A Benevolência: Como Abrir Mão de Direitos Demonstra a Graça de Deus – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

Vivemos em uma sociedade onde as pessoas estão constantemente reivindicando seus direitos. Lutamos por aquilo que acreditamos ser nosso, aferramo-nos à letra da lei e garantimos que os outros cumpram suas obrigações para conosco. 

Esse espírito muitas vezes se infiltra na igreja, causando divisões, disputas e tragédias, tudo porque nos apegamos firmemente ao que é "justo" em vez de praticar o que é bom.

No entanto, a Bíblia nos apresenta uma virtude que age como um poderoso antídoto para essa mentalidade: a benevolência. Embora a palavra em si apareça poucas vezes, o conceito de uma bondade graciosa, de uma disposição amável e condescendente, permeia toda a Escritura. É uma característica fundamental de Deus e um chamado essencial para Seu povo.

A benevolência é a atitude de alguém que, tendo o direito e o poder de ser rígido, escolhe ser gracioso. É a marca de quem entendeu a profundidade da misericórdia que recebeu e, por isso, não consegue deixar de estendê-la a outros. 

A pergunta que nos guiará é: como podemos cultivar um espírito de benevolência em um mundo que nos ensina a lutar por nossos direitos, refletindo assim a graça do nosso Rei?

1. A benevolência é a atitude graciosa do superior para com o inferior

A palavra grega para benevolência (epieikeia) era usada no mundo secular para descrever a atitude de alguém em uma posição de poder para com alguém em uma posição inferior. Imagine uma autoridade que, em vez de aplicar a lei friamente, ouve com compaixão e leva em conta as circunstâncias. 

Ou um rei que, em vez de se cercar de pompa e protocolo, recebe um visitante com amabilidade e simplicidade.

Essa é a benevolência: a disposição de não insistir em seus direitos, de julgar com justiça e bondade. É uma qualidade que encontramos naqueles que são verdadeiramente grandes e seguros de sua posição. Pessoas inseguras e de "rango inferior" muitas vezes são intransigentes e altivas, pois sentem a necessidade de proteger seus "direitos" e sua posição a todo custo. Mas quem está verdadeiramente no alto pode se dar ao luxo de ser benevolente.

A Bíblia aplica esse conceito a Deus de forma sublime. O Salmo 86.5 diz: "Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam". A palavra hebraica para "pronto a perdoar" carrega essa ideia de benevolência. Deus, o Ser Supremo, em Sua majestade, escolhe ser bom e perdoador para conosco, que somos infinitamente inferiores.

Em 1 Samuel 12.22, lemos: "Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo". "Aprouve ao Senhor" significa que Ele teve prazer, Ele foi benevolente em nos escolher. Não foi por nosso mérito, mas por Sua pura e graciosa vontade.

Aplicação

  • Reconheça sua posição diante de Deus. Somos os "inferiores" que se aproximam do Rei. Medite sobre o fato de que, em vez de rigidez e lei, encontramos um Deus que nos ouve com benevolência. Como essa verdade deve moldar sua atitude na oração e em sua vida diária?
  • Pratique a benevolência em sua "esfera de poder". Seja você um pai, um chefe, um professor ou um líder na igreja, você tem uma posição de autoridade. Em vez de se apegar rigidamente às regras, como você pode demonstrar benevolência, levando em conta as circunstâncias e o coração das pessoas?
  • Abandone a necessidade de "provar seu valor". A intransigência muitas vezes vem da insegurança. Lembre-se de que sua posição e valor estão seguros em Cristo. Você não precisa "lutar" por seu espaço. Isso o liberta para ser gracioso e amável com os outros.

2. Jesus Cristo é a fonte e o modelo perfeito de benevolência

A benevolência cristã não é apenas uma versão melhorada da bondade humana. Sua fonte e motivação são completamente diferentes: ela flui de Jesus Cristo. Paulo, em 2 Coríntios 10.1, apela aos crentes: "Rogo-vos, pela mansidão e benignidade de Cristo...". A palavra traduzida como "benignidade" é a nossa palavra para benevolência.

Em Jesus, vemos a união perfeita de majestade e benevolência. Ele começa dizendo: "Todas as coisas me foram entregues por meu Pai" (Mateus 11.27), afirmando Sua soberania absoluta. Não há ninguém maior. Mas é precisamente este Ser exaltado que imediatamente convida: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei... aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mateus 11.28-29).

Sua mansidão não é fraqueza, mas a expressão de Sua benevolência. Ele, que tinha todo o direito de nos esmagar sob a lei, escolheu nos atrair com graça. É a essa benevolência de Cristo que Paulo apela. Ele planeja visitar Corinto e prefere não ir "com vara", mas com amabilidade, como um apóstolo Daquele que eles conheciam como manso e benevolente.

Como a fonte da nossa benevolência é Cristo, somos chamados a refleti-la para o mundo. Em Filipenses 4.5, Paulo escreve: "Seja a vossa equidade [benevolência] notória a todos os homens. Perto está o Senhor". A lógica é poderosa: porque nos alegramos no Senhor e porque Ele está perto, não precisamos nos preocupar em defender nossos direitos ou nossa posição. Podemos ser benevolentes, sabendo que o Senhor cuidará de nós e fará justiça no final.

Essa não é uma virtude opcional, mas uma exigência para a liderança da igreja ("amável, aprazível, não avarento..." 1 Timóteo 3.3) e para todos os crentes ("amáveis, mostrando toda a mansidão para com todos os homens" Tito 3.2). Tiago a lista como um fruto da sabedoria que vem do alto (Tiago 3.17).

Aplicação

  • Aprenda de Jesus. Gaste tempo nos Evangelhos observando a maneira como Jesus lidava com as pessoas. Veja como Ele tratava os pecadores, os doentes e os marginalizados com uma benevolência que chocava os religiosos legalistas. Peça a Deus para lhe dar o coração de Cristo.
  • Deixe sua benevolência ser "notória". Como as pessoas ao seu redor (em casa, no trabalho, na vizinhança) descreveriam você? A benevolência é uma marca registrada da sua vida? Se não, ore especificamente para que Deus lhe dê oportunidades de demonstrá-la esta semana.
  • Ancore sua segurança no Senhor que "está perto". Da próxima vez que você se sentir tentado a ser duro ou a "lutar por seus direitos", pare e lembre-se: "Perto está o Senhor". Entregue a situação a Ele e escolha o caminho da graça, confiando que Ele é seu defensor.

3. A benevolência é a prática da graça em um mundo legalista

A benevolência é descrita de forma bela como "mãos suaves". Imagine um paciente que passou por muitos médicos e exames dolorosos. Finalmente, ele encontra um cirurgião excelente que o examina com tanta habilidade e gentileza que o exame, antes agonizante, mal é sentido. Essa é a benevolência: a habilidade de quem está por cima, seguro em sua posição, de agir com suavidade e cuidado.

A benevolência cristã brota da certeza de que Cristo cuida da nossa posição. Nele, estamos seguros. Sua misericórdia nos sustenta. E precisamente por isso, podemos ser amáveis e gentis com os outros, até mesmo com nossos inimigos.

A falta dessa atitude tem causado miséria incontável no mundo e, tragicamente, também na igreja. Como escreveu um autor inglês citado no texto original: "É muito difícil traduzir [benevolência] corretamente... Mas não é difícil ver que há uma grande necessidade daquilo que ela expressa". Igrejas foram divididas porque pessoas e comitês se apegaram à letra da lei em vez de praticar a graça.

Se conhecemos verdadeiramente o Senhor, é lógico que algo de Sua doçura apareça em nossa atitude. Se isso falta, é porque não estamos vivendo da plenitude da Sua benevolência. Quando descobrimos que o Senhor é manso conosco, pronto a nos perdoar e gracioso em nos ouvir, torna-se impossível não sermos assim com nossos semelhantes.

Caso contrário, nos tornamos como o servo incompassivo da parábola (Mateus 18). Aquele rei foi imensamente benevolente, perdoando uma dívida impagável. Mas essa graça não tocou o coração do servo, que imediatamente agiu com dureza implacável para com seu conservo por uma dívida insignificante. Tragicamente, essa é uma imagem de muitos de nós.

Aplicação

  • Examine seu "quociente de graça". Em uma escala de 1 a 10, quão disposto você está a abrir mão de seus direitos para mostrar graça a outra pessoa? Peça a Deus para aumentar sua capacidade de ser benevolente.
  • Identifique uma "dívida" que você precisa perdoar. Pense em alguém que "lhe deve" algo – um pedido de desculpas, um favor, dinheiro. À luz da dívida impagável que Cristo perdoou a você, ore pedindo a força para estender a benevolência e cancelar essa dívida no seu coração.
  • Seja a "mão suave" na vida de alguém. O mundo está cheio de pessoas feridas por interações duras e legalistas. Peça a Deus para usá-lo esta semana para ser uma presença de gentileza e graça na vida de alguém que está sofrendo.

Conclusão

A benevolência não é uma virtude secundária; ela está no coração do caráter de Deus e do chamado cristão. É a marca de um coração que foi profundamente transformado pela graça incompreensível do Senhor.

Em um mundo que nos incentiva a sermos duros, a lutar por cada centímetro de nossos direitos, a benevolência é um testemunho radical do evangelho. Ela declara que nossa segurança não está em nossas posses, nossa posição ou nossa reputação, mas em um Rei soberano e gracioso que "está perto".

Que possamos todos prestar mais atenção a esta exortação do Senhor. Que vivamos mais profundamente sob a realidade da incrível benevolência que Ele nos mostrou. E que, ao seguir nosso Senhor Jesus, possamos nos tornar conhecidos não por nossa rigidez, mas por nossa gentileza, não por nossa insistência na lei, mas por nossa prática da graça.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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