O profeta que chorou: Entenda o coração quebrantado que anunciou a queda e a esperança – Estudo Bíblico sobre Jeremias e Lamentações


Jeremias e lamentações

Os dois livros em estudo fazem parte de um mesmo contexto histórico e foram vivenciados pelo profeta Jeremias. Apresentam a situação crítica do reino de Judá e, especialmente Jerusalém, que sofreram a destruição e o cativeiro impingidos pelos babilônicos.

1. Vida do profeta

Jeremias era sacerdote por nascimento (1:1) e foi chamado para o ministério da profecia ainda jovem (1:6-10). A mensagem que teve de transmitir era tão severa que custou amargura ao seu coração patriótico e compassivo. As lamentações que proferiu revelam a tristeza de um coração ferido pela maldade e o pecado.

O ministério de Jeremias não foi aceito nem pela própria família (Jr. 12:6; 38-8-9). O povo de Jerusalém conspirou contra o profeta (18:18; 20:1-3) e o lançou na prisão diversas vezes (37:11-15). Na queda de Jerusalém o profeta foi solto por Nabucodonosor, porém teve de acompanhar os judeus que se refugiaram no Egito. Provavelmente Jeremias morreu no Egito.

Jeremias foi chamado ao ministério profético no ano 627 a.C. Tentou por todos os meios salvar Jerusalém do cativeiro de Babilônia. Jerusalém foi parcialmente destruída em 605 a.C., outra vez invadida em 597 a.C., e finalmente assolada e incendiada em 587 a.C.

Jeremias conviveu com muitos reis de Judá, tais como: Manassés (IICr. 33), Amon, Josias, Jeoacaz, Joaquim e Zedequias. Também foram contemporâneos de Jeremias os seguintes profetas: Ezequiel, Daniel, Habacuque, Sofonias, Naum e Obadias.

2. Missão profética

Jeremias recebeu uma missão profética difícil e desafiadora. A promessa do Senhor era confortante (1:8-9), mas o profeta seria colocado “sobre nações e sobre reinos, para arrancares, e para derribares, e para destruíres e para edificares e para plantares" (1:10).

O profeta denunciou a idolatria (2:13, 23-25) e as injustiças (22:13-17). Em suas queixas contra a impiedade de Judá anunciou a eminente destruição do reino de Judá. Jeremias, sem cessar, advertiu Jerusalém para que se rendesse ao rei da Babilônia porque esta era a sentença do Senhor, mas o povo judeu acusou o profeta de traição.

O Rei Nabucodonosor procurou recompensar o profeta (Jh 39:12), pensando que Jeremias era favorável ao cativeiro, mas a mensagem também era contra a Babilônia porque esta cometia hediondo crime na destruição do povo escolhido do Senhor. O pecado da Babilônia traria a sua própria destruição (Jr. 50 e 51).

Jeremias experimentou a provação daqueles servos do Senhor que cumprem fielmente a missão (Mt. 5:11-12; II Tim. 3:12).

3. Obediência ao senhor

O profeta tinha em mente a recomendação divina “por onde quer que eu te enviar irás; e tudo quanto te mandar dirás”. (1:7). Ele estava ciente da responsabilidade mas sentia-se tímido e limitado pela sua própria inexperiência (1:6).

Jeremias recebeu a bênção divina que lhe deu segurança e convicção “Eis que ponho em tua boca as minhas palavras” (1:9). Agora ele não podia mais queixar-se de incapacidade de falar. Quando Deus escolhe um mensageiro sempre coloca a palavra inspirada na boca de seus profetas (Mt. 10:20).

Ele recebeu a imposição de uma tarefa difícil (15:10). Por certo sofreu muito diante do dever de anunciar o julgamento divino. Foi levado perante príncipes e governadores e sofreu a perseguição de seu próprio povo (20 e 26).

A perseverança do profeta se alicerçava nas promessas de Deus. O toque da mão divina foi para ele prova tangível de que nunca estava sozinho. Não podia, pois, fugir. Quando o servo de Deus tem plena convicção da bênção divina, jamais recua ou foge do cumprimento do seu dever (At. 4:20; II Tim. 4:7-8).

4. Compaixão do profeta

Destacamos esta característica na vida de Jeremias devido as circunstâncias dramáticas que experimentou. Apesar de ter sofrido injustamente e ser caluniado, jamais se revoltou ou blasfemou contra o Senhor.

O livro de Lamentações é uma prova concreta do sofrimento interior do profeta ao prever a destruição de Jerusalém e o julgamento divino sobre o povo desobediente. Esta mesma tristeza demonstrou Jesus quando profetizou a destruição de Jerusalém (Lc. 19:41-44).

Embora entre Jeremias e Jesus haja um período de tempo de 600 anos, ambos choraram por causa da dureza dos corações impenitentes que ocasionaram o julgamento divino tão severo.

No livro de Lamentações nem tudo é tristeza. Acima das nuvens de lamento do profeta a misericórdia de Deus se manifesta (Lm. 3:22-27). A graça divina sempre brilha acima do pecado (Rm. 5:20) e continuará brilhando nos corações que colocam a Palavra de Deus como fonte de energia espiritual (Is. 61:3).

A mensagem do livro de Lamentações ficou tão marcante na vida dos judeus que ainda hoje é lida nas sinagogas no dia 9 do 4.° mês (Jr. 52:6), em memória da destruição de Jerusalém. O lugar onde Jeremias chorou as suas lamentações é atribuído ao mesmo lugar onde séculos depois Jesus foi crucificado.

Ainda hoje atribui-se em Israel o lugar histórico chamado “muro das lamentações".

A compaixão de Jeremias é tocante e inspiradora. Ele sentia uma verdadeira paixão pelas almas perdidas e por isso lamentava-se por não conseguir convencer o povo que buscasse a Deus. Há muitos pastores e líderes que ainda hoje vivem as lamentações por causa do pecado e frieza espiritual das Igrejas.

5. Submissão incondicional

Jeremias demonstrou um espírito de plena submissão. Ao aceitar o desafio da missão profética sabia ele que precisava viver conforme a vontade divina. Em muitas ocasiões foi mal sucedido porque nem o povo e nem as autoridades queriam dar ouvidos às profecias.

Uma atitude exemplar de submissão foi a compra de um terreno em Jerusalém quando ele mesmo havia profetizado a destruição iminente.

O servo do Senhor aceita sempre a ordem divina, embora não compreenda o seu significado imediato (II Cor. 12:7-10). É fácil crer quando tudo é favorável e promissor.

Deus prova a nossa submissão exigindo enfrentar situações incômodas. O profeta Habacuque viveu a experiência de uma submissão incondicional (Hb. 3:17-19).

Conclusão

A mensagem de Jeremias tanto no seu livro profético como nas Lamentações deixa claro para a Igreja Cristã que Deus é zeloso e fiel em suas promessas e por isso executa os seus juízos sobre as nações.

Jeremias transmitiu uma mensagem cheia de esperança alicerçada em Deus, apesar das calamidades e ameaças ao redor.

Ele sabia "que as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos" (Lm. 3:32) e este é o segredo porque não somos consumidos pela ira do Senhor em meio a tanta iniquidade e depravação da humanidade.

Autor: Rev. Oswaldo Hack

Semeando Vida

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