Sua fé vai além das palavras? O chamado bíblico à justiça social - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

Tiago 2.14-26

Introdução

Nesta transição para o terceiro milênio, quando a Igreja de Jesus Cristo enfrenta profundos desafios para a evangelização do mundo, mudanças radicais devem ser feitas com o objetivo de atender efetivamente às necessidades espirituais e humanas de cada grupo.

Enxergando numa perspectiva sociológica, a igreja é uma instituição divina e cristã colocada em um ambiente sociopolítico. Como tal, ela exerce um impacto na vida de muitas pessoas.

A indagação desta lição é como a Igreja pode funcionar melhor como agente eficaz da evangelização neste dado contexto sociopolítico do mundo hoje.

1. Os fundamentos bíblico-teológicos da missão social no Antigo Testamento

O povo de Deus está investido de uma responsabilidade ética especial em favor dos necessitados. No Antigo Testamento, a lembrança do povo de Deus como escravo no Egito era feita para motivá-lo a mostrar misericórdia ao oprimido (Dt 24.14-22; Lv 19.15; Am 2.6,7; Zc 7.9,10).

Todos estes ensinos a respeito do pobre fazem parte da Palavra de Deus. O Antigo Testamento enfatiza que Deus requer justiça para os pobres e julgará aqueles que os oprimem.

A. Deus Requer Justiça Social de Seu Povo

Da aliança mosaica às promessas do evangelho, a Bíblia está continuamente apontando para o pobre, a viúva, o órfão, o estrangeiro, o necessitado e o oprimido.

O Antigo Testamento revela vários fatos significativos acerca da atitude de Deus para com o pobre.

Salmos 72.12-13
"Ele acode ao necessitado que clama, e também ao aflito e ao desvalido. Ele tem piedade do fraco e do necessitado, e salva a alma aos indigentes"

O Senhor "não se esquece do clamor dos aflitos" (Sl 9.12). "Foste a fortaleza do pobre, e a fortaleza do necessitado na sua angústia" (Is 25.4). Na ordem social do Antigo Testamento, o pobre recebia um benefício econômico. O povo devia emprestar liberalmente ao pobre, sem cobrar juros (Dt 15.7-11; Ex 22.25).

Parte do trigo e da colheita da uva deveria ser deixada no campo, para ficar para o pobre (Lv 19.9,10; 23.22). De modo significante, parte do propósito do dízimo era prover a carência do pobre (Dt 14.29; 26.12,13).

O Antigo Testamento enfatiza que Deus requer justiça para o pobre e julgará aqueles que os oprimirem. As palavras de Deus ao profeta Zacarias são representativas:

Zacarias 7.9-10
"Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia cada um a seu irmão; não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre"

(cf. Lv 19.15; Dt 16.18.20; 24.14.22; Pv 31.9; Am 2.6,7).

No Antigo Testamento a atenção divina para com o pobre aparece consistentemente dentro do contexto da justiça de Deus e a obra de justiça no meio de seu povo. Assim, biblicamente, palavras como pobre, necessitado, oprimido, forasteiro têm tipicamente um conteúdo moral, relacionado com a exigência divina por justiça.

As questões de riqueza, pobreza e justiça social constituem o ponto central do ministério dos profetas (Is 58.6,7).

B. O Ano do Jubileu e o Ano Sabático Possuíam Sérias Implicações Sociais

Ao término de seis anos os escravos hebreus deviam tornar-se livres. E os senhores deviam compartilhar seus produtos do labor conjunto com os irmãos que partiam. Não deviam ser despedidos de mãos vazias (Dt 15.14,14).

A provisão sabática sobre empréstimos era ainda mais radical (Dt 15.1-6). Cada sete anos todos os débitos deviam ser quitados. Deuteronômio 15 é tanto uma proposição idealística do perfeito requerimento de Deus como também uma referência realística para o provável comportamento de Israel como comunidade justa e compassiva. O ano sabático, infelizmente, foi praticado somente esporadicamente. A desobediência de Israel, contudo, não enfraquece a ordem divina.

As provisões econômicas do Ano do Jubileu têm largas implicações sociais (Lv 25.8-17; 25.18-34; 35-55; Nm 26.52-56). A cada 49 anos, registram os textos, os escravos seriam libertados, os débitos seriam suspensos ou cancelados, e a terra retornaria aos seus proprietários originais (esta declaração realça o reconhecimento de que toda terra, em última análise, pertence somente a Yahweh).

A lei previa a liberação do solo, dos escravos e dos devedores a cada sete anos. A cada sete anos a terra deveria descansar (Ex 23.10,11). O ensino bíblico expressa a mesma orientação no livro de Levítico (Lv 25.2-7). Os escravos hebreus também recebiam sua liberdade no ano sabático (Dt 15.12-18).

2. O fundamento da missão social da igreja no Novo Testamento

A mensagem do evangelho no Novo Testamento de forma nenhuma minimiza a inspiração e autoridade do Antigo Testamento. Os cristãos sustentam que a crença do Novo Testamento aclara e consuma a manifestação da natureza, propósito e vontade de Deus no Antigo Testamento. Assim, em Jesus, o modelo do Antigo Testamento quanto à relação entre o indivíduo e a comunidade sob a aliança não é anulada, mas cumprida.

A igreja do Novo Testamento não está isenta da obrigação de agir com justiça na evangelização. Os cristãos são apontados como aqueles que têm fome e sede de justiça (Mt 5.6); feituras de Deus para as boas obras (Ef 2.10); um povo zeloso de boas obras (Tt 2.14).

A. O Conceito Social Cristão Está Firmado no Ensino de Cristo

A vinda do Senhor foi preconizada como uma vinda em benefício da justiça para todos, equidade para com os aflitos da terra (Is 11.1-5). A promessa do Antigo Testamento sobre o ano do jubileu do Messias significa justiça e libertação para o oprimido e alquebrado (Is 61.1,2).

Quando Jesus foi à sinagoga em Nazaré (Lc 4.14-21) Ele leu Isaías 61.1,2. Ao ler esta passagem das Escrituras, mostrou as marcas pelas quais seu evangelho seria conhecido.

As leis para a comunidade da aliança foram dadas para capacitar a comunidade a expressar sua fidelidade ao seu justo Senhor. O relacionamento vertical com Deus é conscientemente reconhecido, mas deve ser expresso em relações de retidão (amor e justiça) com o próximo.

Em Marcos 12.28-34, Jesus expõe nitidamente o mandamento para amar a Deus em termos de amor o próximo, em contradição às ordenanças legais (Mc 12.33b). Estes mandamentos interpretam-se mutuamente. É impossível aos cristãos amar a Deus sem expressar seu amor a seus próximos (ver ljo 4.7-21).

O Novo Testamento não nega o Antigo Testamento; ele cumpre e intensifica os ensinos e mandamentos da revelação hebraica. O Novo Testamento de modo nenhum revoga o mandamento de Deus para a justiça social, caridade e amor. Antes, ele acrescenta uma nova dinâmica e uma nova dimensão àqueles mandamentos.

B. O Conceito Social Cristão Está Firmado na Doutrina de Deus

Inicialmente, quais são as implicações do tema central teológico que percorre o Novo Testamento? Que podem os cristãos deduzir da revelação da natureza e propósito de Deus? Em princípio, os crentes precisam ter uma compreensão mais abrangente da doutrina de Deus. Existe a tendência de esquecer que ele está preocupado com toda a humanidade e com toda a vida humana.

Firmado na fundação do Antigo Testamento, o Novo Testamento assevera que Deus é ao mesmo tempo santo e amoroso. Ele afirma que Deus, a fonte preexistente e soberana de toda a realidade, é o Ser Triúno do amor santo, perfeito em santidade e amor, criando, sustentando, governando, julgando e reconciliando o mundo consigo mesmo por meio de Jesus Cristo.

Reiterando, quer no evangelismo quer na responsabilidade social, os cristãos devem discernir a base fundamental para suas ações no caráter do próprio Deus. Isto é correto, pois a teologia cristã deve sempre guiar a vida cristã. A afirmação cristã é que Deus é tanto Criador como Juiz de todos os homens.

Ele criou todos os homens e todos terão de lhe prestar contas no dia do julgamento. Ele é o Deus de justiça, que em toda comunidade humana odeia o mal e ama a justiça. Pois ele ama o bem e odeia o mal, onde quer que se manifestem (Sl 11.4-7). Ele é também o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação (Sl 146.7-9).

Amós clama que não somente Deus deleita-se em tais ações de justiça social, mas os relacionamentos e louvores dos crentes não são aceitáveis a Deus a menos que seus mandamentos sejam observados. "Corra o juízo como as águas, e a justiça como ribeiro perene" (Am 5.24). Deus deu a Israel aquelas instruções para que seu povo aprendesse como viver em paz e justiça.

Hoje, mais que nunca, os cristãos precisam recuperar uma imagem autêntica de Cristo. Jesus exerceu um ministério de compaixão durante o tempo de sua vida terrena: pregando, ensinando e curando as multidões (Mt 9.35,36).

O Manifesto de Nazaré (Lc 4.18,19) dominou sua carreira, como documentam as narrativas dos Evangelhos. Cristo veio a este mundo com a missão de servir sacrificialmente (Mc 10.44,45). Assim, pois, devem os cristãos infiltrar-se na sociedade dos não-cristãos com a mensagem transformadora e redentora do evangelho.

Aplicação

Olhe à sua volta. O que você pode fazer por sua cidade ou bairro? Não seria hora de colocar a mão na massa? Têm surgido vários grupos de voluntários, pessoas que se dispõem a prestar algum tipo de serviço para auxiliar alguém. Talvez você possa fazer parte de um grupo destes, ou melhor ainda, buscar organizar um grupo de voluntariado na própria igreja.


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

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