O professor da nação: Como Deus usou os profetas para educar e transformar o povo – Estudo Bíblico sobre a Pedagogia Profética


Texto central:
Jeremias 18.1-6

Introdução

Você já observou como a mensagem de Deus nas Escrituras é criativa? Isto é o resultado direto de Deus ser Criador e ter criado o homem à sua imagem e semelhança.

A própria Escritura afirma que Deus falou "muitas vezes e de muitas maneiras". Neste estudo, abordaremos o lado pedagógico do ministério profético. Veremos como Deus usa o profeta como um professor.

O profeta usa as formas mais variadas para transmitir a Palavra de Deus. O profeta é altamente criativo. Ele aproveita as notícias da época, os fatos, os acontecimentos marcantes, os furos de reportagem, as tragédias, as vitórias, as desgraças, os fracassos, o sucesso, enfim, usa do seu contexto e daquilo que afeta ao povo para transmitir a palavra da parte de Deus.

É óbvio que esta mensagem contextualizada tem um impacto transformador, que leva as pessoas à reflexão, que traz esperança e, ao mesmo tempo, as chama a uma conduta condizente com a Palavra do Deus Todo Poderoso.

O profeta era, acima de tudo, um homem comprometido com Deus e com a palavra que o Senhor determinou que ele transmitisse. Para efetivar seu compromisso, o profeta empregou recursos de comunicação, a fim de levar o povo a compreender a mensagem.

Os profetas criticavam, questionavam, sonhavam com um futuro diferente, não aceitavam a falsa declaração positiva de que "está tudo bem" quando sabiam existir por trás cheiro de morte, domínio e opressão.

Nesse contexto, o profeta surgiu como um educador e transmitiu a palavra de forma dramática, de forma visual, simbólica, com debates, alternando entre a preleção e a dramatização, entre o questionamento e a exortação, entre o juízo e a esperança.

1. O uso da preleção

Os profetas não estavam muito preocupados em que suas mensagens fossem escritas. Sabemos que, em alguns casos, os discípulos dos profetas é que registraram a mensagem.

Os profetas foram, antes de tudo, pregadores; comunicadores que proclamaram a Palavra. Suas palavras eram basicamente ouvidas pelos seus contemporâneos.

O ensino oral sempre foi usado e sempre será. Ele é uma excelente ferramenta para a transmissão da Palavra de Deus. Era exatamente isso o que o profeta fazia.

Através do ensino oral, o profeta instruía a nação, corrigia e exortava. Assim é que entendemos passagens como Isaías 1.10-17, Amós 5.21-24, Miquéias 6.6-8.

Utilizando o discurso, o profeta comunicava que Deus estava condenando a hipocrisia do culto destituído de vida. Os discursos e preleções foram meios fartamente usados pelos profetas no seu ensino ao povo (Jr 25.1 - 7; Am 5.4,5).

Os profetas tornavam suas preleções criativas e desafiadoras, ao mesmo tempo em que tratavam das necessidades do povo. Eles falavam dentro de um contexto, seu discurso se dirigia à realidade da nação.

As revelações de Deus eram apresentadas calcadas em situações comuns da vida. Observando, analisando, refletindo e questionando os acontecimentos dos seus dias, os profetas recebiam a mensagem e a transmitiam ao povo.

Assim, o Senhor mostrou a Jeremias uma panela fervente que se derramava. Jeremias ouviu a mensagem e foi incumbido de proclamá-la (Jr 1.13-19). A mesma coisa ocorreu com Amós (7.1-9); o Senhor lhe mostrou gafanhotos comendo o pasto.

Amós clamou ao Senhor e recebeu a mensagem. Ele observou o calor do fogo em tempo de seca e ainda um homem com fio de prumo medindo o muro e outra vez aprendeu o que o Senhor queria comunicar. Tudo isto o Senhor mostrou ao profeta para que ele entendesse e transmitisse a Palavra.

A contextualização é muito importante na prática ensino-aprendizagem. O profeta usava essa técnica muito bem. Empregando a linguagem de sua época, ele não abordava conceitos frios e distantes, mas as urgentes necessidades espirituais do povo.

Nisto o profeta respondia às questões do dia a dia, questionando a conduta da nação, corrigindo a postura dos dominantes e mostrando alternativas, sonhos e promessas de uma vida melhor aos que obedecessem à Palavra do Senhor. Por outro lado, castigo aos que continuassem na vida de pecado.

2. O uso de recursos de linguagem

Os profetas usavam de vários meios com o propósito de transmitir bem a palavra. Eles buscavam os meios disponíveis dentro de seu idioma para proclamarem a Palavra de maneira inesquecível.

Alguns dos recursos:

Parábolas

Jesus Cristo, o profeta por excelência, ensinava muito com o uso de parábolas. A função da parábola era levar a pessoa a pensar, refletir e assumir um compromisso.

A parábola é uma história que poderia ter acontecido e que comunica uma lição. As parábolas aparecem desde o Antigo Testamento. Podemos citar Isaías 5.1-7. Fala-se de um homem que plantou uma vinha e deu-lhe todas as condições para que ela produzisse uvas boas.

No entanto, a vinha produziu uvas pequenas e amargas, que não poderiam ser usadas, ainda que tivesse todas as condições necessárias. Esperou-se uma coisa, no entanto, colheu-se outra. O próprio texto esclarece que o Senhor é o plantador da vinha e o reino do sul, isto é, Judá, a vinha. O que será feito a essa vinha?

A consequência é natural. Cada ouvinte irá julgar (vs. 3,4) e tirar a sua própria conclusão. A única posição impossível é a neutralidade. Outra parábola muito eloquente, se encontra em 2 Samuel 12.1-15.

O profeta Natã é enviado por Deus à casa de Davi. Natã tem de contestar a atitude de Davi, mas como poderia fazer isso? Como denunciar o pecado do próprio rei? Então o profeta conta uma parábola ao rei, que por si mesmo tira as suas conclusões (vs. 5,6).

O rei se condena e ao profeta só resta dizer: "... Tu és o homem..." (v. 7). A conclusão de Davi não poderia ser diferente e ele confessa: "...Pequei contra o Senhor... " (v. 13).

Comparações

Vejamos alguns exemplos:

a) Esposo e esposa

Comparações baseadas em noivado, casamento, fidelidade, infidelidade, prostituição, todas relacionadas a Deus e seu povo Israel, são abundantes em toda a Bíblia.

Os profetas colocavam Israel como a noiva que o Senhor escolheu para ser sua esposa (Jr 2.2; Is 54.5; Os 2.19-20). Estes textos demonstram o carinho, o amor, a compaixão do Senhor, como marido que está decidido a proteger e a amar a sua esposa.

A esposa por sua vez era infiel, fugia do seu marido, corria atrás de outros amantes, foi muitas vezes comparada a uma prostituta leviana, jumenta insaciável (Ez 16.15; Jr 13.27; Os 7.4-7).

Todas estas prostituições e infidelidades eram cometidas quando o povo deixava o Deus verdadeiro e corria atrás dos deuses do Egito, Assíria, Babilônia (Ez 23.1- 17). No entanto, Deus como esposo fiel, buscava e queria a reconciliação. Pela sua graça, Ele a tornava possível (Is 49.5, 54.6-8; Jr 3.12-14,22).

b) Algumas ações de Deus comparadas com as de um animal selvagem

Pode-se ver isso claramente na expressão de Amós 3.4- 8,12 e Oséias 13.7,8.

c) Ídolos como espantalho

O profeta falava claramente da impotência dos ídolos, até mesmo zombando deles, dizendo que eles só serviam para espantar os pássaros da lavoura, mais nada. Não sentiam, não andavam, nada podiam fazer, para nada prestavam (Jr 10.5,6).

Poderíamos citar outros exemplos, mas o espaço é limitado. No entanto, pelos textos acima pode-se perceber como os profetas se esforçavam para tornar sua mensagem clara. Fica claro que as mensagens dos profetas eram vívidas. Seus discursos eram bem concretos e atingiam seus ouvintes, forçando-os a uma posição.

3. Recursos visuais

As palavras podem ser encontradas em todos os lugares, elas inundam nossas vidas, são veiculadas através do rádio, da televisão, dos jornais, revistas, das palestras, dos sermões.

Milhões de palavras são ditas sem parar em nosso mundo moderno, transmitindo ideias e opiniões. São tantas as palavras que até não damos muita importância a elas. Muitas vezes, isto acontece no contexto do culto e do sermão.

Qual foi mesmo o tema do sermão de domingo passado? Qual o texto usado? É muito fácil nos esquecermos de palavras.

Os profetas sabiam disso. Por isso, além da palavra falada, eles usavam meios visuais. O objetivo era atingir os cinco sentidos do ser humano. Para comunicar a mensagem da Palavra de Deus, todo esforço é necessário. Ela deve impregnar a vida das pessoas.

Quando vemos e ouvimos alguma coisa temos condições de retê-la por mais tempo e, às vezes, nunca nos esquecemos do conteúdo principal que aquela cena nos comunicou pelos olhos e pelos ouvidos.

Os profetas usavam muitos meios visuais para anunciarem a Palavra de Deus. Muitas vezes a sua própria vida. Abaixo citaremos alguns exemplos mais significativos:

a) Isaías

O Senhor ordenou que o profeta Isaías usasse métodos visuais para ilustrar a mensagem (Is 20.2,3). Qual de nós teria coragem de andar despido e descalço pelas ruas?

O profeta agia dessa maneira, em obediência ao Senhor, para mostrar a vergonha e a miséria de um povo que colocava sua confiança em outro que não o Senhor como o império Etíope-Egípcio — sem dúvida, tal atitude, no entender do profeta, era grande insensatez.

Podem imaginar como essa cena causou impacto? Possivelmente pensassem que Isaías estivesse maluco. Deus, através do profeta, estava simplesmente tornando a Sua Palavra mais clara ao seu povo.

b) Ezequiel

Ezequiel cercou uma cidade, abriu trincheiras, deitou de um lado, depois de certo tempo do outro, comeu o pão de exilados, bebeu água com escassez, isso tudo para significar o cativeiro dos filhos de Israel que se aproximava (veja Ez 4).

Outra vez, ele raspou a cabeça e a barba, com espada e fogo representou a queda de Jerusalém: uma parte morreria à espada, outra morreria pelo fogo e outra fugiria e seria perseguida (Ez 5).

Numa outra oportunidade, ele fez uma bagagem de exilado e, à vista de todo o povo, saiu com aquela bagagem por entre um buraco aberto na muralha (Ez 12). Todas essas mensagens foram meios visuais usados por Deus, através do profeta, para transmitir a Sua mensagem.

c) Jeremias

Comprou um vaso de barro e, na presença da liderança e de toda a nação, o fez em pedaços, significando que Deus faria aquele povo em pedaços (Jr 19).

Diante da indiferença do povo, o profeta colocou uma canga de bois sobre o pescoço e chegou diante das lideranças políticas e religiosas do povo, sempre com a mesma mensagem: "Sujeitai-vos ao jugo da Babilônia " (Jr 27).

Em meio a tantos recursos não podemos nos esquecer de uma coisa muito importante: no ambiente de culto, a pregação da Palavra jamais pode ser substituída. Que ela seja criativa, entusiasmada e viva, realçada pela vida daquele que a prega.

Conclusão

Neste estudo, pudemos notar que os profetas foram verdadeiros pregadores da Palavra. Eles comunicaram a Palavra, chegaram a gritá-la, foram homens a serviço da Palavra de Deus. Eles desejavam que a mensagem fosse entendida pelo povo de Deus. Para tanto, usaram dos recursos disponíveis na sua época.

Um grande perigo que corremos é nos encantarmos com nossas próprias palavras a ponto das mesmas não serem relevantes para os ouvintes. Os profetas procuraram responder às questões do dia a dia da nação com a Palavra vinda de Deus.

Temos condições de usar slides, retroprojetor, encenações, poesias, dinâmicas de grupo e outros recursos que nos ajudam a ilustrar a mensagem.

Esses recursos podem e devem ser usados, sem tentar com os mesmos substituir a mensagem exposta das Escrituras. Devemos ser cuidadosos para que o uso de recursos na igreja não se torne um fim, e continuem a ser usados como um meio.

Autor: Luiz Henrique Filho

Semeando Vida

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