II Timóteo 4.1-5
A responsabilidade do cristão não é somente ouvir a Palavra, crer nela e obedecê-la. É, também, proclamá-la a outros, fazendo isto permanentemente. No ensino dominical da igreja cristã nem sempre a ênfase cai sobre a necessidade dessa proclamação permanente.
De repente, percebemos que existem igrejas hoje vivendo completamente inconscientes desta realidade, desenvolvendo uma proclamação quase ausente, ou às vezes com interrupções que acabam por atrapalhar a tarefa evangelística da comunidade.
Isto acontece porque tem faltado à congregação a visão no que diz respeito à proclamação em dois sentidos:
1 - Entender que proclamar o evangelho não é opção, é mandamento e,
2 - Compreender que a evangelização é uma tarefa contínua, e cabe tão somente à igreja a missão dessa proclamação permanente das boas notícias do reino de Deus.
A proclamação permanente não está baseada apenas na realização de uma campanha evangelística ou em eventos especiais programados para alguns dias. A proclamação deve ser algo natural e constante na vida de cada cristão.
A obra de evangelização do mundo é uma tarefa enorme. “A seara na verdade é grande", disse Jesus (Mt 9.37). Por isso a principal ordem da Grande Comissão (Mt 28.18-20) é: "fazei discípulos de todas as nações..."
Por ser uma grande tarefa e um mandamento expresso do Senhor, a igreja de hoje precisa, mais do que nunca, ter um sério compromisso com a proclamação permanente das boas novas. Portanto, a partir do texto bíblico de II Timóteo 4.1-5 e à luz da realidade de hoje queremos refletir sobre este aspecto contínuo da proclamação do evangelho.
1. Proclamação permanente - Apelo contra o comodismo
Uma profunda apatia tem envolvido a maioria dos membros das igrejas cristãs no Brasil no que diz respeito a uma proclamação permanente do evangelho. Às vezes é necessário muito esforço da liderança da comunidade para envolver as pessoas na obra da proclamação.
Por que isso?
Seria um despreparo total dos cristãos para a tarefa da proclamação? Seria o ativismo do homem do século XX? Seria a falta de fé no evangelho que transforma? Seria a própria estrutura da instituição preocupada apenas com o funcionamento de suas sociedades internas e seus departamentos?
De repente tudo isto poderia ser respondido afirmativamente. Entretanto, o centro da resposta está no comodismo que às vezes envolve o cristão como indivíduo e a igreja como coletividade quando se trata de proclamar com seriedade e constância a mensagem cristã.
Nos acomodamos preguiçosamente nos “bancos” de nossas comunidades e não damos a mínima para "os campos, que já branquejam para a ceifa” (Jo 4.35).
A exortação do apóstolo Paulo ao pastor Timóteo é enfática e não abre espaço para a preguiça:
II Timóteo 4.2 (BLH)
"Pregue a mensagem e insta em anunciá-la no tempo certo ou não”
Muitos cristãos precisam redescobrir hoje a importância de se desenvolver um ministério da pregação contínua. Estar atento às oportunidades que o Espírito Santo nos concede e nos desperta para proclamar o evangelho permanentemente e em qualquer lugar, através de uma vida com Deus, usando o testemunho, a fala, a ação, o silêncio, “a fim de proclamardes as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (I Pe 2.9).
2. Proclamação permanente - Compromisso com a verdade
Os tempos de hoje estão confirmando a previsão que o apóstolo fez. O que notamos no mundo atual? Pessoas que não dão ouvidos ao verdadeiro ensinamento: pessoas que seguem seus próprios desejos; pessoas que valorizam as lendas ao invés da verdade.
Assim, a exortação à igreja de hoje é a mesma: “Proclame a palavra”. Qual a motivação desta proclamação?
- Primeiro porque sempre que a verdade não é anunciada, a mentira, o engano, os falsos ensinamentos tomam conta da situação. O esoterismo, o misticismo e seus afins estão aí para comprovar isto.
- Segundo, porque a proclamação permanente da palavra é um dos imperativos prioritários na missão da igreja.
- Finalmente, porque existe o compromisso com a verdade, “prega a palavra” (II Tm 4.2). "a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
A proclamação da igreja hoje tem sido a verdade? Nem sempre. Infelizmente muito da proclamação que tem acontecido por aí não tem tido um compromisso com a verdade.
Existe um compromisso com uma verdade. Existe a proclamação de uma palavra e não a Palavra. Tem surgido um evangelho de caricatura, onde há a proclamação de uma parte e a omissão de outra, desvirtuando assim a mensagem do reino de Deus.
Uma proclamação permanente precisa ter um compromisso com a verdade senão o caráter de permanente deixa de existir. A proclamação permanente compromissada com a verdade é algo bom, agradável, levando o homem à restauração diante de Deus (At 20.20).
3. Proclamação permanente - Necessidade urgente
Neste final de milênio há muita gente proclamando muitas coisas, confundindo muitos indivíduos. Num tempo assim vale a pena proclamar o evangelho? Paulo diz que Timóteo deve pregar "a tempo e fora de tempo” (II Tm 4.2, Versão Brasileira), “corrige, repreende, exorta com toda a paciência e ensino".
Proclamar a palavra num tempo assim é uma necessidade urgente. As pessoas hoje se encontram desorientadas, desesperadas, vivendo uma experiência de vazio, tentando se agarrar em qualquer coisa que lhes dê segurança, paz e tranquilidade.
Buscam inconscientemente a fé...
Romanos 10.14
"como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?"
O que o homem mais precisa hoje é crer em Deus, ter fé, e a fé vem pela proclamação da Palavra de Cristo (Rm 10.17).
Multiplicam-se no país e no mundo o número de templos satânicos e o número de rituais de magia negra aumenta dia a dia. Qual a razão disso? Não seria em parte pela omissão da igreja em realizar uma proclamação permanente? Sempre que não ocupamos um espaço alguém certamente o ocupará por nós.
4. Proclamação permanente - Oportunidade sempre
Quando existe uma proclamação permanente das boas novas do reino, sempre há uma oportunidade subentendida. Tempo de proclamação é tempo de oportunidade.
A proclamação do juízo sobre Nínive pelo profeta Jonas foi a oportunidade para o arrependimento (Jn 3.1-5). Uma igreja que desenvolve um ministério de proclamação permanente é uma igreja que está dizendo ao mundo que este ainda é o “tempo da oportunidade", tempo de salvação (II Co 6.2).
Um dos fatores do grande crescimento na igreja dos primeiros séculos foi a proclamação permanente do evangelho. O livro de Atos começa mostrando os resultados da proclamação de Pedro no dia de Pentecostes (At 2.37-41). Pedro e João são presos por proclamarem o nome de Jesus Cristo (At 4). Lucas registra:
Atos 6.7
"Crescia a Palavra de Deus e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; e também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé”
Com a perseguição aconteceu também a proclamação: “Entrementes os que foram dispersos iam por toda parte proclamando a palavra” (At 8.4). Foi um tempo de oportunidade para inúmeras pessoas, pois a proclamação acontecia continuamente.
Depois vem a proclamação permanente realizada por Paulo, Barnabé, Silas e Timóteo nas constantes viagens missionárias, levando as boas novas do reino aos gentios. A igreja cristã atual é herdeira desta grande responsabilidade apostólica.
Cabe a nós imitar essa tão grande “nuvens de testemunhas” numa proclamação permanente da Palavra dando assim aos homens um tempo de oportunidade sempre. "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno ou não...”. (II Tm 4.2)
Para pensar
"Sempre que a verdade não é anunciada, a mentira, o engano e os falsos ensinamentos tomam conta da situação... A proclamação compromissada com a verdade é algo bom, agradável, levando o homem à restauração diante de Deus."
Autor: Ailton Gonçalves Dias Filho