Texto básico: Atos 13.1-4,13-16,42-48; 14.19-28
Introdução
Atualmente há muita preocupação por parte de líderes cristãos a respeito de qual seria o melhor método de plantação de igrejas. No anseio de ver os trabalhos florescerem, vários sistemas foram criados, como "G12", "igreja em células", "igreja em ministérios", e muitos outros.
No entanto, para averiguar se há erros nos métodos, a melhor coisa a fazer é pesquisar a Bíblia. Se analisarmos como era o ministério do apóstolo Paulo, certamente descobriremos um método genuinamente bíblico de plantação de igrejas.
Através do chamado ciclo paulino de plantação de igrejas, composto de dez fases, poderemos desenvolver uma noção segura e correta.
Este estudo, portanto, não tratará do testemunho informal e pessoal que cada cristão deve dar sobre o evangelho, mas sim de um plano específico para a plantação de novas igrejas cristãs, segundo o modelo paulino.
I. ENVIE OS COMISSIONADOS
Como lemos em Atos 13.1-4, a igreja em Antioquia identificou, separou e enviou pessoas devidamente qualificadas para a tarefa de divulgar o evangelho e iniciar novas igrejas. Sendo assim, o trabalho de plantação de igrejas deve ser dirigido por quem Deus preparou para isso.
Não basta que as pessoas interessadas queiram fazê-lo ou tenham conhecimento teológico saudável. Isso é necessário, mas não é tudo; é preciso que se comprove que Deus já indicou essas pessoas através de evidências concretas de que elas foram especialmente capacitadas pelo Senhor.
A necessidade de envolvermos as pessoas adequadas nesta tarefa pode ser percebida no envio inicial de Paulo e Barnabé.
Mais tarde, houve uma ampliação e foram formadas duas equipes missionárias, uma composta por Paulo e Silas e a outra por Barnabé e Marcos, ainda que esta última não tenha sido pacífica (At 15.39,40), embora Paulo depois viesse a reconhecer a utilidade de Marcos (2Tm 4.11).
É fundamental que o obreiro evidencie as qualificações ministeriais esperadas de um missionário ou evangelista desbravador de novos campos. A palavra-chave dessa fase é enviar.
II. CONTATE OS EVANGELIZÁVEIS
Uma vez enviados os comissionados, a primeira responsabilidade deles é entrar em contato com as pessoas a quem se pretende comunicar o evangelho.
Em Atos 13.14-16, Paulo e Barnabé procuraram inicialmente os seus compatriotas judeus na sinagoga onde eles congregavam, naquela estratégia natural de iniciar os contatos anunciando aos integrantes da antiga aliança que Jesus era o Messias prometido. Essa estratégia continuou a ser usada durante um certo tempo até que foi sendo substituída pela necessária investida entre os gentios (At 14.1; 16.13-15), os quais deveriam ser alcançados (Mt 28.19; At 1.8) e estavam recebendo melhor o evangelho do que os judeus.
Essa fase do trabalho consiste em estabelecer pontos de contato e confiança suficientes para que as pessoas deem ouvidos à mensagem do evangelho.
Ao se iniciar um ponto de pregação na mesma cidade onde uma igreja já está estabelecida, essas pontes estão praticamente estabelecidas pela cultura, pelo conhecimento global da realidade e, especialmente, pelas amizades e conhecimento prévio das pessoas a serem contatadas.
No lado oposto desse quadro, encontra-se a comunicação do evangelho para pessoas desconhecidas de língua, cultura, clima e realidades distintas; o estabelecimento dessas pontes requererá uma maior dedicação. A palavra-chave dessa fase é contatar.
III. COMUNIQUE O EVANGELHO
Agora que já se tem a atenção e a abertura das pessoas ao evangelho, é hora de comunicarmos efetivamente a mensagem, o que fizeram Paulo e Barnabé (At 13.17-19), após terem estabelecido contato com outros judeus na sinagoga.
Paulo e Silas procedem de igual modo para com o carcereiro e a sua família (At 16.31,32). Lembremos que, apesar de muitos virem a rejeitar a mensagem cristã, devemos nos empenhar para anunciá-la a todas as pessoas (Mc 16.15), sempre que houver oportunidade.
Mesmo que essa pareça ser a parte mais difícil para os crentes em seu testemunho informal, não deve ser negligenciada por nenhum cristão, pois fomos vocacionados para isso, devendo sempre estar prontos, alegres e dispostos a fazê-lo (At 1.8; Lc 9.26; Rm 1.16). A palavra-chave dessa fase é comunicar.
IV. IDENTIFIQUE OS QUE CRERAM
Depois que o evangelho é anunciado, sob a convicção de seu inerente poder divino de converter pecadores, os cristãos devem ficar atentos às pessoas que demonstram fé na mensagem pregada, sabendo que é Deus quem desperta tanto o interesse quanto a eficiente resposta ao evangelho (Fp 2.13).
É ele quem abre o entendimento espiritual das pessoas (2Co 4.6) levando os pecadores que ele mesmo já preparou desde sempre (2Ts 2.13) a exercerem esta fé salvadora (Tt 1.1), como Lucas registrou em Atos 13.48.
O evangelho deve ser anunciado na expectativa de se perceber quem haverá de crer nele. Sabedores de que Deus tem pessoas de todos os segmentos preparadas para receber com fé a mensagem do evangelho (At 18.10; Ap 7.9,10), devemos anunciar a mensagem da redenção atentos àqueles que a ela responderem. A palavra-chave dessa fase é identificar.
V. CONGREGUE OS CRENTES
Uma vez identificados os primeiros crentes convertidos pelo evangelho, é essencial que os mesmos sejam congregados. Em Atos 13.43, Paulo e Barnabé exortaram os seus ouvintes a perseverarem na fé cristã recém- adquirida.
A manutenção da comunhão com outras pessoas que professam a mesma fé cristã deve ser não apenas esperada, mas também desejada (At 2.42,46), estimulada, orientada e ordenada (Jo 1.3; Hb 10.25).
É razoável que aqueles que estão dirigindo o trabalho procurem ajudar os convertidos a criarem o hábito da comunhão fraterna entre si, paralelamente à prática coletiva da adoração a Deus, o que resume a ideia de congregar, que é a primeira e principal necessidade da igreja nascente. O lugar e as circunstâncias para que isso ocorra é o que menos importa.
Se o local é próprio ou alugado, exclusivo ou cedido para tal, público ou privado, grandiosa catedral ou apenas a sombra de uma árvore frondosa, não fará essencial diferença.
É claro que ter uma boa infraestrutura proporciona uma prazerosa acomodação em tudo, desde viagens automotivas até cultos públicos; contudo, a definição bíblica de igreja é que ela é essencialmente espiritual e não física; gente e não prédio (1 Co 3.9,16); pecadores salvos pelo evangelho, que estão sendo conformados à imagem de Cristo (1 Pe 2.4,5).
Sendo assim, a aquisição de um prédio próprio para congregar os convertidos não deve ser o principal objetivo da igreja nascente (caso haja condições de tê-lo, ótimo), mas devemos nos lembrar que a ordem bíblica é apenas a reunião habitual dos convertidos para a adoração coletiva a Deus e não mais do que isso. A palavra-chave desta fase é congregar.
VI. DISCIPULE OS CONVERTIDOS
Os novos convertidos devem ser congregados não apenas para a adoração coletiva a Deus, mas também para serem aperfeiçoados na semelhança de Cristo Jesus. Paulo e Barnabé voltaram aos lugares onde haviam deixado convertidos para exortá-los a perseverarem na fé cristã, ensinando-os a tirarem proveito das próprias tribulações (At 14.21,22).
Tal desenvolvimento só é possível mediante o aprendizado e a prática da Palavra de Deus, que é o caminho da maturidade espiritual. Tal estímulo à perseverança na fé que eles tinham aceitado era parte essencial dessa fase do ministério de Paulo e Barnabé (At 15.41).
Essa fase também é chamada de discipulado. Após a conversão espiritual e religiosa deve vir o crescimento na fé, que visa à restauração da imagem de Cristo nos pecadores por ele convertidos (Rm 8.29).
Sendo assim, os novos convertidos devem ser confirmados na fé cristã, aprendendo sobre todo o conselho de Deus (At 20.20,27) através da ministração da Palavra de Deus (Ef 4.11-16). A igreja nascente precisa ser estimulada tanto a conhecer quanto a praticar a vontade de Deus revelada na Bíblia (2Tm 3.16,17). Conhecimento bíblico sem prática é um desvio enganoso (Tg 1.22; Tt 1.16). Prática que não seja decorrente da sã doutrina é outro tipo de erro (Rm 10.1-3; CI 2.18,19). Discipulado, portanto, diz respeito ao processo da formação do discípulo de Cristo, o que implica crescimento no entendimento e na conduta segundo os ensinos da Palavra (Dt 10.12,13).
Esse desafio é muito importante e necessário, mas como exige dedicação pessoal e conta com pouca notoriedade e reconhecimento público, é aceito por poucos. A palavra-chave para essa fase é discipular.
VII. ESTABELEÇA LÍDERES NATIVOS
Em Atos 14.23, Paulo e Barnabé promoviam logo a eleição dos oficiais presbíteros locais em cada igreja que edificavam. Estes assumiam a direção dos trabalhos naturalmente e eram exortados a pastorear a nova igreja depois de alertados para as dificuldades que iriam enfrentar com a saída dos obreiros que iniciaram o trabalho (At 20.17,28-32).
No entanto, isso não inibia Paulo de instituir tão rapidamente quanto possível a nova liderança sobre as igrejas locais e assim instruir outros a fazerem o mesmo (Tt 1.5,6,9). A falta de visão nesse sentido desanima os crentes pelo ritmo lento do trabalho e gera uma dependência paternalista de liderança externa.
Como resultado do discipulado e aprofundamento bíblico, deve-se estar atento às pessoas que demonstrarem aptidões para a liderança do trabalho eclesiástico. Essa fase é fundamental para a efetivação de uma igreja madura.
Muitos obreiros que iniciam trabalhos assim têm a tendência natural de manterem o mesmo na sua dependência, porém isso inibe, ironicamente, o trabalho que eles querem ver se desenvolver.
É necessário lembrar-se que Deus estabelece a sua igreja (IPe 5.10,11); portanto, o fundador não deve desconfiar da capacidade dos novos líderes, nem achar que só ele sabe liderar. Deve-se ter humildade para buscar identificar os líderes em potencial e treiná-los, capacitá-los teológica e praticamente para assumirem a direção da nova igreja (2Tm 2.1,2). A palavra-chave para essa fase é estabelecer.
VIII. ENTREGUE O TRABALHO AOS NATIVOS
Logo após o estabelecimento dos líderes nativos vem a transferência do comando do trabalho para eles, mas apesar de ser uma tarefa lógica, prática e realmente necessária, é muito mais difícil do que parece.
Em Atos 16.40, depois que foram soltos, Paulo e Silas confortaram os irmãos e depois partiram, deixando o trabalho sob a responsabilidade dos locais.
A exortação de Paulo aos presbíteros de Éfeso segue na mesma direção, pois ele os exorta a cumprirem efetivamente com as suas responsabilidades pastorais (At 20.28) até mesmo porque não o veriam mais (At 20.25,38).
Em suma, a Palavra de Deus indica que a condução do trabalho da igreja deve ser entregue aos líderes crentes nativos em um momento que não deve demorar muito, para não acomodar ou desestimular aqueles que deveriam ser preparados para isso. A palavra- chave para essa fase é entregar.
IX. MANTENHA CONTATOS SUPERVISIONAIS
Paulo e Barnabé, depois de terem implantado novas igrejas cristãs, voltavam visitando-as, mantendo assim o contato com elas, supervisionando o seu desenvolvimento (At 15.36; 18.23). Naquela época e circunstâncias, essa foi a forma de se superintender e jurisdicionar o trabalho das igrejas.
Não era a inconveniente presença de um pastor cujos laços pastorais foram rompidos com a igreja, e que insiste em manter a sua sombra sobre ela, gerando um certo incômodo a todos. A razão de ser desse contato posterior é o acompanhamento e supervisão do desenvolvimento saudável da igreja implantada.
Dentro de um sistema eclesiástico conciliar, no qual as igrejas locais se agrupam sob a direção de outras instâncias superiores, tal supervisão é da responsabilidade desses concílios superiores (At 15.2,4,6), cujas decisões e comando devem refletir essa supervisão eclesiástica (At 16.4) para o bom andamento de todas as igrejas existentes (At 15.15,19,24,31), pois as igrejas locais não devem ser deixadas à própria sorte, mas supervisionadas e acompanhadas no seu desenvolvimento, teológico e prático.
A palavra-chave para esta fase é supervisionar.
X. CONVOQUE A NOVA IGREJA À MISSÃO (AT 14.26,27; 15.1-4)
Uma igreja cristã não está definitiva e plenamente madura enquanto não estiver animada para se empenhar com dedicação à obra missionária. Sendo assim, Paulo e Barnabé, ao retornarem da sua viagem missionária, narram aos membros da igreja que os enviou os feitos da missão, as conversões e as novas igrejas que foram estabelecidas pela graça de Deus (At 14.26,27), animando-os com o relatório.
Mas eles também passam a despertar outras igrejas, predominantemente de judeus convertidos, ao prestarem o mesmo relatório sobre a graça abundante de Deus entre os gentios (At 15.1-4).
Tais relatórios visavam mostrar que Deus estava abençoando aquela expansão da fé cristã pelo mundo afora e que a igreja deveria se empenhar nessa empreitada e não se fechar em si mesma como uma seita judaica.
Tais objetivos dispensam comentários, pois é clara a ordem do Novo Testamento para que cada cristão (At 1.8) e igreja se empenhem em divulgar o evangelho (Mt 28.19; Mc 16.15) visando à expansão do reino de Deus (Mt 6.10; Rm 10.13-17).
Isso está tão essencialmente ligado à saúde e vida da própria igreja que podemos afirmar que, enquanto uma igreja local não estiver engajada na obra missionária, ela ainda é um campo missionário, em processo de discipulado, devendo aprender como ser uma comunidade de discípulos de Cristo (IPe 2.9,10). A palavra- chave para essa fase é convocar.
CONCLUSÃO
Da análise do ciclo paulino de plantação de novas igrejas percebemos que tal empenho não é apenas um belo exemplo a ser seguido, como uma opção acidental, mas é um alvo real para as igrejas estabelecidas. Percebemos, ainda, que não é saudável que a tarefa de iniciar novas igrejas seja desenvolvida sem planos, sob um quase irresponsável pretexto de que será como, quando e onde Deus na sua soberania determinar fazê-lo; isso seria tentá-lo, sob o pretexto da sua soberania, esquivando-nos da nossa responsabilidade diante dessa tarefa.
Antes, devemos seguir um plano bíblico, que pode muito bem ser expresso ou esboçado didaticamente nas dez fases apresentadas neste estudo.
APLICAÇÃO
Procure identificar, dentre as dez fases apresentadas nesta lição, quais atividades podem e devem ser mais bem trabalhadas na igreja em que você congrega.
Disponha-se a ser um membro atuante e a cumprir parte dos desafios aqui apresentados.
Ore pela expansão do evangelho através da plantação de novas igrejas em sua região e veja a possibilidade de você e outras pessoas da sua igreja cooperarem com algum projeto nesse sentido.
Você se considera engajado no plano missionário de sua igreja?
Autor: Raimundo M. Montenegro Neto