Atualmente tem sido dada grande ênfase à responsabilidade missionária da igreja. Porém, em se tratando de evangelização, ocorre com frequência um problema que é a falta de sequência.
Às vezes uma campanha ou outros projetos evangelísticos deixam de ter um resultado mais proveitoso pela falta de continuidade do processo iniciado. Muitas pessoas manifestam interesse, outras tantas decidem por Cristo, mas pela falta de um programa de discipulado o resultado final torna-se quase nulo.
Especialmente em algumas comunidades chega um número muito grande de pessoas, mas outro grande número também acaba não permanecendo.
Alguém já comparou esse fenômeno eclesiástico ao movimento das estações rodoviárias: está sempre chegando gente, estão sempre cheias, mas ninguém permanece, tem gente saindo continuamente.
Para estancar esta perda, a igreja precisa adotar uma proclamação que seja completa.
O texto básico deste estudo traz os aspectos básicos da proclamação completa. A primeira parte do texto situa-se no contexto extraordinário do Pentecoste, com uma síntese do sermão de Pedro e a informação acerca da conversão de quase três mil pessoas naquele dia. Na sequência temos informações sobre o estilo de vida que estavam levando os novos convertidos.
Partindo desse texto, buscaremos compreender as características da proclamação completa.
Para que a proclamação seja completa é preciso que se observe três fatores que são fundamentais:
1. UMA PROCLAMAÇÃO COMPLETA COMEÇA COM ANÚNCIO
O termo "pregação” aqui não indica meramente um discurso religioso, mas o anúncio da Boa-Nova da salvação, que pode ser feito com palavras simples e acima de tudo com o testemunho pessoal.
A pregação é a condição primeira:
"Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?" (Rm 10.14,15.)
Estas perguntas são lógicas e pertinentes. Por isso vale a pena compreender as características desta pregação.
1.1. Pregação motivada pelo Espírito Santo (vv. 17,18).
O Espírito precisa ser o grande motivador da mensagem que pregamos. O Espírito é quem coloca a mensagem na boca dos filhos, das filhas, dos jovens, dos velhos, dos servos e das servas. A pregação se descaracteriza quando deixa de ser motivada pelo Espírito Santo. Para muita gente pregação é algo que está ligado apenas a campanhas e movimentos evangelísticos. Mas o Espírito motiva não apenas em ocasião de campanhas, e sim, em todo o tempo (I Co 2.12,13).
1.2. Pregação executada por todos (vv. 16,17).
Os versículos indicam que o privilégio nobre de ser porta-voz da mensagem de salvação não se restringe a uma determinada classe de pessoas. A pregação do evangelho pode e deve ser feita por todos, independentemente de idade, sexo e condição social.
1.3. Pregação centralizada em Cristo (vv. 21-24).
Em seu discurso o apóstolo Pedro argumenta com citações do profeta Joel (vv. 17-21), citações dos Salmos (vv. 25-28 e 34.35), para mostrar que Cristo era o centro das promessas do Antigo Testamento e o centro de sua mensagem. Ele conclui a sua pregação falando do senhorio do ungido de Deus (v. 36).
Há muitas pessoas e igrejas pregando mensagens centralizadas em seus interesses denominacionais, em seus pontos de vista pessoais, em sua vaidade. Se a nossa pregação exclui a centralidade de Cristo, ela jamais será uma pregação completa. Portanto, uma proclamação completa começa com a pregação motivada pelo Espírito Santo, executada por todos e centralizada na Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
2. UMA PROCLAMAÇÃO COMPLETA EXIGE ACOMPANHAMENTO
Este é o segundo passo. A instrução é imprescindível para que a proclamação seja eficaz. É preciso explicar e instruir aqueles que dão ouvidos à pregação (At 8.29-35). Durante os dois anos em que Paulo permaneceu em Roma como prisioneiro, “pregava” e "ensinava” (At 28.30,31).
Jesus também pregava e ensinava (Mt 9.35,36). A partir dos versículos 39 e 40 do texto base podemos ver os aspectos deste acompanhamento que envolve instrução:
2.1. Quanto às implicações da conversão (vv. 37,38).
Aqueles que se mostraram interessados na mensagem foram instruídos quanto às implicações da conversão a Cristo: “Arrependei-vos..." O propósito da proclamação é conduzir o pecador ao arrependimento.
2.2. Quanto à importância da iniciação (v.38).
O método de iniciação na igreja cristã é o batismo. Em Atos 10.47,48 o apóstolo Pedro ordena a ministração do batismo aos gentios convertidos. O batismo é o sinal externo de uma graça interna e este sinal deve ser aplicado a todos os remidos de Cristo, não como condição para se alcançar a salvação, mas como sinal de que já está salvo e consagrado ao Senhor (At 8.34-38). O próprio Senhor Jesus orientou que a instrução deve ser acompanhada da ministração do batismo àqueles que se convertem (Mt 28.19).
2.3. Quanto à necessidade da santificação (v. 40).
Após falar sobre a conversão e o simultâneo recebimento do Espírito Santo, o apóstolo os exorta a uma vida de santidade. Não é suficiente apenas trazer as pessoas para que a igreja fique cheia. É preciso despertar nelas o desejo de viver uma vida santa diante de Deus, no meio de um mundo tão corrompido.
Esta instrução voltada para a conversão, para a iniciação e para a santificação engloba o processo conhecido como discipulado e se constitui numa responsabilidade de todo o crente em Jesus.
A existência nas igrejas de classes de novos convertidos, de catecúmenos e de doutrinamento é muito importante, mas não exclui a responsabilidade que cada um tem em relação ao irmão que ainda não conhece profundamente o evangelho de Cristo. Muitas colheitas de novos convertidos tem sido desperdiçadas pela falta deste acompanhamento de instrução.
3. UMA PROCLAMAÇÃO COMPLETA ENVOLVE COMUNHÃO
Este terceiro passo é também muito importante, pois uma proclamação completa envolve não só o anúncio de uma mensagem e o acompanhamento com um ensinamento de conceitos, mas envolve também, e principalmente, comunhão, vida, identificação harmoniosa com o irmão.
O texto básico descreve um pouco desta comunhão:
3.1. Comunhão evidenciada na doutrina (v. 42).
A falta de unidade doutrinária impede que a proclamação iniciada com anúncio se complete, floresça e prospere. É preciso ter a mesma fé. Ao falar da perseverança na doutrina dos apóstolos, o escritor está referindo-se não às normas ou conjunto de doutrinas denominacionais. Ele está falando, sim, da essência da mensagem cristã no aspecto da unidade da fé como descreve o apóstolo Paulo na carta aos Efésios (Ef 4.1-6). na primeira carta aos coríntios (I Co 1.10-13) e na carta aos filipenses (Fp 1.27).
3.2. Comunhão evidenciada na oração (vv. 42,46).
A ortodoxia doutrinária deve ser temperada com a serenidade da oração compartilhada, dos sentimentos co-experimentados, da piedade exercitada em unidade de espírito. Não basta apenas encaminhar o novo convertido num caminho doutrinário seguro; é preciso trilhar com ele este caminho orando juntos, e compartilhando as experiências de fé.
3.3. Comunhão evidenciada no relacionamento (vv. 42-46).
A proclamação completa não é algo teórico, individualista e apenas de discurso. É um envolver-se com o irmão, identificando-se com ele em suas necessidades emocionais, espirituais e materiais. Muitas vezes a proclamação deixa de ser completa e não atinge o seu objetivo final porque o novo convertido descobre que falamos de igualdade mas fazemos acepção, falamos de unidade mas somos individualistas, falamos de amor mas não demonstramos amor.
Uma proclamação completa inconfundivelmente envolve comunhão. Uma comunhão que se evidencia na doutrina, na oração e no relacionamento. Esta comunhão é fundamental para que o mundo veja e creia (Jo 17.20.21).
O esforço evangelístico da igreja será ineficaz, a menos que nos convençamos de que uma proclamação completa começa com o anúncio, exige acompanhamento e envolve comunhão.
PARA PENSAR
O esforço evangelístico da igreja será ineficaz, a menos que nos convençamos de que uma proclamação completa começa com o anúncio, exige acompanhamento e envolve comunhão.
Autor: Eneziel Peixoto de Andrade