A Palavra de Deus nos diz: "Reina o Senhor" (Sl 93.1). Mas, onde é o Reino de Deus? O que entendemos quando afirmamos que Deus reina? Seria esse um Reino puramente espiritual? Será que não se relaciona com as coisas aqui da terra?
Como os profetas viram esse Reino de Deus? As respostas a tais perguntas serão dadas no desenvolvimento do estudo e, sem dúvida, nos darão uma direção segura para que possamos começar a entender a dimensão do Reino de Deus.
Existem duas coisas que, a princípio, não devemos deixar dominar nosso conceito sobre o Reino de Deus: que ele é limitado por barreiras humanas como a geografia ou que, por outro lado, ele é apenas um conceito abstrato e filosófico.
O Reino de Deus é o domínio completo e eterno de Deus sobre todas as coisas, não somente as visíveis, mas também as invisíveis. Toda a criação está debaixo do Senhor, que é Rei dos reis. Esta verdade é absoluta, pode não ser aceita, pode ser desconhecida ou contestada, mas nem por isso deixa de ser verdade.
Como cidadãos desse Reino, temos de viver seus valores, suas propostas e seus objetivos e lutar para que os valores do Reino de Deus, não conhecidos ou reconhecidos pelo mundo, sejam efetivados. Foi assim com o próprio Senhor Jesus.
Ele lutou, sofreu e morreu, para que a maldição do pecado fosse tirada de sobre nós e para que os valores do Reino de Deus fossem vividos pelo seu povo (vide o "Sermão do Monte"). O fato de vivermos num mundo de pecado e miséria não pode e não deve, sob pretexto algum, nos afastar do alvo de pregar e viver a mensagem única das Escrituras.
O Reino de Deus não é uma mensagem que nos tira do mundo e nos remete para um futuro distante. Ao contrário, é uma mensagem que nos lança ao mundo para vivermos e brilharmos como luzeiros numa sociedade pervertida e corrupta.
Com oração e desejo de agir, estudemos, com humildade, a proposta dos livros proféticos sobre o Reino de Deus.
I - O anúncio dos valores do reino
As lutas e sofrimentos dos profetas se caracterizaram pela palavra que anunciava os valores do Reino de Deus.
Os profetas anunciaram com toda a veemência, ousadia, dedicação e intrepidez, os valores centrais do Reino de Deus. Nossa luta não pode ser diferente. Os profetas anunciaram aquilo que caracterizava os valores do Reino. Quais eram estes valores?
1. Justiça sobre a injustiça
Um dos temas centrais da mensagem de Deus através dos profetas é a justiça. Ela deve estar presente em todos os atos do povo de Deus. Toda forma de injustiça desagrada a Deus, bem como a aplicação da justiça é seu prazer (Am 5.24; Is 1.17).
A Palavra diz: "O Senhor faz justiça aos oprimidos" (Sl 146.7a). Nas boas novas de salvação cantadas pelo profeta Isaías, ele diz que a justiça é como o carvalho, plantado na casa do nosso Deus, inabalável.
A casa de Deus seria estabelecida sobre a justiça (Is 61.3). Na edificação da nova Jerusalém, o profeta diz que a justiça será sua beleza, seu adorno e seu resplendor e que as nações verão a justiça (Is 62.2). Existe algo mais belo do que uma nação onde se pratica a justiça (Jr 33.16)?
2. Liberdade sobre a opressão
Outro valor do Reino de Deus, anunciado pelos profetas, é a liberdade sobre a opressão. A opressão é a completa descaracterização do povo de Deus. O Reino de Deus é um lugar de liberdade e não de opressão.
Toda vida e, consequentemente, o culto, são prejudicados quando nos aliamos à opressão. Nosso culto, nossa teologia e nossa prática são ofensivas a Deus se somos opressores. Deus é Deus libertador e liberdade é característica de seu Reino (Is 58.6; 61.1).
3. Os anseios humanos serão atendidos
Ao anunciar os valores do Reino de Deus, os profetas vislumbravam um Deus cheio de afeto, de carinho, de misericórdia (Os 11.1-4; Jr 31.3; 33.10-13). Deus na sua soberania amorosa atenderia às necessidades de seu povo.
A instauração do Reino de Deus é, na visão dos profetas, acompanhada da satisfação das necessidades humanas. O desejo de Deus é a paz, a justiça, a integridade, a harmonia, a fartura, a unidade, a perfeição, a fidelidade, a alegria, a vitória.
Este é o anúncio profético porque esta é a vontade de Deus. Segundo os profetas, a visão de Deus para toda a criação é que ela será aperfeiçoada com a instauração do Reino de Deus.
Esse será um Reino de paz e de justiça, de plenitude e de inteireza, de felicidade e de liberdade. Amós vislumbrava um futuro de esperança para um povo massacrado e duramente oprimido onde haveria fartura, abundância. A terra produziria de maneira generosa e espontânea, o agricultor estaria colhendo a nova safra sem ter findado a antiga, como se os próprios montes estivessem derretendo em trigo e mosto (Am 9.13).
Isaías falou da edificação, da construção de um país novo, por uma juventude que seria livre das garras do mal e que não seria entregue ao inimigo (Is 58.12). As nações Judá e Israel seriam reunidas sob o mesmo reinado de um rei eterno (Is 9.1-7; Jr 23.5; Ez 34.23; Am 9.11). A mão e o poder de Deus fariam todas essas coisas. É Deus, através dos profetas, quem promete.
II - A resposta aos valores do reino de Deus
Esse reino vem somente pelo grande poder de Deus. Somente Deus, em sua soberania, poderá colocá-lo em ação. No entanto, é importante perguntar: Se é Deus quem realiza todas as coisas pelo seu poder, qual será a participação de seu povo neste processo? Como deve viver o povo de Deus em resposta à expectativa de tal Reino?
O anúncio de valores tão elevados tinha como meta o culto e, como consequência, o bem-estar do próprio povo de Deus. Ao viver tais valores, a nação seria abençoada e passaria a ser modelo, testemunho para outras nações.
Os líderes políticos, religiosos e o povo em geral deveriam responder através de uma vida de obediência à vontade de Deus. Essa obediência deveria ser total, o que requereria mudança radical, completa.
Não podemos nos esquecer que Deus entrou numa relação de aliança com o seu povo e esta aliança parte de Deus para o homem. Quanto à sua composição, feitura, leis e mandamentos, ela é unilateral. Vem de Deus para o homem. Parte tão somente de Deus.
Quanto ao viver em obediência às leis da aliança, entra a responsabilidade humana e, neste sentido, poder-se-ia até mesmo dizer que ela tem um aspecto bilateral.
O povo de Deus deve viver em obediência. Em viver obedientemente, recebe as bênçãos da aliança. Bênçãos, as mais ricas bênçãos. Estas vêm em forma de alegria, paz, prosperidade, felicidade, plenitude, inteireza, justiça, etc. Não existe aqui uma promessa de que todas estas coisas viriam imediatamente sobre o povo mas que, na obediência, estas coisas seriam possíveis.
Assim, como o povo poderia responder aos anúncios proféticos?
1. Obediência
Deus requer obediência de seu povo, que nada mais é do que a prática da sua Palavra (Mq 6.8; Zc 7.9,10). Por manter uma relação íntima com o Senhor da aliança, por ser uma nação especial aos olhos de Deus, e receber de forma tão direta a revelação de Deus, como nação escolhida, o povo deveria viver obedientemente (Ml 3.17,18). O que Deus requer do seu povo? Que amem ao seu Deus e ao seu próximo. A desobediência é uma total ingratidão ao amor, graça e misericórdia de Deus.
2. Amor
A resposta em obediência deve ser fruto de gratidão e amor. Deus não é um senhor déspota, malévolo e cheio de violência, caprichoso e autoritário, mas é um Deus misericordioso, justo, fiel e amoroso. Nossa obediência para com Ele tem que ser fruto de amor.
3. Transformação
O profeta pregava aguardando a transformação da nação, a transformação das vidas. A mensagem e a pregação tinham como objetivo a mudança.
Sem mudança de visão, de pensamento, de desejos, de vontade, sem mudança radical de vida, não pode haver obediência à vontade de Deus. Sem obediência à vontade de Deus, os valores do Reino de Deus jamais seriam vividos.
III - Vivendo os valores do reino de Deus
Viver os valores do Reino de Deus significa viver de acordo com a vontade Deus. Os profetas não só vislumbraram os deveres que são impostos pela nova vida no Reino de Deus, mas também as bênçãos decorrentes.
O profeta lembrou aos líderes políticos, religiosos e à nação como um todo, que havia bênçãos reservadas para os que fossem fiéis ao Senhor. As bênçãos não tinham apenas um caráter futurista, elas não estavam reservadas apenas para o porvir. Quais são essas bênçãos?
1. Nação poderosa
Os profetas conheciam muito bem o Salmo 33.12 "Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor".
Eles sabiam que, quando se obedece a Deus, Deus concede o poder à sua nação. Não era o poder que os líderes políticos e religiosos mais buscavam? Não era a vitória nas guerras e a prosperidade que lhes dava a certeza de que Deus estava no meio deles?
Os inimigos haveriam de fugir ou então, humildemente, viriam diante do povo de Deus, pois sabiam que ali estava uma nação poderosa (Mq 4.2; Is 38.1-8).
2. Favor do Senhor
Israel contaria com a presença de Deus para salvação, cura, prosperidade e glória (Is 58.8). A nação que sempre foi caracterizada pela presença de Deus, teria de fato a sua presença constante (Is 59.21). Esta presença de Deus, confirmada em termos de aliança, seria sentida por toda a nação e também pelas nações vizinhas.
3. Libertação da opressão
Os profetas anunciaram também que os israelitas que estavam espalhados entre os povos, submissos, sujeitos e escravizados, haveriam de se congregar todos juntos, num só lugar (Jr 32.37-40).
Deus promete fazer o bem ao seu povo, ainda que traga a disciplina sobre seus filhos que vivem de maneira rebelde. Evidentemente que o profeta entendia que esta graça de Deus ao seu povo estava ligada à sua soberania. Não era difícil para o povo de Israel entender a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
Deus é soberano e, dentro de sua soberania, é livre para agir da maneira como quiser mas isso não tira a responsabilidade de seu povo em viver uma vida de acordo com os valores do Reino e, consequentemente, ser abençoado por viver dessa maneira (Dt 28).
O Reino de Deus é parte da mensagem profética. Para os profetas, o mundo não está jogado ao destino cego. Não somos guiados por um destino fatalista. Somos guiados por um Deus Soberano, Senhor de todas as coisas.
O mundo e a história seguem um curso determinado pelo próprio Deus. As coisas que ocorrem no mundo estão cumprindo a vontade soberana de Deus. Deus é Senhor e Rei e tudo dirige de acordo com sua santa vontade.
Isto não quer dizer que devamos cruzar nossos braços como se nada tivéssemos para fazer, ao contrário, devemos lutar para que a verdade de Deus se manifeste em nossa vida e na vida do nosso próximo.
A vida no Reino de Deus é o cumprimento de sua vontade. Qual é mesmo a vontade de Deus? O que é que Ele deseja para o seu povo?
Nosso desafio: Precisamos encarnar os valores do Reino de Deus não só por uma obediência que é fruto do medo mas porque amamos a Deus e à Sua Palavra.
Devemos viver os valores do Reino de Deus não para sermos abençoados, para termos essa ou aquela vantagem, mas porque já somos abençoados. Devemos viver os valores do Reino de Deus, não apenas para irmos para o céu, mas para que o céu seja uma realidade, pelo menos em parte, aqui na terra.
Você está disposto a isso? Não seria hora de começar isso em seu trabalho? Quem sabe em seu lar? Será que sua igreja não está se distanciando dos valores do Reino de Deus?
Onde há injustiça, ódio, amargura e ressentimento, haverá sinais do Reino de Deus? Certamente que não. Que Deus nos ajude a tomarmos tão grande e necessária decisão.
Autor: Luiz Henrique Filho