Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

João 3.1-15; 14.1-15; 2 Coríntios 5.17,18a

Introdução

A velha analogia da lagarta que se transforma em borboleta tem sido bastante utilizada para exemplificar essa renovação de que homens e mulheres precisam. Assim também as palavras de Jesus: "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo 3.3b).

Lagartas não têm uma vida muito empolgante. Nunca viajam muito longe, têm de fazer um grande esforço para percorrer pequenas distâncias. Até que passam por uma transformação.

Muitos rótulos invadiram a Igreja de Jesus Cristo e espalharam-se pelos meios de comunicação seculares. Mas se pudéssemos retirar todos esses rótulos, diríamos que Cristianismo é vida transformada - refeita em algo novo por Deus, em Jesus Cristo. Por isso Jesus é central na mensagem evangelística que pregamos.

1. O ciclo do novo nascimento

Quando todas as coisas eram novas, Deus estabeleceu um pacto com o primeiro ser humano, o qual às vezes é chamado de "aliança da vida". Nessa aliança, Adão estava no centro; tinha a responsabilidade de obedecer um único mandamento.

Tratava-se de uma aliança de vida, por meio da qual Adão e seus descendentes poderiam viver para sempre, em comunhão com Deus e para sua glória; tudo isso se ele não cruzasse a linha, enveredando pela rebelião e desobediência. Quando ele atravessou a linha, a aliança da vida ficou despedaçada.

Deus, porém, estava preparado, com outra aliança que proporcionava o caminho de volta do pecado e da morte (Gn 3.16,17). Esse caminho de volta era um plano de novo nascimento, novidade que só poderia ser efetivada por meio do pagamento da penalidade eterna pelo pecado.

Esta nova aliança só poderia ter um tipo de Mediador, aquele que era ao mesmo tempo Deus e homem. Jesus, constantemente fez novas todas as coisas, desde o momento em que nasceu de uma virgem, até que foi posto num sepulcro novo. Pegou o que era velho, agonizante e morto e transformou.

Agora, reinando no céu, ele continua a fazer tudo novo, e continuará até aquele dia glorioso quando dirá: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21.5b). Então ele criará um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1).

Crianças e adultos. Jovens e velhos. O Mestre deixou um rastro de mudanças. Todas as coisas e todas as pessoas são transformadas, de uma maneira ou de outra, quando têm um encontro com Jesus. Alguns são endurecidos e passam a odiá-lo; outros tornam-se para sempre mais sensíveis, por meio de um corpo, uma mente e um espírito renovados.

Para entender a dinâmica do renascimento, temos de conhecer Jesus, aquele em quem uma pessoa pode renascer.

2. Aquele que muda as coisas

Quando um crente do Antigo Testamento pegava uma pomba ou um cordeiro e levava ao Templo em Jerusalém, entendia que o sacrifício e a morte daquele animal não tirava o pecado.

Os profetas e sacerdotes explicavam que os sacrifícios eram um símbolo de amor e obediência por parte do indivíduo e um símbolo da verdadeira remoção dos pecados que ocorreria quando o Messias se manifestasse.

O Messias - "o ungido" - receberia poder sobrenatural de Deus, sendo ungido e ordenado para a grande tarefa. As pessoas no Antigo Testamento não sabiam muito sobre esse Salvador vindouro, mas aqueles que estudavam os escritos dos profetas entendiam que o Ungido seria um Profeta, um Sacerdote e um Rei.

A. Profeta¹

Profeta é alguém que fala em nome de Deus entre o povo. Os profetas do Antigo Testamento eram inspirados diretamente por Deus e falavam a partir de uma comunicação direta.

A maioria dos escritos do Antigo Testamento, tais como os livros de Isaías, Jeremias, Oséias, Amós e Malaquias registram essas comunicações proféticas inspiradas. Os profetas eram intermediários, servindo de mediadores entre a Palavra de Deus e o povo. O Ungido seria o profeta definitivo.

B. Sacerdote²

Temos um sacerdote, Jesus, por isso, nenhum outro sacerdote é necessário. Nosso Sacerdote é também o Rei. Gênesis 14 apresenta Melquisedeque, um rei que era sacerdote.

Abraão encontrou-se com ele em Salém, uma vila cananita situada no topo de uma montanha, onde, séculos mais tarde, seria edificada a cidade de Jerusalém. Só sabemos duas coisas sobre Melquisedeque. Primeiro, ele governava sobre as pessoas que viviam naquela região. Segundo, representava as pessoas na adoração diante de Deus.

Séculos mais tarde, quando o povo de Israel recebeu as leis de Deus, o sacerdote tornou-se figura extremamente importante. Sua função primária era matar os animais trazidos pelas pessoas como sacrifício pelos pecados. Os sacerdotes queimavam tais sacrifícios sobre o altar como ofertas a Deus.

Também oravam pelo povo e participavam das celebrações dos cultos. Um vez por ano, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, uma sala separada, que simbolizava a santidade de Deus; ali estava a Arca da Aliança, símbolo da presença de Deus.

Por um momento, todos os anos, esse mediador oferecia plena intercessão pelo povo, pedindo que a ira de Deus por causa da desobediência fosse afastada. A nação, porém, aguardava a vinda do sacerdote supremo, o qual seria o mediador definitivo da lei e aquele que ofereceria o sacrifício definitivo para a purificação do pecado.

C. Rei³

Mesmo sem o exemplo de Melquisedeque, o povo do Antigo Testamento sabia que o Messias acabaria com a necessidade de um rei ou de qualquer governante. Ele seria da linhagem da família real de Davi, e sua dinastia seria perpétua.

Somente alguns dos profetas compreenderam alguns desses elementos. Isaías com certeza foi o que teve a visão mais clara. O novo reino não seria um império terreno, mas sim um reino espiritual. Portanto, ultrapassaria as fronteiras nacionais e étnicas. Seria um governo do coração. Também, o próprio reino do Rei seria eterno e não apenas sua família.

Será que Jesus cumpriu todas essas profecias? Afinal, a linhagem dos reis era estabelecida pelos membros do sexo masculino e sabemos que Jesus era Filho de Deus e não de José.

Os primeiros leitores das genealogias de Mateus e Lucas não tiveram problemas com essa questão. Naquela cultura, não existia distinção entre filhos de sangue e filhos adotados. A declaração de filiação era o fator decisivo e não a relação genética. José prontamente adotou Jesus como membro da família davídica.

Esse costume preparou o povo, não apenas para a filiação única de Jesus, mas também para a nossa nele - adotados como filhos do Pai celestial. As profecias apresentadas acima são apenas algumas que apresentavam o Ungido como o Mediador final do reino e da família de Deus.

O Breve Catecismo de Westminster diz que "Cristo executou a função de rei, sujeitando cada um de nós a si, governando e nos defendendo, restringindo e conquistando todos os seus e os nossos inimigos".

D. O Cabeça e Salvador da Igreja⁴

Outras religiões têm vários tipos de messias. Confúcio foi um grande mestre, Maomé foi um profeta com estilo próprio, o qual tornou-se praticamente um rei para os povos nômades de sua época.

Entretanto, na condição de Profeta, Sacerdote e Rei, Jesus é único e veio para salvar o povo de Deus. Sua missão era de "busca e salvamento". Além do mais, ele não fundou um império, mas sim um refúgio internacional, reunindo aqueles que ele resgatou dentre todos os povos.

O mundo nunca viu algo semelhante, exceto na Igreja, uma assembleia de adoradores sem barreiras étnicas, nacionalistas, sociais, culturais ou raciais, cuja constituição foi assinada com sangue e cuja legislação baseia-se no amor ao próximo. A Igreja nem sempre viveu deste modo, mas aquela que realmente tem Jesus como cabeça deve ser esse tipo de nação.

Esse relacionamento único permitiu que aqueles primeiros profetas vissem o Ungido que haveria de vir como mediador de um novo tipo de nação.

A posição de Jesus como Cabeça da Igreja é descrita no capítulo 25 da Confissão de Fé de Westminster:

"A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião... A esta Igreja Católica (universal) Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus, para a reunião e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo, e pela sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a sua promessa".

E. Herdeiro e Juiz do mundo⁵

A ironia de descrever Cristo como Herdeiro é que ele é o criador, e todas as coisas lhe pertencem desde o princípio. Mesmo assim, no plano da graça, Cristo renunciou ao que era seu por direito e assumiu o papel subordinado de servo.

Entretanto, mesmo aqueles que esperavam o advento futuro do Ungido sabiam que o papel de servo se dissiparia no dia da prestação de contas, revelando um Messias que é também Juiz. Assim, Cristo é o Mediador da Justiça. Ele de fato define o que é justiça, e o dia da sua vinda é visto como o dia da revelação da verdade e da dispensação do juízo.

Conclusão⁶

Jesus Cristo é mediador da aliança da graça e do plano de Deus. O mais importante para ser lembrado são os três aspectos mencionadas até aqui. Jesus Cristo é Mediador da aliança da graça como Profeta, como Sacerdote e como Rei. Todos os outros meios podem ser encarados como subordinados a esses, mas todos são importantes para o nosso entendimento do Messias e das transformações que ele traz.

E como é uma pessoa renovada por Cristo? O que há de novo no filho de Deus nascido de novo? Paulo disse que o segredo para se tornar uma nova criatura é estar "em Cristo ... as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2Co 5.17). Paulo nos diz a mesma coisa que Jesus disse a Nicodemos. E nascer de novo envolve três coisas fundamentais:

1. O pecador precisa reconhecer que é um pecador, morto para Deus e destinado à condenação por causa do veneno da serpente da rebelião contra o Deus do universo.

2. O pecador precisa crer no evangelho: que Deus enviou seu único Filho, o qual se tornou pecado e pagou o preço, crucificando a serpente do pecado em seu próprio corpo na cruz; que Jesus ressuscitou vitorioso sobre a morte e o sepulcro no terceiro dia.

3. Obedecer. O pecador precisa olhar para a cruz como sendo sua, aceitando Jesus como Salvador e Senhor, saindo das trevas para a luz, de modo que todos possam ver o que aconteceu em sua vida.

Aplicação

Você é uma criatura renovada? E Cristo central na sua vida e em sua mensagem evangelística?


¹ Dt 18.15, 18,19; Mt 21.11; Lc 24.19; Jo 4.19; At 3.22; At 7.37; Is 61.1; Mt 11.5; Mc 1.14; Lc 4.14-21; Lc 8.1

² Sl 110.4; Hb 5.5-10; 6.19,20; 7.15-25; Is 53.12; 7.26-28; 9.11-14, 24; Zc 6.12,13; Hb 9.24; 1 Jo 2.1

³ Jr 23.5; Jo 1.49; 18.33-37; Ez 37.24,2; Mt 2.5,6; Lc 1.32,33

⁴ Is 56.6,7; Rm 10.12,13; Jo 4.21-24; Sl 102.19, 21,22; At 15.12-18

⁵ Is 11.3b-5; Is 62.11; Lc 2.11; Jo 4.42; 1 Jo 4.14

⁶ Jo 3.14,15, 19-21


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

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