Todos nós, de alguma forma, buscamos a perfeição. Vemos essa busca em todos os lugares: o atleta que treina exaustivamente para baixar seu tempo em um décimo de segundo, o cientista que trabalha incansavelmente para desvendar os mistérios do átomo, o artista que persegue uma beleza que parece sempre escapar de seus dedos.
Essa busca pela excelência, esse desejo de alcançar o nosso potencial máximo, parece ser algo que Deus colocou em nós. No entanto, vemos também como essa busca pode ser distorcida. O esporte, que deveria ser um jogo, torna-se uma idolatria ao sucesso e ao dinheiro.
A busca por um mundo melhor, como no movimento do "Rearme Moral", que prega "perfeita sinceridade, pureza, desinteresse e amor", acaba se tornando um esforço humanista que ignora a profundidade do nosso pecado e a necessidade de um Salvador.
O que a Bíblia tem a dizer sobre essa busca pela perfeição? Seria ela um ideal inatingível que só nos causa frustração? Ou um alvo real que podemos e devemos perseguir? Como cristãos, como devemos lidar com essa tensão entre a imperfeição que vemos em nós todos os dias e o chamado de Deus para a perfeição?
A partir de agora, vamos explorar o conceito bíblico de perfeição. A pergunta que nos guiará é: Como podemos entender e viver a verdade paradoxal de que, em Cristo, já somos perfeitos, e, ao mesmo tempo, somos chamados a prosseguir em direção à perfeição a cada dia?
1. A perfeição bíblica é uma dedicação sincera, não uma ausência de falhas
Nossa ideia moderna de perfeição geralmente significa "sem falhas, sem erros". Quando aplicamos esse conceito à vida espiritual, rapidamente caímos em desespero ou em hipocrisia. Desespero, porque sabemos que falhamos constantemente. Hipocrisia, porque tentamos fingir que não falhamos.
No entanto, quando a Bíblia fala sobre pessoas "perfeitas" no Antigo Testamento, ela usa a palavra de uma maneira diferente. Lemos que o coração do rei Asa foi "perfeito para com o Senhor por todos os seus dias" (1 Reis 15.14), mesmo que o texto diga que ele cometeu erros. Davi é descrito como tendo um coração "perfeito", apesar de seus pecados terríveis.
O que isso significa? No contexto do Antigo Testamento, "perfeito" não significa ausência de pecado, mas uma dedicação sincera e completa a Deus. Significa que a direção geral, a atitude fundamental da vida de uma pessoa, está voltada para o Senhor.
Assim como chamamos de "justo" alguém cuja vida está alinhada com a justiça de Deus (mesmo que tropece), chamamos de "perfeito" aquele cujo coração está inteiramente dedicado a Deus, mesmo com suas fraquezas e quedas.
Essa é uma verdade libertadora. Deus não exige de nós uma performance impecável. Ele olha para o coração e vê a nossa disposição, a nossa lealdade fundamental a Ele.
Aplicação
Como essa compreensão da perfeição pode mudar nossa caminhada com Deus?
- Foque na direção, não na perfeição sem pecado. Em vez de se atormentar com cada falha, pergunte-se: "Qual é a direção geral da minha vida? Meu coração está sinceramente voltado para agradar a Deus?".
- Confesse suas falhas com honestidade. Um coração "perfeito" (no sentido bíblico) não é um coração que nunca peca, mas um coração que é rápido em se arrepender quando peca. A confissão é um sinal de dedicação, não de fracasso.
- Encoraje-se com os heróis da fé. Lembre-se de que os grandes homens e mulheres da Bíblia eram pessoas falhas, mas com um coração dedicado a Deus. A história deles é um testemunho da graça de Deus que usa pessoas imperfeitas.
2. Jesus nos chama a uma perfeição que reflete o caráter do Pai
No Sermão do Monte, Jesus eleva o padrão de uma forma que parece esmagadora:
Mateus 5.48
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.
Se a perfeição do Antigo Testamento já parecia difícil, esta parece impossível. Como podemos ser perfeitos como Deus é perfeito? O segredo está no contexto. Jesus não está falando de uma perfeição abstrata e sem falhas. Ele está falando sobre a perfeição do amor.
Ele acaba de nos ensinar a não apenas amar nossos amigos, mas também nossos inimigos. Por quê? Porque é isso que nosso Pai celestial faz. Ele "faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Ser "perfeito" nesse contexto significa atingir o nosso propósito, o nosso destino como filhos de Deus, que é refletir o caráter amoroso e generoso do nosso Pai. A perfeição é medida pela amplitude do nosso amor.
Essa não é uma exigência humanista que devemos alcançar com nossas próprias forças. Por natureza, estamos inclinados a pagar o mal com o mal. A fonte desse amor radical pelos inimigos é a fé em Jesus Cristo. Ele nos amou quando éramos Seus inimigos e se entregou por nós. Quando o Evangelho toca nosso coração, somos transformados pelo poder do Seu Espírito e capacitados a amar de uma maneira que, de outra forma, seria impossível.
Aplicação
Como podemos buscar essa perfeição no amor?
- Identifique seus "inimigos". Quem são as pessoas em sua vida que você tem dificuldade de amar? Um colega de trabalho difícil, um vizinho barulhento, um familiar que o feriu? Comece orando por eles.
- Dê pequenos passos de amor. Você não precisa sentir um afeto caloroso para agir com amor. O amor é uma ação. Faça um bem a quem o odeia, abençoe quem o amaldiçoa. Esses pequenos atos, feitos pela força do Espírito, começam a transformar seu coração.
- Lembre-se do amor de Deus por você. Quando for difícil amar, lembre-se de que você também era um inimigo de Deus e Ele o amou. A graça que você recebeu é a graça que você é chamado a dar.
3. Somos perfeitos em Cristo, mas prosseguimos para o alvo
Aqui chegamos ao coração do paradoxo cristão sobre a perfeição, brilhantemente exposto pelo apóstolo Paulo em Filipenses 3.
Por um lado, ele descreve sua antiga vida como fariseu, onde ele era, "segundo a justiça que há na lei, irrepreensível". Em termos humanos, ele havia alcançado o auge da perfeição religiosa. Mas ele considerou tudo isso "perda" e "refugo" para ganhar a Cristo.
Agora, sua única meta é conhecer a Cristo e o poder de Sua ressurreição. E então ele faz uma declaração surpreendente:
Filipenses 3.12
Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.
O grande apóstolo, o gigante da fé, diz: "Eu ainda não cheguei lá. Eu não sou perfeito". Ele se compara a um corredor que esquece o que ficou para trás e se esforça para alcançar a linha de chegada. Mas, apenas alguns versículos depois, ele diz: "Pelo que todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo" (Filipenses 3.15).
Como ele pode dizer que não é perfeito e que já é perfeito na mesma passagem? Porque há duas perspectivas sobre a perfeição. Por um lado, quando chegamos à fé em Cristo, alcançamos um ponto crítico, uma mudança de rumo. Fomos transportados da morte para a vida. Em Cristo, somos considerados justos e santos diante de Deus. Nesse sentido, posicional, já somos perfeitos.
Por outro lado, nossa experiência diária ainda está em processo de transformação. Ainda lutamos contra o pecado e a fraqueza. Nesse sentido, prático, ainda não somos perfeitos. Estamos em uma jornada, correndo em direção à meta final da ressurreição, quando nossa experiência finalmente alcançará nossa posição.
Aplicação
Viver nesse paradoxo "já, mas ainda não" é a chave para uma vida cristã saudável. Como podemos fazer isso?
- Descanse em sua perfeição posicional. Sua aceitação por Deus não depende de seu desempenho diário. Ela está segura em Cristo. Isso o livra da ansiedade e do medo do fracasso. Você já tem a nota máxima no "boletim" de Deus, porque a nota de Cristo foi creditada a você.
- Corra com base em sua perfeição posicional. O fato de já sermos perfeitos em Cristo não nos leva à preguiça, mas nos dá a confiança e a energia para correr a corrida. Lutamos contra o pecado não para nos tornarmos perfeitos, mas porque já somos perfeitos em Cristo e queremos viver de acordo com essa nova identidade.
- Rejeite os dois extremos perigosos. Cuidado com o perfeccionismo, que nega nossa perfeição em Cristo e nos leva a crer que podemos alcançar um estado sem pecado nesta vida. E cuidado com o derrotismo, que nega nosso chamado para prosseguir e se contenta com a mediocridade, usando a graça como desculpa.
Conclusão
A busca pela perfeição não precisa ser uma jornada de frustração. A Bíblia nos oferece uma perspectiva equilibrada e cheia de graça. Somos chamados a uma perfeição que não é a ausência de falhas, mas uma dedicação sincera de todo o nosso coração a Deus.
Somos chamados a refletir a perfeição do amor de nosso Pai, amando até mesmo nossos inimigos, não por nossa própria força, mas pelo poder do Evangelho que nos transformou.
E, o mais importante, vivemos no glorioso paradoxo de já sermos perfeitos em nossa posição em Cristo, enquanto ainda prosseguimos para o alvo da perfeição final em nossa prática diária. Essa verdade nos liberta tanto do orgulho paralisante do perfeccionismo quanto da apatia do conformismo.
Não desanime com suas imperfeições. Elas são reais, mas não são a verdade final sobre você. A verdade final é que você foi "preso por Cristo Jesus". Ele o segurou e não o largará. E porque Ele o segurou, você pode prosseguir com confiança, sabendo que Aquele que começou a boa obra em você a completará até o dia de Cristo Jesus. Essa é a nossa esperança e a nossa força para a corrida.