Além do espetáculo: o verdadeiro poder dos sinais e prodígios - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

Atos 19.8-20

Introdução

Creio que nunca se evidenciou tanto sinais e prodígios como em nossos dias. Estes se tornaram motivo de propaganda de Igrejas, trouxeram a fama a pastores que são reconhecidos como mestres das curas e dos milagres.

Todos conhecemos alguém que já procurou o expediente de cura, de sinais, de milagres para sua vida. Alguns passaram pessoalmente por essa experiência.

Milagres estão na tevê, nos rádios, nas ruas, anunciados em outdoors e nas portas das igrejas. Há igrejas que incorporaram os sinais e os prodígios aos seus nomes, como parte da própria finalidade de sua existência. São igrejas que vivem "dos" e "para" os milagres.

Nesta lição estaremos abordando estas questões relativas aos milagres, aos sinais e aos prodígios. Será que esta é a finalidade da Igreja? Será que esta é a finalidade para a qual o Senhor Jesus nos tirou das trevas para a sua luz maravilhosa?

Como a Bíblia trata desta questão? Como a Igreja no primeiro século tratou desta questão? Qual a relação entre os sinais e prodígios, e a obra evangelizadora da Igreja? Estas e outras questões serão nosso objeto de estudo.

1. O que são sinais e prodígios?

São eventos significantes, atos, ou outra manifestação que indicam a presença de Deus ou sua intenção. Sinais podem ser milagrosos e espetaculares, como no caso dos executados por Moisés diante do povo de Israel para demonstrar que Deus o tinha o enviado a eles (Êx 4.1- 9,17,30) ou diante de Faraó com o mesmo propósito (Êx 7-11).

Por outro lado, um fenômeno natural como um arco-íris ou um pôr-do-sol pode ser chamado um sinal (Gn 9.13; Sl 65.8), da mesma forma que uma marca identificadora como circuncisão (Gn 17.11) ou até mesmo um profeta e seus filhos (Is 8.18).

No NT, os sinais tendem a serem apocalípticos ou milagrosos, mas para os pastores são anúncios de que o menino Jesus nasceu e está envolto em uma manjedoura (Lc 2.12) e isto será um sinal da salvação de Deus.

Quando pedem a Jesus por um sinal que indicaria a destruição próxima do Templo (Mc 13.4), ele responde em termos de eventos naturais e catastróficos (Mc 13.5-13).

Estes fenômenos normalmente são descritos como apocalípticos e se fundem de forma distinta com eventos sobrenaturais preditos mais tarde no mesmo discurso (Mc 13.24-27).

Nos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), quando pedem a Jesus para executar ou manifestar um sinal, ele recusa (Mc 8.11,12; Mt 12.38,39) e denuncia o objetivo da indagação para sinais (cf. Jo 4.48).

Contudo, Paulo fala de sinais apostólicos milagrosos (2Co 12.12), e Jesus é caracterizado em Atos 2.22 como:

Atos 2.22
"Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis".

No Evangelho de João, Jesus executa sinais que são direcionados para evocar a fé neles (2.11), embora eles também causem ofensa (11.47,48), e o Evangelista parece estar atento às insuficiências da fé baseada em milagres (i.e., fé baseada em sinais) exceto como o ponto de partida para uma mais adequada percepção e entendimento de Jesus (2.23-25; cf. 20.30,31).

2. Sinais e prodígios na obra evangelizadora dos Atos dos Apóstolos

No texto básico de nossa lição para hoje (At 19.8-20), Paulo havia acabado de chegar a Éfeso proveniente de Corinto.

Lá encontrou doze discípulos que haviam sido seguidores de João Batista e que haviam conhecido a Jesus, mas que ainda não haviam recebido o Espírito Santo, provavelmente por terem se ausentado antes da descida deste (cf. At 2). A partir daí Paulo dá início à obra evangelizadora naquela cidade, pregando ousadamente na sinagoga onde dissertava e persuadia quanto ao Reino de Deus (19.8).

Mas, nem todos estavam persuadidos a viver no padrão do Reino de Deus. Ao contrário, alguns judeus permaneceram com os corações duros e incrédulos, e pior, passaram a falar mal do Caminho para o povo da cidade. Isto nos mostra que, quando estamos empreendendo a obra evangelizadora, nem sempre temos todos ao nosso lado, e que podemos até ter quem nos faça oposição.

A resposta do apóstolo a esta situação foi separar-se daqueles que se opunham. Nos dizeres de Calvino comentando este texto: "Então, Paulo separou os discípulos, para que o fedor das cabras não infectasse o rebanho de ovelhas; e que os puros adoradores pudessem fazer sua livre profissão de fé".

Em sua visão evangelística, ao sair da sinagoga, Paulo procura outro lugar onde pudesse ensinar com liberdade. Dirige-se então para a Escola de Tirano, onde por dois anos dá continuidade à missão de plantar a Igreja de Éfeso.

O Evangelho se espalha por toda a Ásia, tanto entre judeus como gentios. Os sinais que acompanham a pregação de Paulo são prodígios de Deus (19.11) para atestar a genuinidade do evangelho e para fortalecer a fé dos que agora criam nele.

3. Sinais e prodígios em proveito próprio

O texto nos fala de sete exorcistas ambulantes, filhos do sumo sacerdote Ceva, que tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre alguns possessos de espíritos malignos.

Flávio Josefo, historiador hebreu, narra sobre este tipo de prática, que era comum e realizada por judeus que utilizavam encantamentos atribuídos a Salomão (Josephus, in Antiq. 8.45-46).

Mas, o texto nos diz que estes tentaram invocar o nome do Senhor Jesus em proveito de sua própria fama, como se o nome de Jesus fosse um talismã, uma palavra mágica (19.13), como a prática de encantamento que já estavam acostumados a fazer. Infelizmente, ainda hoje há pessoas que se utilizam do sofrimento dos outros em busca de sua glória própria, e para isso utilizam-se do nome de Jesus como uma "palavra mágica", como se houvesse poder apenas nas palavras.

É Jesus quem dá poder ao seu nome, e não o nome que dá poder a quem quer que seja. Eles desejavam tornar famosos seus nomes. Mas a reação do possesso, subjugando, desnudando e ferindo os sete exorcistas ambulantes gerou uma reação de temor e engrandecimento, tornando famoso o evangelho e o nome de Jesus.

Além disso, outro resultado dos sinais e prodígios e deste episódio, foi o início de uma real consagração. Segundo o texto, judeus e gregos que haviam crido se apresentaram confessando o nome de Jesus e denunciando publicamente suas obras más.

Este é o resultado da ação de Deus na vida da Igreja que, mais do que sinais, experimenta do próprio Deus. A narrativa do autor dos Atos ainda nos acrescenta que aqueles que se dedicavam ao uso das palavras mágicas, que procediam da mesma forma que os filhos de Ceva, reuniram seus escritos e os queimaram diante de todos, resultando no crescimento da Palavra do Senhor.

Conclusão

Ao finalizarmos este estudo podemos chegar a algumas conclusões que nos ajudam a viver e proclamar hoje o evangelho do Senhor Jesus.

A primeira delas é o lugar dos sinais e prodígios realizados por Deus por meio do apóstolo Paulo. Podemos ver que eles estão inseridos em uma realidade muito específica, o evangelho estava chegando pela primeira vez à Ásia, o Espírito Santo foi derramado pela primeira vez em terras gentílicas, repetem-se por meio de Paulo os mesmos sinais que Jesus realizara entre os judeus.

São portanto sinais autenticadores do evangelho que estava sendo pregado a um povo que nunca tinha ouvido falar de Jesus. Diante desse povo e de testemunhos contrários por parte dos judeus, Deus manifesta seu poder absoluto.

Ainda hoje o Senhor faz milagres entre nós, em sua soberana vontade Deus autentica o seu evangelho pregado, fortifica a fé dos mais fracos, e realiza o maior de todos os milagres de nossos dias, aplica nos corações a fé para que haja conversão ao Senhor Jesus.

Isto nos remete a uma outra conclusão. Os sinais apontavam para o Senhor Jesus e para o Evangelho. Eles visavam a proclamação do Reino do Senhor naquela cidade que era a porta de entrada para toda a Ásia. Aqueles que pretenderam se utilizar dos sinais e prodígios em proveito próprio, não só não lograram êxito, como Deus utilizou este erro como um meio de trazer temor sobre a vida de toda aquela coletividade.

Sinais e prodígios trazem o engrandecimento do Reino de Deus e aqueles pelos quais Deus opera são apenas instrumentos nas mãos do Senhor. Em nossos dias temos presenciado pessoas que se utilizam do nome de Jesus para seu autoengrandecimento, não colocando o nome do Senhor em primeiro lugar nem respeitando aquele por quem Jesus morreu, fazendo destes muitas vezes objeto de seu espetáculo. Amar a Deus sobre todas as coisas é amar ao próximo como a nós mesmos.

A terceira lição que tiramos deste texto, é que os sinais e prodígios operados naquela igreja em seu momento singular, resultaram em uma confissão do Senhor Jesus e em um denunciar público de suas ações, de tal modo que as pessoas deixaram para trás suas antigas práticas, mesmo com perdas financeiras, e abraçaram o evangelho. Isto gerou um crescer poderoso da Palavra de Deus.

Hoje não vemos estes resultados quando se anunciam milagres e sinais em muitas "igrejas", ao contrário o que vemos são práticas mais próximas de um espetáculo, um show, e as pessoas que assistem no domingo, continuam suas vidas na semana sem mostras de uma genuína conversão, aguardando o novo espetáculo para deleite de seus olhos.

Ainda em nossos dias Deus tem operado sinais e maravilhas entre nós. Deus tem curado irmãos desacreditados pelos médicos, tem libertado outros dos vícios, das drogas, da influência do maligno. Não é nosso costume fazer alarde, tocar trombeta para dizer o que está acontecendo em nossas Igrejas; nem costume dos pastores se engrandecerem por terem sido usados por Deus.

Mas devemos ver nestas manifestações do poder de Deus por meio de nós uma oportunidade de engrandecer o nome do Senhor Jesus. Devemos buscar um agir de Deus entre nós que leve à confissão do seu nome, a um genuíno arrependimento dos pecados, ao temor do Senhor e ao crescer e prevalecer da Palavra de Deus, pois nestes passos está o estabelecimento da Igreja do Senhor. Quando assim procedermos estaremos cumprindo a ordem de Jesus de ir e pregar o evangelho!

Aplicação

Os sinais e maravilhas não podem servir de base para a pregação. Não seguimos a Jesus por causa de sinais, mas porque Deus realiza a obra regeneradora em nós. Quando sinais ocorrem, Deus tem seus propósitos por trás deles e devemos louvá-lo por isso. Procure não se deixar levar por "sinais" e instrua a outros quanto ao que a Palavra de Deus diz sobre eles.


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

Postar um comentário

O autor reserva o direito de publicar apenas os comentários que julgar relevantes e respeitosos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
Ajuste a fonte: