Atos 19.23-40
Introdução
Outro dia, estava visitando um diácono de nossa igreja em seu local de trabalho, e ao me despedir dele fui abordado por uma senhora que eu não conhecia. Após mencionar alguns problemas com o seu filho, que começou a frequentar a nossa igreja recentemente, ela disse:
"Eu estou muito magoada com o meu filho porque ele mudou de religião e fico ofendida porque ele quer impor a sua nova religião a toda a sua família. Eu sou espírita, faço somente o bem, e amo a Jesus de todo o meu coração".
Você já ouviu alguma frase semelhante? Qual a sua reação ao ouvir pessoas das mais diferentes crenças afirmar que amam a Jesus o tanto quanto você ama?
1. O misticismo popular tem os seus deuses de estimação (23-27)
Dificilmente iremos encontrar um povo que não tenha nenhuma forma de culto, adoração a algum ser considerado sagrado, poderoso e superior sobre os seres humanos. A religião faz parte da história da humanidade desde o seu começo.
A religião é o que mantém o povo unido e produz inclusive a sua sobrevivência. Precisamos entender que quando a pessoa não adora ao Deus vivo e verdadeiro, ela irá adorar aos deuses fabricados e inventados por sua própria imaginação.
Muitas vezes a adoração a outros deuses, por mais incrível que possa parecer, se dá também no meio do povo de Deus.
Lembremos do exemplo de Arão, que mandou confeccionar um bezerro de ouro. Quando o bezerro estava pronto o povo disse: "São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito" (leia toda a história em Êxodo 32). "Não existe nada mais detestável do que o próprio homem escolher, segundo o seu prazer, aquilo que irá seguir" (João Calvino).
O nosso texto fala de Diana e dos deuses. Releia de novo os versos 23 a 27 e perceba que Mesmo tendo o lado comercial envolvido, o povo tem de fato uma grande estima por Diana. Esta estima era proveniente da fama de Diana como a deusa da fertilidade.
Como evangélicos precisamos entender que as pessoas são de uma certa forma sinceras em relação aos seus deuses, aos seus santos, aos seus ídolos. Muitos fazem isto na ignorância.
O próprio Paulo afirma ter sido muito zeloso da sua religião (At 26.4-11; Gl 1.14). A nossa missão não é atacar os ídolos e nem atacar os seguidores dos ídolos. Veja que Paulo prega o evangelho e o próprio evangelho tem o poder de libertar as pessoas. Jesus Cristo afirmou que é o conhecimento da verdade que liberta (Jo 8.32).
Às vezes usamos a estratégia errada de atacar os ídolos e perdemos a oportunidade de levar as pessoas ao conhecimento do verdadeiro Salvador. Aqueles cristãos que vieram das falsas religiões, precisam tomar o cuidado de não ser muito radicais ou intolerantes com os que ainda praticam formas de cultos errôneas.
Precisamos ter paciência para ver o poder de Deus agindo naquelas pessoas. Não temos como "encurtar o caminho" para a salvação.
Este é um ato de Deus. Lembre-se, portanto, de que as pessoas gostam dos seus deuses de estimação e atacá-las, ou atacar seus deuses, fará com que você seja visto como uma pessoa intolerante. Seja amigo das pessoas.
2. O misticismo popular tem os seus seguidores fervorosos (28-40)
As pessoas não somente gostam dos seus ídolos e dos seus deuses, como também não poupam esforços para demonstrar o quanto elas estão dispostas a fazer sacrifícios em favor dos seus ídolos.
No texto acima, chama a nossa atenção essa assembleia na qual as pessoas passam duas horas gritando o mais alto possível: "Grande é a Diana dos efésios". Tome por exemplo os nossos cultos. As pessoas ficam cansadas quando o mesmo ultrapassa uma hora. Imagine você participar de culto onde a única coisa que acontece é este grito e isto por duas horas!
É interessante notar que isoladamente o místico muitas vezes não tem forças ou coragem para expor os seus pensamentos. Todavia, quando em grupo, a pessoa fica possuída de coragem e faz valer os seus argumentos. A assembleia durou por mais de duas horas. Veja como as pessoas se transformam quando estão nas procissões, ou nos dias consagrados aos seus ídolos.
Não somente o amor pelos ídolos, mas também encontramos muitos adeptos do misticismo popular que possuem amplo conhecimento da religião que estão seguindo.
Alguns são ignorantes, é verdade, mas outros possuem conhecimento teórico dos seus ídolos e das suas crenças. No verso 27, Demétrio fala da majestade de Diana e da glória do templo.
O templo a ela dedicado media 67 por 130 m, com 127 colunas de mármore, tendo cada uma 19 m de altura. As bases inferiores das 36 colunas do lado oeste eram esculpidas com relevos. A estátua da deusa era exposta numa sala interna do templo (Bíblia de Genebra).
O escrivão da cidade apela para a indestrutibilidade de Diana e dos deuses (v.36), e por isso, os pregadores que lá estavam não podiam ser considerados sacrílegos e nem blasfemos.
Eles não podiam contradizer aquilo que era crido em Diana. Veja que o povo aceitou o argumento de que Paulo e os outros não podiam destruir os seus deuses e foram para casa (v.40).
3. O misticismo popular é uma porta aberta para a evangelização eficaz (1 Co 16.5-9)
Depois daquele episódio o apóstolo Paulo escreve a sua primeira carta aos Coríntios. É muito interessante observar a sua visão do acontecido, tendo em vista que ele foi impedido pelos seus amigos de ir até a assembleia (At 19.30).
O texto não explica o que Paulo fez, mas ao ler 1 Coríntios 16, entendemos que ele, em vez de fugir de Éfeso, expressa o desejo de permanecer na cidade. Por mais difícil que seja a situação, ele é o único que pode mostrar a verdadeira luz aos seguidores de Diana.
Que tremendo desafio permanecer quando a situação requer a fuga! Lembramos com carinho dos precursores do evangelho em nossa pátria.
Quantos foram maltratados, zombados, caluniados? Quantas igrejas foram queimadas? Todavia, essas pessoas cristãs permaneceram firmes e hoje o evangelho já se faz presente em quase todas as cidades brasileiras. Paulo não podia sair enquanto a pregação não houvesse sido concluída.
Ele olha aquela situação como uma "porta grande e oportuna para o trabalho". Esta deve ser a atitude de todos os crentes. Ao invés de atacar os moradores de Éfeso como ignorantes ou estúpidos, ele vê naquela situação uma porta aberta para a pregação do evangelho.
Devemos entender que os seguidores fanáticos estão cegos para a realidade da cruz de Cristo e por isso frisamos mais uma vez as palavras de Cristo que é somente a verdade que liberta. "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.36).
Aprendamos, também, que Deus tem seu povo em cada cidade, por mais idólatra que ele seja. No meio dos fanáticos, deve haver algum eleito. No meio dos adoradores dos deuses deve ter alguém pronto a conhecer a verdade. Leia João 10.16 e Atos 18.9-11.
Eu creio que Paulo deve ter pensado: "Se esse povo é capaz de passar duas horas gritando o nome de uma impostora, quantas horas eles gritariam se conhecessem o nome do verdadeiro Salvador?"
O próprio Paulo é um exemplo disto. Se ele era zeloso sem conhecer a verdade, foi muito mais zeloso ainda quando conheceu Jesus Cristo.
Temos tido em nossas igrejas muitas pessoas que estavam totalmente imersas na idolatria, na magia negra e no espiritismo. Hoje, convertidas, são pessoas que trabalham bastante na igreja e que são evangelistas eficazes.
Conclusão
O misticismo popular é nocivo porque ele produz algumas consequências trágicas. Vejamos algumas: (1) Alienação; (2) Fanatismo; (3) Endurecimento da mente; (4) Ignorância e erro.
Não se esqueça de que a pregação do reino de Deus irá confrontar os postulados de qualquer outra religião que não proceda da revelação bíblica. A verdadeira pregação incomoda e suscita ira nos corações fanatizados pela idolatria, mesmo que não seja essa a sua intenção.
Ninguém gosta de ser confrontado quanto à sua religião. "Política, religião e futebol, não se discute". Uma outra observação que não deixa de ser irônica é que Deus usou um dos seguidores de Diana para acalmar a população contra os cristãos (v.40).
Aplicação
Anote em um caderno todas as pessoas que você conhece e que sinceramente estão seguindo outras religiões, crendo que estão certas do que fazem. Procure em primeiro lugar aprender um pouco sobre aquela religião. Quais são os seus postulados?
Faça, depois, um propósito de orar por estas pessoas no próximo mês e observe se Deus abre uma porta para você compartilhar do amor de Cristo por elas. Lembre-se da "porta grande e oportuna para o trabalho".