Apocalipse 1.1-8 - A Revelação de Cristo e a Mensagem de Esperança para a Igreja


Por Ray Summers

O Apocalipse é uma série de imagens apocalípticas concedidas a João pelo Espírito Santo com o fito de apresentar Cristo como eternamente vitorioso sobre todas as condições temporais, e assim encorajar os cristãos do tempo de João e de todos os tempos até o retorno de nosso Senhor.

É uma mensagem de aviso à Igreja para que guarde sua pureza e não se misture com o mundo.

É, ainda, uma mensagem de aviso aos inimigos da Igreja, afiançando-lhes que a Igreja, pelo poder de Cristo, finalmente sairá vitoriosa, e que todos quantos a combatem afinal se verão derrotados pela justiça do Divino Poder.

O livro é uma mensagem de conforto para todos quantos estão em tristeza, anunciando libertação da aflição e da dor no tempo por Deus determinado.

É uma mensagem de esperança para os desencorajados, convidando-os a erguer suas cabeças e corações, visto que Deus não abdicou seu trono em favor de nenhuma outra pessoa ou Poder. É um livro que de modo especial se adapta a qualquer época de grande turbação e perplexidade.

A estrutura do livro propicia um estudo mais que interessante. O modo pelo qual o encaramos determina o tratamento ou estudo dessa sua estrutura.

Alguns intérpretes dividem-no em duas parte gerais — do capítulo 1 ao 11 e do capítulo 12 ao 22. Alguns acham que os capítulos de 12 a 22 constituem um segundo livro e apresentam a mensagem do "livro pequeno" de que fala 10:1-11.

Sua mensagem é aquela que se diz que João anuncia a outros povos, nações, línguas e reis. Se se deve ou não dividir o livro nesse ponto é coisa discutível.

Na verdade, aparece aí clara uma mudança no tempo, ou ritmo da obra. A ação torna-se muito mais rápida desde o início do capítulo 12, crescendo de intensidade, até atingir, nos capítulos finais, o clímax da vitória.

Outros intérpretes acham que se deve dividir o livro em sete partes, excluindo-se o prefácio e a conclusão.

Acham que o número completo, "7", se faz notar até na estrutura do livro. Por exemplo, Moulton apresenta um estudo em sete partes — o Trono, os Selos, as Trombetas, o Triunfo, as Taças, a Palavra de Deus e a Nova Jerusalém, com prólogo e epílogo. (R. G. Moulton, The Modem Reader´s Bible [N. York, The Macmillan Co., 1920], pp. 378-388.)



Semelhantemente, Dana apresenta, com prólogo e epílogo, sete episódios referentes aos símbolos que sugerem Majestade, Julgamento, Aviso, Conflito, Retribuição, Consumação e Destino.

Depois divide cada um dos seis primeiros episódios em sete partes e divide o último episódio em duas partes — os maus e os remidos. (H. E. Dana, The Epistles and Apocalipse of John, pp. 95-98.)

Desde o início do livro, a ação é toda ocupada por Cristo, que é apresentado como o Cordeiro que foi morto, mas que ainda vive.

Por esta razão, dividimos assim esta presente obra, a fim de apresentar este Cristo como o vulto central. É pelo Cordeiro redentor que o povo de Deus alcança a vitória. Sim, "DIGNO É O CORDEIRO".

Apocalipse 1:1-8
1 - Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João,
2 - o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.
3 - Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.
4 - João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono
5 - e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados,
6 - e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!
7 - Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!
8 - Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso.
Prefácio
As palavras que abrem o livro afirmam que ele é "a revelação de Jesus Cristo". O pensamento do escritor é o de que esta é uma revelação que pertence a Cristo e que por ele é revelada aos leitores.

Ele é o Revelador e também o Revelado, no livro do Apocalipse. No livro, ele é desvendado e descoberto aos olhos humanos. João, então, não encara o livro como uma "revelação de João", como em geral as nossas traduções comuns dão a entender. 

Nos outros apocalípticos dos judeus atribui-se a revelação a algum vulto importante de Israel — a Abraão, Esdras, Moisés, Enoque, Baruque e outros mais. João diz que esta revelação pertence diretamente a Cristo, que a revela.

João é apenas o escriba. A mensagem é essa do Senhor ressuscitado, e João quer que ela seja claramente entendida pelas igrejas.

Somente essa compreensão poderá ajudá-los a receber a mensagem de esperança e conforto que o livro contém para eles. Esta é uma mensagem que Deus deu a Cristo, para que a revelasse a seus servos. 

Tal revelação é o desvendamento das "coisas que devem acontecer muito em breve". A natureza do Reino de Deus é tal que jamais conhecerá o que é derrota. Quando João esteve em Patmos, parecia que tal Reino estava a pique de ser destruído, caso Deus não interviesse imediatamente. 

Esta é uma mensagem que afirma que Deus vem vindo para redimir o seu povo. Discutimos já a construção grega quando tratamos, páginas atrás, do método futurista de interpretação do Apocalipse.

Basta aqui agora apenas uma rememoração do assunto. O verbo aqui traduzido para "é necessário" ou "devem" é impessoal e, assim, denota que está implícita uma necessidade moral.

A natureza do caso é tal que as coisas reveladas aqui devem acontecer dentro de pouco tempo. O tempo aoristo do infinitivo "vir a acontecer" reforça a verdade de que é necessária uma ação imediata. A frase traduzida por "brevemente" significa justamente isso — em breve, logo, depressa.

Dois ou três mil anos já seria muito tarde. As coisas aqui reveladas devem sobrevir dentro em breve, ou a causa estará perdida — Domiciano acabará exterminando completamente o cristianismo.

Qualquer tentativa para nos levar a entender outra coisa que não uma plena "certeza" será desconhecer a angustiosa situação das referidas igrejas. Elas, mais do que nunca, estavam precisando de certeza de ajuda num presente imediato — não para dali a um milênio, num futuro incerto e distante.

A revelação foi "significada" ou "notificada" por Cristo pelo seu anjo ao seu servo João. A palavra traduzida por "significada" quer dizer mostrar por sinais. Assim se nos apresenta a natureza do livro. É uma revelação (desvendamento) da mensagem de Deus por meio de sinais (símbolos).



Devemos sempre nos lembrar disto, se de fato queremos conhecer a verdade contida no livro. Sua mensagem nos vem não pela interpretação literal de suas palavras, e, sim, pela interpretação dos símbolos. E um livro de desenhos divinos.

O agente ou instrumento humano pelo qual se deu este livro às igrejas é João. Ele se identificará mais adiante, no versículo 9, como um contemporâneo de seus leitores.

No presente, ou por ora, ele se identifica como o João que previamente já dera testemunho da palavra de Deus. Este é um conceito tipicamente Joanino do Cristo encarnado (João 1:1-18).

São prometidas bênçãos àqueles que receberem corretamente esta mensagem. A palavra "bem-aventurado" é termo que denota a felicidade duma pessoa por estar nisso envolvida a sua vida espiritual interior.

É palavra que faz paralelo com aquela empregada no Salmo Primeiro, quando se descreve o homem justo. É a mesma palavra usada por Jesus nas Beatitudes de Mateus 5. Esta é a primeira duma série de beatitudes do Apocalipse:


  • 1:3 — "Bem-aventurado é o que lê e os que ouvem." 14:13 — "Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor."
  • 16:15 — "Bem-aventurado o que vigia e guarda os seus vestidos."
  • 19:9 — "Bem-aventurados aqueles que são convidados para a ceia das bodas do Cordeiro."
  • 20:6 — "Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição.
  • 22:7 — "Bem-aventurado o que guarda as palavras da profecia deste livro."
  • 22:14 — "Bem-aventurados os que lavam as suas vestiduras."

Estas maravilhosas beatitudes começam com o recebimento da revelação de Cristo e terminam com o lavamento das vestiduras e a entrada na Cidade Santa. A ideia de qualidade está presente em todas elas.

Na primeira se faz referência ao modo de tornar conhecida a revelação às igrejas por meio duma leitura pública.

Prometem-se bênçãos ao leitor, aos que ouvirem com entendimento (esta é a significação da construção gramatical) e àqueles que guardarem as palavras escritas no livro. João tinha diante de seus olhos as igrejas da Ásia.

Não há dúvida nenhuma de que o livro foi, primeiro que tudo, endereçado aos cristãos do final do século primeiro de nossa era.


A localização das sete igrejas

A última afirmativa do versículo terceiro — "porque o tempo está próximo" — é uma reafirmação da verdade de que a mensagem é um desvendamento dos acontecimentos que dentro em breve se desenrolariam. Isto não quer dizer que cada pormenor do livro seja cumprido imediatamente.

A João não foi revelado o espaço de tempo que decorrerá entre o início da libertação dos cristãos e a consumação final; e nem ele, e nem os outros cristãos precisavam saber isso. Estavam precisados, sim, da certeza duma libertação imediata e duma vitória final e completa. E foi justamente isto que se lhes deu.

A saudação do versículo 4 é típico das epístolas daqueles dias. O escritor se identifica e se dirige às sete igrejas da Ásia. Já vimos atrás as razões por que assim agiu. Agora, tendo diante de si um auditório de cristãos amargurados, envia-lhes votos de graça e paz da parte de Deus.

Tais palavras — "graça e paz" — são palavras mui usadas em saudações. Aparecem em muitas das epístolas do Novo Testamento. E aparecem nessa ordem, porque só pode haver paz no coração humano depois de a graça haver realizado a sua obra.



A graça é a operação de Deus, redentora e não merecida, no coração humano; e a paz é o resultado e a condição permanente que se estabelecem após a operação da graça.

A graça e a paz aqui são desejadas como provindo "daquele que é, e que era, e que há de vir". Este é um conceito de Deus tipicamente judaico. É boa reprodução da palavra empregada no lugar de Jeová — "O que vive eternamente."

Incidentalmente o uso do nominativo “ὁ” depois da preposição “ἀπό” nos fornece uma amostra inicial na desusada construção grega que encontramos no livro do Apocalipse. Ordinariamente esperamos encontrar o ablativo “τoν” depois desta preposição.

Também se descreve este desejo de graça e paz como vindo da parte dos "sete espíritos" que se acham diante do trono de Deus. Este é um modo apocalíptico peculiar de referir-se ao Espírito Santo, dado que sete é o número da perfeição. Assim, não se deixa de fora a Terceira Pessoa da Trindade.

O desejo é também estendido da parte de "Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra". Interessante é notar-se, em contraste com o fundo do culto ao imperador, a declaração de ser Jesus o príncipe ou o soberano dos reis da terra.

Os reis e os imperadores temporais reivindicam o poder e a autoridade de Deus; aqui está agora Um igual a Deus, Um que é soberano até mesmo dos reis. Eterna glória e domínio são atribuídos "Àquele que nos ama".

A prova do Seu amor continuado (está no tempo presente — "Aquele que nos ama") está no fato de haver ele nos libertado (está no aoristo) de nossos pecados pelo seu sangue.

Isto nada mais é que uma referência à morte vicária de Cristo na cruz — a manifestação histórica do amor eterno e do caráter redentor de Deus.

Com isto está a certeza da soberania eterna de Cristo, que em nada se compara com a efêmera soberania temporal de um Domiciano, que tudo estava fazendo para destruir o cristianismo.

Representa-se Cristo voltando assim como tinha ido (v. 7). "Ele vem com as nuvens" aponta para a esperança cristã do cumprimento do que o anjo prometera em Atos 1:11.

"E todo olho O verá" — isto nos assegura que a vinda de Jesus será assunto que se demonstra por si e que todo o mundo reconhecerá isso e o que isto significa.

Até mesmo os responsáveis pela morte dEle reconhecerão a grande e grave importância do Seu retorno.

Esta ligação das três pessoas da Trindade com a assertiva do versículo 8, acerca de Deus e do Seu poder, serve para imprimir a mais forte autoridade divina à mensagem que João vai entregar aos cristãos. Trata-se duma mensagem que vem do Deus Eterno e Onipotente.

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