu nunca senti nada especial. Será que meu arrependimento foi profundo o suficiente? Será que minha alegria é grande o suficiente?". Eles esperam por uma experiência marcante para, enfim, terem certeza.
Aplicação
Essa mentalidade pode ser sutil, mas é destrutiva. Pergunte a si mesmo com honestidade:
- Você mede sua espiritualidade pela intensidade das suas emoções durante o louvor ou a oração? Se você não sente um "arrepio" ou não chora, você conclui que Deus não está presente ou que você está espiritualmente frio?
- Sua certeza da salvação oscila com seu humor? Em dias bons, você se sente salvo, mas em dias de secura espiritual ou após cometer um pecado, você duvida de tudo?
- Você se compara com outros irmãos que parecem ter experiências espirituais mais "poderosas" que as suas? Você se sente um cristão de "segunda classe" por não ter uma história dramática de conversão ou uma experiência mística para contar?
Se você se identificou, o primeiro passo é mudar o foco. Pare de olhar para dentro em busca de um sentimento e comece a olhar para fora, para a obra consumada de Cristo na cruz. Sua salvação não se baseia na intensidade da sua experiência, mas na perfeição do sacrifício Dele.
2. A tribulação não produz um sentimento, mas sim um caráter provado
Se "prova" não é um sentimento, o que é então? Uma tradução muito mais fiel ao original grego seria "caráter provado" ou "virtude-provada". O que Paulo está descrevendo não é um processo de autoanálise, mas um processo de forja.
Pense em um soldado. Ele não se torna um veterano experiente refletindo sobre a guerra no conforto do seu quarto. Ele se torna um veterano no campo de batalha, em meio ao fogo e à pressão. Da mesma forma, o cristão se torna um combatente provado na tribulação. A luta prática contra o pecado e o mundo endurece e fortalece o crente.
Como um arbusto que cresce mais forte sob a pressão de uma rocha, os crentes crescem na graça e no conhecimento do Senhor em tempos de afronta e opressão. O professor Greijdanus, ao comentar este versículo, acertadamente destaca que o texto não alude a uma "experiência interna, mas a um ser e parecer virtuoso, a um estado que pode resistir ou que já resistiu à prova".
É um fato histórico e espiritual que a certeza da fé floresce precisamente em dias de tribulação. A opressão não diminui a resiliência do crente; pelo contrário, ela a aumenta e o faz resistir na luta. E onde há essa resistência, ali está o caráter provado. A autenticidade da nossa fé não é verificada em um laboratório de emoções, mas é provada e demonstrada no campo de batalha da vida diária.
Como escreveu o professor Van Leeuwen, a linha de pensamento de Paulo é clara: aquele que foi justificado aprende, na tribulação, a suportar. Essa capacidade de suportar, fruto das tribulações, lhe dá a experiência de que sua fé não se baseia em vão nas promessas de Deus. E assim, ele aprende a olhar com confiança para a glória futura.
Aplicação
Essa verdade muda radicalmente nossa perspectiva sobre as dificuldades. Em vez de fugir delas, somos chamados a vê-las como a academia de Deus, o lugar onde Ele nos fortalece.
- Reinterprete suas lutas: Aquele chefe difícil no trabalho não é apenas um incômodo; é uma oportunidade de Deus forjar em você o fruto da paciência. A enfermidade que te assola não é apenas uma desgraça; é um convite para experimentar a suficiência da graça de Deus.
- Abrace o processo: A formação de um caráter provado não acontece da noite para o dia. É um processo. Não se desespere se você falhar. A perseverança não é a ausência de quedas, mas a decisão de se levantar pela fé a cada vez, confiando na força de Cristo.
- Procure o fruto, não a fuga: Em meio a uma prova, em vez de orar apenas "Senhor, tira-me daqui", comece a orar também "Senhor, o que o Senhor quer me ensinar aqui? Que parte do meu caráter o Senhor está forjando?".
3. A única cura para a dúvida é o evangelho, não a autoanálise
Chegamos então ao coração do problema pastoral: o que dizer àqueles irmãos e irmãs que vivem atormentados pela dúvida porque nunca "sentiram" algo especial? Devemos incentivá-los a um exame de consciência ainda mais profundo? Devemos pedir que se lembrem de alguma experiência marcante do passado?
Não. Fazer isso seria tentar curar a doença com o próprio veneno. Alguém que não confia plenamente no Senhor, como poderia confiar em suas próprias experiências? Alguém que hesita diante do evangelho incondicional, não hesitaria ainda mais ao buscar sinais internos?
Existe um único remédio para quem duvida e se atormenta: o Evangelho incondicional, generoso e real, que oferece perdão a homens e mulheres pecadores! A beleza do Evangelho é que ele não impõe pré-requisitos de experiência ou sentimento.
Não é uma boa nova para pessoas que já se converteram de uma certa maneira ou que são piedosas de um certo jeito. Nós não lidamos com um Deus que perdoa pessoas "boas" ou "espiritualmente sensíveis".
Nós lidamos com um Deus que, como diz Paulo em Romanos 4, "justifica o ímpio". Lidamos com um Salvador que derramou Seu sangue por pecadores, não por pessoas que já se sentem renascidas.
Em nenhum lugar o Senhor nos aconselha a confiar em nosso novo nascimento, em nossa conversão ou em nossa fé. O Senhor nos aconselha a colocar nossa confiança única e exclusivamente em Jesus Cristo. A certeza vem Dele, não de nós.
João 3:16
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
1 Timóteo 1:15-16
Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna.
As experiências e os sentimentos têm seu lugar? Sim, mas eles são frutos da fé, não a raiz. Quem busca experiências antes de ter fé no Senhor Jesus é como alguém que procura um objeto preto em um quarto escuro. Quando cremos em Jesus, vivemos por essa fé e esperamos tudo Dele, só então podemos, de passagem, notar com gratidão os frutos que Ele produz em nós. Mas não nos gloriamos nesses frutos nem nos apoiamos neles. Nossa glória está somente em Cristo.
Aplicação
Se você luta com a incerteza, tome passos práticos para desviar seu olhar de si mesmo e fixá-lo em Cristo:
- Pregue o Evangelho para si mesmo: Todos os dias, lembre-se em voz alta: "Minha salvação não depende de como eu me sinto hoje, mas do que Cristo fez por mim há dois mil anos. Ele é minha justiça e minha paz".
- Memorize as promessas, não os sentimentos: Em vez de tentar recriar uma emoção passada, encha sua mente com as promessas inabaláveis da Palavra de Deus (João 10:28-29, Romanos 8:38-39, Filipenses 1:6).
- Aja com base na fé, não no sentimento: Mesmo quando não "sentir vontade", continue orando, lendo a Bíblia e servindo aos irmãos. A obediência baseada na fé muitas vezes precede o sentimento de alegria. A disciplina da fé alimenta as emoções da fé, e não o contrário.
Conclusão
A jornada cristã proposta por Paulo em Romanos 5 não é um caminho de introspecção ansiosa, mas de gloriosa resiliência. As tribulações não são um sinal do desfavor de Deus, mas o ginásio onde Ele forja em nós a perseverança.
E essa perseverança não produz uma experiência emocional passageira, mas algo infinitamente mais valioso: um caráter provado, testado no fogo, que se torna o alicerce para uma esperança que nunca decepciona.
Hoje, receba o convite para abandonar a busca cansativa por sentimentos e seguranças internas. Em vez disso, olhe para Cristo, o Autor e Consumador da sua fé. Confie em Suas promessas, não em suas emoções.
Abrace a tribulação não como uma inimiga, mas como o ateliê onde o Mestre artesão está moldando em você um caráter que reflete a Sua glória, preparando-o para uma esperança que é tão certa quanto o próprio Deus.