A Santificação: Como Descansar no Dom de Deus e Lutar Contra o Pecado – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

Dando continuidade ao nosso estudo sobre santidade, chegamos a uma palavra intimamente ligada a ela: santificação. Em termos simples, santificação significa duas coisas: a libertação do domínio do pecado e a consagração da vida ao Senhor.

Se formos honestos, perceberemos que, em geral, damos muito mais atenção à justificação do que à santificação. Gostamos de ouvir sobre a justificação porque ela é puro consolo. Entendemos que por ela Deus, por pura graça, nos absolve da culpa e do castigo, nos declarando justos em Cristo. Isso nos traz paz.

Mas quando ouvimos a palavra "santificação", o sentimento muda. Imediatamente pensamos: "Quanto ainda falta! Quanta imperfeição há em minha vida!". A santificação parece nos confrontar com nossas fraquezas e impurezas. Por isso, a santificação já foi chamada de "o capítulo esquecido da Igreja". Preferimos ouvir sobre o que Deus fez por nós do que sobre o que Ele espera de nós.

Este desconforto, no entanto, nasce de um grande mal-entendido. Muitos cristãos pensam que a justificação é obra de Deus, mas a santificação é nossa tarefa. A ideia é: Deus nos declara justos, e agora cabe a nós, em uma luta que dura a vida toda, purificar nosso próprio coração e nossa vida.

Felizmente, essa visão não está de acordo com as Escrituras. Se a santificação dependesse de nossa própria iniciativa e força, que esperança teríamos? Somos tão fracos que não conseguimos ficar de pé por um momento sequer. A pergunta que nos guia é: como podemos entender a santificação de uma forma que nos liberte do fardo do legalismo e da paralisia do desespero, capacitando-nos a viver uma vida que agrada a Deus?

1. A santificação é, antes de tudo, um dom de Deus em Cristo

As Escrituras nos ensinam que não apenas a justificação, mas também a santificação é um dom e uma obra de Deus. É o Deus Santo quem santifica nosso coração. É Jesus Cristo quem é a nossa santificação. É pelo Espírito Santo que somos santificados.

O Santo Batismo nos ensina essa verdade fundamental. Ao sermos batizados, somos ensinados a "buscar nossa purificação e salvação fora de nós mesmos". Onde, então, devemos buscá-la? O batismo aponta para Jesus Cristo e para o Espírito Santo.

O formulário do batismo reformado afirma que, ao sermos batizados em nome do Espírito, Ele nos assegura que "quer morar em nós e nos santificar como membros de Cristo, concedendo-nos o que em Cristo temos, a saber: a lavagem dos nossos pecados e a renovação diária da nossa vida".

Em Cristo, não temos apenas o perdão dos pecados (justificação), mas também a renovação da vida (santificação). Temos não apenas a absolvição da culpa, mas a libertação do domínio do pecado.

As Escrituras confirmam isso repetidamente:

  • Jesus diz em João 17:19: "E por eles eu me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade". Cristo viveu uma vida santa por nós, para que, Nele, possamos ser consagrados a Deus.
  • Paulo escreve em 1 Coríntios 1:30: "Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Nossa santificação não é algo que construímos; é Alguém que recebemos.
  • Em 1 Coríntios 6:11, Paulo diz aos coríntios: "...mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus".

Portanto, a santificação, assim como a justificação, é um dom que Deus nos dá, que temos em Cristo, que nos é aplicado pelo Espírito e que recebemos pela fé. O Evangelho nos grita: não espere a santificação de si mesmo, mas de Deus! Não olhe para sua própria força, mas para o poder de Cristo!

Quando entendemos isso, a pregação sobre a santificação se torna tão alegre quanto a pregação sobre a justificação. Como disse Calvino, separar as duas é "dividir a Cristo". Nele temos ambas.

Aplicação

  • Descanse na sua santificação em Cristo. A sua santidade fundamental diante de Deus não flutua com o seu desempenho diário. Em Cristo, você já é santo e separado para Deus. Comece sua busca pela santidade prática a partir deste lugar de descanso e aceitação.
  • Pare de tentar se santificar por conta própria. A luta pela santidade não é sobre "tentar mais forte", mas sobre "confiar mais profundamente". Em vez de focar em seus fracassos, fixe seus olhos na santidade perfeita de Cristo e no poder do Espírito que habita em você.
  • Aproprie-se do que já é seu. A santificação é como ter uma conta bancária com fundos ilimitados. O dinheiro já está lá. Nosso trabalho é aprender a sacar e usar esses recursos pela fé. Ore pedindo ao Espírito que aplique a santidade de Cristo à sua vida diária.

2. O dom da santificação nos comissiona para a tarefa da santificação

Entender que a santificação é um dom não nos torna passivos. Pelo contrário, nos capacita para a ação. Não existe dom de Deus que não nos deixe com uma missão. Todo dom é também uma tarefa. A nossa posição em Cristo (o indicativo) é a base para a nossa prática diária (o imperativo).

Somos santificados em Cristo; portanto, devemos viver santamente. Nosso velho homem foi crucificado com Cristo; portanto, devemos andar em novidade de vida. Romanos 6 articula essa verdade perfeitamente.

Primeiro, Paulo estabelece o indicativo, o que já é verdade sobre nós em Cristo: "De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (v. 2). E resume no versículo 11: "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor".

Imediatamente depois, ele lança o imperativo, a nossa tarefa: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal... nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus... e os vossos membros a Deus por instrumentos de justiça" (v. 12-13).

Essa tarefa envolve todo o nosso ser. Não se trata apenas de uma santificação "interior". Nosso coração, sim, mas também nossa boca, nossas mãos, nossos pés, nossos olhos — todos os nossos membros foram santificados em Cristo e devem ser apresentados como instrumentos ao serviço do Deus Santo. É isso que Jesus quis dizer quando falou sobre cortar a mão ou arrancar o olho que nos leva a pecar. Toda a nossa vida deve ser consagrada ao Senhor.

Aplicação

  • "Considere-se morto para o pecado". A primeira etapa na luta pela santidade é um ato de fé. Você deve acreditar e se considerar o que Deus diz que você é em Cristo: morto para o domínio do pecado. Quando a tentação vier, declare essa verdade pela fé.
  • Apresente seus membros a Deus todas as manhãs. Comece seu dia com um ato consciente de consagração. Ore: "Senhor, hoje eu apresento meus olhos, meus ouvidos, minha boca, minhas mãos e meus pés a Ti. Usa-os como instrumentos de justiça para a Tua glória".
  • Não faça da santificação um problema, mas uma busca. Como diz Hebreus 12:14: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor". A santificação não é um quebra-cabeça teológico para ser resolvido, mas um alvo para ser perseguido com confiança e dependência.

3. Permaneça em Cristo: O segredo da santificação prática

Um autor contou uma história sobre os veteranos do Rei Carlos XII da Suécia, conhecidos como "Carolíngios". Eles tinham o caráter de seu rei, sua ousadia e seu equipamento. Eram verdadeiros seguidores. Duzentos anos depois, uma nova associação de "Carolíngios" foi formada. Eles estudavam o rei, faziam discursos entusiasmados sobre ele, mas, no final, cada um voltava para sua vida normal. Eles sabiam muito sobre o rei, mas não o conheciam, não lutavam com ele, não tinham seu espírito.

Não existe um perigo semelhante entre os cristãos? Podemos saber tudo sobre Cristo, ter Suas palavras na boca, mas não lutar com Ele, não ter Seu Espírito. O Catecismo de Heidelberg nos pergunta: "Por que te chamas cristão?". E a resposta é uma descrição da santificação vivida: sou membro de Cristo para confessar Seu nome, oferecer-me como sacrifício vivo, lutar contra o pecado e, finalmente, reinar com Ele.

Vemos notícias tristes de líderes cristãos que caem, de escândalos financeiros, de vidas que contradizem a fé que professam. Devemos atirar pedras? Ou devemos reconhecer nossa própria fragilidade e agradecer a Deus por nos guardar, orando por aqueles que caíram?

A verdade é que, em nós mesmos, em nossa natureza, somos fracos e propensos a todos esses pecados. Como, então, somos guardados? Jesus nos dá a resposta em João 15:

João 15:4
Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma не pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.

Somos guardados do mal ao permanecermos em Cristo. Vivendo perto Dele, apegando-nos a Ele pela fé e pela oração. É Ele quem conclui a boa obra que começou em nós.

Aplicação

  • Avalie sua "conexão com a videira". Quão forte e consistente é sua comunhão diária com Cristo? O fruto da santificação (amor, alegria, paz, etc.) é uma consequência direta dessa conexão. Não espere fruto se você não estiver permanecendo.
  • Não confie em sua força de ontem. A santificação exige uma dependência diária e constante. A força que você teve para resistir à tentação ontem não garante a vitória hoje. Cada dia exige uma nova entrega e uma nova busca pela força de Cristo.
  • Lute com confiança, não com convulsão. Sabendo que a vitória final é garantida por Cristo, podemos lutar contra o pecado não com o desespero de quem pode perder o céu, mas com a confiança de um filho que quer agradar ao Pai e mostrar sua gratidão por uma salvação já garantida.

Conclusão

A santificação não é um fardo a ser carregado, mas um dom a ser recebido e vivido. Ela começa com a obra de Deus em nos unir a Cristo, que é a nossa santidade. Esse dom, então, nos capacita e nos comissiona para a tarefa de viver uma vida santa.

Abandonemos a ideia de que a santificação é um projeto de autoaperfeiçoamento. Em vez disso, abracemos a realidade de que é um processo de transformação contínua, impulsionado pelo poder do Espírito Santo, à medida que permanecemos em Cristo.

Que nossa vida não seja apenas uma palestra sobre o Rei, mas uma demonstração do caráter do Rei, para a glória Dele.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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