Atos 17.16-34
Introdução
Cremos que Jesus Cristo é o maior, o melhor e o mais bem sucedido exemplo de evangelização através da pregação pública.
A pregação de Jesus Cristo era pública e itinerante, usando de todos os meios possíveis e disponíveis como plataforma ou púlpito para a comunicação da sua mensagem.
Entendemos que temos diante de nós um mundo de opções e de possibilidades para que a pregação do evangelho se torne cada vez mais pública e ao alcance de todos. Temos de usar os recursos que se nos oferecem como um meio legítimo de se pregar o autêntico evangelho de Cristo.
O nosso desejo é que ao estudarmos esta lição, sejamos despertados e motivados a usarmos de todas as nossas oportunidades, ocasiões e meios disponíveis para tornarmos cada vez mais conhecido o evangelho de Cristo, como escreveu Paulo a Timóteo: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não...", porém, alguns princípios devem ser considerados quanto a Evangelização através da Pregação Pública, conforme veremos a seguir.
1. Vocação vinda de Deus
Em Atos 13.1-3, encontramos o chamamento de Paulo e de Barnabé, para um ministério específico. Depois da igreja orar e jejuar, o Espírito mandou que fossem separados Paulo e Barnabé. A partir daí, começa, efetivamente, o ministério de Paulo, em cumprimento àquilo que Deus já havia dito em Atos 9.15.
Cremos que Paulo poderia ser um pregador e que sua pregação poderia ser pública, mesmo que ele não fosse vocacionado para tal, porém, entendemos que a pregação e a vocação são coisas que devem caminhar juntas, pois uma dá validação a outra, já que só haverá aprovação da parte de Deus sobre o pregador quando esse é vocacionado pelo próprio Deus e faz o seu ministério para a glória dele, caso contrário, podemos correr o risco de estar incluídos naquilo que disse Jesus em Mateus 7.15-23.
Temos assistido uma imensidão de pessoas que estão fazendo da pregação do evangelho alguma coisa pública. Provavelmente, nunca tenha se visto tantas pessoas pregando a Jesus, através dos mais diversos meios de comunicação. A pergunta a ser feita é: São esses autenticamente vocacionados? Estão eles vivendo em obediência a Deus?
Se a nossa vida não condiz com o nosso discurso, ou se a nossa pregação é só cumprimento de manuais litúrgicos, mas não é fruto de um verdadeiro chamado de Deus, ainda, que pessoas sejam salvas pela nossa pregação, nós seremos reprovados.
É necessário que a pregação do evangelho seja resultado de um chamamento de Deus e de uma vida íntegra. Isso principalmente no caso da pregação pública, ainda que seja difícil fazer pregação que não seja pública.
O escritor Warren W. Wiersbe, escreveu uma obra muito séria chamada "Crise de Integridade", onde ele denuncia a desvirtualização da pregação do evangelho.
A vida privada de alguns pregadores não condiz com sua vida pública e mesmo grandes evangelistas são desmascarados como pessoas sem integridade. Pregam uma coisa e vivem outra.
Paulo estava agindo dentro da sua vocação e sua motivação não era outra senão combater pela pregação pública da Palavra toda a idolatria que reinava naquela cidade (v.16).
Ele não estava interessado em aplausos, elogios, conquista de cargos, mas em abrir os olhos das pessoas cegas pelo pecado. Só quem é verdadeiramente vocacionado, realiza a obra de Deus visando tão somente a proclamação do evangelho e não a sua promoção pessoal. Não é a pregação do personalismo e sim de Cristo.
2. Escolhendo o melhor local
Quando começamos a ler o texto em discussão logo no versículo dezessete, encontramos Paulo, pregando na sinagoga e na praça. Isto é interessante, pois quando ele sai da sinagoga e vai para a praça ele está usando do método da evangelização através da pregação pública.
A praça é centro de uma cidade. É ali que as coisas acontecem. É o lugar mais importante, onde as grandes decisões são tomadas, onde as pessoas param para uma conversa, onde estão os bancos, o mercado e outros centros importantes.
Quando Paulo começou a pregar na praça, ele deixou de ser um anônimo, passou a chamar a atenção e a mexer com a curiosidade das pessoas: "Que quer dizer esse tagarela?" (v. 18); e com o interesse delas também: "Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?".
Cremos que todas essas portas se abriram, somente porque Paulo foi para a praça. Se ele ficasse na sinagoga, talvez não tivesse o mesmo resultado, o mesmo impacto, mas quando se expôs à publicidade as coisas começaram a acontecer.
Paulo escolheu o melhor lugar para discutir a respeito do evangelho quando saiu da sinagoga, pois ele poderia sair da sinagoga e ir para um bairro distante, longe do burburinho das gentes e do centro das grandes movimentações.
Se formos para a rua evangelizar através da pregação pública, mas escolhermos o pior local, no pior dia e no horário mais inconveniente possível, só os pardais ouvirão.
3. Pregando uma mensagem contextualizada
Como podemos perceber através da cartas, Paulo era um pregador muito duro, porém, ele era também, extremamente prático na pregação da Palavra. Paulo, deveria conhecer muito bem o seu auditório e a geografia daquela cidade, bem como os seus costumes e a sua religiosidade.
Sendo assim, começa onde eles estão, usando os próprios objetos de cultos deles e a partir daí prega o Deus criador dos céus e da terra. Isto é muito significativo, pois o centro do estudo da filosofia é dar significação ao real. A grande luta dos filósofos é dar respostas à existência do cosmos e tudo aquilo que ele contém.
Sendo assim, Paulo vai dizer que quem dá dignificação a nossa realidade é Deus. Paulo contextualiza a sua mensagem numa linguagem acessível aos atenienses, mas sem perder o seu conteúdo. Ele muda o método, adapta a forma, mas não diminui o seu conteúdo e significado.
Entendemos que o grande problema da pregação pública hoje e da contextualização da pregação é que temos mudado a essência do evangelho, mudado os seus valores, a sua real significação.
Não nos adaptamos apenas aos métodos modernos, à linguagem e às formas, mas acabamos por adulterar o real significado da palavra, quando queremos nos fazer entender.
É por isso que quando alguém está pregando sobre Jesus, temos que perguntar: Que Jesus ele está pregando? É o Cristo dos evangelhos, aquele que caminhou pelas estradas da Palestina, que foi crucificado, morreu e ao terceiro dia ressuscitou?
Ou será que é o Cristo das nossas convenções, daquilo que Juan Carlos Ortiz, em O Discípulo, chama de o Quarto Evangelho. É preciso que preguemos uma mensagem contextualizada, mas com conteúdo e essência.
4. Pregando uma mensagem confrontadora
O profeta Elias viveu momentos de confrontação. Ao retornar depois de algum tempo de afastamento ele ouve do rei Acabe: "És tu, ó perturbador de Israel?" (IRs 18).
Elias não se cala e responde: "Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins". Elias não se amedrontou, rebateu com coragem a acusação e lançou sobre o rei e a sua família a culpa do estado em que Israel vivia.
Como consequência desse episódio, Elias convoca os profetas de Baal para que se provasse quem era o verdadeiro Deus. Nós conhecemos o desfecho desse confronto.
Paulo segue o estilo de Elias, embora comece elogiando a religiosidade dos atenienses, ele logo vai mostrar-lhes que era uma religiosidade errada, sem fundamentação correta, não passava de descabida idolatria.
Paulo os confronta com a existência de um Deus que é verdadeiro, que é o criador de todas as coisas, que fez o homem a sua imagem, que estabeleceu previamente os limites da sua habitação, que é misericordioso e que não leva em conta o tempo da ignorância. Paulo está chamando o povo ao arrependimento.
Precisamos hoje de pessoas que, com um sólido fundamento bíblico-teológico, não tenham medo de confrontar as ideologias que prosperam feito erva daninha em nossa sociedade.
A igreja tem que se levantar com voz profética, denunciar de forma clara e pública o estado lamentável a que o ser humano chegou e pregar Jesus Cristo como a única solução e resposta para o nosso estado de pecado.
Conclusão
Nossos cultos são públicos e a pregação ali exposta também. Mas é preciso sair dos nossos templos. É lá fora, no mundo, no meio dele, que Jesus quer que o seu evangelho seja pregado.
Jesus Cristo foi um homem que viveu no meio do povo, a sua pregação foi totalmente pública e nós devemos seguir o seu exemplo.
Aplicação
Você já participou de um trabalho evangelístico ao ar livre, de uma pregação pública? Seria interessante que você procurasse organizar um trabalho como esse. Ore, fale com outros irmãos e mãos a obra.
Como devo reagir aos pregadores de rua?
Lembro-me de que, alguns anos atrás, em Filadélfia, vi a fotografia do Dr. Cornélius Van Til num jornal, um dos mais eminentes teólogos do século XX, pregando nas ruas de Filadélfia.
Fiquei dominado por uma sensação de humildade com aquilo - que este homem com sua dignidade, com suas credenciais acadêmicas, sua reputação impecável como um erudito, estivesse disposto a enfrentar a hostilidade, a zombaria e todo o resto que vem junto com a pregação pública daquela maneira.
Penso nos apóstolos, em Paulo que ia à praça do mercado e discorria diariamente falando com as pessoas que estavam ali no Monte de Marte.
Penso nas coisas bizarras que Deus ordenou que alguns profetas fizessem — andar descalço e nu em praça pública como testemunha (não que sejamos chamados para fazer isto!) e das lições objetivas através de formas simbólicas de comportamento que seriam, do ponto de vista social, totalmente ofensivas para os seus contemporâneos.
Portanto, por um lado, tenho respeito pelas pessoas que têm a audácia e a coragem de pregar desta forma. Mas tenho visto outros tipos de pregação de rua — o tipo em que alguém pega um megafone, fica em pé na esquina e prega para as pessoas que estão presas num sinal vermelho.
As pessoas não querem ouvir e são, de certa forma, bombardeadas por este tipo de atividade. Às vezes podemos ser grosseiros na maneira como pregamos, e creio que devemos ser cuidadosos.
Parte de minha dificuldade, entretanto, é meu próprio orgulho. Sou um cristão e um pregador. Vivo numa cultura onde a pregação é aceitável em certos lugares e de determinadas maneiras, e é inaceitável socialmente em outros lugares e de outras maneiras. E quem decide o que é aceitável e o que não é?
Nem sempre a decisão está sendo feita pelo partido certo, e não gosto de sofrer as consequências embaraçosas do comportamento socialmente inaceitável de outras pessoas.
Não tenho certeza de que minhas reações negativas a algumas destas coisas não estejam enraizadas em meu próprio orgulho e medo de que eu possa ter os mesmos defeitos. Espero que estas não sejam as razões básicas de meus sentimentos negativos contra algumas destas atividades.
Não tenho grandes entusiasmos com adesivos de carros. Reconheço que épocas diferentes têm diferentes meios de comunicação. Houve um tempo em que o evangelho era comunicado através de panfletos ou folhetos.
Tudo era comunicado daquela forma. Depois, através de livros e música. As formas de comunicação mudam e as pessoas colocam suas mensagens em camisetas e nos para-choques. Portanto, porque não os cristãos?
Minha preocupação é não baratearmos a proclamação de Cristo sendo muito engraçadinhos ou muito espertos com estas formas.
Boa Pergunta!, RC Sproul, Editora Cultura Cristã, p.211