Ao começarmos a refletir sobre o que significa "viver", duas memórias me vêm à mente. A primeira é de um professor que, após visitar um laboratório de biologia e maravilhar-se com os fenômenos da vida, perguntou ao cientista-guia: "Vimos manifestações da vida, mas o que é a vida?".
O cientista, com um gesto de impotência, respondeu: "Se eu soubesse, seria o homem mais inteligente do mundo. Nós não sabemos". Décadas se passaram, e essa resposta continua, em grande medida, verdadeira. Podemos descrever a vida como movimento, ação, crescimento, o oposto da morte. Mas sua essência permanece um mistério.
A segunda memória é de um teólogo que, em seu leito de morte, sussurrou: "A vida... é... desconhecida..., mas... mais... desconhecida... ainda... é... a morte". De fato, ambas nos parecem estranhas e enigmáticas. Somos como o apóstolo Paulo descreveu em 1 Coríntios 13:12: "Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho".
Contudo, em meio a esse mistério, as Sagradas Escrituras nos revelam o suficiente para que possamos viver consolados e partir em paz. Não pretendo aqui criar um sistema teológico completo sobre vida e morte, mas sim compartilhar algumas observações da Palavra que podem nos trazer conforto e instrução.
Afinal, como as Escrituras nos ensinam a diferenciar a vida que simplesmente vivemos da Vida que verdadeiramente importa?
1. A vida no Antigo Testamento é mais do que apenas respirar
Inicialmente, a Bíblia fala da vida em seu sentido mais comum e natural. Em Gênesis 2:7, lemos como Deus "formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente".
O plano original de Deus não era a morte, mas a vida. A morte entrou no mundo como uma intrusa, uma consequência direta do pecado.
Deus advertiu claramente: "...da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gênesis 2:17). Paulo confirma essa trágica realidade em Romanos 5:12, afirmando que "pelo pecado, entrou a morte no mundo".
Por causa da Queda, a vida se tornou pesada e cheia de cuidados. O trabalho se tornou penalidade, e a terra, resistente.
Quando o Faraó pergunta a Jacó sobre sua idade, o patriarca responde com um tom de cansaço: "Os dias dos anos da minha peregrinação são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida" (Gênesis 47:9). A vida, que deveria ser uma flor, foi manchada pela sombra da morte.
No entanto, o Antigo Testamento não para por aí. A palavra "vida" começa a ganhar uma nova cor, um novo significado. O quinto mandamento promete não apenas longos dias, mas algo a mais: "Honra a teu pai e a tua mãe... para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o Senhor, teu Deus, te dá" (Deuteronômio 5:16).
Viver, então, começa a significar mais do que "não-morrer". Significa estar sob o favor de Deus, viver bem, desfrutar de comunhão com Ele.
A graça de Deus começa a restaurar a cor e a beleza da vida. Em Deuteronômio 30, Moisés coloca diante do povo uma escolha clara que alinha vida com bênção: "Vê que hoje pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal... a bênção e a maldição".
Essa vida abençoada se torna um antegozo da vida eterna. O autor de Provérbios promete que guardar os mandamentos do Senhor trará "largura de dias e anos de vida e paz" (Provérbios 3:2). A verdadeira sabedoria é uma "árvore de vida" (Provérbios 3:18). Essa esperança se torna ainda mais clara no Salmo 16, onde Davi expressa sua confiança:
Salmo 16.10-11
Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.
O livro de Atos nos confirma que este salmo é uma profecia da ressurreição de Cristo (Atos 13:35-37), e, por consequência, da vida que todos os crentes têm Nele. Pela graça, a vida que se tornara uma morte latente começa a se transformar em um prelúdio da eternidade.
Aplicação
- Reavalie sua definição de "boa vida". Em nossa cultura, uma vida boa é frequentemente medida pela longevidade, saúde, sucesso financeiro ou ausência de problemas. O Antigo Testamento nos convida a medir a vida pela qualidade de nossa comunhão com Deus. Estamos buscando uma vida longa ou uma vida "boa" aos olhos do Senhor?
- Conecte obediência com bênção. O mandamento de honrar pai e mãe não é apenas uma regra social; é um princípio espiritual que associa nossa obediência à promessa de "ir bem". Pense em como sua obediência a Deus em outras áreas pode estar diretamente ligada à qualidade e à paz que você experimenta em sua vida diária.
- Encontre vislumbres da eternidade no hoje. Mesmo os santos do Antigo Testamento experimentavam a vida com Deus como um "gosto antecipado" do céu. Onde você vê a "plenitude de alegria" e as "delícias" da presença de Deus em sua rotina? Cultive esses momentos de comunhão, pois eles são a essência da vida verdadeira.
2. Jesus redefine o que significa estar vivo ou morto
No Novo Testamento, a palavra "vida" continua a ser usada em seu sentido comum. Quando Jesus diz que "não só de pão viverá o homem" (Mateus 4:4), Ele fala da sustentação da vida física. Quando o chefe da sinagoga pede que Ele cure sua filha, ele diz: "põe a mão sobre ela, e viverá" (Mateus 9:18), referindo-se a um retorno à vida natural.
Porém, em muitos outros momentos, Jesus e os apóstolos elevam o conceito a um nível muito mais profundo. Eles nos ensinam que é possível estar fisicamente cheio de vida, mas espiritualmente morto.
Um dos exemplos mais chocantes está em Mateus 8:22. Um discípulo pede para primeiro enterrar seu pai antes de seguir Jesus. A resposta de Cristo é radical: "Siga-me, e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos".
Os "mortos" que enterram não são cadáveres, mas pessoas que, embora respirando, não conhecem a Jesus, vivem em seus pecados e estão alienadas da verdadeira fonte da vida.
A parábola do Filho Pródigo, em Lucas 15, ilustra isso de forma pastoral. O filho mais novo "desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente". Ele estava "vivo" no sentido mundano: viajando, festejando, gastando.
Mas quando ele volta arrependido, o pai declara: "porque este meu filho estava morto e reviveu" (Lucas 15:24). Ele estava biologicamente vivo o tempo todo, mas morto em sua rebelião e separação do pai.
Essa dualidade atinge seu ápice na declaração de Jesus em Mateus 10:39: "Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará".
A explicação é clara: quem tenta desesperadamente salvar sua vida terrena – sua posição, reputação, conforto, bens – negando a Cristo, acabará por perder a única vida que importa, a vida verdadeira. Por outro lado, quem está disposto a "perder" tudo isso por amor a Ele, encontrará a vida em sua plenitude.
Aplicação
- Faça um diagnóstico espiritual honesto. Você está apenas "respirando" ou está verdadeiramente "vivendo"? É fácil cair na rotina da vida cristã — ir à igreja, ler a Bíblia — enquanto nosso coração está distante, espiritualmente "morto". Onde está sua paixão, seu primeiro amor? Você está apenas cumprindo rituais ou desfrutando de um relacionamento vibrante com o Pai?
- Identifique os "ídolos" que você tenta salvar. O que significa para você "achar a sua vida"? É a segurança do seu emprego? A aprovação dos outros? O controle sobre sua família? Seja honesto sobre as coisas que você se apega com medo de perder. Lembre-se que Jesus nos chama a entregar justamente essas coisas para encontrar a liberdade da vida real Nele.
- Veja o evangelismo como um resgate. A linguagem de "mortos" e "vivos" transforma nossa visão sobre compartilhar o evangelho. Não estamos apenas convidando pessoas para um clube ou oferecendo uma filosofia de vida melhor. Estamos participando de uma operação de resgate divino, chamando pessoas da morte para a vida, do domínio das trevas para o Reino da luz.
3. A vida verdadeira não é uma ideia, é uma pessoa: Cristo
É comum nos referirmos a essa vida mais profunda como "vida espiritual". Embora bem-intencionada, essa terminologia pode ser perigosa.
O autor do texto original nos alerta que por trás dessa ideia pode se esconder um pensamento pagão, que via a "vida divina" como uma espécie de fluido místico ou uma energia que entra no espírito humano, separada do corpo.
A Bíblia, no entanto, apresenta uma visão muito mais integrada. A vida que recebemos de Deus não é apenas para o nosso espírito; ela envolve nosso corpo, nossa mente, nossas emoções, todo o nosso ser. Por isso, é melhor chamá-la de vida verdadeira, autêntica e plena. Ela não é apenas uma vida interior, mas uma vida que transborda em todas as nossas ações.
Se quisermos usar o termo "espiritual", devemos entendê-lo corretamente: é uma vida que vem do Espírito Santo. Como Paulo escreve aos Gálatas: "Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito" (Gálatas 5:25). É uma vida gerada e sustentada pelo Espírito de Deus.
Mais precisamente ainda, podemos chamá-la de vida Cristã, pois é uma vida que recebemos de Cristo e que temos Nele. Jesus não disse "Eu mostro o caminho para a vida". Ele declarou: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6).
Essa vida não é uma recompensa futura que aguardamos passivamente; ela começa agora. Jesus ensina em João 5:24: "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida". No momento em que cremos, somos transferidos de um estado de morte para um estado de vida.
E qual a essência dessa vida? Jesus a define em sua oração ao Pai: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). Viver, no sentido pleno, é conhecer a Deus. Fora de Jesus Cristo, não há vida. Uma pessoa pode ter fama, riqueza e sucesso, mas se não conhece a Cristo, está "sem Deus e sem esperança no mundo".
Aplicação
- Pare de compartimentalizar sua fé. A "vida verdadeira" em Cristo não é algo que você ativa no domingo de manhã e desliga na segunda-feira. Ela deve impactar como você trabalha, como trata sua família, como gasta seu dinheiro e como cuida de seu corpo. Onde sua vida com Deus ainda não permeou sua vida diária?
- Cultive o conhecimento de Deus. Se a vida eterna é conhecer a Deus, como você está buscando esse conhecimento? Não se trata de um conhecimento meramente intelectual, mas relacional. Invista tempo na Palavra, em oração e em comunhão com outros crentes para aprofundar seu relacionamento com o Pai e com Jesus.
- Ancore sua identidade em Cristo, não em suas circunstâncias. O mundo mede seu valor pelo que você tem ou faz. Deus o define por quem você é Nele. Você passou da morte para a vida. Você é filho de Deus. Essa é a sua verdadeira identidade, e ela não muda, quer você esteja no topo da montanha ou no fundo do vale.
4. A vida em Cristo floresce mesmo em meio ao sofrimento
Neste ponto, uma pergunta honesta pode surgir: "Tudo isso parece muito bonito no papel, mas minha vida está cheia de dor e dificuldades. Onde está essa 'vida plena' no meio do meu sofrimento?".
A Palavra de Deus não ignora essa realidade. Ela não nos promete uma vida isenta de miséria. Pelo contrário, mostra que os filhos de Deus frequentemente enfrentam provações intensas. Eles lutam com a saúde, choram a perda de entes queridos, enfrentam uma calamidade após a outra e, às vezes, chegam a questionar se Deus se esqueceu deles.
O sofrimento pode ser tão avassalador que nos sentimos como uma árvore velha, partida ao meio por uma tempestade. Em momentos assim, o mundo olha e diz: "Isso não é vida". E, de uma perspectiva puramente humana, eles podem ter razão. A dor pode parecer insuportável.
No entanto, se conhecemos a Jesus Cristo e o poder da Sua ressurreição, nós vivemos. A vida não é a ausência de dor, mas a presença de Cristo no meio da dor. Essa é a verdade que sustentou o apóstolo Paulo a declarar: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho" (Filipenses 1:21).
Cristo era a vida da sua vida, a alegria da sua alegria. Para Paulo, a morte não era uma tragédia a ser evitada a todo custo, mas a porta de entrada para a plena realização da vida que ele já possuía em Cristo. Era "ganho" porque significava estar ainda mais perto da Fonte da Vida.
Essa esperança redefine tudo. A morte daqueles que amamos em Cristo não é um fim, mas um ganho para eles. Eles estão com o Senhor. E enquanto permanecemos aqui, o mesmo Senhor que os recebeu nos dá força, renova nossa juventude como a da águia (Salmo 103:5) e nos sustenta.
Aplicação
- Mude sua perspectiva sobre o sofrimento. Em vez de ver o sofrimento como uma evidência da ausência de Deus, comece a vê-lo como o contexto no qual a vida de Cristo em você pode se manifestar de forma mais poderosa. É na nossa fraqueza que o poder Dele se aperfeiçoa.
- Encontre esperança na dor da perda. O luto é real e necessário. Mas para o cristão, ele não é sem esperança. A verdade de que "morrer é ganho" não elimina a dor da saudade, mas a envolve na certeza da vida eterna e do reencontro futuro. Deixe que essa esperança seja a âncora da sua alma em tempos de luto.
- Apegue-se a Cristo como sua única fonte de vida. Quando as circunstâncias falham, quando a saúde se vai, quando as pessoas nos decepcionam, para onde você corre? Se sua vida estiver ancorada em qualquer coisa que não seja Cristo, ela desmoronará. Clame a Ele. Ele é o Deus que dá "força aos cansados e vigor aos fracos".
Conclusão
A pergunta final que ecoa a partir dessas reflexões é profundamente pessoal: será que esta vida autêntica, plena e verdadeira realmente nos importa?
Quando observamos o mundo, os atritos dentro das igrejas e as mil preocupações que consomem nosso tempo e energia, é fácil pensar que muitos de nós se esqueceram do que realmente significa a VIDA. Estamos distraídos, preocupados em "salvar" nossas pequenas vidas, enquanto negligenciamos a grande Vida que nos foi oferecida.
O chamado do evangelho é para nos despertarmos dessa distração. É um convite para pararmos de apenas existir e começarmos a viver de verdade — crendo, esperando, amando, vigiando, orando e correndo em direção ao alvo para o qual Deus nos chamou em Cristo Jesus.
Que possamos ter em nós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, aquele que abriu mão de Sua própria vida para que pudéssemos encontrar a nossa Nele. Pois Ele não é apenas o caminho para a vida; Ele é a própria Vida.