A Moderação: A Força para Dominar Seus Apetites e Ser Livre – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

Se olharmos para o "dicionário" da nossa cultura, parece que a palavra moderação foi apagada. Vivemos em uma época de prosperidade e acesso sem precedentes. A mensagem que recebemos de todos os lados é: "Você só vive uma vez. Por que se refrear?".

A publicidade estimula desejos que não sabíamos que tínhamos. O crédito fácil nos permite satisfazê-los antes mesmo de podermos pagar. O entretenimento nos oferece uma fuga constante da realidade. A cultura nos diz que o autocontrole é uma forma de repressão e que a verdadeira liberdade é fazer tudo o que se quer, quando se quer.

É de se temer que essa mentalidade não tenha ficado apenas no mundo, mas tenha se infiltrado sutilmente na igreja. A batalha diária pela santificação, pelo domínio próprio, muitas vezes é travada de forma solitária. 

Em um ambiente que celebra o excesso, como podemos entender e praticar a virtude bíblica da moderação, também chamada de temperança ou domínio próprio? E por que ela é tão essencial para uma vida que agrada a Deus?

1. A moderação nasce de um coração que pertence a Cristo

É preciso ser honesto: o autocontrole não é uma virtude exclusivamente cristã. Filósofos gregos viam o domínio próprio como o fundamento de todas as virtudes, o caminho para a verdadeira liberdade humana. Vemos isso hoje em atletas de alta performance que se abstêm de muitas coisas para alcançar a glória de uma medalha.

O apóstolo Paulo reconhece isso: "Todo atleta em tudo se domina" (1 Coríntios 9:25). Esse tipo de disciplina é admirável, mas a moderação que Deus nos chama a praticar tem uma motivação radicalmente diferente. O atleta se domina por uma coroa corruptível, por sua própria glória. O filósofo se domina para alcançar sua própria perfeição.

Mas nós, cristãos, por que nos dominamos? Porque não pertencemos mais a nós mesmos. Essa é a verdade que muda tudo. Somos propriedade de Cristo. Fomos comprados por um alto preço: o Seu sangue. Portanto, a nossa moderação não é um esforço para nos tornarmos dignos, mas uma resposta de amor a Aquele que nos comprou.

Paulo deixa isso claro em 1 Coríntios 6:

1 Coríntios 6:18-20
Fugi da impureza... Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

Porque somos do Senhor, não nos deixamos escravizar por mais nada. Seja a comida, a bebida, o desejo sexual, o dinheiro ou a opinião dos outros. A nossa liberdade em Cristo nos liberta da tirania de nossos próprios apetites. Como diz o livro de Provérbios, "Melhor é o que tarda em irar-se do que o forte, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade" (Provérbios 16:32).

Aplicação

A motivação é a chave. Sem a motivação correta, o domínio próprio se torna mero legalismo ou um fardo pesado. Com a motivação correta, ele se torna um ato de adoração.

  • Comece com a identidade, não com o comportamento: Antes de tentar controlar um hábito, passe tempo meditando sobre esta verdade: "Eu pertenço a Jesus". Comece seu dia com esta oração: "Senhor, sou teu. Meu tempo é teu. Meu corpo é teu. Meu dinheiro é teu. Ajuda-me a viver hoje de uma forma que te honre como meu Dono e Salvador".
  • Identifique seus "senhores": O que hoje exerce domínio sobre você? O que você sente que "não consegue viver sem"? Pode ser o açúcar, a cafeína, as redes sociais, a pornografia, a necessidade de comprar algo novo. Identifique essa área e confesse-a a Deus, pedindo a Ele que o liberte para que somente Cristo seja o seu Senhor.
  • Troque "eu tenho que" por "eu quero": Mude sua mentalidade. Em vez de dizer "eu tenho que parar de fazer isso", diga "porque eu amo a Cristo, eu quero honrá-lo nesta área". A moderação que flui do amor é sustentável; a que flui do dever é exaustiva.

2. A moderação guarda nosso corpo como templo do Espírito Santo

As Escrituras são extremamente claras e urgentes ao nos alertar contra a impureza sexual. O mundo greco-romano da época dos apóstolos era imoral e decadente, e o nosso não é diferente. O que antes era oculto, hoje é celebrado. O pecado que antes era sussurrado nas trevas, hoje é transmitido em alta definição em nossas telas.

Psicólogos modernos às vezes tratam os conceitos de castidade e continência como antiquados e prejudiciais. A mensagem é que o desejo sexual é como a fome: precisa ser saciado para se ter saúde. Mas a Palavra de Deus oferece uma visão radicalmente diferente e muito mais elevada da nossa sexualidade.

Nosso corpo não é uma máquina de apetites a ser satisfeita, mas um templo sagrado onde habita o Espírito de Deus. 

Por isso, a vontade de Deus, como diz o Catecismo de Heidelberg, é que "conservemos nosso corpo e nossa alma puros e santos". Isso significa que Deus proíbe não apenas os atos impuros, mas também os gestos, as palavras, os pensamentos e os desejos impuros, e "tudo o que a isso possa incitar o homem".

Isso nos coloca em um curso de colisão direto com a cultura. Como, então, viver? A resposta é clara: não devemos perguntar até onde podemos ir com o mundo, mas quão longe podemos permanecer dele. Como crianças que insistem em andar na beirada de um precipício, muitos cristãos querem flertar com o perigo, testando os limites. A sabedoria bíblica, no entanto, nos chama a fugir.

"Afaste-se da iniquidade todo aquele que invoca o nome de Cristo" (2 Timóteo 2:19). E Pedro nos roga: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma" (1 Pedro 2:11).

Aplicação

A pureza não acontece por acidente. Ela requer uma estratégia de moderação e vigilância deliberada.

  • Construa cercas, não apenas lute contra o pecado: Em vez de apenas tentar resistir à tentação quando ela aparece, seja proativo. Que "cercas" práticas você precisa colocar em sua vida? Isso pode significar instalar filtros de internet, estabelecer a regra de nunca estar a sós com alguém do sexo oposto que não seja seu cônjuge, ou deletar aplicativos que são uma fonte de tentação.
  • Controle os seus olhos e sua mente: A batalha pela pureza começa na mente. Seja extremamente seletivo com os filmes que assiste, os livros que lê e os perfis que segue. O que você alimenta sua mente determinará o que cresce em seu coração.
  • Encontre um irmão de batalha: A luta pela pureza nunca deve ser solitária. O inimigo ama o segredo. Tenha um ou dois irmãos de confiança a quem você possa prestar contas, confessar suas lutas e com quem possa orar regularmente.

3. A moderação é alimentada pela esperança da vida eterna

Uma das grandes causas da falta de moderação em nossos dias é a falta de esperança no futuro. A mentalidade mundana é: "Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos". Se esta vida é tudo o que existe, faz todo o sentido extrair dela o máximo de prazer possível, sem se preocupar com as consequências futuras.

Essa lógica permeia nossa cultura de consumo. A sensação de que "precisamos ter agora" é alimentada por um medo inconsciente de que o amanhã é incerto. O comprar a prazo, o endividamento por artigos de luxo que não são necessários, a corrida para ter o que o vizinho tem – tudo isso nasce de um coração que busca segurança e satisfação nas coisas desta terra.

Mas os cristãos não devem viver assim. Sim, podemos desfrutar das boas dádivas que o Senhor nos dá. Mas vivemos com uma perspectiva diferente. Sabemos que esta vida não é o fim. Sabemos que somos peregrinos a caminho de casa. Sabemos que nos espera uma nova terra, onde habita a justiça, e onde viveremos para sempre com o nosso Senhor.

A esperança da eternidade é o grande poder que nos capacita a viver com moderação no presente. Não precisamos nos agarrar desesperadamente a cada prazer terreno, porque sabemos que alegrias infinitamente maiores nos esperam. Não precisamos nos exaurir na busca por bens que a ferrugem e a traça corroem, porque estamos investindo em um tesouro no céu.

Aplicação

Viver com uma perspectiva eterna transforma radicalmente nossa relação com o dinheiro, o tempo e os bens materiais.

  • Pratique a regra da necessidade: Antes de fazer uma compra, especialmente se for algo de maior valor, pergunte-se honestamente: "Eu realmente preciso disso, ou eu apenas quero?". Lembre-se da velha regra: "O que não é necessário, sempre é caro". Isso não significa viver sem nada, mas viver com intencionalidade.
  • Invista no que dura: Como a esperança do céu pode mudar a forma como você usa seu dinheiro e seu tempo hoje? Talvez signifique gastar menos em um item de luxo para poder ser mais generoso com a obra do Senhor ou com um necessitado. Talvez signifique trabalhar menos horas extras para investir tempo em sua família ou no discipulado de alguém.
  • Cultive o contentamento: A moderação floresce em um coração contente. Agradeça a Deus diariamente pelo que você *tem*, em vez de focar no que você *não tem*. O contentamento é a arma secreta que quebra o poder do consumismo e da inveja.

Conclusão

A moderação não é um chamado para uma vida sem alegria. Pelo contrário, é o caminho para a verdadeira liberdade e para a alegria mais profunda. É a liberdade de não ser escravo de nossos apetites. É a liberdade de um corpo e uma mente puros, prontos para o serviço de Deus. É a liberdade de um coração que não está ansioso com o amanhã, pois sua esperança está firmada na eternidade.

Essa virtude não é natural para nós. Ela é um fruto do Espírito, algo que precisamos buscar e cultivar diariamente, em dependência total de Deus. Que possamos, juntos, como igreja, nos encorajar nesta batalha. Que possamos nos exercitar no domínio próprio, não por medo ou por legalismo, mas por um amor profundo por Aquele que nos comprou e nos chamou para uma vida santa e abundante.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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