A Esperança: A Âncora que Traz a Certeza do Futuro para o Hoje – Estudo Bíblico sobre os temas do NT


A palavra "esperança", no nosso dia a dia, é frágil. Esperamos que não chova, esperamos conseguir um emprego, esperamos que o time vença. É um desejo, um anseio por algo bom, mas sempre acompanhado por uma sombra de incerteza. Não temos garantia alguma.

A esperança cristã é algo totalmente diferente. A grande diferença é que a esperança "mundana" carece de um fundamento seguro, enquanto a esperança bíblica está ancorada nas promessas inabaláveis de Deus e, por isso, traz a certeza de um cumprimento glorioso.

Um homem sem esperança, em certo sentido, deixa de ser homem. Quando Paulo diz que os gentios estavam "sem esperança e sem Deus no mundo" (Efésios 2:12), ele quer dizer que lhes faltava uma esperança fundamentada

Os gregos viam a esperança como uma expectativa neutra; o futuro poderia ser bom ou mau. Temiam o pior e, por isso, muitos de seus filósofos eram pessimistas, chegando a dizer que seria melhor não ter nascido.

Mesmo no judaísmo legalista, a esperança era precária. Eles esperavam o reino de Deus, mas quase ninguém tinha certeza de que participaria dele. A salvação dependia da balança das boas e más obras, um cálculo que ninguém podia ter certeza de como terminaria. 

Um famoso rabino, em seu leito de morte, chorava porque via diante de si dois caminhos, o do Jardim do Éden e o da Geena, e não sabia para qual seria levado.

A esperança bíblica corta essa névoa de incerteza como um raio de sol. A pergunta que nos guia é: como essa esperança, que é uma certeza futura, transforma radicalmente a maneira como vivemos no presente?

1. A verdadeira esperança nasce da desesperança em tudo o mais

O Antigo Testamento nos ensina uma lição fundamental: toda esperança que não está firmada em Deus é vã e resultará em vergonha. Os profetas advertiam constantemente o povo a não colocar sua esperança em alianças políticas com o Egito ou a Babilônia, pois eram "canas quebradas".

A esperança não deve ser depositada em riquezas, que perecem. Nem nos "príncipes" ou poderosos da terra, pois são mortais e seus planos são vaidade. Nem mesmo na nossa própria justiça ou no cumprimento fiel de nossas obrigações religiosas.

A esperança dos justos só é segura porque eles a depositam unicamente em Deus. Davi, após meditar sobre a brevidade e a vaidade da vida humana no Salmo 39, conclui com uma declaração de fé poderosa: "E agora, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti" (v. 7).

No Salmo 42, o salmista está angustiado, suas lágrimas são seu alimento, e seus inimigos zombam: "Onde está o teu Deus?". Mas em meio à dor, ele prega para sua própria alma: "Por que estás abatida, ó minha alma?... Espera em Deus, pois ainda o louvarei". Sua esperança não está na mudança das circunstâncias, mas na imutabilidade de Deus.

Essa esperança não é vaga; ela está ancorada na Palavra de Deus e em Suas promessas de um futuro glorioso, de um mundo de justiça e paz onde "converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices" (Isaías 2:4). A esperança bíblica é uma expectativa certa baseada no caráter e nas promessas de um Deus fiel.

Aplicação

  • Faça um inventário de suas esperanças. Onde você tem colocado sua esperança de segurança, felicidade e significado? No seu trabalho? Na sua família? Nas suas finanças? Na sua saúde? Essas coisas são boas, mas são "canas quebradas". Arrependa-se de colocar sua esperança fundamental em qualquer coisa que não seja o próprio Deus.
  • Pregue para sua própria alma. Como o salmista, aprenda a dialogar com suas emoções. Quando a ansiedade, o desânimo ou a tristeza o abaterem, confronte esses sentimentos com a verdade: "Ó minha alma, espera em Deus!". Lembre a si mesmo das promessas e da fidelidade de Deus.
  • Alimente sua esperança na Palavra. A esperança precisa de alimento para crescer. Esse alimento são as promessas de Deus encontradas nas Escrituras. Mergulhe nas profecias sobre o novo céu e a nova terra, nas promessas de restauração e na certeza da volta de Cristo.

2. A esperança cristã não é incerteza, mas uma certeza futura

No Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo, a esperança é despida de toda incerteza. Para o crente, ela não é um "talvez", mas um "certamente".

"Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus... e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5:1-2). Não nos resignamos à esperança; nós nos gloriamos nela. É uma expectativa jubilosa. Paulo diz que essa esperança "não traz confusão" (ou "não decepciona"), porque o amor de Deus, que é a garantia do cumprimento dessa esperança, já foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (v. 5).

Em Romanos 8, Paulo contrasta os sofrimentos presentes com a glória futura. Toda a criação geme, e nós também gememos, "esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (v. 23). Fomos salvos "em esperança". Ou seja, nossa salvação já está garantida, mas ainda aguardamos sua consumação plena.

É por isso que o luto do crente é diferente. Paulo diz aos tessalonicenses para não se entristecerem "como os demais, que não têm esperança" (1 Tessalonicenses 4:13). Nossa tristeza pela perda é real, mas ela é envolvida pela certeza da ressurreição e do reencontro eterno com o Senhor. Essas palavras são nosso consolo.

Aplicação

  • Distinga entre desejo e esperança bíblica. É bom desejar coisas boas para o futuro, mas não confunda isso com a esperança cristã. A esperança bíblica é a certeza de que as promessas de Deus (a volta de Cristo, a ressurreição, a vida eterna) se cumprirão. Sua certeza não está na força do seu desejo, mas na fidelidade de Deus.
  • Deixe a esperança redefinir seu sofrimento. Quando você passa por provações, a esperança cristã não promete que tudo vai acabar bem nesta vida. Ela promete que, por causa da glória futura, seus sofrimentos atuais são "leves e momentâneos" em comparação (2 Coríntios 4:17).
  • Console os outros com a esperança. A maior dádiva que podemos oferecer a um irmão enlutado ou sofredor não é um otimismo vazio, mas a sólida esperança do evangelho. Lembre a ele e a si mesmo da ressurreição e da promessa de que "estaremos para sempre com o Senhor".

3. A esperança futura gera alegria, santidade e perseverança no presente

A esperança não é apenas sobre o futuro; ela tem um poder imenso para transformar nosso presente. A perspectiva da felicidade eterna já lança um brilho sobre a vida de hoje.

a) A esperança gera alegria. Paulo nos exorta: "Alegrai-vos na esperança" (Romanos 12:12). Pedro, escrevendo a crentes perseguidos, diz que eles nasceram de novo para uma "viva esperança" de uma "herança incorruptível", e por isso eles se alegram grandemente, mesmo em meio a provações (1 Pedro 1:3-6). Quem não se alegraria com a perspectiva de uma herança cujo valor é incalculável? A certeza da vitória final de Cristo nos dá uma alegria profunda que as circunstâncias não podem roubar.

b) A esperança gera santidade. "E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (1 João 3:3). Se esperamos verdadeiramente ser como Cristo e estar com Ele para sempre, como poderíamos viver na impureza agora? A esperança viva em uma pureza eterna nos motiva a nos prepararmos para ela, caminhando em pureza de vida hoje. Ela nos dá forças para dizer "não" aos prazeres passageiros do pecado, pois estamos cheios da perspectiva de um prazer infinitamente maior e eterno.

c) A esperança gera perseverança. Paulo compara a esperança da salvação a um yelmo (1 Tessalonicenses 5:8). O yelmo protege a cabeça dos ataques do inimigo. Da mesma forma, a esperança protege nossa mente das mentiras e dos ataques de Satanás que nos levariam ao desespero. Quando estamos firmes na esperança da nossa herança eterna, as tentações do mundo perdem seu poder de atração. Estamos tão ricos na perspectiva do futuro que a "grandeza" desta vida empalidece em comparação.

Aplicação

  • Pergunte a si mesmo: "Minha esperança está produzindo alegria?". Se a vida cristã tem sido um fardo pesado e sem alegria, pode ser que sua esperança tenha se tornado fraca. Reavive-a meditando na herança que o espera. A alegria é um termômetro da esperança.
  • Use a esperança como motivação para a pureza. Quando confrontado com a tentação, pergunte-se: "Esta ação me prepara para a eternidade com um Cristo puro, ou me afasta dela?". Deixe que sua esperança futura informe suas escolhas presentes.
  • Coloque o "yelmo da esperança". Ao começar seu dia, proteja sua mente com a verdade da sua salvação eterna. Quando pensamentos de dúvida, medo ou desespero o assaltarem, rechace-os com a certeza da sua esperança em Cristo.

Conclusão: Uma esperança para ser vivida e compartilhada

A esperança cristã não é um sentimento vago, mas uma certeza transformadora. Ela tem implicações para tudo, inclusive para nossos relacionamentos na igreja. Se esperamos na graça de Deus por nós mesmos, também devemos ter esperança uns pelos outros. Devemos esperar pela reconciliação, pela unidade e pela restauração, porque cremos em um Deus que pode fazer o impossível.

Por fim, Pedro nos exorta a estar sempre "preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (1 Pedro 3:15). Nossa esperança não é um tesouro particular para ser guardado, mas uma luz para ser compartilhada com um mundo que vive na escuridão da incerteza.

Testemunhamos dessa esperança? Ou nos envergonhamos dela? Que a certeza da nossa herança eterna nos encha de tal alegria e coragem que não possamos deixar de falar da razão da nossa esperança: Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, nossa primícia e nossa garantia.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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