A Santidade: A Verdade de que Você Já é um Santo por Posição – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

"Santo", "santificar", "santidade". Essas são palavras centrais em nosso vocabulário de fé. Se não nos perguntam o que significam, achamos que sabemos. Mas se nos pedem para defini-las, a resposta não é tão simples. No entanto, é crucial refletirmos sobre elas, pois aparecem com enorme frequência na Bíblia e definem nossa identidade e nosso chamado.

Sabemos, por instinto teológico, que somente Deus é santo em sentido pleno. Mas o que isso significa? Nem os eruditos concordam sobre a origem da palavra. Alguns dizem que significa "brilho" ou "esplendor". Outros, "separar" ou "pôr à parte". E ainda há quem a associe à "plenitude de vida".

A primeira vez que a palavra aparece na Bíblia nos dá uma pista poderosa. É em Êxodo 3, quando Moisés se aproxima da sarça ardente. Deus o adverte: "Não te chegues para cá; tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que tu estás é terra santa" (v. 5). O que tornava aquele pedaço de deserto santo? Não era a areia, mas a presença do Deus Santo. A santidade é a presença de Deus.

Na visão de Isaías no capítulo 6, os serafins clamam: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória". A reação imediata de Isaías é de terror e consciência de sua própria impureza: "Ai de mim! Pois estou perdido... porque os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos".

A partir daí, podemos entender que a santidade de Deus é a combinação de Sua majestade transcendente (Ele é excelso, grandioso, totalmente "outro") e Sua pureza moral absoluta (Ele é o oposto total da impureza e do pecado). Essa santidade é um fogo consumidor para o pecador. A pergunta que nos guia é: como nós, que somos impuros, podemos nos relacionar com esse Deus Santo, e o que significa sermos chamados para sermos santos como Ele é santo?

1. Deus é o Santo de Israel: Fogo consumidor e fonte de salvação

Somente Deus é Santo em Si mesmo. Tudo e todos que são chamados de "santos" derivam sua santidade Dele, por serem colocados em uma relação especial com Ele. Em Sua santidade, Deus é um fogo abrasador para os pecadores. Isaías 10:17 diz: "A Luz de Israel virá a ser como fogo, e o seu Santo, como labareda, que abrase e consuma os seus espinheiros e os seus cardos num só dia".

No entanto, este mesmo Deus Santo, que consome toda impiedade, se torna uma fonte de salvação e bênção para o povo que Ele escolheu e cujo pecado Ele cobriu. A santidade de Deus tem duas faces. Para aqueles em rebelião, é um terror. Para Seu povo redimido, é um conforto imenso.

Ouça a ternura na voz de Deus em Oséias 11:9: "Não executarei o furor da minha ira... porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti". É precisamente porque Ele é o Santo no meio deles que Sua compaixão prevalece.

Isaías, o profeta que mais tremeu diante da santidade de Deus, é também quem mais a celebra como fonte de salvação. Ele chama a Deus dezenas de vezes de "o Santo de Israel". E, como o Santo de Israel, Ele é o protetor e redentor do Seu povo.

Isaías 41:14
Não temas, ó bichinho de Jacó, nem vós, povozinho de Israel. Eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu Redentor é o Santo de Israel.

No Novo Testamento, essa santidade de Deus continua sendo um tema central. Jesus se dirige a Deus como "Pai Santo" (João 17:11). Pedro nos exorta: "Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" (1 Pedro 1:15-16).

E essa santidade divina nos alcança de forma tripla: no Filho e no Espírito Santo. Jesus é chamado de "o Santo, que há de nascer" (Lucas 1:35) e até os demônios O reconhecem como "o Santo de Deus" (Marcos 1:24). E, maravilha das maravilhas, o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Trindade Santa, vem habitar em criaturas pecadoras, fracas e falhas como nós. Quanta paciência e amor são necessários para que o Santo habite no impuro, para nos tornar santos!

Aplicação

  • Aproxime-se de Deus com reverência e confiança. A santidade de Deus exige de nós o que Isaías sentiu: uma consciência de nossa impureza. Mas, porque somos cobertos pelo sangue de Cristo, essa reverência não precisa se transformar em terror. Podemos nos aproximar com confiança, sabendo que o "Santo de Israel" é também nosso "Redentor".
  • Não subestime a santidade de Deus em sua vida diária. Lembre-se de que o Espírito Santo, que habita em você, é Santo. Nossos corpos são templos do Deus Santo. Isso deve nos levar a fugir do pecado, não por medo da punição, mas por amor e respeito a Ele, para não "entristecermos" o Hóspede divino que vive em nós.
  • Encontre segurança na santidade de Deus. Em um mundo inconstante e traiçoeiro, a santidade de Deus é nossa rocha. Porque Ele é santo, Suas promessas são verdadeiras, Seu caráter é imutável e Sua justiça é perfeita. Sua santidade é a garantia da nossa salvação.

2. Você é um santo, quer se sinta como um ou não

Se um pastor começasse seu sermão dizendo "Queridos santos", muitos de nós nos sentiríamos desconfortáveis. Se na escola dominical perguntássemos se existem pessoas santas, a maioria das crianças provavelmente diria "não". Por quê?

Porque somos vítimas de resquícios de um pensamento católico romano. Associamos "santos" a pessoas superespeciais, quase perfeitas, que realizaram grandes feitos ou viveram vidas reclusas em mosteiros. Para nós, "santo" é um título de conquista moral, reservado para uma elite espiritual.

A Bíblia, no entanto, fala de uma forma completamente diferente. Paulo dirige suas cartas "aos santos que estão em Roma", "aos santos em Corinto". Ele organiza coletas para os "santos pobres em Jerusalém". Para Paulo, "santo" não é uma descrição do desempenho moral de alguém, mas da sua posição em Cristo.

Fomos escolhidos Nele antes da fundação do mundo "para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor" (Efésios 1:4). O significado fundamental de "santo" na Bíblia, quando aplicado a nós, é: pertencente ao Deus Santo.

Não somos santos por natureza ou por mérito; somos santos em Cristo. Deus, por assim dizer, nos "confiscou" para Si mesmo. Esta é a nossa nova identidade. Isso se aplica não apenas aos crentes, mas também aos filhos da aliança. É por isso que, na fórmula batismal reformada, os pais confessam que seus filhos, embora nascidos em pecado, "são santificados em Cristo e, portanto, como membros de Sua Igreja, devem ser batizados".

Paulo chega a dizer que, em um casamento misto, o cônjuge incrédulo é "santificado" pelo crente, e seus filhos "são santos" (1 Coríntios 7:14). Isso não significa que eles são salvos automaticamente, mas que são separados, trazidos para a esfera da aliança e da bênção de Deus por causa do crente.

Ser santo, portanto, significa ser recebido na aliança que o Deus Santo estabeleceu com Seu povo em Cristo. É um status que recebemos pela graça.

Aplicação

  • Aproprie-se de sua nova identidade. Pare de se ver primariamente como "um pecador". Você é um pecador, sim, mas essa não é mais sua identidade definidora. Em Cristo, sua identidade primária é "santo", "filho de Deus", "membro do corpo de Cristo". Viva a partir dessa nova realidade.
  • Trate seus irmãos na fé como santos. Como mudaria a forma como você interage com outros crentes na sua igreja se você os visse primariamente como "santos", pessoas que pertencem a Deus, assim como você? Isso cultivaria a paciência, o perdão e o amor mútuo.
  • Entenda o significado do batismo. O batismo é o sinal e o selo de que você e seus filhos foram separados por Deus, marcados como Sua propriedade. Lembre-se do seu batismo não como um rito do passado, mas como uma declaração contínua da sua identidade como um santo.

3. Porque somos santos, devemos viver como santos

Nossa posição como santos (o indicativo da graça) é a base para nosso chamado a viver uma vida santa (o imperativo da obediência). Porque fomos santificados em Cristo, somos chamados a viver como santos neste mundo. "Mas, agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Romanos 6:22).

O que isso significa na prática? Significa que, com corpo e alma, como propriedade de Jesus Cristo, devemos e podemos servir ao Deus Santo. Devemos nos consagrar a Ele, porque Ele primeiro se consagrou a nós.

Essa vida santa não significa retirar-se para um mosteiro ou realizar feitos heroicos. Significa, como disse Lutero, que "um sapateiro, um ferreiro, um lavrador, cada um tem sua própria função e trabalho, e, no entanto, todos são igualmente sacerdotes e bispos consagrados, e cada um... deve ser útil e proveitoso para os outros".

Vivemos na comunhão dos santos, como santos, no lugar e na vocação que o Senhor nos deu. Santidade não é separação da vida comum; é separação do mal que está no mundo, enquanto estamos engajados na vida comum. Tiago define a religião pura como "guardar-se incontaminado do mundo" (Tiago 1:27), não retirar-se dele. Positivamente, significa nos entregarmos ao Senhor e ao Seu serviço em tudo o que fazemos.

Aplicação

  • Veja sua vocação como um chamado à santidade. Seja você um professor, um engenheiro, um pai ou uma mãe, seu trabalho diário é o campo onde você vive sua santidade. Faça seu trabalho com excelência, integridade e amor, como um serviço ao Deus Santo.
  • Pratique a separação sem isolamento. Como você pode se manter "incontaminado" pelas valores e práticas do mundo sem se isolar das pessoas que precisam do Evangelho? Peça a Deus sabedoria para ser sal e luz, engajado na cultura, mas não conformado a ela.
  • Lembre-se: sua santificação é um fruto, não a raiz. Você não se torna santo por seus esforços; você vive de maneira santa porque já é um santo em Cristo. Sua identidade é a raiz, suas ações são o fruto. Descanse na sua identidade e deixe que a vida santa flua a partir dela, pela força do Espírito.

Conclusão

A santidade é um conceito profundo e multifacetado. Começa com a própria natureza de Deus, que é majestoso e puro. Essa santidade se manifesta como um fogo consumidor contra o pecado, mas como uma fonte de salvação para Seu povo.

Em Cristo, somos declarados "santos" — não por nossos méritos, mas porque pertencemos a Ele. E, por pertencermos a Ele, somos chamados a viver uma vida de santidade, consagrando cada área de nossa existência ao serviço do Deus Santo.

Que possamos abandonar a ideia de que a santidade é para uma elite espiritual e abraçar nossa verdadeira identidade. Somos um povo santo, chamado para viver de maneira santa, no lugar onde Deus nos colocou, para a glória do nosso Deus Santo.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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