Atos 20.17-21
Introdução
Temos diante de nós um dos maiores desafios missionários enfrentados pela Igreja do Senhor Jesus. É nossa a tarefa de transmitir o Evangelho do reino de Deus, que convida o homem ao arrependimento e à reconciliação com Deus e com o próximo, em um mundo que tem se tornado cada vez mais urbano e indiferente para com a vida em comunidade.
Poderíamos nos perguntar como alcançar com o Evangelho pessoas, que em número cada vez maior, se escondem em condomínios fechados e prédios de apartamentos cada vez mais isolados? Uma estratégia a ser considerada é a evangelização através dos lares cristãos.
Como podemos observar esta foi uma estratégia levada adiante tanto pelo apóstolo Paulo (At 20.17-21), como pelos discípulos que ele treinou (Rm 16.3-5). O próprio ministério do Senhor Jesus foi bastante marcado pela estratégia de se utilizar o lar como um ponto de propagação do Evangelho, como podemos ver em Marcos 2.1-10.
Vejamos alguns princípios que podem transformar nossas casas em um lugar de boas novas.
1. PRIMEIRO PRINCÍPIO: DIVULGAÇÃO (V. 1)
Assim que Jesus chegou a Cafarnaum a notícia se espalhou pela cidade, dizendo-se que ele estava em casa. O que é interessante é que de acordo com a maioria dos comentaristas bíblicos, a casa onde Jesus se encontrava era, provavelmente, o lar de Simão Pedro (Mc 1.21-29). Jesus a usava como base para seu ministério quando ele se encontrava em Cafarnaum.
Esta notícia é uma realidade que precisa ser espalhada se queremos que nosso lar se torne um ponto de salvação. As pessoas precisam ouvir e saber que Jesus Cristo habita em nossa casa. O apóstolo Paulo é um bom exemplo desta divulgação!
Quando se encontra em Éfeso, Paulo começou a discorrer diariamente na escola de Tirano e fez isso por dois anos, dando a oportunidade a todos os habitantes da província da Ásia de ouvirem a palavra do Senhor. Ou seja, houve uma intensa divulgação de que Jesus Cristo estava sendo pregado ali (At 19.8-12).
Outro texto que nos apresenta esta realidade no ministério de Paulo encontra-se no final do livro de Atos: "Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo" (At 28.30-31).
2. SEGUNDO PRINCÍPIO: ACOLHIMENTO (V.2)
O texto nos diz que "muitos afluíram para ali...; e anunciava-lhes a palavra." Quando as pessoas ficaram sabendo que Jesus estava na sua casa elas foram para lá, não houve nenhum constrangimento quanto a isto. Elas sabiam que se fossem para a casa onde Jesus se encontrava seriam acolhidas, recebidas, não dariam com a cara na porta.
Outro detalhe interessante é que elas foram, pelo menos neste caso, apenas para ouvir a Jesus. O texto não diz em nenhum momento que levaram vários enfermos para serem curados, como ocorre em outros momentos do ministério de Jesus (Exemplos: Mc 1.32-34; 3.7-12; 6.53-56).
As pessoas precisam olhar para nossa casa e sentir que ali existe acolhimento, que é um lugar onde elas podem chegar, que não somos estranhos ou isolados dos demais, só porque somos crentes.
Para tanto precisamos ter uma boa consciência do que seja o conceito de separação na perspectiva bíblica, que não é isolamento da humanidade não remida, antes, é um afastamento dos atos de pecado pessoal e separação para Deus.
Abra as portas da sua casa, seja simpático ao tratar com as pessoas que batem à sua porta, convide vizinhos e amigos ou colegas de trabalho para tomarem um café e participarem do ambiente de sua família, e então comece a compartilhar com eles a palavra.
3. TERCEIRO PRINCÍPIO: FLEXIBILIDADE (VS. 4,5)
Embora o texto deixe claro que o alvo estabelecido por Jesus naquele momento fosse ministrar um estudo bíblico, surge no texto uma situação inusitada. Quatro homens chegam carregando um amigo paralítico, e o levam para ser curado por Jesus.
Como este era o seu alvo, não desistem e não medem esforços até verem seu amigo colocado diante de Jesus, que acaba por curá-lo. O que chama nossa atenção neste ponto do texto é que Jesus não perde o controle da situação quando os homens destelharam a casa.
Ele não fica bravo por seu estudo ter sido interrompido e nem tenta manter a atenção das pessoas que estavam presentes ao seu "estudo bíblico". Ele simplesmente tem a flexibilidade necessária para resolver uma situação inesperada.
Encontros evangelísticos em lares tem esta vantagem, embora precisemos de uma certa estrutura e devamos preparar o estudo do Evangelho que queremos compartilhar. Podemos ser sensíveis às necessidades que se manifestarem no momento, sem nos sentirmos constrangidos em mudar o rumo de nossos alvos para aquele referido encontro.
4. OBJETIVOS CLAROS (V. 6-11)
No texto que temos analisado podemos perceber que Jesus tinha objetivos muito claros em seu coração, ele queria ensinar o povo a respeito do amor do Pai, sobre a possibilidade de retornarem para o reino de Deus.
Contudo, havia um grupo de pessoas naquela casa, eram os mestres religiosos da época, os escribas. O texto nos diz que, frente ao anúncio de perdão concedido por Jesus àquele homem paralítico, os escribas começaram a pensar e comentar entre si que somente Deus podia perdoar pecados.
Logo Jesus os questionou e completou a obra de restauração na vida daquele homem, não apenas perdoando seus pecados, mas também curando-o de sua paralisia. Observe que embora Jesus tenha questionado os escribas, ele não perdeu tempo com discussões teológicas, ou em tentar esclarecer o que disse. Aqui encontramos outro princípio muito importante para quem quer transformar seu lar em um ponto de proclamação das boas novas do Rei!
Não devemos perder de vista nossos objetivos, os mesmos devem ser bem claros. O alvo de um estudo bíblico evangelístico em um lar é ensinar o caminho da salvação para os não salvos e não começar discutir doutrinas ou qualquer outra questão.
A reunião evangelística deve ser um espaço para a manifestação do amor e do poder de Deus e não de outros assuntos, por mais importantes que sejam.
Conclusão
Pudemos ver que o nosso lar pode se tornar uma tremenda ferramenta para a evangelização de nosso bairro e cidade, se levarmos em consideração alguns princípios fundamentais¹, como foram estratégicos nos ministério de Jesus e do apóstolo Paulo.
Concluímos sugerindo alguns passos práticos para a possível aplicação em seu lar
1. Crie uma atmosfera onde o não cristão sinta-se à vontade.
Mantenha o local da reunião bem arejado e claro, uma garrafa térmica com café ou chá a disposição no local da reunião.
2. Crie uma atmosfera onde o não cristão sinta-se livre para participar.
Providencie os textos que serão estudados, tente usar uma tradução mais contemporânea da Bíblia, introduza os assuntos com experiências pessoais.
3. Crie uma atmosfera onde o não cristão sinta-se amado e aceito.
Dê atenção para o que ele fala, observe seu semblante, se esta preocupado, alegre, triste, zangado. Seja flexível, talvez você precise deixar de lado o estudo e ouvi-lo e ter um tempo de oração maior.
4. Por fim, deposite sua confiança no poder e autoridade da Palavra de Deus e não na sua lógica ou argumentação humana.
Procure se deter em um estudo de uma única passagem das Escrituras por reunião. Se for questionado e não souber responder a questão em pauta, não se desespere, diga que você irá pesquisar e consultar a liderança de sua igreja e na próxima reunião trará a resposta.
Assim, abra seu lar e veja o que o Espírito Santo pode fazer na vida das pessoas que estão ao seu redor.
Aplicação
Seria uma boa idéia oferecer a sua casa para que ocorra um encontro desse tipo. Convide os vizinhos para participar, assim como amigos e parentes.
¹ Os mesmos são retirados do livro "Amizade Chave para a Evangelização", Edições Vida Nova, Joseph Aldrich.
