3 Lições do ministério de Jesus que transformarão sua igreja - Estudo Bíblico sobre Evangelismo e Missões

Texto básico: Mateus 9.35-38

Introdução

Nesta revista vamos refletir sobre um dos mais urgentes assuntos para a igreja contemporânea: Missões Urbanas. O Brasil, particularly, experimentou um dos mais rápidos processos de urbanização do mundo no século passado, o que alterou profundamente o dia-a-dia da maioria das pessoas.

No início do século 20, éramos uma nação rural de pequena população e entramos no século 21 como um país urbano com quase 180 milhões de habitantes. Como igreja do Senhor, devemos estar atentos à nossa vocação cristã diante deste país em mudança.

Devemos também, com a Palavra de Deus aberta, retirar dela orientações que nos norteiem para o desempenho da nossa vocação missionária nos centros urbanos. A partir de hoje contemplaremos diversas possibilidades de atuação da igreja cristã, levando em consideração especialmente a mudança no perfil estrutural ocorrida na sociedade brasileira (dentre tantas, pois a urbanização é um fenômeno mundial).

Sendo assim, discutiremos propostas possíveis e alternativas de estratégias de evangelização urbana para a igreja local, considerando que missões urbanas são um desafio atual. Portanto, mãos à obra!

I. O MODELO MINISTERIAL DO SENHOR JESUS CRISTO

O texto básico deste estudo nos apresenta a atuação ministerial do nosso Senhor Jesus de uma maneira resumida. No versículo 35, especialmente, nós lemos sobre as ações comuns e cotidianas presentes na vida e no ministério do Filho de Deus.

Os três verbos que aparecem nesse versículo resumem a atuação ministerial de Cristo: ensinando, pregando e curando.

Essas ações podem ser agrupadas em atividades de duas naturezas distintas, a saber, os ministérios da Palavra e da misericórdia, sobre os quais detalharemos na próxima lição.

Aqui veremos apenas um resumo, pois tais ministérios refletem a visão de restauração integral do ser humano. Este é alcançado na sua inteireza pela atuação dos dois, tanto em seu aspecto natural como sobrenatural, carne e espírito, corpo e alma, atingindo assim tanto o lado físico quanto o espiritual do ser humano. Consideremos, portanto, essa dupla natureza do ministério do nosso Senhor Jesus Cristo.

A. Servindo à Palavra

Visto que essa passagem diz que o Filho de Deus tanto ensinava quanto pregava as Escrituras, somos ensinados que Cristo ministrava a Palavra de Deus de maneira diversificada. Ele não apenas ensinava, mas também pregava; não o fazia apenas nas sinagogas, mas muitas vezes ao ar livre e em casas de pessoas.

Essa atuação do nosso Senhor Jesus Cristo nos faz lembrar que toda igreja que queira desenvolver um ministério da Palavra com relevância, especialmente nos centros urbanos, precisa atentar às oportunidades de proclamação da Escritura e diversificar a sua forma de anunciar as verdades bíblicas (At 20.20; 2Tm 4.2).

Escrevendo a Timóteo, Paulo o instrui a pregar a Palavra com insistência e diversificação: "Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina".

Paulo mesmo deu exemplo de diversificação da pregação da palavra. Ele pregou e ensinou:

  • Nas sinagogas (At 17.1-3)
  • Ao ar livre (At 16.13)
  • Nas praças (At 17.17),
  • No Areópago de Atenas (At 17.22)
  • Em meio a um terremoto (At 16.25- 34)
  • Diariamente numa escola (At 19.8,9)
  • Com hora marcada (At 28.23)
  • Sem hora marcada (At 21.40)
  • Em sua própria casa (At 28.30,31).

Que grande exemplo!

B. Exercendo a misericórdia

O Evangelho nos ensina que o Filho de Deus curava "toda sorte de doenças e enfermidades" das pessoas (Mt 9.35). É claro que, comparados a Cristo, nós ficamos absolutamente limitados no nosso poder de atuação para amenizar a dor e o sofrimento físico das pessoas, pois a medida generosa da graça divina operante nele foi grandiosa; afinal, ele era o Messias de Israel, o Filho de Deus encarnado.

Num certo sentido, as suas curas serviram como testemunho concreto da sua pessoa e consequente autoridade (Mt 9.6), conforme ele mesmo demonstrou na resposta dada ao seu primo João, o Batista (Lc 7.18-23). Olhando por esse prisma, nós não temos as mesmas condições de Cristo.

Contudo, as curas efetuadas pelo Senhor Jesus revelavam também a sua misericórdia diante do sofrimento e das necessidades físicas das pessoas, o que o levou a atuar também tendo em consideração essa condição física e natural dos seres humanos.

Com as suas curas e milagres (Mt 14.13,14; 15.32), Cristo demonstrou que a igreja deveria confirmar a sua preocupação real com os seres humanos exercendo também um ministério de misericórdia como uma legítima manifestação de amor ao próximo (Lc 10.25-37).

II. A VISÃO MINISTERIAL DO SENHOR JESUS CRISTO

Os versículos seguintes (36-38) do texto básico da nossa lição nos revelam muito da visão ministerial do nosso Senhor Jesus Cristo, o que nos possibilita destacar pelo menos três ensinamentos sobre uma correta visão ministerial cristã, todos presentes em Cristo Jesus.

A. As multidões como ovelhas sem pastor

A compaixão demonstrada pelo Senhor Jesus para com as multidões que o seguiam (v. 36) revela claramente que o nosso Redentor enxergava as pessoas, acima de tudo, segundo o estado e as carências espirituais delas.

Ao contemplá-las, Cristo não as via como um grupo de inocentes injustiçados, vítimas de uma história perversa, potenciais seguidores seus, nem tampouco como uma vasta multidão de pecadores miseráveis preteridos por Deus, gente meramente interesseira a quem Deus não iria salvar e com os quais não se deveria preocupar ou sensibilizar-se.

Essas atitudes podem muito bem estar presentes em pessoas que não receberam profunda e sinceramente o ensinamento bíblico sobre os seres humanos, sobre Deus e sobre a nossa própria vocação diante do mundo.

Jesus Cristo, ao contemplar as multidões, as via aflitas e exaustas espiritualmente porque o Filho de Deus sabia que todos os homens estão mortos nos seus próprios pecados e misérias (Ef 2.1), escravos (Jo 8.34) dessa cegueira espiritual (2Co 4.4) que os domina e mantém distantes de Deus (Ef 2.12), ainda que praticantes de uma religiosidade idólatra (Rm 1.21 -23) e voltadas para a satisfação pessoal e autojustiça (Rm 10.1-3).

Isso de tal maneira que até o exercício religioso deles não é fruto de uma verdadeira busca de Deus (Rm 3.11), pois o homem natural não quer (Jo 5.40) nem consegue entender a verdade salvadora (ICo 2.14).

A visão dos seres humanos moralmente culpados e responsáveis por tal rejeição daquilo que nem mesmo entendem direito só pode sensibilizar a quem conhece a Deus, pois Deus é amor (IJo 4.16).

Sendo assim, essa visão cheia de compaixão com a qual Cristo contempla as multidões revela o tamanho e o vigor da sua saúde espiritual, que é plena; e deve também estar presente no coração e na vida de todos aqueles que verdadeiramente o conhecem e seguem.

Vale lembrar que esta questão sempre foi uma marca na vida e no ministério de Cristo (Mt 18.11), ao passo que foi uma imensa ausência na prática dos zelosos religiosos dos dias de Jesus (Mt 9.10-13), o que os tornou alvo de severa critica por parte do nosso Senhor (Mt 23.23,24).

A visão do Senhor Jesus das multidões como ovelhas sem pastor revela a sua percepção espiritual, pois ele percebia claramente que os seres humanos estão naturalmente separados de Deus devido ao seu pecado.

Dessa maneira, ele nos ensina que devemos estar constantemente cientes de que esta é a realidade do homem natural.

Essa percepção deveria produzir em nós compaixão pelos perdidos, assim como o Filho de Deus sentiu pelos judeus ao se aproximar de Jerusalém e contemplar a dureza dos seus corações; essa percepção estava no centro do ministério do nosso Redentor e no seu próprio coração, pois ele se via, acima de tudo, como um pastor em busca das suas ovelhas perdidas (Jo 10.11,14-16).

B. Uma grande seara sem trabalhadores

O ensino de Cristo sobre a realidade da seara dos seus trabalhadores revela que o nosso Senhor enxergava o trabalho ministerial em uma dimensão bem mais ampla do que costumeiramente o fazem os seus seguidores; isso nós percebemos por duas afirmações suas sobre a questão.

Na primeira, o Senhor afirma expressamente que a seara, que é o campo preparado para a colheita, é grande. Essa afirmação está em oposição à tentação humana natural e pecaminosa de ver apenas um grupo reduzido de pessoas ao seu redor como objeto da graça e misericórdia divinas.

Como igreja de Deus, somos tentados a pensar na nossa atuação ministerial apenas dentro de limites que nos trazem comodidade ou pelo menos não nos pareça tão vasto; mas Cristo nos adverte para o fato de que a seara, na verdade, é grande. Na sua segunda afirmação, o nosso Senhor indica que os trabalhadores para essa seara, que é grande, são poucos.

Essa afirmação está essencialmente ligada à anterior, pois, se a seara é maior do que estamos habituados a enxergar, então nunca teremos trabalhadores em excesso na igreja do Senhor.

Pelo contrário, quanto mais nos envolvermos com a sua obra, mais perceberemos a necessidade do campo e, por mais que nos empenhemos, a sua carência será sempre maior do que a capacidade da igreja de produzir os trabalhadores para o seu serviço.

A Palavra de Deus nos apresenta o mundo todo como a seara do Senhor (Mt 28.19), pois a multidão dos glorificados para louvar a Deus será composta de pessoas que virão de toda parte (Ap 7.9,10).

Além disso, a Bíblia afirma que nós devemos ser testemunhas de Cristo até aos confins da terra (At 1.8), pregando o evangelho a toda criatura (Mc 16.15). Sendo assim, é errado o conceito de campo como sendo igrejas locais organizadas e já estabelecidas.

Precisamos resgatar a noção bíblica de que campo são as pessoas espalhadas pelo mundo (Mt 13.38) e de nossa vocação como sendo o fato de que somos enviados ao mundo para estabelecer igrejas do Senhor (Rm 15.20,21); não somos enviados às igrejas do Senhor para fugir do mundo (Jo 17.15,18).

Sendo assim, onde estão os trabalhadores para a seara? Chegamos à mesma conclusão de Cristo: eles são poucos.

A visão do Senhor Jesus Cristo do mundo como uma grande seara na qual trabalham poucos trabalhadores revela a sua sensibilidade ministerial.

Ele percebia claramente que a seara era (e ainda é) maior do que o povo de Deus estava habituado a reconhecer, assim como o número de trabalhadores que atuam na seara do Senhor era (e ainda é) menor do que o povo de Deus estava habituado a oferecer para esse serviço.

Essa dupla percepção revela que nós devemos tanto ampliar os nossos horizontes de atuação, para dimensionarmos a obra de Deus, como o próprio Senhor a determina, "até aos confins da terra", quanto enviar mais trabalhadores para tomarem parte nessa tarefa gloriosa de colheita nos campos preparados pelo Senhor.

C. A oração necessária à seara do Senhor

Os trabalhadores não são apenas os oficialmente instituídos; estes devem ser os capacitadores ou qualificadores humanos, mas cada cristão deve se enxergar como um trabalhador neste mundo, que é a verdadeira dimensão da seara do Senhor.

A obra divina de expansão do Reino de Deus, segundo a visão de Cristo, é de caráter sobrenatural. A prova disso é a sua ordem aos seus discípulos de orarem ao Pai rogando- lhe que enviasse trabalhadores para a seara. Semelhantemente, hoje somos conclamados a interceder pela expansão do reino de Deus.

É urgente a prática da oração em prol do avanço do reino de Deus, como comumente encontramos nas Escrituras Sagradas (Mt 6.10). Devemos orar porque é Deus quem efetivamente produz as conversões, transforma os corações e usa as pregações (2Ts 3.1), assim como concede oportunidade à igreja para anunciar a sua Palavra (CI 4.3).

Caso não estejamos atuando como devemos, então é hora de rogarmos a Deus que ele nos capacite e nos use para fazer o seu nome conhecido e glorificado em todo o mundo (At 4.29).

Quando o Senhor Jesus ordenou que seus discípulos orassem ao Pai para que ele enviasse trabalhadores para a seara, demonstrou perceber três verdades fundamentais a respeito da obra missionária.

A primeira é que a obra missionária da igreja deve ser feita em oração. A ordem para que oremos em favor dos trabalhadores certos para a sega preparada pelo Senhor há de dispor o nosso próprio espírito para o devido envolvimento nesta tarefa. Além disso, podemos ser um meio através do qual Deus desperta, levanta e envia acertadamente os que ele já preparou para a sua seara.

A segunda é que a seara é do Senhor. É Deus quem rege, governa, dirige e prepara os campos que haverão de ser segados, as pessoas que haverão de ser alcançadas no tempo designado por ele mesmo.

Finalmente, a terceira é que a obra missionária é feita por trabalhadores, ou seja, pessoas que efetivamente se desgastam na tarefa de conduzir outros a Cristo. Não são meros expectadores ou assistentes, torcedores ou analistas da obra, mas trabalhadores que se esforçam para conduzir vidas a Cristo Jesus (At 20.24; CI 1.28,29).

Conclusão

Depois de mudanças tão intensas em nosso país, que provocaram o surgimento de grandes centros urbanos, resta-nos o grande desafio de alcançá-lo por meio da proclamação da mensagem de esperança mediante a obra redentora de Cristo Jesus.

Portanto, nada melhor do que começarmos os nossos estudos sobre as estratégias de evangelização que podemos usar para alcançar a nossa cidade para Cristo considerando a própria atuação e visão ministeriais do nosso Senhor.

Em suma, Cristo desenvolveu um ministério dinâmico e variado voltado para a manifestação do amor de Deus aos pecadores, por meio do anúncio da Palavra de Deus e de atos de misericórdia que aliviassem as diversas carências dos seus ouvintes.

A obra de Deus precisa ser precedida e acompanhada de oração, pois é Deus quem opera e dá os frutos no seu devido tempo. Sem a graça divina, nunca teremos a devida visão da dimensão da obra, do poder nela operante e da necessidade de dedicação e empenho da nossa parte.

Aplicação

Busque testemunhar de Cristo e sua obra, por meio de palavras e atitudes que confirmem que, assim como Deus, nós também temos compaixão pelas pessoas perdidas.

Como você pode agir de forma a não cometer o erro de pensar que o campo missionário é composto só das pessoas ao seu redor? O que a sua igreja poderia fazer para ampliar a divulgação do evangelho?

Autor: Raimundo M. Montenegro Neto


Lista de estudos da série

Fundamentos da Missão: Por que Evangelizar?

1. Novo nascimento: o evangelho que transforma tudo – Estudo Bíblico 

Estratégias de Evangelismo: Métodos e Abordagens

14. A estratégia de Paulo no supermercado da fé – Estudo Bíblico sobre Atos 17 

Semeando Vida

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