O Consolo: A Rocha Firme que nos Sustenta na Dor e no Luto – Estudo Bíblico sobre os temas do NT

Há momentos em que o peso da existência parece nos esmagar. Um familiar se vai após uma longa e dolorosa batalha contra o câncer. Um conhecido parte depois de anos sofrendo com uma doença incurável. 

Os jornais estampam acidentes e desastres que ceifam vidas de forma abrupta, deixando para trás viúvas, órfãos e pais que choram a perda de seus filhos.

Ouvimos sobre amigos em tratamento psiquiátrico, sobre pessoas que sucumbiram a crises nervosas, incapazes de continuar. 

Acrescente a isso os rumores de guerra, as revoluções sangrentas e a miséria que nos ameaça por todos os lados. Em meio a essa avalanche de dor e incerteza, uma pergunta ecoa em nossa alma: qual é o consolo que pode se manter de pé diante de tudo isso?

Muitos não sabem, mas a palavra consolo está etimologicamente ligada à mesma raiz da palavra confiança. Originalmente, ter consolo significava ter segurança, firmeza, uma boa perspectiva. 

Consolar alguém, portanto, não é apenas oferecer um ombro amigo, mas colocar um fundamento firme e seguro sob os pés de quem está vacilando, devolver um ponto de apoio a quem perdeu o chão.

Em meio a um mundo que oferece placebos para a alma, as Escrituras nos revelam a única fonte de consolo verdadeiro, capaz de nos sustentar não apenas nos dias bons, mas especialmente quando tudo ao nosso redor desmorona.

1. O consolo frágil do mundo: uma esperança sem fundamento

Ao longo dos séculos, a humanidade tem tentado consolar a si mesma com as mesmas reflexões vazias.

Quando alguém sofre uma grande perda, o consolo oferecido pelo mundo geralmente segue um roteiro previsível. Aponta-se para o que a pessoa ainda tem de bom, ou se diz que a morte é o destino inevitável de todos. Filósofos e poetas da antiguidade já usavam esses argumentos, mas, no fundo, eles ofereciam pouquíssimo alívio real.

Outros tentavam consolar os enlutados dizendo que esta vida não é tudo, ou lembrando o bom nome que o falecido deixou. Em geral, o melhor que podiam fazer era encorajar a pessoa a suportar o destino com um pouco de ânimo e coragem. 

Mas de onde viria essa coragem, ninguém sabia dizer. Sem Deus, o mundo não oferece consolo verdadeiro contra a morte; oferece apenas uma resignação melancólica.

Alguns aconselhavam afogar as mágoas no vinho ou buscar na música um alívio passageiro. Outros, especialmente os filósofos, falavam da "imortalidade da alma". Argumentavam que os bons sobrevivem, que a morte é uma libertação do corpo, que funciona como uma prisão. A morte seria um retorno ao reino de onde a alma veio, um sono doce.

No entanto, mesmo nessas reflexões mais elevadas, a incerteza era palpável. Expressões como "se ao menos fosse verdade!" ou "caso seja verdade!" eram comuns. Orações fúnebres eram repletas de "possivelmente", "talvez", "é de se supor". 

O grande filósofo Sócrates, ao ser condenado a beber veneno, disse a seus juízes que não temia a morte, pois ela seria "ou um sono eterno, ou a passagem para uma nova vida; em nenhum dos casos, um mal". Essa alternativa ("ou isso, ou aquilo") já revela a falta de certeza. E que consolo haveria em um sono eterno?

Para aqueles que não conhecem a Deus, a vida eterna não passa de uma hipótese consoladora, uma suposição frágil. Sem a revelação divina, o homem está, como diz Paulo, "sem esperança e sem Deus no mundo" (Efésios 2:12).

Aplicação

É vital que reconheçamos a fragilidade dos consolos que o mundo nos oferece e que, muitas vezes, nós mesmos tentamos usar.

  • O consolo da distração: "Não pense nisso", "ocupe a cabeça com outra coisa". A distração pode adiar a dor, mas nunca a cura.
  • O consolo da minimização: "Poderia ser pior", "pelo menos você tem saúde". Comparar nossa dor com a de outros pode nos fazer sentir culpados, mas raramente nos consola.
  • O consolo do otimismo vazio: "Tudo vai ficar bem", "você é forte, vai superar". Essas frases, sem o fundamento da soberania de Deus, são apenas palavras ao vento.

Quando um irmão ou irmã está sofrendo, resistamos à tentação de oferecer esses consolos frágeis. O verdadeiro consolo não está em desviar o olhar da dor, mas em apontar para o Deus que é maior que ela.

2. A Bíblia reconhece a desolação, mas aponta para o Deus vivo

Quão diferente é a linguagem das Sagradas Escrituras! Elas não ignoram a profundidade da dor humana. Pelo contrário, elas a validam. Em Isaías 54:11, Deus se dirige a Israel como: "Ó cidade aflita, açoitada pela tempestade e desolada!". Jó, em sua angústia, chama seus amigos de "consoladores importunos" (Jó 16:2), pois suas palavras apenas aumentavam seu sofrimento.

A Bíblia também nos adverte contra os falsos consolos que prometem segurança onde não há. Riquezas e posses são inúteis diante da morte. 

O Salmo 49 descreve a loucura dos que confiam em seus bens, cujo "pensamento íntimo é que as suas casas serão eternas". Jesus pronuncia um "ai" sobre eles: "Ai de vós, os ricos! Porque já tendes a vossa consolação" (Lucas 6:24) — uma consolação terrena e passageira que os impede de buscar a verdadeira.

No entanto, após reconhecer a profundidade da dor e denunciar os falsos consolos, as Escrituras apontam para o único fundamento seguro: o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Quando os saduceus, que não criam na ressurreição, tentaram encurralar Jesus, Ele respondeu com uma verdade que abala os alicerces da morte:

Mateus 22:31-32
E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos.

Aqui está o nosso consolo. Nosso Deus é o Deus vivo, e aqueles que pertencem a Ele, mesmo após a morte, estão vivos para Ele. Nossa relação com Ele não é interrompida pelo fim da vida terrena. Esse é o fundamento inabalável que nos sustenta quando todo o resto falha.

Aplicação

O primeiro passo para experimentar o consolo de Deus é reconhecer a nossa necessidade dele. Isso significa:

  • Lamentar honestamente: Em vez de reprimir sua dor ou fingir que está tudo bem, leve seu coração partido a Deus, como fizeram os salmistas. Diga a Ele que dói, que você não entende, que está com medo. A honestidade abre a porta para o consolo divino.
  • Desconfiar dos ídolos: Identifique em que ou em quem você instintivamente busca consolo antes de buscar a Deus. É no trabalho? Em relacionamentos? Na comida? No entretenimento? Reconheça esses "consoladores molestos" e volte-se para a única Fonte verdadeira.
  • Fundamentar-se na identidade de Deus: Medite sobre quem Deus é. Ele não é uma força distante; Ele é o Deus vivo, o Pastor que cuida de Suas ovelhas, a Mãe que conforta Seu filho. Ler e reler passagens como o Salmo 23 e Isaías 66 ancora nossa alma na verdade do Seu caráter.

3. O conteúdo do consolo: as promessas escatológicas de Deus

Só existe UM que pode oferecer consolo verdadeiro e autêntico: Deus, o SENHOR. Ele mesmo é o consolo do Seu povo. 

Mesmo que esta vida pereça, o SENHOR permanece, e Nele temos consolo tanto na vida quanto na morte. Como diz o salmista, "ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo" (Salmo 23:4).

Mas como Deus nos consola? Principalmente através de Suas promessas. O profeta Isaías é chamado de profeta do consolo. A segunda parte de seu livro começa com as palavras imortais:

Isaías 40:1-2
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e anunciai-lhe que a sua guerra acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro da mão do SENHOR por todos os seus pecados.

Isaías oferecia uma perspectiva de um futuro glorioso que iluminava o presente sombrio do povo. Da mesma forma, o nosso consolo está firmemente ancorado no futuro que Deus nos prometeu em Cristo.

Os teólogos usam uma palavra específica para isso: nosso consolo é escatológico. Isso significa que somos consolados hoje pelas promessas que se cumprirão plenamente no retorno de Cristo. Qual é o nosso consolo diante da morte? Que os mortos em Cristo ressuscitarão com Ele em glória eterna!

O apóstolo Paulo, após descrever detalhadamente a ressurreição dos crentes e o retorno do Senhor em 1 Tessalonicenses 4, conclui com uma instrução prática: "Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tessalonicenses 4:18). O consolo cristão não é um sentimento vago; é um conteúdo sólido, uma verdade objetiva sobre o futuro.

É por isso que, no Novo Testamento, Deus é chamado de "o Deus de toda a consolação" (2 Coríntios 1:3), e Simeão esperava pela "consolação de Israel" (Lucas 2:25), referindo-se à chegada do Messias. O consolo supremo é a pessoa e a obra de Jesus Cristo, que venceu a morte e nos garantiu uma herança incorruptível.

Aplicação

Como podemos trazer esse consolo escatológico para a nossa vida diária e para a vida daqueles que sofrem ao nosso redor?

  • Quando visitar um enlutado: Em vez de apenas oferecer condolências formais, ouse compartilhar a esperança. Lembre suavemente: "Nosso irmão não está perdido; ele está com o Senhor, e um dia o veremos novamente. Essa é a nossa firme esperança."
  • Quando enfrentar o medo da morte: Leia e medite em passagens como 1 Coríntios 15 e Apocalipse 21-22. Deixe que a certeza da ressurreição e da nova criação encha seu coração de uma paz que o mundo não pode dar.
  • Em tempos de tribulação: Lembre-se de que, como Paulo diz, "os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2 Coríntios 4:17). Fixe os olhos no prêmio eterno.

Conclusão

Em dias de doença e luto, nossa capacidade humana de ajudar é limitada. Não podemos curar os enfermos nem trazer os mortos de volta à vida. Mas podemos fazer algo infinitamente mais poderoso: podemos nos apontar uns aos outros para as promessas de Deus.

Podemos perguntar: "O Deus Todo-Poderoso, o Deus dos vivos, já não reina?". Podemos consolar os tristes professando com a boca e o coração: "Eu creio na ressurreição do corpo e na vida eterna".

Fazemos isso? Ou nos envergonhamos de nossa fé e nos contentamos em levar flores e desejar "força", como se não tivéssemos nada mais a oferecer? Se a dúvida sobre essas verdades existe em nosso coração, então nos tornamos como os pagãos, sem consolo e sem esperança.

A verdade é esta: Jesus Cristo vive! E quem crê Nele, ainda que morra, viverá. Pertencer a Ele é o único consolo, tanto na vida quanto na morte. Que possamos não apenas crer nisso, mas proclamar essa verdade uns aos outros, sendo canais do Deus de toda a consolação em um mundo desesperadamente necessitado dela.


Lista de estudos da série

1. O Evangelho: A Vitória de Deus que Redefine a Vida – Estudo Bíblico

Semeando Vida

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