A solidão é uma das dores mais profundas da experiência humana. Ela não escolhe classe social, idade ou localização geográfica. Encontramo-la tanto no silêncio de um apartamento em uma metrópole superpovoada quanto na quietude de uma casa de campo.
Lemos notícias sobre um idoso de 80 anos que decide cruzar o mundo para viver com sua única filha na Austrália, pois aqui já não lhe restava ninguém. Ouvimos sobre a experiência de um jovem jornalista que, mesmo com suprimentos de sobra, não suportou por muito tempo o isolamento absoluto em uma ilha deserta. A verdade é que não fomos criados para vivermos sozinhos. A ausência de comunhão adoece a alma.
Tragicamente, essa solidão também pode ser encontrada dentro dos muros da igreja. Embora confessemos crer na "comunhão dos santos", a realidade muitas vezes fica aquém do ideal. Pessoas se sentam nos mesmos bancos, cantam os mesmos hinos, mas retornam para suas casas sentindo-se invisíveis e esquecidas.
Um homem idoso que perdeu sua esposa passa os dias em um silêncio esmagador, sem receber uma visita sequer. Jovens lutam com suas dúvidas de fé em segredo, temendo o julgamento de seus próprios familiares. A igreja, que deveria ser um oásis de pertencimento, pode, por vezes, se tornar um deserto de isolamento.
Como podemos, então, combater essa epidemia de solidão e transformar nossa fé em uma força que constrói pontes de verdadeira comunhão, refletindo o coração de um Deus que nunca nos deixa sós?
1. A religião pura que visita os solitários
O salmista expressou a angústia da solidão de forma comovente no Salmo 25:
Salmo 25.16-17
Olha para mim, e tem misericórdia de mim, porque estou solitário e aflito. As ânsias do meu coração se têm multiplicado; tira-me dos meus apertos.
Este clamor ecoa no coração de muitos, desde os idosos que perderam seus entes queridos até os jovens que se sentem deslocados no mundo. E a Palavra de Deus não fica em silêncio diante dessa dor. Pelo contrário, ela nos dá uma direção muito clara. O apóstolo Tiago define a essência da fé prática com palavras inequívocas: "A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações" (Tiago 1:27).
Poderíamos facilmente parafrasear e dizer que o verdadeiro culto a Deus inclui "preocupar-se com os solitários". Não se trata de uma sugestão, mas de uma obrigação fundamental da vida cristã. O Catecismo de Heidelberg, ao definir a comunhão dos santos, afirma que "cada um deve sentir-se obrigado a empregar com amor e gozo os dons que recebeu, utilizando-os em benefício e salvação dos demais".
Isso nos leva a uma pergunta inescapável: o que *eu* posso fazer? É fácil pensar: "Minha pequena visita não vai resolver o problema da solidão de alguém". Talvez não resolva completamente, mas nossa vocação não é medida pelo tamanho do resultado, mas pela fidelidade do nosso amor. O que nos custa dedicar um pouco de nosso tempo e, talvez, um pouco de nossos recursos para aliviar a solidão de alguém? Lembre-se do exemplo de Cristo:
Filipenses 2.4, 7
Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também o que é dos outros... antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo...
Se Jesus tivesse pensado apenas em si mesmo, estaríamos perdidos. Ele ofereceu o sacrifício de Sua vida por nós. Comparado a isso, o que é uma visita, um telefonema ou um ramo de flores? Em cada ato de serviço ao nosso próximo, estamos, na verdade, servindo ao nosso Senhor.
Aplicação
- Identifique alguém em seu radar: Pense em sua igreja ou vizinhança. Quem vem à sua mente quando você pensa em alguém que pode estar se sentindo sozinho? Pode ser um viúvo, uma mãe solteira, um estudante longe de casa ou alguém que acabou de se mudar para a cidade.
- Transforme o pensamento em ação: Não deixe que a boa intenção morra no campo das ideias. Decida hoje tomar um passo prático. Envie uma mensagem. Faça uma ligação. Convide para um café. Ofereça ajuda com uma tarefa prática.
- Ore pelos solitários: Em suas orações pessoais e nas reuniões da igreja, lembre-se especificamente daqueles que lutam contra a solidão. A oração nos sensibiliza para a dor dos outros e abre portas para que Deus nos use como resposta a essa mesma oração.
- Crie uma cultura de inclusão: Em sua igreja, seja intencional em cumprimentar pessoas que você não conhece, especialmente aquelas que parecem estar sozinhas. Convide visitantes para almoçar após o culto. Pequenos gestos criam uma atmosfera de acolhimento que combate a solidão.
2. Vivendo juntos, mas separados: a solidão da alma
Existe um tipo de solidão ainda mais sutil e, talvez, mais dolorosa. É a solidão que se experimenta no meio da multidão, ou até mesmo dentro da própria casa. É a realidade de vivermos lado a lado, compartilhando o mesmo teto e a mesma mesa, mas com os corações a quilômetros de distância.
Conversamos sobre o tempo, o trabalho, as notícias, mas os temas mais profundos da alma permanecem trancados a sete chaves. Pense no caso de duas irmãs que dividiam o mesmo quarto. Uma delas, cheia de dúvidas sobre sua fé, buscou ajuda pastoral. Questionada se já havia compartilhado suas lutas com a irmã, sua resposta foi um "não" categórico: "ela acharia uma tolice". Semanas depois, a outra irmã também procurou o pastor com as mesmas angústias, e deu a mesma resposta: "Nunca falamos sobre isso".
Quantos de nós vivemos essa mesma realidade? Estamos fisicamente presentes, mas espiritualmente ausentes na vida uns dos outros. Por que achamos tão estranho falar sobre o Senhor em nossas conversas cotidianas? É como se o nome de Jesus só pudesse ser pronunciado dentro da igreja ou durante a oração formal. Será que nos envergonhamos do Evangelho?
A ordem de Deus em Deuteronômio para o povo de Israel era clara: as palavras do Senhor deveriam ser o centro da vida familiar. Eles deveriam falar delas "assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te" (Deuteronômio 6:7). Esse princípio não perdeu sua validade. Uma fé que só se manifesta aos domingos é uma fé anêmica, incapaz de gerar a comunhão profunda que aniquila a solidão da alma.
Aplicação
- Quebre o silêncio em casa: Comece de forma simples. Pergunte à sua família durante o jantar: "Pelo que podemos agradecer a Deus hoje?" ou "Alguém tem um pedido de oração?". Compartilhe algo que Deus lhe ensinou durante sua leitura bíblica.
- Seja vulnerável com um amigo de confiança: A comunhão profunda nasce da vulnerabilidade. Escolha um ou dois amigos cristãos e combine de compartilhar não apenas suas vitórias, mas também suas lutas, dúvidas e pecados. A confiança gera confiança.
- Pratique a edificação mútua: O apóstolo Paulo nos exorta: "Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente" (1 Tessalonicenses 5:11). Esteja atento às necessidades dos seus irmãos. Quando vir alguém triste, ofereça uma palavra de consolo baseada na esperança da ressurreição. Quando perceber alguém desanimado, lembre-o das promessas de Deus.
- Evite o "falso papo piedoso": A intenção não é forçar conversas espirituais artificiais. Pelo contrário, é viver uma fé tão integrada à nossa vida que falar de Deus se torne tão natural quanto falar de qualquer outro assunto que amamos.
Conclusão
A igreja é, por definição, a "comunhão dos santos". Onde essa comunhão floresce, a igreja é saudável e a solidão recua. Onde essa comunhão adoece, a igreja adoece junto e a solidão encontra terreno fértil para crescer.
Combater a solidão não é tarefa de um departamento da igreja ou apenas do pastor. É a vocação de cada crente. Começa com um ato simples de serviço: visitar o solitário, consolar o triste, animar o desanimado. Mas vai além, alcançando a profundidade da nossa alma, nos desafiando a derrubar os muros do isolamento em nossas próprias casas e amizades.
Talvez a raiz de nossa falha em criar essa comunhão esteja na falta de uma fé simples e filial, como a de uma criança que confia plenamente em seu Pai. Jesus nos disse que precisamos nos tornar como crianças para entrar no Reino dos Céus. Uma fé assim, desprovida de orgulho e cheia de confiança, é o solo onde a verdadeira comunão pode, finalmente, florescer.
Que o Senhor nos dê a graça de sermos uma igreja onde os solitários encontram uma família, os tristes encontram consolo e os corações distantes se encontram na maravilhosa comunhão que só Cristo pode oferecer.