Apocalipse 3.14-22 - Laodicéia: a igreja morna com uma porta fechada


Por Ray Summers

Esta cidade se distinguia por sua grande riqueza. Não precisara de nenhuma ajuda do tesouro romano, quando fora em parte destruída por um terremoto cerca do ano 60 de nossa era.

Era a principal cidade comercial da região. Ali se encontravam nada menos de três estradas romanas, tornando-a cidade de grande importância. 

Tal cidade facilmente se deixaria dominar pela letargia e por uma certa complacência e satisfação própria. Este espírito que imperava na cidade certo se faria sentir dentro da igreja.

Apocalipse 3.7-13
14 - Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
15 - Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
16 - Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca;
17 - pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
18 - Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
19 - Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.
20 - Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
21 - Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.
22 - Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

1 - IDENTIFICAÇÃO (3:14)
Cristo se identifica como "o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus". Tudo isto evidencia uma declaração da essência de sua glória. A Laodicéia, exemplo de abjeto colapso, ele se dirige como aquele que não conhece queda nem derrota. 

A palavra "Amém" veio sem tradução do hebraico para o grego, e do grego para o português. Seu significado original traz a ideia de cuidar de ou de edificar. O sentido derivado, que chegou até nós, traz a ideia de alguma coisa que é firmada, alguma coisa positiva. 

Aqui nesta passagem indica a estabilidade. Quando esteve na terra, ele disse — "Eu sou a verdade" (João 14:6). Ele é a verdade acerca de Deus, e na vida e nos seus feitos testificou a verdade de Deus.

Ele é o princípio da criação de Deus — não que seja ele a primeira criação de Deus, e, sim, que é o agente originário da obra criadora de Deus.

Esta afirmação é semelhante à que Paulo faz aos colossenses (1:15-18) — quando diz que Cristo "é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, porque nele foram criadas todas as coisas... todas as coisas foram criadas por Ele.. . e nEle todas as coisas se mantêm unidas".



2 - QUEIXA E CONSELHO (3:15-18)
A queixa de Cristo diz respeito à letargia espiritual desta igreja. Não era fria — indiferença completa e manifesta; e nem quente — de zelo fervoroso. Era morna, tépida.

Viajantes que passavam pela cidade descobriram perto de Hierápolis lindos mananciais. Cansados e sedentos, pararam para matar a sede. Mas viram que as águas eram tépidas, era água mineral. 

Talvez nada naquela hora lhes fosse pior. O Senhor expressa a mesma insatisfação para com esta igreja morna, e, por isso, "a vomitaria".

É mais fácil lidar com uma igreja fria do que com uma morna. Repugna ao Senhor Jesus uma igreja sem nenhum entusiasmo, que não sente a urgência do trabalho, que não tem nenhuma paixão.

O conselho e as queixas estão misturados nos versículos 17 e 18. Reflete-se aqui o fundo comercial da cidade. Esta se dedicava ao comércio de três coisas essenciais. (Smith, op. cit., V, p. 671, citando Estrabão.) O Senhor faz uso das três para ilustrar a atitude da igreja.

a) Era o centro bancário da região.

Enormes fortunas estavam reunidas na cidade. Assim, seus habitantes eram arrogantes, orgulhosos e independentes.

Diziam: "Temos muito ouro; não precisamos da ajuda de ninguém." Era isso o que sentiam, e disso se blasonavam. Agora, a testemunha fiel e verdadeira diz: "Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre." 

Sim, eles possuíam muitas riquezas materiais, mas espiritualmente estavam quebrados, estavam na miséria.

Não tinham riqueza de caráter, e eram também mornos e tão cegos que não viam isso. Assim, o Senhor os aconselha a que venham a ele e dele recebam as verdadeiras riquezas espirituais, para que realmente sejam ricos. 

Uma pessoa pode possuir toda a riqueza deste mundo e ser um indivíduo paupérrimo, como também pode não possuir nenhuma riqueza material e ser muito rico. Depende só de ver qual o conceito que tal pessoa tem de riqueza.

b) O segundo grande negócio de Laodicéia era o seu comércio de lã escura.

Produzia-se ali uma lã escura acetinada com a qual se confeccionavam lindos vestidos, procurados por gente de todas as nações. 

Cristo diz: "Apesar disso, estás nu. Precisas vir a mim e comprar de mim vestidos que realmente cubram tua nudez diante de Deus."

As roupagens que eles usavam, de orgulhosa auto-suficiência, não os cobriam das vistas de Deus, como os cobriam dos olhares humanos. Aquilo a que eles chamavam de vestido só servia para deixá-los nus à vista de Deus.

c) O terceiro grande negócio da cidade era a preparação de um unguento usado como bálsamo para os olhos.

Havia, pois, na cidade uma espécie de laboratório que tornava a cidade um centro de terapêutica. Viajantes que ali aportavam, após estafantes caminhadas pelos areais e ao inclemente sol do deserto, com seus olhos congestionados, encontravam naquele unguento o suspirado alívio.

"És cego, e não sabes. Vem a Mim e te darei colírio espiritual para que possas realmente ver." Cristo possui tudo aquilo de que a igreja está tão tristemente necessitada. E ele está pronto a dar, caso eles queiram — a verdadeira riqueza, o verdadeiro vestido, a verdadeira visão. Ele não força a situação, nem os obriga a receber isso, uma vez que não queiram.

3 - AVISO (3:19)
Ele não os forçará a receber essas verdadeiras riquezas, mas, porque os ama, reprovará e castigará a todos. Cristo os ama. Por isso é que sua queixa se faz nesse tom de piedade e compaixão. Ele costuma castigar aos que ama. 

Isto se vê claro em Hebreus 12:5 em diante. Todo filho de Deus é punido, quando se rebela e peca. Portanto, ele os aconselha para que abandonem a letargia, e sejam zelosos e entusiastas, e se encham de calor espiritual, não mais permanecendo na mornidão.



4 - A PROMESSA (3:20, 21)
A Igreja de Laodicéia tinha tudo, menos Cristo. Ele permanecia do lado de fora, batendo à porta e pedindo entrada. Se o atendesse, logo ele entraria e travaria amizade com a igreja. Poderia começar sua obra na igreja ainda mesmo que só com um indivíduo cujo coração lhe respondesse e o desejasse.

Ao que vencer o espírito de letargia e se entusiasmar pela Causa de Deus, ele promete glória e amizade. Assentar-se-á com ele no seu trono, assim como ele se assentou com o Pai no seu trono, uma vez vencidos os obstáculos do caminho. 

Nenhuma expectativa, nem a mais poderosa imaginação poderá fazer uma ideia das gloriosas coisas contidas nesta promessa.

Talvez ele faça esta promessa extraordinária em vista das enormes dificuldades que qualquer igreja, ou indivíduo, encontra para vencer a mornidão de espírito; assim Cristo, com esta gloriosa promessa, procura incentivar a igreja à vitória.

O Cristo glorificado, alerta no meio de suas igrejas, vendo tudo com seus penetrantes olhos de chama, assim faz conhecido o seu louvor, sua queixa, seu aviso e suas promessas. A mensagem, endereçada primeiro às igrejas da Ásia Menor, tem aplicação universal. 

Suas verdades devem ser sentidas e praticadas onde quer que lutem as igrejas hodiernas contra semelhantes condições. E por aí além quantas e quantas igrejas apresentam as mesmas condições, fraquezas e necessidades! O brado de alerta contra a apatia espiritual ainda está ecoando por toda parte: "Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas."

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