"Glória" é uma palavra que conhecemos bem. Cantamo-la em hinos, recitamo-la em orações. Ela está no final do "Pai Nosso". Mas, como acontece com muitas palavras que nos são familiares, será que realmente compreendemos o seu significado?
Um autor observou que, para a maioria dos cristãos, "glória de Deus" é uma expressão com um sentido muito vago, quase um sinônimo para a incognoscibilidade de Deus, algo grande e misterioso que não conseguimos definir.
Para desvendar esse conceito, vamos começar pelo seu uso no Antigo Testamento. A palavra hebraica para glória, kabod, vem de um verbo que significa "ser pesado", "ter peso". Originalmente, era usada para descrever objetos que impunham respeito por sua massa. Quando aplicada a pessoas, passou a significar "ser importante", "impor respeito", "causar uma forte impressão".
A glória, portanto, era a manifestação visível do peso e da importância de alguém. Quando os filhos de Labão viram a riqueza de Jacó, eles disseram que ele havia adquirido "toda esta glória" (Gênesis 31:1, em algumas traduções). Quando José se revela a seus irmãos, ele os instrui: "Anunciai a meu pai toda a minha glória no Egito" (Gênesis 45:13), referindo-se à sua alta posição e poder.
Jesus usa a palavra nesse sentido ao falar de Salomão "com toda a sua glória" (Mateus 6:29), evocando a imagem de seu esplendor, magnificência e riqueza. Se a glória humana já é tão impressionante, o que podemos dizer da glória de Deus? Como essa realidade do "peso" da presença de Deus pode reorientar nossa vida, tirando o foco da busca pela nossa própria glória passageira e nos voltando para a única Glória que permanece?
1. A glória de Deus é terrivelmente inacessível e maravilhosamente revelada
A pergunta lógica que surge é: podemos ver essa glória de Deus? Podemos entrar no palácio celestial e contemplar a Deus em Seu trono?
A resposta da Bíblia é um retumbante "não". O apóstolo João afirma categoricamente: "Ninguém jamais viu a Deus" (João 1:18). Quando o próprio Moisés, em um momento de profunda intimidade com Deus, pede: "Rogo-te que me mostres a tua glória", a resposta de Deus é clara: "Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá" (Êxodo 33:18-20).
Uma antiga história judaica conta que um imperador romano exigiu a um rabino que lhe mostrasse Deus. O rabino levou-o para fora em um dia de sol forte e disse: "Olhe fixamente para o sol". O imperador respondeu: "Não posso!". O rabino então replicou: "Se você não pode olhar para o sol, que é apenas um dos servos de Deus, como pretende contemplar o próprio Deus?".
A glória pura e direta de Deus é fatal para o homem pecador. É um fogo consumidor. No entanto, Deus, em Sua misericórdia, escolheu revelar Sua glória de maneiras que pudéssemos suportar. No Monte Sinai, Israel viu algo da glória de Deus em meio a trovões, relâmpagos e uma nuvem espessa. "E o parecer da glória do Senhor era como um fogo consumidor no cume do monte" (Êxodo 24:17).
A glória de Deus se manifesta nesse paradoxo: em nuvens e escuridão, que ocultam Sua essência inacessível, e em luz e fogo, que revelam Seu poder e santidade. O Salmo 97 descreve essa manifestação de forma poética: "Nuvens e escuridão estão ao redor dele... Fogo vai adiante dele... Os seus relâmpagos alumiam o mundo; a terra viu e tremeu... os céus anunciam a sua justiça, e todos os povos veem a sua glória".
Aplicação
- Cultive a reverência. Em uma cultura que trata tudo de forma casual, corremos o risco de nos aproximar de Deus com uma familiaridade irreverente. Lembre-se de que você está se dirigindo ao Deus cuja glória é como um fogo consumidor. Isso não deve nos afastar Dele com medo, mas nos aproximar Dele com a devida honra e respeito.
- Aprecie a revelação indireta. Já que não podemos ver a Deus face a face, aprenda a ver Sua glória onde Ele a revelou: na majestade de uma montanha, no poder de uma tempestade, na complexidade do corpo humano. Como diz o Salmo 19, "Os céus declaram a glória de Deus". Passe tempo na natureza, não apenas para relaxar, mas para adorar o Criador.
- Agradeça pelo véu. A inacessibilidade da glória de Deus é uma proteção para nós. Agradeça a Deus por Ele se revelar de forma velada, em porções que podemos suportar. Sua decisão de não nos mostrar Sua glória total não é uma recusa em se relacionar, mas um ato de misericórdia.
2. Jesus Cristo é a manifestação suprema da glória de Deus
Se no Antigo Testamento a glória de Deus foi revelada em fenômenos naturais e teofanias, na plenitude dos tempos, ela se manifestou de forma suprema e pessoal em Jesus Cristo. "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (João 1:14).
Aos olhos do mundo, Jesus não tinha a "glória" de um rei. Isaías profetizou que Ele não teria "parecer nem formosura" (Isaías 53:2). No entanto, para aqueles que tinham olhos para ver, a glória de Deus resplandecia em Suas palavras e em Seus milagres.
O evangelista João, em particular, enfatiza esse ponto. Após Jesus transformar água em vinho, João comenta: "Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele" (João 2:11). Antes de ressuscitar Lázaro, Jesus diz a Marta: "Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?" (João 11:40).
Um vislumbre dessa glória foi dado no Monte da Transfiguração, quando "o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz" (Mateus 17:2).
Mas a plenitude da glória foi concedida a Jesus após Seu sofrimento. Depois de Sua morte e ressurreição, Ele foi "recebido acima na glória" (1 Timóteo 3:16), assentando-se à direita de Deus e recebendo "todo o poder no céu e na terra" (Mateus 28:18). A cruz, que parecia a negação da glória, foi na verdade o caminho para ela.
Aplicação
- Olhe para Jesus para ver a Deus. Quer saber como é a glória de Deus? Olhe para a vida de Jesus. Sua compaixão pelos pecadores, Sua firmeza contra a hipocrisia, Sua submissão ao Pai, Seu amor sacrificial — tudo isso é um reflexo da glória do caráter de Deus.
- Enxergue a glória nos "milagres" do dia a dia. O milagre em Caná manifestou a glória de Jesus. Onde você vê a mão de Deus agindo em sua vida hoje? Uma oração respondida, uma provisão inesperada, uma mudança de coração — veja esses atos como manifestações da glória de Deus em sua vida.
- Abrace o caminho da cruz para a glória. Jesus nos ensinou que o caminho para a glória passa pela humildade e pelo sacrifício. Não busque atalhos. Onde Deus está te chamando para servir, para se humilhar, para colocar os outros em primeiro lugar? Esse é o caminho para experimentar a verdadeira glória.
3. Nós somos chamados a participar da glória de Deus
Esta é uma das verdades mais impressionantes do Evangelho. A glória não é algo que apenas contemplamos à distância; somos chamados a participar dela.
Paulo diz que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23). O pecado nos roubou da nossa vocação original de refletir a imagem e a glória do nosso Criador. Mas, pela fé em Cristo, essa condição é revertida. Agora, justificados, nós "nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5:2).
Essa participação na glória tem um aspecto futuro e um aspecto presente.
No futuro, quando Cristo voltar, participaremos plenamente de Sua majestade e reinaremos com Ele. "Quando o Filho do Homem vier na sua glória... então, o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado" (Mateus 25:31, 34). Essa glória futura é tão imensa que Paulo afirma: "as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Romanos 8:18).
No presente, algo dessa glória já começa a resplandecer em nossa vida. Pela obra do Espírito Santo, estamos sendo transformados. "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" (2 Coríntios 3:18).
Não produzimos glória; nós a refletimos. À medida que fixamos nossos olhos em Jesus, o Espírito nos molda à Sua imagem, e um pouco do Seu "peso" e "importância" começa a ser visto em nosso caráter, em nossas palavras e em nossas ações.
Aplicação
- Viva pela esperança da glória futura. Deixe que a promessa da glória vindoura coloque suas lutas atuais em perspectiva. A dor é temporária, mas a glória é eterna. Essa esperança lhe dará resiliência para perseverar nas provações.
- Fixe seus olhos em Jesus para ser transformado. A transformação não acontece por esforço próprio, mas por contemplação. Quanto mais você olhar para Jesus através da Palavra e da oração, mais o Espírito Santo o transformará à imagem Dele, de "glória em glória".
- Busque a glória que permanece. Nossa cultura nos incentiva a buscar glória humana: riqueza, poder, fama, reconhecimento. Lembre-se do que Pedro diz, citando Isaías: "Toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre" (1 Pedro 1:24-25). Troque a busca pela glória passageira da flor pela busca da glória eterna dos filhos de Deus.
Conclusão
Vivemos em uma era de impressionante glória humana. Dividimos o átomo, enviamos sondas para o espaço profundo. É fácil ficarmos maravilhados com nosso próprio poder. Mas o que é tudo isso comparado à glória de Deus?
Um satélite artificial nos parece fantástico, mas não é a lua, que Deus colocou em órbita, infinitamente mais impressionante? Ficamos tontos com a velocidade de um avião, mas o que dizer da velocidade da luz, viajando a 300.000 quilômetros por segundo?
Diante da glória de Deus, "as nações são como a gota de um balde e consideradas como o pó da balança" (Isaías 40:15). Que possamos parar de buscar a glória humana, que é como a flor da erva, e buscar a única glória que permanece para sempre: a glória de conhecer, refletir e um dia compartilhar a plenitude da glória de nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo.