Seja honesto: quando você pensa em alguém "forte", a imagem que vem à mente é de uma pessoa paciente, calma e tardia em se irar?
Provavelmente não. Em nossa cultura, a paciência é frequentemente confundida com fraqueza ou passividade. A força é associada à reação rápida, à defesa imediata, à imposição da própria vontade.
Essa mentalidade não é nova. Para os heróis da antiguidade, inflamar-se rapidamente em ira era um sinal de honra e poder. No fundo do nosso coração, ainda ressoa o canto de Lameque, o descendente de Caim: "matarei um homem por me ferir... se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes" (Gênesis 4:23-24). Essa sede de retaliação e a impaciência com as falhas alheias estão em nosso sangue.
No entanto, a Bíblia nos apresenta uma visão radicalmente oposta. A paciência não é uma fraqueza, mas uma das características mais gloriosas de Deus.
A Palavra de Deus usa um termo ainda mais profundo para descrevê-la: Longanimidade. Literalmente, significa ter um "ânimo longo", ser o oposto de alguém de "pavio curto". Como podemos resgatar essa virtude esquecida e aprender a ser pacientes em um mundo impaciente?
1. A Paciência é um reflexo do caráter de Deus
A primeira e mais poderosa razão para sermos pacientes é porque o nosso Deus é paciente. Quando Ele se revela a Moisés no Monte Sinai, a primeira coisa que destaca sobre Seu próprio caráter é esta:
Êxodo 34:6
SENHOR, SENHOR, Deus compassivo e clemente, tardio em irar-se e grande em misericórdia e fidelidade...
Ser "tardio em irar-se" é a essência da longanimidade bíblica. Significa "alongar o ânimo", ou seja, reter, adiar a explosão da ira. Deus tem toda a razão para se irar contra o nosso pecado, mas Ele pacientemente contém a Sua ira, dando-nos tempo e oportunidade para o arrependimento.
Essa paciência não significa que Deus é indiferente ao pecado. O mesmo texto continua: "que de maneira alguma terá por inocente o culpado". Mas significa que Seu primeiro impulso não é a punição, mas a misericórdia. Por isso, os salmistas O glorificam repetidamente: "Tu, Senhor, és Deus misericordioso e clemente, vagaroso em irar-te e grande em amor e em fidelidade" (Salmo 86:15).
A longanimidade de Deus se estende não apenas ao Seu povo, mas até mesmo aos Seus inimigos. O livro de Jonas é um poderoso testemunho disso. Jonas fica furioso porque Deus perdoa a cidade de Nínive.
Ele reclama com Deus, dizendo: "eu sabia que tu és Deus clemente e misericordioso, tardio em irar-te e grande em benignidade, e que te arrependes do mal" (Jonas 4:2). Jonas via a paciência de Deus como um problema; Deus a via como Sua glória.
Na parábola do servo incompassivo (Mateus 18), Jesus contrasta a imensa paciência de Deus conosco com a nossa chocante falta de paciência uns com os outros.
O rei perdoa uma dívida impagável, mas o servo, que acabou de ser perdoado, recusa-se a dar um pouco mais de tempo para seu conservo pagar uma dívida insignificante. A mensagem é clara: receber a paciência de Deus nos obriga a estender paciência aos outros.
Aplicação
A paciência não é algo que produzimos por força de vontade. Ela flui de um coração que foi profundamente transformado pela longanimidade de Deus conosco.
- Medite na paciência de Deus com você: Tire um tempo para refletir sobre a sua própria vida. Quantas vezes você falhou? Quantas vezes repetiu o mesmo pecado? E, ainda assim, Deus continuou a perdoá-lo, a chamá-lo de volta, a ser paciente com você. Deixe que a gratidão por essa graça inesgotável amoleça seu coração em relação aos outros.
- Veja os outros através das lentes da graça: Quando alguém o irritar ou falhar com você, faça este exercício: lembre-se de que essa pessoa, se for crente, é um filho amado de Deus, por quem Cristo morreu. E lembre-se de que Deus está sendo paciente com as fraquezas dela, assim como está sendo paciente com as suas.
- Ore como o salmista: Faça do Salmo 86:15 uma oração pessoal. "Senhor, Tu és paciente e tardio em irar-te. Por favor, produz esse mesmo fruto em mim. Ajuda-me a ser um reflexo do Teu caráter para minha família, meus amigos e colegas de trabalho hoje".
2. A Paciência é um sinal de verdadeira força e sabedoria
O livro de Provérbios, que muitos de nós conhecemos pouco, está repleto de louvores à virtude da paciência. Ele a associa não à fraqueza, mas à verdadeira força e ao entendimento profundo.
Considere estas sentenças: "O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura" (Provérbios 14:29). "O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a briga" (Provérbios 15:18).
E o mais famoso: "Melhor é o que tarda em irar-se do que o forte; e o que se ensenhora do seu espírito, do que o que toma uma cidade" (Provérbios 16:32).
Conquistar uma cidade é um feito de força exterior, mas conquistar o próprio espírito, dominar a própria ira, é um feito de força interior muito maior. O mundo aplaude o primeiro, mas o céu celebra o segundo. A pessoa impaciente e reativa é, na verdade, escrava de suas emoções e das circunstâncias. A pessoa paciente e longânima é verdadeiramente livre e no controle.
Paulo lista a longanimidade como um dos primeiros frutos do Espírito (Gálatas 5:22), ao lado do amor, da alegria e da paz. Ele também a considera essencial para a unidade da igreja: "com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor" (Efésios 4:2). A igreja simplesmente não pode funcionar sem a prática constante da paciência mútua.
Aplicação
A vida é feita de pequenas coisas, e é nessas pequenas coisas que nossa paciência é mais testada. É na família, no trabalho e no trânsito que temos a oportunidade de exercitar essa força interior.
- Pratique a "pausa santa": Quando sentir a raiva subindo, aprenda a arte de adiar a reação. A Bíblia chama isso de "retardar a ira". Não responda imediatamente ao e-mail irritante. Não grite de volta na discussão. Dê uma volta, respire fundo, ore. Muitas vezes, um atraso na reação resulta em um cancelamento da reação pecaminosa.
- Use a resposta branda: Memorize Provérbios 15:1: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira". Quando alguém se dirigir a você com aspereza, resista ao impulso de responder no mesmo tom. Experimente o poder desarmador de uma resposta calma e gentil.
- Cultive o humor (especialmente sobre si mesmo): A falta de paciência muitas vezes vem do orgulho. Levamos a nós mesmos muito a sério. Aprender a rir de nossas próprias falhas e limitações nos torna muito mais graciosos com as falhas dos outros.
3. A Paciência é uma disciplina a ser cultivada
A paciência não é um traço de personalidade com o qual alguns nascem e outros não. Embora a educação e o temperamento possam influenciar, ela é, fundamentalmente, um fruto do Espírito que precisa ser cultivado através de uma batalha espiritual. Por natureza, ninguém é paciente. Todos nós temos momentos em que o sangue ferve.
Um chefe que se gloria porque seus subordinados tremem diante dele possui uma glória muito pobre. Um professor que perde a paciência com a dificuldade de um aluno está falhando em sua vocação.
Pais que são "pavio curto" com seus filhos criam um ambiente de medo, não de graça. Em todos esses casos, a falta de paciência é uma falta de amor e um entristecimento do Espírito Santo.
Lembro-me da história de um agricultor cuja cerejeira foi "atacada" por alguns meninos. Sua esposa queria pegá-los para lhes dar uma lição, mas ele, com calma, apenas conversou com eles e os deixou ir.
A esposa depois comentou: "Meu homem tem um coração muito bom e paciente". Ele entendeu que algumas cerejas não valiam a pena para esmagar o espírito de algumas crianças. Isso é sabedoria. Isso é paciência.
Em nossa cultura que diz "não levar desaforo para casa", onde "falar a verdade" muitas vezes é uma desculpa para a grosseria, precisamos nos perguntar: era realmente necessário dizer isso?
Não havia nada de bom para falar? A paciência nos ensina a filtrar nossas palavras e ações, priorizando a paz e a edificação.
Aplicação
A batalha pela paciência é vencida momento a momento, com a ajuda do Espírito Santo.
- Identifique seus gatilhos: O que mais tira você do sério? É o trânsito? É quando seus filhos não obedecem? É a lentidão de um colega? Conhecer seus gatilhos é o primeiro passo para se preparar para eles com oração. Peça a Deus graça específica para essas situações.
- Não confunda paciência com passividade: Ser paciente não significa ser como o sacerdote Eli, que nunca corrigiu seus filhos. É possível e necessário corrigir, mas com um espírito de paciência e amor, não de ira. A disciplina aplicada com raiva raramente produz o fruto da justiça.
- Lembre-se do que realmente importa: Muitas das coisas que nos tiram a paz são, na verdade, insignificantes. Um copo quebrado, um atraso de cinco minutos, uma opinião diferente. A paciência nos ajuda a manter a perspectiva e a não transformar pequenas coisas em grandes batalhas.
Conclusão
O amor, diz Paulo, "é paciente" (1 Coríntios 13:4). É a primeira característica listada. Talvez porque sem ela, todas as outras se tornam impossíveis. Não podemos nos alegrar, ter paz, ser gentis ou bondosos se não formos, antes de tudo, pacientes uns com os outros.
Que possamos parar de glorificar a impaciência e começar a ver a paciência como ela realmente é: um reflexo do coração de Deus, um sinal de verdadeira força espiritual e o óleo que lubrifica todos os nossos relacionamentos.
Lembremo-nos constantemente do quanto o Senhor teve e ainda tem que nos suportar. Que essa memória nos encha de gratidão e nos impulsione a estender essa mesma graça a todos ao nosso redor. Pois o mundo não conhecerá que somos discípulos de Jesus pela nossa capacidade de vencer argumentos, mas pelo nosso amor paciente uns pelos outros.