Mateus 4.23-25
Você já ouviu ou leu alguma vez as expressões “teologia holística” e “missão integral"? Ambas se referem a uma só realidade: o fato de que a missão da igreja deve atingir o ser humano por inteiro, e não apenas a sua “alma”.
Pois o evangelho é para o homem todo, e não somente para uma de suas partes. A palavra "holística” significa “inteira”, “total”, “completa”, “toda”. A frase que expressa o ideal da missão integral é: o evangelho todo para o homem todo e todos os homens.
A ênfase de que o evangelho deve ser holístico, ou integral, é uma das ênfases mais saudáveis da teologia evangélica nos últimos anos. Pois corrige a ênfase deturpada, mas muito comum, que ensina que o evangelho é só “espiritual”, e não tem nada a ver com assuntos 'materiais'.
Na verdade, a Bíblia é clara em afirmar que o alvo do evangelho é a transformação do ser humano em sua totalidade. Basta olhar, por exemplo, para os evangelhos e ver como o Senhor Jesus Cristo ensinou e curou, pregou e alimentou, demonstrando claramente que sua preocupação não é só com as 'almas' das pessoas.
Com a recente redescoberta do aspecto integral da proclamação das Boas Novas do reino, têm-se visto congressos sendo realizados e livros e artigos sendo escritos sobre o tema. É a partir desta perspectiva que este estudo deve ser visto para que o evangelho que vivemos e pregamos seja realmente integral, em todos os sentidos.
Cremos que o evangelho de Cristo vivo e integral quanto ao seu conteúdo, bem como em relação ao seu objetivo, assim como em relação aos seus destinatários. Este é o evangelho que proclamamos:
1. Integral quanto ao seu conteúdo
Muitos pensam que o conteúdo do evangelho é apenas o que interessa à “salvação da alma" e mais nada.
Entretanto, o conteúdo do evangelho é bem mais abrangente. Apenas como exemplo, pode-se apresentar uma resumida lista de aspectos que o evangelho do reino abrange e envolve.
Esta lista não pretende ser completa; antes, pretende ser fonte de reflexão para cristãos engajados na proclamação do evangelho que integral por atingir:
1.1. Relações interpessoais.
O evangelho do reino não é apenas “vertical”, isto é, não trata apenas da relação da pessoa com Deus: o evangelho é também "horizontal”, isto é, trata também da relação da pessoa com seu próximo. Conforme o ensino evangélico, estas relações interpessoais devem ser marcadas pelo perdão (Mt 18.21,22), pela misericórdia (Mt 5.39-48) e pelo amor (Jo 13.12-15).
1.2. Justiça.
O evangelho do reino é profundamente preocupado com a justiça, em todas as suas manifestações. Quando a igreja proclama a necessidade que todos em toda parte se arrependam (Mc 1.14,15) está lutando para que a justiça aconteça (Am 5.24). Pois o povo de Deus deve andar em justiça (Lc 1.74,75) e lutar para que ela seja uma realidade.
1.3. Política.
O evangelho do reino não pode ser confundido com nenhuma ideologia política, exatamente por ser o evangelho daquele que tem toda autoridade no céu e na terra (Mt 28.18). Por isso, os que pregam o evangelho do reino não tem medo de conhecer, julgar e influenciar os sistemas políticos desta terra.
1.4. Economia.
O evangelho do reino se preocupa com os pobres (Lc 4.16-19: 6.20.21) e condena os que manipulam a economia para acumularem riquezas e mais riquezas (Lc 6.24-26: 12.15-21).
1.5. Ecologia.
O evangelho do reino também tem a ver com a preocupação ecológica, embora isto pareça estranho a muitos. O evangelho proclama que Cristo veio "em carne” (I Jo 4.2); portanto, a natureza é importante para Deus e para seu povo.
1.6. Cultura.
O evangelho do reino capacita seus mensageiros a julgar, avaliar e criticar a cultura. A palavra “cultura” tem a ver com a maneira do ser humano viver, e se relacionar com o mundo, e envolve a sabedoria popular, o folclore, a culinária, as artes, a música, etc.
A respeito do conteúdo integral do evangelho do reino, o Dr. Juam Stam, da Costa Rica, diz: "Quando evangelizamos, chamamos e convidamos a mulheres e homens para nascer de novo mediante a fé em Cristo. Fazer isso biblicamente significa missão integral, um desafio às pessoas para que sejam discípulas do Senhor da história e do universo e de todas as dimensões da vida humana".
2. Integral quanto ao seu objetivo
Qual é o objetivo da proclamação do evangelho? Muitos pensam que é apenas fazer da pessoa que ouve e crê um “salvo”. Atingindo este objetivo, não é preciso preocupar-se com mais nada.
Entretanto, o alvo do evangelho do reino é bem mais amplo, pois a Bíblia diz que o ideal do evangelho é que “cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, "Cristo" (Ef 4.15): por isso, a meta evangélica visa o...
Efésios 4.12-13
"aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo"
Quando há uma compreensão clara deste objetivo, a visão dos crentes se amplia e seu compromisso com o evangelho integral se intensifica: o ser humano em sua inteireza passa a ser alvo dos efeitos curadores e abençoadores do evangelho.
Isto porque a preocupação divina é salvar não apenas a alma das pessoas, mas também seu lado emocional e psicológico, afetivo e físico, etc.
Não importa quantos componentes tenha o ser humano: com todos eles, sem exceção, o evangelho integral se preocupa, e quer que em todos eles haja um reflexo da pessoa de Cristo, no poder do Espírito Santo. O objetivo do evangelho integral é trabalhar com homens e mulheres até que todos possam dizer:
Gálatas 2.20
“Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”
Por isso, devemos rejeitar como sendo não bíblico e subcristão qualquer “evangelho” que ensine que a preocupação de Deus em relação ao seu povo se limita à “alma”.
3. Integral quanto aos seus destinatários
O evangelho do reino é para todos os homens. Esta afirmação aponta para os destinatários da proclamação: homens e mulheres, de todas as idades, de todos os níveis culturais, sociais e econômicos, de todas as raças e povos.
O Apocalipse, que mostra o triunfo completo da evangelização integral, fala sobre este aspecto da integralidade quanto aos destinatários da proclamação, ao apresentar a visão de João:
Apocalipse 7.9
"Grande multidão, que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro..."
Por ser integral quanto aos seus destinatários, a proclamação do evangelho do reino não conhece barreiras ou fronteiras, que o homem afastado de Deus pelo pecado cria para afastar-se também de seus semelhantes. Todas as fronteiras — geográficas, raciais, culturais, sociais, econômicas, religiosas — devem ser rompidas pelos proclamadores do evangelho do reino, para assim encontrar seus destinatários, homens e mulheres, onde estão, com suas crises e problemas, para que em Cristo desfrutem libertação e salvação.
Não é fácil ter fidelidade a este aspecto da proclamação do evangelho do reino. Por exemplo, nem todos querem proclamar o evangelho aos marginalizados sociais (crianças de rua, pobres, prostitutas, aidéticos, etc.) Entretanto, nosso compromisso com Cristo deve ser forte o bastante para nos levar a proclamar o evangelho para todos os tipos de pessoas. Pensando nisso, o famoso teólogo evangélico peruano Samuel Escobar disse que devemos imitar a Jesus,
"que para alcançar-nos cruzou a fronteira do céu até à terra; cruzou a fronteira da pobreza para nascer em um presépio e viver sem saber onde ia reclinar sua cabeça à noite; cruzou a fronteira da marginalidade para abraçar publicanos e samaritanos; cruzou a fronteira do poder espiritual para libertar aflitos por legiões de demônios; cruzou a fronteira do protesto social para pregar a verdade aos fariseus, escribas e mercadores do templo; cruzou a fronteira da cruz e da morte para ajudar-nos a passar ao outro lado; Senhor ressuscitado que por isso nos espera além, em toda fronteira que tenhamos de cruzar com seu evangelho".
Para pensar
Todas as fronteiras — geográficas, raciais, culturais, sociais, econômicas, religiosas — devem ser rompidas pelos proclamadores do evangelho do reino, para assim encontrar seus destinatários, homens e mulheres, onde estão, com suas crises e problemas, para que em Cristo desfrutem libertação e salvação.
Autor: Carlos Ribeiro Caldas Filho