Mateus 7.15-29
A missão proclamadora da igreja tem sido desenvolvida, ultimamente, de maneira a utilizar e aproveitar os meios de comunicação de massa a fim de anunciar as “boas novas" de salvação e alcançar um maior número de pessoas.
Programas e cultos sofisticados são também preparados com o intuito de serem "digeridos" rapidamente pelos participantes e ouvintes. Vemos ainda especialistas em comunicação, estrategistas de marketing, líderes de auditórios sendo utilizados como instrumentos de divulgação do evangelho em todos os lugares.
Contudo, o grande problema da missão proclamadora da igreja está na incoerência.
Escândalos advindos de uma incoerência entre o que se prega e o que se vive têm angustiado o meio evangélico. Como entendê-los? Homens conhecedores da Palavra, grandes pregadores, líderes em ascensão de repente sucumbem. Por quê? Alguém certa vez declarou: “As palavras dizem, mas as atitudes gritam".
Como proclamar o evangelho sem perder a coerência?
O texto básico fala de indivíduos que invocavam o nome do Senhor, profetizavam, expulsavam demônios, realizavam milagres, os quais, apesar disso, serão severamente reprovados pelo Senhor no último dia, pois verifica-se nesses indivíduos uma grande distância entre o discurso e a prática. Nesse texto Jesus ensina que as ações que acompanham a proclamação dão coerência à mensagem proclamada.
A proclamação coerente consiste não apenas em proferir palavras, mas também em vivê-las: "Pelos seus frutos os conhecereis".
1. A proclamação coerente baseia-se na integralidade da Palavra de Deus
O ponto inicial para uma proclamação coerente está no fato de estar fundamentada na Palavra de Deus. Destacamos, porém, que ainda assim, a coerência se expressa na integralidade da Palavra.
Isto porque muitas heresias e blasfêmias também têm seus “fundamentos” bíblicos. Isto se deve à utilização indevida, equivocada de textos fora do seu contexto, ou pela metade, se tornando meros pretextos para os desejos humanos.
A proclamação da igreja deve respaldar-se na totalidade da Palavra de Deus e não em partes isoladas como muitos fazem atualmente. Paulo afirma:
2 Timóteo 3.16
"Toda Escritura é inspirada por Deus..."
Atualmente vemos o número crescente de modismos que estão sendo anunciados como o "cerne do evangelho”, contudo, são profundas e sutis distorções da verdade.
Quando o Senhor Jesus foi tentado no deserto pelo maligno vemos que uma das abordagens do tentador foi a sagacidade em distorcer a Palavra:
Mateus 4.6
"Está escrito: Aos seus anjos ordenarás a teu respeito para que te guardem; e eles te susterão nas suas mãos para não tropeçares nalguma pedra"
Conhecedor da Palavra, o maligno a utilizou indevidamente para tentar o Senhor, que lhe resistiu com a própria Palavra:
Mateus 4.7
"Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus"
É necessário, portanto, haver fidelidade ao todo das Escrituras. Não podemos limitar ou manipular conforme os nossos interesses, a santa Palavra de Deus. A proclamação coerente exige imparcialidade na apresentação do evangelho.
2. A proclamação coerente exige testemunho de vida
A coerência está ligada não somente à totalidade e integridade da Palavra de Deus, mas também ao testemunho de vida. A sociedade atual está enfatuada com os discursos hipócritas e desprovidos de exemplo de vida.
Gente que fala de honestidade e lança mão do que não lhe pertence; gente que fala de integridade e se vende a interesses escusos; gente que fala de amor e paz, mas são agentes promotores do ódio e da guerra; gente que fala de pureza e santidade, mas cuja vida está mergulhada na imoralidade.
Quando Jesus subiu ao monte e começou a ensinar à multidão sobre o reino de Deus (Mt 5.7), ele o fez com autoridade e coerência.
Mateus 7.28-29
"Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas"
Ao pregar o amor, ao falar da alegria, anunciar o perdão, proclamar a justiça, falar da salvação, da segunda milha, o dar a outra face, Jesus não apenas dizia, mas acima de tudo vivia. Ele viveu o que anunciou. Com isso a comparação se tornou inevitável entre Jesus e os religiosos do seu tempo.
Mateus 23.4
"Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.”
Os fariseus falavam mas não praticavam.
O profeta Isaías censura a incoerência dos israelitas que com os lábios proclamavam, mas não praticavam (Is 29.13,14).
Será que atualmente a vida dos crentes condiz com o que têm anunciado? Será que os nossos discursos estão sendo coerentes com nossas vidas? O líder indiano Ghandi, por causa da incoerência de muitos cristãos, disse: "Creio no vosso Cristo, mas não no vosso cristianismo".
3. A proclamação coerente apresenta frutos inconfundíveis
O Senhor Jesus em Mateus 7.24-27 encerra o Sermão do Monte ressaltando as necessidades de coerência na vida cristã:
"Todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopravam os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha".
Os resultados de uma vida coerente são destacáveis; caracterizando-se por:
3.1. Autoridade
Como a própria multidão percebeu na vida de Jesus, quem vive o que prega tem autoridade. E autoridade não se impõe pela força, mas adquire-se pela vida. Desenvolve-se pela confiabilidade das atitudes.
3.2. Firmeza
Aquele que ouve e vive as palavras de Jesus, edifica sua vida sobre uma base segura. Não há tempestade que possa derrubar. Não há vento que o faça desmoronar, pois a sua base é segura, é rocha pura.
3.3. Orientação
Hoje, as pessoas buscam modelos e referenciais para seguir. Gente confusa e perdida procura ver na vida de outros um rumo para seguir com firmeza. Paulo e Silas orientavam e conduziram à salvação a família do carcereiro de Filipos. Jesus afirma:
Mateus 5.14-16
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus"
Para pensar
A sociedade atual está enfatuada com os discursos hipócritas e desprovidos de exemplo de vida. Gente que fala de honestidade e lança mão do que não lhe pertence; gente que fala de integridade e se vende a interesses escusos; gente que fala de amor e paz, mas são agentes promotores do ódio e da guerra; gente que fala de pureza e santidade, mas cuja vida está mergulhada na imoralidade.
Autor: Carlos Oliveira de Orlandi Jr.