O segredo de Atos 15 para uma proclamação relevante - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

Atos 15.1-35

Compete aos cristãos, individualmente, e à igreja como comunidade salva por Cristo, anunciar as Boas Novas do reino.

Porém, isto não pode acontecer de qualquer maneira. Vários fatores precisam ser considerados na proclamação do evangelho. Daí, dizer-se que a proclamação deve ser contextualizada.

Ao elaborar o plano perfeito do resgate humano, o próprio Deus se vestiu de humanidade e passou a conviver bem de perto com a realidade humana, ambientando-se ao tempo, ao espaço e às diversas situações vividas pelo ser humano. Deus se contextualizou.

Não é possível separar a proclamação das boas novas da realidade social e humana. A forma como se anuncia a mensagem pode alterar substancialmente os resultados da pregação evangélica.

Em Atos 15, a liderança da igreja (apóstolos e presbíteros) se reuniu para resolver um problema cultural bastante complexo: judeus queriam impor aos cristãos não-judeus a prática de um ritual (a circuncisão) da religião judaica.

Deus orienta ao concílio que se reuniu em Jerusalém para adotar uma postura equilibrada para preservar a unidade da igreja. Eis uma excelente experiência para o entendimento a respeito da proclamação contextualizada tão necessária ao cumprimento da missão da igreja.

Com base nas discussões e conclusões do concílio de Jerusalém, muitas ideias poderiam ser aplicadas à prática evangelística da igreja. Aqui, queremos considerar os seguintes aspectos:

1. A proclamação deve valorizar o contexto bíblico

A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática e como Palavra de Deus se perpetua em nossa realidade. Todos os que anunciam o evangelho devem total fidelidade à palavra revelada — isto é fundamental para o cumprimento da missão da igreja.

Quem proclama a Palavra deve conhece-la suficientemente, pois o pregador precisa ser o canal ou a ponte capaz de comunicar o texto com fidelidade, mas de forma compreensiva e clara.

Cada texto bíblico precisa ser analisado em seu próprio contexto, pois sempre possui um remetente e um destinatário.

Também situa-se na geografia e na história e se transmite em uma linguagem com aspectos sociais e humanos comuns a cada época. O grande desafio do pregador é atualizar sua mensagem sem deturpá-la de seu sentido original.

O cenário cultural dos tempos bíblicos foi determinante em todo o processo da revelação bíblica. Ignorar os princípios básicos da interpretação bíblica é comprometer o conteúdo original do texto.

Felizmente, hoje existem diversas versões da Bíblia, além de preciosas ferramentas (concordâncias, dicionários, comentários, etc.) que tem muito a ajudar a quem deseja conhecer mais para transmitir melhor.

Então, os textos não podem ser tomados fora do contexto. Isto significa adulterar o conteúdo da mensagem do Senhor.

2. A proclamação deve considerar o contexto cultural

O que é cultura? Não é fácil definir a expressão "cultura". Isto é tarefa da sociologia e antropologia. De forma simples e ligeira para atender a este estudo, contentamo-nos a dizer que tudo o que envolve a vida humana faz parte de sua cultura.

A maneira de viver de uma comunidade é a sua expressão cultural envolvendo aspectos como: a maneira de vestir, a linguagem, a vida social, familiar, religiosa, política, artística, científica, etc.

A pregação evangélica terá que considerar o contexto cultural dos ouvintes ou se tornará alienada, absurda e intolerante.

Há pessoas resistindo à pregação do evangelho devido ao modo como isto acontece, pois alguns pregadores desconsideram o contexto cultural e agridem os ouvintes, ignorando os seus hábitos, costumes, modismo, estrangeirismo (ou regionalismo).

É preciso estudar cada situação procurando os melhores métodos evangelísticos. Em um mesmo país, por exemplo, existem realidades distintas: a “tática” utilizada no Norte pode não funcionar no Sul e vice-versa.

Há projetos que se ajustam mais à evangelização urbana. Também existem regiões bastante fechadas e contrárias às inovações. Em outras comunidades existem tendências renováveis com gente sensível a mudanças.

Vale recordar que considerar a cultura não significa alterar o conteúdo da mensagem, mas sim, buscar a melhor forma de comunicar a mensagem a determinado povo pois "para que haja comunicação requer que o comunicador estabeleça uma relação efetiva entre a mensagem e o contexto cultural total", como assinalou Eugene A. Nida.

Richard Niebuhr escreveu a obra "Cristo e Cultura" oferecendo uma preciosa análise sobre esta questão e apresentando as tendências mais comuns a respeito do assunto.

(1) Cristo contra a cultura

(2) Cristo aquém da cultura

(3) Cristo igual à cultura

E, finalmente (o ideal)

(4) Cristo transformando a cultura.

Não se pode desprezar a cultura, mas sim “cristianizar” a cultura para que ela seja instrumentalizada para a glória de Deus.

Como definiu o histórico Congresso de Lausanne “a coisa mais importante em relação ao cristão deveria ser não a sua cultura, mas sua semelhança com Cristo..."

3. A proclamação deve prestigiar o contexto humano

Mesmo que este item se relacione ao anterior, é importante destacá-lo dos demais, pois exige uma consideração específica.

Os estudos desenvolvidos pelas ciências humanas e sociais são de grande valor para o conhecimento da pessoa humana e de sua realidade — algo de grande importância para a proclamação do evangelho. Então é preciso perguntar: Quem é a pessoa ou grupo a ser alcançado?

É possível obter diferentes respostas a esta pergunta, dependendo do lugar, da época, da cultura. Mas a proclamação precisa considerar sempre a pessoa ou o grupo, conhecendo-os suficientemente para adequar cada método a cada situação.

Isto implica em se identificar com os alcançáveis à semelhança de Jesus que se vestiu de humanidade e se identificou profundamente com a nossa realidade, “mas ele não perdeu sua própria identidade”. Como relata o 3° volume da série Lausanne, “O Evangelho e a Cultura” que acrescenta:

"Ele continuava sendo o mesmo... a Encarnação ensina a identificação sem perda de identidade".

De fato, o pregador precisa conhecer de perto os seus ouvintes no que se refere à língua, à cultura, aos anseios, problemas, etc. Como ensina René Padilla “a tarefa da igreja é... a encarnação do evangelho em cada cultura”.

Isto significa adaptar a mensagem às necessidades ou compreensão da realidade de cada povo, como fazia o apóstolo Paulo: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns" (I Co 9.22).

Para pensar

"A pregação evangélica terá que considerar o contexto cultural dos ouvintes ou se tornará alienada, absurda e intolerante. Há pessoas resistindo à pregação do evangelho devido ao modo como isto acontece, pois alguns pregadores desconsideram contexto cultural e agridem os ouvintes, ignorando os seus hábitos, costumes, modismo, estrangeirismo (ou regionalismo)."

Autor: Wilson Emerick de Souza


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

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