A lição de Jesus no templo que pode transformar sua igreja - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

Texto básico: Marcos 11.15-19

Introdução

Se, por um lado, nos esforçamos muito para construir templos que venham a nos abrigar com maior comodidade para os nossos exercícios religiosos, por outro, esses mesmos templos têm sido tão pouco utilizados!

Quando o Senhor expulsou os comerciantes do templo em Jerusalém, ele mostrou que seu espaço físico devia ter o seu uso otimizado. Sendo assim, como poderíamos usar melhor o espaço do qual dispomos, mais especialmente com o propósito voltado para a evangelização?

Neste estudo, vamos discutir sobre o uso que temos feito e o potencial a ser explorado do nosso espaço eclesiástico, incluindo algumas sugestões práticas, no final.

I. O espaço missionário no templo

O texto básico narra a expulsão que Cristo realizou dos que comercializavam no templo em Jerusalém. Muitos interpretam a oposição de Cristo como proibição a quaisquer atos de compra e venda dentro dos limites do prédio religioso. Muitos hoje se opõem à venda de literatura cristã nas dependências do templo por causa desse texto. Vejamos se foi isso o que o Senhor quis ensinar.

Tendo ido a Jerusalém, o Senhor Jesus e seus discípulos entraram no templo e, ao expulsar aqueles que estavam negociando a compra e a venda dos animais para o sacrifício, Cristo assumiu uma postura grave e segura, nem mesmo permitindo a condução de quaisquer utensílios pelo templo.

A maneira como o nosso Senhor fez isso foi enérgica, diferente da caricatura pacifista que em geral é feita do Filho de Deus. Ele advertiu os presentes sobre as profecias bíblicas que indicavam que o templo deveria ser considerado uma casa de oração para todos os povos (Is 56.7), mas que acabara se tornando um "covil de salteadores" (Jr 7.11).

Tais atos do Senhor Jesus, chegando ao conhecimento dos principais sacerdotes e escribas, reforçaram nestes o desejo de matá-lo, tolhido apenas pelo receio de executá-lo publicamente, pois o povo estava encantado com a sua autoridade. Depois desse episódio, à tarde, Cristo e os seus discípulos saíram da cidade de Jerusalém.

Será que o Senhor Jesus estava proibindo quaisquer tipos de comércio dentro das instalações religiosas? Observando o ato em si, esse pareceria ser o ensinamento mais natural, mas não foi o que Cristo disse, nem muito menos o que ele quis ensinar.

A questão envolvida não foi a simples troca de umas moedas, ou mesmo a venda dos animais para o sacrifício, pois esses dois atos eram necessários; a questão era outra.

O comércio combatido com tanto vigor por Cristo consistia de dois atos básicos: a troca de moedas oriundas de todos os lugares do Império Romano, de onde vinham os judeus dispersos por ocasião das festas religiosas, por moedas correntes, locais.

No entanto, nessa prática de câmbio (v.15), como é comum ocorrer ainda hoje, muitos aplicavam taxas lucrativas muito acima do valor apropriado, buscando com isso adquirir lucros ilegítimos.

Tais trocas de moeda ocorriam para a compra dos animais a serem ofertados como sacrifício no culto, como era exigência litúrgica da antiga aliança.

Visto que para muitos era inviável trazer os animais a serem ofertados desde as suas residências, deixavam para comprá-los em Jerusalém, próximo ao templo. Só que esse comércio religioso também se tomara um meio de vida para muitos e preços oportunistas estavam sendo praticados.

Ainda que isso tudo já fosse motivo suficiente para a indignação de qualquer pessoa que tivesse uma consciência religiosa mais depurada, não foi o principal motivo da santa indignação do nosso Mestre.

O motivo realmente inaceitável da prática do comércio religioso era porque a atmosfera comercial havia dominado de tal maneira o pátio externo, que a prática da adoração nesse lugar tinha ficado comprometida.

Foi isso o que causou a indignação do Senhor Jesus: aquela prática comercial necessária, num certo sentido, bloqueava o acesso dos gentios para a adoração, de tal maneira, que não restava àqueles que vinham de fora da aliança do Antigo Testamento nenhum ambiente para a oração e a adoração a Deus.

O espírito e a prática ali dominantes transformaram absolutamente aquele lugar de uma "casa de oração para todas as nações" em um "covil de salteadores", conforme Marcos 11.17,18.

A visão da necessária abertura aos gentios para a verdadeira adoração estava prejudicada, pois o único recinto ao qual eles tinham acesso fora desprezado pelos judeus.

II. Um olhar evangelístico constante

Nos tempos do Antigo Testamento, embora nenhum gentio estivesse autorizado a entrar no santuário propriamente dito (Ez 44.9), eles tinham acesso ao pátio exterior, que era um espaço de aceitação e inclusão dos que haviam nascido fora da aliança com Deus, mas aos quais não era vetada a graça divina.

Isso levou o rei Salomão, responsável pela construção do Templo de Jerusalém, a orar especificamente por essa vocação missionária no templo (1 Rs 8.41-43), ainda que reconhecesse a singularidade dos judeus como povo da aliança divina (IRs 8.51), mas sem esquecer-se do papel missionário que esse prédio recém construído deveria exercer (IRs 8.60).

Ainda que seja preciso entender que a relação entre os fiéis, a adoração que eles prestam e o espaço sagrado portem alguma distinção ao longo das alianças, resta-nos um princípio a ser observado a partir desse episódio da expulsão que Cristo fez dos vendilhões do templo.

Apesar de todo o zelo com o qual o espaço religioso era tratado na antiga aliança, a questão central nesse episódio não foi a prática de algum comércio religioso em áreas de instalações também religiosas.

O problema era que aquela conduta tornava inviáveis quaisquer atos sinceros, solenes, legítimos e verdadeiros de adoração a Deus no único espaço ao qual os gentios tinham acesso.

O ambiente havia tomado impraticável, por exemplo, a oração tema, pessoal e sincera, que requer um mínimo de concentração e ambiente favorável.

Apesar da verdadeira adoração a Deus ir além da arquitetura sagrada, como o Senhor Jesus explicou à mulher samaritana (Jo 4.21-24), o episódio em questão nos ilumina para pensarmos sobre o uso que temos feito dos nossos espaços físicos. Desde os dias da antiga aliança, eles também deveriam cumprir a vocação da inclusão dos gentios.

Esse foi o motivo daquela reação firme do Senhor Jesus e também deve direcionar a nossa reflexão e prática contemporâneas como igreja do Senhor; ainda mais para nós, pois a barreira de separação entre judeus e gentios foi absolutamente rompida por Cristo Jesus na cruz (Ef 2.13,14).

Portanto, não resta espaço físico de impedimento algum a todos aqueles que estão fora da aliança e que a ela hão de ser atraídos; pelo contrário, o espaço e a ocasião de culto a Deus passaram a incluir naturalmente a presença de incrédulos, alheios à aliança, até como uma maneira de levá-los à fé.

Isso ocorre quando eles contemplam a dinâmica do verdadeiro culto a Deus, que conta essencialmente com a pregação da Palavra de Deus em língua conhecida, verdadeira profecia que desnuda o coração do homem, manifestando os seus segredos mais íntimos (Hb 4.12; ICo 14.24,25).

Diante de tudo isso, percebemos o papel missionário do templo, o qual não deve apenas servir àqueles que já estão em aliança com o Senhor, mas também deve cumprir a sua função de ser uma casa de oração, aberta e acolhedora para todos os povos.

Isso implica uma permanente visão evangelística no cotidiano da igreja, conforme a exortação de Paulo a Timóteo quanto ao desenvolvimento do seu ministério pastoral em 2 Timóteo 4.1-4, pois ele não se refere às pessoas de fora da igreja.

Na verdade, o ministério pastoral fiel requer constante advertência dos ouvintes quanto ao estado espiritual deles próprios (2Co 13.5); chamada constante ao arrependimento e fé (At 20.20,21); e exortação à conversão espiritual (Is 31.6), que traz consigo a reconciliação espiritual com Deus (2Co 5.20).

Por isso, nenhum ministro fiel da Palavra deve negligenciar o aspecto evangelístico de seu ministério pastoral (ITm 4.14-16). Sendo assim, sobre o episódio do templo, também concluímos que o ministério cotidiano da igreja deve ser desenvolvido com um olhar evangelístico constante, presente no anúncio da Palavra de Deus.

Essa é a principal aplicação do ensino deste estudo à prática cotidiana da igreja e, por si só, já daria uma contribuição significativa ao ministério de evangelização de cada uma que viesse a obedecer a essa orientação bíblica.

III. Sugestões evangelísticas para o espaço eclesiástico

Agora veremos algumas propostas de atividades extras à habitual prática cotidiana da maioria das igrejas, as quais devem ser analisadas e aplicadas segundo a realidade local.

Não são regras fixas ou modelos imutáveis; antes, a grande virtude dessas atividades está na flexibilidade e criatividade que as envolve, sendo necessárias adaptações práticas que gerem melhor funcionalidade ou até algumas reformas mais profundas, que reflitam mais apropriadamente as nossas convicções.

Dentre as tantas atividades que podem ser feitas usando o espaço eclesiástico com a finalidade especificamente evangelística, destacamos as seguintes:

Conferências evangelísticas

Definir um período na agenda da igreja (um final de semana, por exemplo) para a realização de cultos especificamente evangelísticos, pois ainda que sejam prestados a Deus (portanto, a ele dirigidos e não aos homens), toda a programação pode seguir o tema da evangelização. É também oportuno o convite a um pregador que possua notoriamente o dom de evangelista.

Celebrações ocasionais

Aproveitar certas ocasiões e datas tais como celebrações cívicas (no dia do município, convidar autoridades civis); cultos de ações de graças pela formatura de universitários, aniversário da igreja local ou mesmo datas clássicas do calendário litúrgico cristão universal, tais como o Natal e a Páscoa, pois essas festas apontam diretamente para o evangelho.

Esforço concentrado

Estabelecer dias ao longo do ano para focar o tema dos cultos na evangelização propriamente dita, por exemplo, todo último domingo do mês.

Acampamentos evangelísticos

Reservar datas para a realização de acampamentos com o propósito específico de evangelizar outras pessoas, as quais devem ser os alvos dos esforços concentrados desses acampamentos.

Encontros de afinidade

Separar datas para realizar atividades evangelísticas que agrupem pessoas cujo elemento de convergência seja uma afinidade ou um interesse comum, tais como encontros de profissionais liberais, de jovens, de adolescentes, de estudantes universitários, de novos pais, casados, viúvos, etc. Esses encontros devem ser aproveitados para se transmitir o evangelho, relacionando-o ao tema de cada encontro, até como uma maneira de revelar o conceito ministerial maduro de "todo o desígnio de Deus".

Cursos de capacitação

Reservar espaços durante a semana, nos quais serão ministrados cursos de capacitação de diversas naturezas, desde artesanato até informática, passando por alfabetização, reforço escolar, desenho artístico, música, pintura, etc. Esta é mais uma maneira de a igreja se mostrar também serva da comunidade onde ela se encontra e interessada no progresso integral dos que estão próximos a ela.

Utilidades públicas

Promover serviços tais como orientação comercial, atendimento e consultas médicas e/ou jurídicas a quem não possui recursos; dar palestras médicas de esclarecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis, higiene bucal, prevenção de câncer de mama e outras; orientações sobre primeiros socorros, drogas, alimentação balanceada e saudável; e tantos outros assuntos quantos forem realmente úteis e relevantes ao meio onde a igreja está inserida, o que pode incluir práticas esportivas e/ou recreativas ou ainda campanhas públicas de vacinação.

Para o desempenho destas últimas atividades, recomenda-se que a orientação seja dada por profissionais competentes da área, devidamente qualificados, da igreja ou não.

Alertamos, contudo para o seguinte: sempre que abrimos o espaço das nossas instalações eclesiásticas, nos expomos aos desafios decorrentes de vermos pessoas não-cristãs frequentando o templo, o que é bom, mas que pode trazer algum embaraço àqueles que não estão acostumados a ver outros perfis circulando pelas instalações religiosas.

Caso se consiga que esses cursos ofereçam algum certificado profissional, melhor ainda, pois isso certamente será um recurso a mais para aqueles que se utilizarão deles.

A postura, a preocupação e o próprio testemunho dos cristãos são formas de evangelização em si mesmos, mas nada impede que orações, exercícios devocionais e cultos de ações de graças pela formatura sejam acrescidos como recursos de comunicação da fé cristã àqueles que participaram dessas últimas atividades.

Há dois aspectos fundamentais para um envolvimento evangelístico mais profundo através dessas atividades: o primeiro é a divulgação das atividades àqueles aos quais se quer alcançar, o que pode ser desde um convite verbal informal até o envio de convites personalizados.

O segundo é o essencial acompanhamento posterior a todos os que demonstraram algum interesse pelo evangelho, oferecendo-lhes curso básico sobre a fé cristã (discipulado) ou um equivalente relacionando a fé cristã ao tema da programação feita (como o modelo bíblico para a família cristã depois de um encontro para novos pais).

Esses dois aspectos são muito importantes, pois sem o primeiro não há ninguém a quem alcançar; e sem o segundo, não há integração dos interessados à igreja. Para ambas as fases é preciso mobilizar os crentes, mas é da segunda que colhemos os frutos que tendem a se confirmar verdadeiros.

Conclusão

Os contemporâneos de Cristo haviam perdido quase que absolutamente a visão da vocação evangelística do espaço eclesiástico nos seus dias.

A contundente reação do Filho de Deus ao expulsar do Pátio dos Gentios os cambistas e negociantes fala alto aos nossos ouvidos sobre a responsabilidade que temos também quanto ao uso evangelístico dos nossos próprios espaços eclesiásticos.

Normalmente, ocupamos as nossas construções religiosas no domingo e elas geralmente permanecem desocupadas durante o restante da semana.

Não seria hora de despertarmos para um maior aproveitamento evangelístico desses espaços, não apenas por meio de atividades alternativas, mas começando por uma ótica evangelística constante daquilo que já fazemos?

Aplicação

Quais atividades aqui apresentadas poderiam efetivamente ser desenvolvidas pela sua igreja?

Quais atividades são mais apropriadas, em função das necessidades gerais das residências ao redor da sua igreja?

Ore, esboce e discuta com a liderança da sua igreja propostas nesse sentido.

Autor: Raimundo M. Montenegro Neto


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

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