O que vem à sua mente quando ouve a palavra "sóbrio"? Talvez pense em alguém que não bebeu álcool em uma festa.
Ou talvez imagine uma pessoa excessivamente séria, sem graça, quase fria. Em nosso dia a dia, usamos essa palavra de várias formas, muitas vezes com uma conotação de ausência ou até de falta de alegria.
Por causa dessa percepção, quando a Bíblia nos chama para sermos sóbrios, a ordem pode soar um pouco desanimadora. Será que a vida cristã é uma vida sem cor, despojada de todo prazer e entusiasmo? Será que Deus nos quer sérios e distantes da realidade?
A partir de agora, vamos descobrir que a sobriedade bíblica é exatamente o oposto. Não se trata de uma frieza objetiva, mas de uma clareza mental e espiritual que nos liberta para vivermos a vida mais abundante e com propósito que existe. O que significa, então, viver uma vida de sobriedade à luz da Palavra de Deus?
1. Sobriedade é viver com uma perspectiva eterna
O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Tessalonicenses, faz um chamado poderoso: "velemos e sejamos sóbrios" (1 Tessalonicenses 5.6). Para entender o que ele quer dizer, precisamos olhar o contexto. Ele acabou de falar sobre o Dia do Senhor, que virá "como ladrão de noite".
Para o mundo, que vive nas trevas do pecado e da ignorância, esse dia será uma surpresa aterrorizante. Eles vivem sob o lema: "Comamos e bebamos, que amanhã morreremos" (1 Coríntios 15.32). Eles se embriagam com os prazeres passageiros deste mundo porque não têm esperança de nada além. São filhos da noite, e a noite é para a embriaguez e o sono espiritual.
Mas para nós, a realidade é outra. Paulo diz: "vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas".
Por sermos filhos da luz, nosso comportamento deve ser diferente. Ser sóbrio, nesse sentido, significa não se deixar arrastar pela mentalidade do mundo. Significa não se "embriagar" com a ambição desmedida, com as paixões da carne, com o consumismo ou com o entretenimento vazio que nos faz esquecer de Deus.
É um chamado para dizer um "não" claro e radical a todo prazer e a toda distração que não se alinha com a esperança da volta de Jesus Cristo. É manter-se "em jejum" de tudo aquilo que não resistirá ao fogo do juízo de Deus.
Contudo, a sobriedade cristã não é apenas negativa, não se resume a "não faça isso" ou "não toque naquilo". Ela é profundamente positiva. Permanecemos sóbrios em relação ao mundo porque estamos cheios de outra realidade. Estamos armados com a fé e o amor, e protegidos pelo capacete da esperança da salvação.
Nossa mente está tão ocupada com as promessas de Deus, nosso coração tão cheio de amor por Ele e pelo próximo, e nossos olhos tão fixos no futuro glorioso que nos espera, que simplesmente não temos tempo nem desejo para os prazeres baratos do mundo.
Aplicação
O mundo moderno é uma máquina de distração projetada para nos "embriagar" e nos fazer esquecer da eternidade. Como podemos cultivar a sobriedade em meio a tanto ruído?
- Faça uma "auditoria de atenção": Onde você está investindo seu tempo e sua mente? Avalie honestamente quanto tempo você gasta em redes sociais, séries, notícias ou preocupações que não têm valor eterno. Ore e peça a Deus para lhe mostrar uma área que você precisa "jejuar" para ter mais clareza espiritual.
- Comece o dia com a perspectiva correta: Em vez de começar o dia pegando o celular, separe os primeiros minutos para se conectar com a realidade eterna. Leia um salmo. Ore. Lembre a si mesmo que você é um filho da luz e que sua verdadeira pátria está nos céus. Isso ajustará a "bússola" do seu coração para o resto do dia.
- Pergunte-se: "Isso importa para a eternidade?": Ao tomar decisões, desde as pequenas (como assistir a mais um episódio) até as grandes (uma mudança de carreira), crie o hábito de filtrar suas escolhas através desta pergunta. Isso não significa que não podemos ter lazer, mas que até nosso descanso deve ser feito para a glória de Deus, e não para a fuga da realidade.
2. Sobriedade é a clareza que alimenta o amor e o serviço
O apóstolo Pedro também conecta a sobriedade à nossa esperança futura. Ele escreve: "O fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos [sóbrios] e vigiai em oração" (1 Pedro 4.7). Novamente, a consciência da brevidade da vida e da iminência da volta de Cristo é o que deve nos tornar sóbrios.
Mas o que essa sobriedade produz? A resposta de Pedro é surpreendente. Ele não diz: "Portanto, isolem-se do mundo e esperem". Pelo contrário, a sobriedade nos impulsiona para a ação. Ele continua: "tende amor intenso uns para com os outros... sede, mutuamente, hospitaleiros... servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu" (1 Pedro 4.8-10).
Aqui, a sobriedade ganha uma nova dimensão. Em sentido negativo, ela significa dizer "não" a tudo aquilo que não vem da graça de Deus – as paixões, os desejos desenfreados, o estilo de vida pagão. Mas, em sentido positivo, a sobriedade esvazia nossas mãos das distrações do mundo para que possamos enchê-las com o serviço ao próximo.
Uma mente embriagada com o egoísmo, a ansiedade ou o entretenimento não consegue enxergar as necessidades da pessoa ao lado. Um coração sobrecarregado com as preocupações deste mundo não tem espaço para praticar a hospitalidade. A sobriedade limpa nossa visão espiritual. Ela nos permite ver as pessoas como Deus as vê e nos motiva a usar nossos dons como bons administradores da multiforme graça de Deus.
Aplicação
A sobriedade não nos torna frios e distantes; ela nos torna presentes, atentos e disponíveis para amar como Jesus amou.
- Simplifique sua vida para poder servir: Avalie seus compromissos, suas finanças e sua agenda. Onde você pode simplificar para criar mais margem para o serviço? Talvez seja preciso cortar uma atividade extra para ter uma noite livre para o pequeno grupo da igreja, ou reduzir gastos para poder ser mais generoso e hospitaleiro.
- Olhe ao redor com olhos sóbrios: Desafie-se nesta semana a estar mais atento às pessoas ao seu redor. No trabalho, na família, na igreja. Desligue o piloto automático. Quem parece cansado? Quem precisa de uma palavra de encorajamento? Quem está celebrando uma vitória e gostaria que alguém celebrasse junto? Uma mente sóbria percebe essas oportunidades.
- Use seu dom, por menor que pareça: A sobriedade nos lembra que somos administradores, não donos, dos dons que Deus nos deu. Seja um dom de encorajamento, de organização, de ensino ou de ajuda prática, use-o intencionalmente para edificar a igreja. Não espere por um grande palco; sirva onde você está.
3. Sobriedade é a vigilância na batalha espiritual
Há ainda uma terceira camada no chamado à sobriedade, encontrada em 1 Pedro 5.8: "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar".
Aqui, a sobriedade é apresentada como uma postura essencial para a batalha espiritual. Um soldado de vigia não pode se dar ao luxo de estar sonolento ou distraído. Da mesma forma, um cristão não pode se dar ao luxo de ser espiritualmente ingênuo. A sobriedade é a clareza mental que nos permite reconhecer a realidade da nossa situação: estamos em uma guerra.
Os leitores de Pedro estavam enfrentando grande sofrimento e perseguição. Era preciso ter a sobriedade de entender que o sofrimento faz parte da vida cristã neste mundo caído, como Jesus mesmo predisse: "No mundo, passais por aflições" (João 16.33). A sobriedade impede o desespero, pois nos lembra que nossa luta não é em vão e que não estamos sozinhos nela.
Ser sóbrio é resistir ao diabo, firmes na fé, sabendo que Cristo já venceu o mundo e que o inimigo não tem poder final sobre aqueles que pertencem a Jesus. É não se acovardar diante das ameaças, mas também não subestimar o perigo. É uma postura de confiança vigilante, com os pés firmes na rocha que é Cristo e os olhos abertos para as artimanhas do inimigo.
Aplicação
Viver em um mundo que nega a realidade espiritual nos torna alvos fáceis para um inimigo que quer nos ver distraídos e espiritualmente sonolentos.
- Identifique suas vulnerabilidades: Onde o "leão" costuma rugir mais alto em sua vida? É na área da pureza, do orgulho, da ansiedade, da preguiça? Ser sóbrio é conhecer a si mesmo e estar especialmente vigilante nessas áreas, buscando a força de Deus e a ajuda de irmãos em Cristo.
- Vista a armadura todos os dias: A armadura de Deus em Efésios 6 não é uma metáfora poética, mas um equipamento de sobrevivência. A sobriedade se manifesta quando, conscientemente, nos revestimos da verdade, da justiça, do evangelho, da fé, da salvação e da Palavra, através da oração.
- Não lute sozinho: Um soldado isolado é uma presa fácil. A vigilância espiritual é uma tarefa comunitária. Tenha irmãos de confiança com quem você possa ser honesto sobre suas lutas e que possam orar por você e ajudá-lo a permanecer firme.
Conclusão
"Desperta, ó tu que dormes... e Cristo te iluminará" (Efésios 5.14). Este é o chamado ressonante da Palavra de Deus para nós hoje. A sobriedade não é um chamado para uma vida sem graça, mas um chamado para acordar do sono espiritual do mundo.
É viver com a clareza de quem sabe que este mundo está passando, que o fim se aproxima e que nosso Rei está voltando. Essa clareza nos liberta da tirania das coisas urgentes, mas sem importância, e nos capacita a focar no que é eterno: amar a Deus, servir ao próximo e permanecer firmes na fé.
Que possamos abraçar esse chamado. Que o Senhor nos desperte e nos conceda a graça da sobriedade, para que possamos viver não como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus.
