A Perseverança: A Diferença entre Suportar e Prevalecer na Tribulação – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

Quando ouvimos a palavra "paciência", o que vem à sua mente? Para muitos de nós, a imagem é a de alguém suportando silenciosamente uma dificuldade, com os dentes cerrados, esperando que o sofrimento passe. É uma espécie de resignação passiva, uma aceitação de que não há nada a fazer a não ser aguentar.

Essa ideia está tão enraizada que transformamos versículos como "na vossa perseverança, ganhareis a vossa alma" (Lucas 21.19) em um provérbio popular que significa algo como "aguente firme, não se irrite". 

Contudo, essa interpretação esvazia a palavra de seu poder original e a transforma em algo que o Senhor Jesus nunca pretendeu dizer.

A Bíblia nos chama repetidamente à paciência, mas será que estamos entendendo o que Deus realmente espera de nós? 

Em Romanos 5.3, Paulo chega a dizer que nos gloriamos nas tribulações, "sabendo que a tribulação produz a paciência". Como podemos nos gloriar em algo que nos causa dor, e que tipo de "paciência" é essa que nasce do sofrimento?

Neste estudo, descobriremos que a paciência bíblica é muito mais do que uma espera silenciosa. 

É uma força ativa, uma resistência poderosa que não apenas nos ajuda a sobreviver às provações, mas nos fortalece através delas. A questão que nos guiará é: como podemos cultivar essa perseverança bíblica, que é uma força ativa e cheia de esperança, em meio às pressões da vida?

1. A paciência bíblica é perseverança ativa, não resignação passiva

Ao longo dos séculos, a palavra "paciência" adquiriu um tom que nunca teve no original bíblico. Por isso, as novas versões da Bíblia têm feito bem em usar a palavra perseverança, que captura melhor o sentido original.

A palavra grega em questão é hypomonē. Literalmente, ela significa "permanecer debaixo de" ou "manter-se firme debaixo de". A imagem não é de alguém que simplesmente se curva sob o peso, mas de alguém que o sustenta com força, resistindo ativamente à pressão.

Pense em uma mola poderosa. Quando uma força ou peso a pressiona, ela cede, mas sua força elástica permanece. Uma mola fraca se deforma permanentemente, mas uma mola forte suporta a pressão e, assim que a força diminui, ela volta à sua forma original, pronta para suportar mais. A perseverança cristã é como essa mola forte.

Outro exemplo poderoso é o de uma palmeira jovem. Havia um costume antigo de colocar algo pesado em sua copa. Poderíamos pensar que isso impediria o crescimento, mas o oposto acontecia. Sob essa pressão, a planta era forçada a crescer com ainda mais vigor para cima, fortalecendo seu tronco e raízes.

É exatamente isso que Paulo quer dizer em Romanos 5.3. A tribulação não produz uma fraqueza resignada, mas perseverança. A pressão tempera nossa força elástica, nossa resistência espiritual. Alguém que resistiu a muitos sofrimentos tem suas forças de aguante fortalecidas. 

Como uma árvore que, após ser açoitada por muitas tempestades, finca suas raízes mais profundamente na terra, o cristão se torna um veterano provado, que suporta as dificuldades com uma força que vem de Deus.

Aplicação

  • Reavalie suas provações. Como você enxerga as dificuldades em sua vida? Como interrupções irritantes ou como o "peso na palmeira" que Deus está usando para fortalecer sua fé e seu caráter?
  • Mude sua postura de passiva para ativa. Em meio a um desafio atual, identifique uma área onde você tem apenas "suportado". Ore e peça a Deus para transformar essa resignação em perseverança ativa. Isso pode significar continuar a servir com amor mesmo sem reconhecimento, ou manter a integridade sob pressão no trabalho.
  • Identifique onde sua "mola" está fraca. Em que tipo de pressão você tende a "deformar" ou desistir? Seja honesto com Deus sobre sua fraqueza e peça a Ele que o fortaleça especificamente naquela área.

2. A perseverança cristã não vem de nós mesmos, mas da nossa confiança em Deus

É crucial entender que a perseverança bíblica não é a mesma coisa que a resistência pagã ou a indiferença estoica. Os gregos antigos também valorizavam o ideal de se manter firme. Para eles, um herói deveria permanecer em seu posto, mesmo que isso custasse a vida. Era uma questão de honra, de glória pessoal, de força que vinha de dentro.

No livro apócrifo de Macabeus, lemos a história de um certo Rácias, que, para não cair nas mãos dos inimigos, tentou o suicídio.

Ferido, mas vivo, ele se jogou de um muro sobre as tropas inimigas e, em um último ato de desafio, arrancou as próprias entranhas e as atirou contra a multidão. Isso é um heroísmo movido pelo orgulho, e não tem nada a ver com a perseverança cristã.

Da mesma forma, a perseverança cristã é diferente da indiferença estoica. O estoico se "blindava" emocionalmente contra tudo o que pudesse perturbar sua paz interior, refugiando-se em seu próprio espírito como um castelo. Essa passividade e distanciamento não devem ser confundidos com a virtude cristã.

A verdadeira perseverança nasce da confiança no Senhor, que sustenta os Seus. Embora a palavra seja mais comum no Novo Testamento, a ideia permeia o Antigo. O Salmo 27.14 nos diz: "Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor". Essa espera não é passiva; é uma confiança ativa de que a ajuda de Deus virá.

O profeta Isaías expressa essa verdade de forma magnífica:

Isaías 40.29-31
Dá força ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão; mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão.

Nossa força se esgota. A perseverança que depende de nós mesmos inevitavelmente falhará. A perseverança cristã, no entanto, é fruto da fé ("Justificados, pois, pela fé...", Romanos 5.1) e é alimentada pela esperança. Paulo fala do "Deus da paciência [perseverança]" (Romanos 15.5), não porque Deus precise perseverar, mas porque Ele é a fonte de nossa perseverança.

Aplicação

  • Avalie a fonte da sua força. Ao enfrentar um desafio, sua primeira reação é buscar soluções em sua própria sabedoria e força, ou é voltar-se para Deus em dependência?
  • Pratique a "espera ativa". "Esperar no Senhor" não é ficar de braços cruzados. É continuar a fazer o que é certo, confiando que Deus está agindo nos bastidores. Identifique uma situação de "espera" em sua vida e pergunte: "O que significa ser fiel aqui e agora, enquanto confio no resultado a Deus?".
  • Ancore-se na esperança. Em um mundo que diz "é desesperador!", o cristão tem uma esperança firme nas promessas de Deus. Qual promessa de Deus pode sustentar sua perseverança na dificuldade que você enfrenta hoje?

3. A perseverança se manifesta com alegria, mesmo ao sofrer injustiça

Aqui, o chamado cristão se torna ainda mais radical. A perseverança bíblica não é apenas firme; ela pode ser alegre. Em Colossenses 1.11, Paulo ora para que sejamos "fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade, com gozo".

Como isso é possível? A alegria não vem do sofrimento em si, mas da perspectiva que a fé nos dá. Os crentes a quem a carta aos Hebreus foi escrita "aceitaram com alegria o confisco dos seus bens, sabendo que tinham uma herança melhor e permanente" (Hebreus 10.34). A alegria deles estava ancorada na certeza da recompensa eterna, que fazia a perda terrena parecer pequena.

O teste final da perseverança cristã é a nossa resposta à injustiça. Nosso "velho homem" clama por protesto, por vingança. Nossa cultura nos incentiva a "lutar pelos nossos direitos" a qualquer custo. Mas a Palavra de Deus nos chama a um caminho diferente.

Pedro nos diz que é uma graça quando sofremos injustamente por causa da nossa consciência para com Deus. Ele nos aponta para o exemplo supremo:

1 Pedro 2.21-23
Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano; o qual, quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente.

Sofrer injustiça com paciência não significa concordar com ela ou chamá-la de justa. Significa que, em vez de tomar a vingança em nossas próprias mãos, nós a entregamos Àquele que julga com justiça. Confiamos que Deus é o juiz final e que Ele cuidará de nós. Essa é talvez a mais alta e difícil expressão da perseverança cristã.

Aplicação

  • Busque a alegria na perspectiva eterna. Quando uma provação parecer esmagadora, force-se a levantar os olhos do problema imediato e focar na "melhor e permanente herança" que espera por você. A alegria cristã é um ato de fé na bondade futura de Deus.
  • Analise sua reação à injustiça. Pense na última vez que você foi tratado injustamente. Qual foi sua resposta interior e exterior? Você tentou se vingar, guardou amargura ou conseguiu, pela graça de Deus, entregar a situação a Ele?
  • Pratique "entregar a causa" em oração. Quando alguém o ferir, vá a Deus em oração e verbalmente entregue a essa pessoa e a situação a Ele. Diga: "Senhor, esta causa é Tua. Eu confio em Teu justo julgamento e libero meu desejo de vingança". Este é um exercício espiritual poderoso que quebra as correntes da amargura.

Conclusão

A paciência que a Bíblia nos ensina está a um mundo de distância da resignação passiva que imaginamos. É uma perseverança robusta, uma força ativa que nos mantém firmes sob pressão, não por nosso próprio poder, mas pela força que vem de Deus.

Esta perseverança não é sombria e ressentida; ela pode ser acompanhada de alegria, pois está fundamentada na esperança inabalável das promessas de Deus. E ela atinge seu ápice quando, seguindo os passos de Jesus, suportamos a injustiça não com retaliação, mas entregando nossa causa ao Pai, que julga com justiça.

Este chamado não é fácil. Vai contra tudo o que nossa natureza caída e nossa cultura nos dizem. Mas é o caminho para a verdadeira maturidade e força espiritual. É o processo pelo qual Deus transforma a pressão que o mundo usa para nos esmagar na ferramenta que Ele usa para nos fortalecer.

Que possamos pedir ao "Deus da perseverança" que nos encha de Sua força, para que possamos correr com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, o autor e consumador da nossa fé.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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