Método de interpretação da filosofia histórica do apocalipse


Por Ray Summers

Este método de interpretação divorcia quase que completamente o Apocalipse da sua formação histórica. Encara o livro como uma discussão das forças que subjazem aos acontecimentos e não como uma discussão dos próprios acontecimentos.

O Apocalipse é visto como uma expressão daqueles grandes princípios do governo de Deus, cuja operação pode ser observada em cada era. Assim, é um livro que nos revela os princípios básicos empregados por Deus para lidar com todos os homens de todas as épocas.

Entende-se, então, que os símbolos se referem a forças ou tendências que podem cumprir-se sempre e sempre, já que tais forças ou tendências se repetem na História.

Por exemplo, a Besta que surge do mar, no capitulo 13 do Apocalipse, interpreta-se como as forças seculares contrárias à Igreja verdadeira, onde quer que seja e em qualquer tempo que tais forças surgirem.

Semelhantemente, a segunda besta, com chifres de cordeiro, mas com voz de dragão, representa a corrupção do poder religioso em conúbio com o corrupto poder secular, para prejudicar o povo de Deus.

Esta escola de pensamento considera João como o que deu a verdade acerca das mais poderosas influências que operam por baixo de toda atividade humana. Algumas dessas influências realizam maravilhas para o bem da civilização. 

Outras têm sua sede não só nas hostis religiões não cristãs ou na velha Roma, mas também em poderosas igrejas reformadas ou não reformadas, e também em seitas que desertaram os dogmas e que não permitem a seus apóstolos condenar o egoísmo e a ganância.



Segundo os expositores deste sistema de interpretação, não há continuidade no Apocalipse. Não se deve esperar que se cumpra o que os selos e as trombetas simbolizam.

Os selos representam todo o curso da História, e as trombetas cobrem o mesmo terreno unicamente num aspecto diferente. A relação entre as visões não é tida como temporária, e sim como lógica.

São comparadas a sete rolos de gravuras que nos mostram a mesma, coisa de diferentes pontos de vista e com um clímax dramático (Richardson, op. cit., p. 64).

Os princípios aqui revelados são princípios que não envelhecem e são de todos os dias. Assim. João nos revela os grandes princípios que sempre estão operando no mundo.

Ele aponta as últimas manifestações para as quais os acontecimentos humanos e a causa de Deus estão sendo encaminhados pelo Cristo ressurreto.

Os princípios que controlaram a História nos tempos de João dirigem a Historia de todos os tempos, e as coisas simbolizadas têm tanta aplicação a qualquer dia como a tiveram nos tempos de João.

Esta análise do método histórico-filosófico de interpretação deixa perfeitamente claras as objeções (os pontos fracos) e os pontos fortes do dito sistema.

A) OBJEÇÕES


1 - Este método remove o livro para muito longe demais da situação a que se destinou originalmente. 

Esta interpretação não deixa de ter contato com os cristãos que primeiro receberam o Apocalipse, como é o caso dos futuristas e dos da continuidade histórica, mas nos faz entender que aqueles cristãos receberiam o livro sem grande calor e entusiasmo.

Ele reconhece que os princípios de que trata o livro são aplicáveis àqueles primeiros dias e o são também aos nossos dias.

Mas, um estudo mais acurado das necessidades daqueles cristãos do século primeiro nos revelará que eles foram visados de modo tão definido no livro do Apocalipse porque não podemos dizer que sua mensagem fosse tão universal assim que não tivesse para eles nenhum conforto e ajuda especiais.

2 - Este método coloca o livro dentro dum canal estreito demais. 
Afirma que os símbolos se referem a forças ou tendências e que não há nele profecias específicas de acontecimentos definidos.

Não parece ser este o caso, quando notamos em todo o livro evidências definidas do cumprimento de acontecimentos específicos.

Por exemplo, é fato conhecido que o Império Romano caiu por causa da combinação de três agentes: as calamidades naturais, a decadência interna e a invasão que veio de fora. Este fato é observado repetidas vezes no simbolismo do Apocalipse.




B) PONTOS FORTES


1 - Este método reconhece que o livro do Apocalipse tinha algum significado para aqueles que primeiro o receberam. O significado é um tanto limitado, mas está presente, e isto é o máximo que podemos dizer dos dois sistemas antes mencionados.

2 - O método também reconhece a mão de Deus na História. Ele não deixou o mundo entregue a sua própria sorte e engenho, mas está ainda lidando com os homens na base de princípios compatíveis com o Seu caráter.

3 - Este método reconhece que o alvo para o qual toda a História se movimenta é o triunfo completo da causa de Deus por entre as agitações dos homens. Seu propósito e seu plano não falharam, mas sairão vitoriosos pelo guerreiro que é chamado "o Rei dos reis" e que luta com a espada que sai de sua boca (19:11-21).

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