O profeta Isaías é conhecido como o profeta messiânico, isto é, aquele que, orientado por Deus, nos mostrou várias facetas do ministério de Cristo.
Quanto ao ministério profético de Cristo, disse ele:
Isaías 61.1,2a
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor...
Notamos que a profecia de Isaías se cumpriu de maneira perfeita e completa na pessoa de Jesus Cristo. Foi Cristo mesmo quem disse:
Lucas 4.21
... Hoje se cumpriu a Escritura...
O que Isaías profetizou, como boca de Deus, cumpriu-se em Jesus. Cristo recebeu outros ofícios além do oficio profético, a saber: Sacerdote e Rei. Além dos ofícios, Jesus recebeu ainda títulos pelos quais Ele era amplamente conhecido e refletiam aspectos dos seus ofícios, como por exemplo: Filho do Homem, Messias, Filho de Davi, etc. Esses títulos não estarão em discussão neste estudo.
A partir de agora, pretendemos tratar da função profética de Cristo. Nosso interesse será mostrar que, em Cristo, nós encontramos o Profeta.
Ele é profeta num sentido único mas, ao mesmo tempo, é profeta como os profetas do Antigo Testamento. Cristo também enfrentou oposições e dificuldades em seu ministério profético. Enquanto proclamador da Palavra, enquanto anunciador das boas-novas do Reino, também enfrentou dramas, dor e sofrimento.
Diferentemente, recebeu o maior de todos os sofrimentos que foi a morte e os pecados dos eleitos sobre si. A opinião popular nos dias de Jesus tinha a tendência de associá-lo aos profetas do passado, como João Batista, Elias e Jeremias (Mt 16.14). No entanto, ainda que estes se identifiquem com o ministério do Senhor em muitos aspectos, nenhum deles pode fazer o que Jesus fez: trazer-nos a salvação.
I. Cristo: o pregador e a palavra
Cristo não apenas fala da Palavra, a respeito da Palavra, sobre a Palavra. Cristo é a própria Palavra. Ele não é apenas o mensageiro que traz uma mensagem, Ele mesmo é a mensagem.
Os profetas no Antigo Testamento traziam uma Palavra de Deus ao povo. Cristo é a própria Palavra. Os profetas foram enviados por Deus, a fim de que testificassem da Palavra que haveria de se cumprir em Cristo Jesus.
Os profetas vão anunciando a Palavra e, dentro do seu contexto, vão corrigindo o povo. A Palavra na boca dos profetas é parcial.
Uns falam sobre a justiça social, outros falam sobre a santidade de Deus, outros ainda abordam a questão da misericórdia, compaixão e perdão de Deus. Encontramos outros ainda falando do juízo severo de Deus, e até mesmo os que relembram o povo a necessidade de se levantar o Santuário de Deus, etc. Assim vamos entendendo que os profetas falam as verdades de Deus, mas o fazem de maneira parcial, fragmentária, passo a passo, cada um dentro de seu próprio contexto.
Isto é o que se chama de "revelação progressiva", ou seja, a revelação dada através da história, perfeita, porém ainda não completa até que o Senhor Jesus se manifestasse.
Isto traz mais uma característica à revelação manifestada em Jesus Cristo. Ela é superior, porque ele mesmo é a Palavra. Sua Palavra é final e completa.
Ele completa os aspectos da verdade que até então haviam sido revelados pelos profetas. A revelação em Cristo é plena, integral. Deus usou os seus porta-vozes no passado, mas hoje, em Cristo Jesus, a Palavra é final.
Assim, entendemos que a revelação em Cristo é superior aos profetas. Ele é o mensageiro e, ao mesmo tempo, a própria mensagem.
II. Cristo: o profeta que encarna a verdade
Jesus é a encarnação da verdade.
O fato de ser o Filho de Deus e de viver plenamente aquilo que pregava, isto é, de ser a mensagem encarnada, conferia autoridade à sua pregação. As pessoas notavam a diferença no que Ele dizia. Ele falava com uma autoridade sem igual.
Jesus encarnou aquilo que pregou. Assim, a própria multidão se admirava e declarava que Jesus era profeta vindo da parte de Deus (Mt 7.28,29; Mt 21.11). Seu caráter, seu poder, suas obras, enfim, sua vida testificavam de sua mensagem.
Vejamos algumas coisas essenciais no ministério profético de Cristo que são modelos para a igreja de hoje. Como profeta, Cristo estava interessado em transmitir a mensagem de Deus. Como Ele a transmitiu? Como veio essa boa nova de Deus aos homens?
Através do serviço
Cristo falou sobre a necessidade de servir ao próximo. Em sua mensagem, a questão do serviço ao próximo sempre esteve em pauta. Cristo deixou claro que a melhor forma de servir a Deus era através do serviço ao nosso semelhante.
Marcos 10.45
Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
A missão de Jesus foi em prol dos perdidos. Ele veio com este propósito (Lc 4.17-19). Ele tinha compaixão das pessoas porque estavam como ovelhas que não têm pastor (Mt 9.35-38).
Na ocasião da festa da Páscoa, Jesus lavou os pés dos discípulos, deixando, com isso, um grande exemplo de serviço humilde, que deveria ser seguido por todos os seus servos (Jo 13.1-20). Jesus serviu ao rico, ao pobre, ao cego, ao coxo, Ele se compadeceu das necessidades mais cruciais do ser humano. Ele serviu de maneira sacrificial, dando sua vida para resgatar o pecador.
Através do amor
Cristo não apenas falou sobre o amor, nem mesmo era seu interesse fazer grandes discursos sobre o amor. Ele não apenas ensinou que devíamos amar aos nossos amigos e inimigos mas Ele mesmo nos deixou o exemplo do sublime amor. Ele fez ver aos discípulos a necessidade de ganhar as pessoas pelo amor.
João 13.1
...tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.
Jesus Cristo disse que nós seríamos conhecidos pelo amor. Não era pelo muito falar, pelas obras, pelos dons espetaculares, mas pelo amor (Jo 13.35). O novo, o velho, o eterno mandamento é sempre o mesmo, que "amemo-nos uns aos outros" (Jo 15.12).
Nada pode causar maior impacto na vida das pessoas do que o amor. A Palavra de Jesus sempre foi uma palavra contra a hipocrisia, pecado, maldade, desonestidade, etc. Jesus sempre condenou duramente o pecado. Jesus nunca deixou de falar sobre questões que feriam as pessoas, mas havia extremo amor em suas palavras.
Assim, Jesus não apenas falou sobre amor. Ele é amor. A maior evidência desse amor está em sua morte na cruz. Ele morreu por amor. No momento de sua morte, ainda teve tempo para suplicar em favor de seus algozes.
Lucas 23.34
...Pai perdoa-lhes por-que não sabem o que fazem.
Através do perdão
Não podemos nos esquecer de que Jesus satisfez a justiça de Deus e que, assim, nós podemos ser perdoados. O Senhor, muitas vezes, falou sobre o perdão durante o seu ministério e, sobretudo, perdoou.
E da mesma forma como o Pai perdoa através de Cristo, Ele exige que nós perdoemos o nosso próximo. À luz da sua Palavra, não pode haver vida cristã verdadeira se não houver perdão. Ele perdoa incondicionalmente. Da mesma forma, Ele exige que perdoemos nosso próximo.
Em alguns textos, Ele fala sobre a necessidade de perdoar e que a ausência de perdão ofende a Deus (Mt 5.23-26; 6.14; 18.21-35). Como profeta, Cristo anuncia o perdão de Deus através da Sua própria pessoa.
Ele é a única esperança para o ser humano caído e é por isso que Ele diz: "Vinde a mim... E eu vos aliviarei" (Mt 11.28-30). E em outra oportunidade, "...estão perdoados os teus pecados" (Mt 9.2). Cristo é a manifestação viva e eficaz do perdão de Deus. Sua vida é cheia de compaixão e de misericórdia para com os perdidos (Jo 8.9-11; Lc 7.36-50).
O perdão de Jesus faz com que as pessoas sejam reintegradas à vida. O perdão de Cristo liberta, restaura e promove o ser humano caído à sua verdadeira condição, diante de Deus e dos homens. O perdão de Jesus não é uma licença para se continuar no pecado.
Conclusão
A vida cristã é mesmo radical. Cristo é o maior dos profetas e, sendo Filho de Deus, se fez servo.
Cristo agiu como profeta e, em seu trabalho de proclamação das boas-novas de salvação, foi muitas vezes rejeitado, expulso e, por fim, morto. Usou, como os profetas, vários meios de comunicação da Palavra: exposição, visual e simbólico. Apesar da rejeição, Cristo nunca deixou de pregar.
O que caracteriza a superioridade de Cristo é o fato de que Ele é o Verbo de Deus, Ele é o Deus encarnado. Em Cristo, cumpriram-se as profecias. Cristo não apenas anuncia a verdade, Ele é a verdade.
Ele não apenas fala de serviço, Ele é o Servo sofredor; não apenas comunica a respeito do perdão, Ele entregou sua vida para oferecer perdão; Cristo não apenas fez belos discursos sobre o amor, mas é o amor e amor manifestado na cruz.
Sendo o maior dos profetas, Jesus nos convida a caminhar com Ele, a seguir bem de perto suas pisadas, a sermos discípulos no longo e espinhoso caminho. Segui-lo significa mudança radical de vida, de conceitos e de posturas éticas, morais e espirituais. O desafio do servo é ser como seu Senhor. Você está disposto a isso?
As atitudes da vida cristã genuína nunca se enquadram na maneira ordinária como a maioria das pessoas vivem. Ser de Cristo é viver o extraordinário. Que Deus nos ajude a assumirmos uma postura genuinamente cristã e não apenas a nos emocionarmos com a vida santa, justa, reta e extraordinária de Jesus. Seja esse o nosso alvo, nosso maior objetivo, nossa busca incansável. Que Deus nos abençoe!
Autor: Luiz Henrique Filho