Texto básico: Malaquias, 1:1-5; 3:13-18
No último domingo do ano, estudemos o último profeta do Velho Testamento e também o último que surgiu antes de Jesus Cristo. Embora haja um período de 400 anos, chamado inter-bíblico, o povo judeu ficou sem ouvir a voz profética. Malaquias silenciou para que Cristo surgisse como o verdadeiro profeta de Israel.
1 - Dados biográficos
Pouco se sabe a respeito da descendência de Malaquias. Ele profetizou cerca de 100 anos depois de Ageu e Zacarias, portanto no período pós-exílico.
O nome Malaquias significa “o meu mensageiro" (Ml. 3:1), o porta-voz da mensagem divina.
Embora as profecias sejam anônimas, não há dúvida quanto à individualidade do profeta ou sua existência real. A mensagem é clara e revela a atitude intransigente e firme do profeta contra os abusos morais e espirituais do povo judeu.
Há semelhança entre a ênfase profética de Malaquias e a reforma religiosa promovida por Neemias (Neem. 10;28-30; 32-39).
Admite-se que Malaquias profetizou um pouco antes da liderança de Neemias, quando este governou Jerusalém (Neem. cap. 13). Note-se, também, que os problemas apontados por Neemias e Malaquias são semelhantes.
2 - Dados históricos
No tempo de Malaquias, mais ou menos 450 a 400 a.C. os judeus já tinham reconstruído o templo e feito muitas obras na cidade porque tinha passado um período de quase cem anos desde o regresso do primeiro grupo do cativeiro (Esd. 1:1).
Os judeus haviam aprendido a desprezar a idolatria mas continuavam a negligenciar a casa de Deus.
No tempo dos profetas Ageu e Zacarias haviam reconstruído o templo (520-516 aC). Segundo alguns comentaristas, sessenta anos mais tarde o sacerdote Esdras chegou em Jerusalém (458 aC) para ajudar os líderes a reorganizar a nação e ensiná-la a temer ao Senhor.
Treze anos mais tarde (445) veio Neemias para reconstruir os muros de Jerusalém e assumir o posto de líder e governador (Neem. 10:1).
Os judeus aguardavam a vinda do Messias, profetizado por Zacarias e outros profetas anteriores.
A expectativa do povo era da vinda imediata do Messias pois o templo já estava reconstruído e a cidade reconquistada e recuperada.
O profeta Malaquias assegurou-lhes que o Messias viria somente no tempo marcado por Deus e isto não significaria alegria para todos mas sim o juízo divino para os negligentes.
3 - Mensagens do livro
Podemos abordar os seguintes pontos para a compreensão do livro profético:
a) Mensagem de amor (1:1-5)
A primeira mensagem do profeta foi reafirmar o amor de Deus, “Eu vos amei, diz o Senhor" (1:2). Encontramos a confirmação da escolha de Deus e o privilégio de Israel. Malaquias refere-se às duas nações que descenderam de Jacó e Esaú: os israelitas e edomitas. Ambos foram destruídos pelos pagãos por causa do pecado. Israel fora restaurado, mas Edom fora castigado tornando-se uma desolação.
O apóstolo usa este mesmo texto de Malaquias para confirmar a eleição de Israel (Rm. 9:10-13). A escolha é um atributo divino e não fruto de méritos pessoais. A eleição é graça divina (Ef. 2:8-9).
b) Mensagem de repreensão (1:8 a 2:17)
O profeta apontou a negligência dos líderes espirituais que não estavam discernindo o privilégio de serem os escolhidos de Deus.
A oferta que faziam de animais enfermos e defeituosos, os quais não ousariam oferecer ao governador (Ml. 1:8), eram na realidade um insulto a Deus. Reprovando tal atitude, Malaquias afirma que Deus a quem sua própria nação despreza dessa forma, tornar-se-á o Deus amado da terra inteira (Ml. 1:11).
A tentação de oferecermos a Deus as nossas sobras ou coisas inúteis ainda persiste até hoje. Precisamos oferecer a Deus aquilo que é fruto do nosso amor e reverência.
Os sacerdotes designados por Deus para ensinar e guiar o povo na retidão (2:5-7) eram responsáveis por aquela situação deplorável. Os líderes haviam se tornado mercenários e corruptos. Que situação lamentável e constrangedora quando os próprios líderes perdem a noção de respeito, honra, temor e reverência ao Deus a quem servem!
As ideias errôneas acerca do casamento tinham deteriorado a espiritualidade do povo. Os judeus divorciavam-se de suas esposas para se casarem com mulheres pagãs (2:10-16). Este pecado era desastroso para a educação religiosa dos filhos e também para a manutenção do culto nacional a Deus.
O ceticismo estava na raiz dessa indiferença religiosa do povo. Todos queriam imitar as nações pagãs por causa da prosperidade fácil. Diante das dificuldades queixavam-se "que aproveita servir a Deus” (2:17).
Esta mesma tentação sofreram também os israelitas (Nu. 11:4-5) e atingiu também o salmista (Sl. 73). O apóstolo Paulo exorta “não murmuremos contra o Senhor” (I Cor. 10:10).
c) Mensagem de esperança - capítulos 3 e 4
O profeta Malaquias transmite agora uma mensagem de esperança para combater o ceticismo e indiferença espiritual do povo.
A presença do “anjo do Senhor” (3:1) significará esperança e também julgamento (3:5). O "dia do Senhor” será de trevas e não de luz, conforme profetizou Amós. 5:20), não obstante o seu propósito será purificar e não destruir.
A mensagem de esperança se confirmará através da vinda do precursor João Batista (Ml. 3:1; 4:5); Mt. 11:4; 17:11-13), porém o povo devia revelar fidelidade ao Senhor. Duas atividades indispensáveis eram exigidas: arrependimento e entrega dos dízimos (Ml. 3:7-10).
As bênçãos divinas seriam derramadas mediante a fidelidade no cumprimento dos deveres (Lev. 27:30; Na. 18:21). Deus estava requerendo todos os dízimos ou os dízimos inteiros. Por certo havia pessoas que escondiam parte do dízimo, a semelhança de Ananias (At. 5:1-3), ou repartiam para outros fins.
Deus estava exigindo todos os dízimos e assim haveria abundância (Ml. 3:10). Aquelas pessoas que não entregam “todo o dízimo" demonstram falta de confiança na sabedoria divina em aplicar bem o dinheiro através da Igreja.
Assim as promessas divinas se concretizarão em bênçãos (Ml. 3:12) e o mensageiro do Senhor preparará o povo antes que venha o julgamento divino (Ml. 4:5).
Conclusão
O livro de Malaquias tem uma importância histórica apreciável por ser o último livro do Velho Testamento. Como voz profética e o sinal visível de que Deus repreende o seu povo para o cumprimento da missão histórica.
A ênfase à lei de Moisés e ao profeta Elias, símbolos espirituais (Mc. 9:4), revela que tanto a lei, como os profetas, desempenharam papel importante na preparação da vinda do Senhor (Lc. 24:44).
Autor: Rev. Oswaldo Hack