Um homem de visão: Como enxergar o passado, presente e futuro com os olhos de Deus – Estudo Bíblico sobre a Perspectiva Divina

Quando pensamos no profeta como um homem de visão, estamos nos referindo à sua capacidade de entender e, sobretudo, de interpretar os fatos. Conforme fica claro nos textos da leitura semanal, o profeta era um homem profundamente conscientizado de seu passado, de seu presente e de seu futuro.

Quando se tem uma visão correta de cada uma dessas dimensões, consegue-se viver de forma mais intensa a vontade de Deus, consegue-se compreender melhor todo o desígnio de Deus.

O profeta estava sempre levando o povo a refletir sobre o seu passado, sua história, suas leis, suas tradições. Esta dimensão passada é aquilo que "já" estava pronto, acabado, terminado e concluído. É aquilo que já fazia parte da vida e que contava a história do povo.

Nós vamos ver os profetas chamando a atenção do povo para que o mesmo considerasse e refletisse sobre o seu passado, tanto no que concerne ao seu aspecto positivo, como no aspecto negativo (Ag 1.5,7; 2.15,18). Refletir sobre os acontecimentos, à luz da Palavra de Deus, é indispensável para cada um de nós (Dt 4.32-40).

A dimensão presente faz parte daquilo que estamos vivendo. Enfatiza não o que está lá, mas o que está sendo descoberto. Isto nos leva a refletir sobre o nosso dia a dia, sobre nossas experiências atuais.

O presente é o tempo das descobertas, das interpretação das coisas que já temos do passado e que precisam ser analisadas e refletidas. Os profetas reconheciam, mais do que ninguém, esta necessidade de se conhecer o que Deus estava fazendo no processo de vida.

Em vários relatos bíblicos vemos a Palavra de Deus enfatizando o presente: "Se hoje ouvirdes a minha voz..." (Sl 95.7,8), e ainda: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (Mt 6.11), "exortai-vos mutuamente, durante o tempo que se chama hoje..." (Hb 3.13).

O futuro é o "ainda não", aquilo que está por vir, é o alvo que temos de atingir, é o objetivo para onde nos dirigimos.

Esta dimensão futura também era conhecida pelo profeta, que podia se referir a ela em termos de promessa (Is 65.17-25), ou em termos de punição e castigo, caso não houvesse arrependimento e retorno à vontade de Deus.

Quase sempre o castigo alcançou o povo porque eles não quiseram reconhecer seu pecado, voltar atrás e viver em obediência à Palavra de Deus.

I - Visão correta do passado

Quando nos referimos ao passado não queremos dizer, com isso, que o profeta era um saudosista. Quando ele olhava para o passado, o fazia com uma visão pedagógica.

Compreender corretamente o passado, pode nos ajudar a aproveitar o que de bom ele tem. O profeta encontrava, no passado, a história de seu povo e os grandes atos de Deus, além de suas maravilhosas promessas.

Parte da nossa tarefa é preservar aquilo que nossos antepassados construíram com sua experiência. Deus usou muitos homens e mulheres para escrever a história. Muitos deram sua própria vida neste processo. Para que possamos entender de forma correta a vontade de Deus, devemos, constantemente, nos lembrar desses acontecimentos.

O profeta, muitas vezes, apelava para o passado, fazia o povo voltar os olhos para trás a fim de que pudesse ver os grandes acontecimentos propiciados por Deus, seus atos de libertação, sua ação poderosa, protetora e, também, seu juízo.

Todas essas ações e intervenções de Deus em favor do seu povo deveriam ser consideradas e interpretadas. Como educador da nação, o profeta interpretava os fatos, os tempos e os acontecimentos históricos.

Atualmente, também temos a responsabilidade de entender os acontecimentos passados, o que nos ajuda a entender melhor nosso legado histórico, cultural, e o que nossos antepassados fizeram, tanto no aspecto positivo, como no negativo. O povo de Deus precisava entender sua própria história.

É certo que não podemos simplesmente transportar o passado para o presente. Nem repeti-lo. Nem podemos achar que tudo o que é da tradição, do passado, é ultrapassado. É preciso refletir, analisar e interpretar nossa própria história.

II - Visão correta do presente

Como já vimos, o passado influi no presente, para o bem e para o mal. Refletindo no passado, podemos evitar o erros e planejar melhor o futuro, sempre na perspectiva de que "a resposta certa vem do Senhor".

Essa era a forma do profeta trabalhar. Ele estava inserido no contexto histórico, do povo da aliança que há muito se relacionava com o Deus verdadeiro.

Todas as suas exortações eram para que o povo reconhecesse seus erros, corrigisse suas falhas, endireitasse suas veredas e assumissem um novo compromisso com o Senhor, a fim de serem alcançados pelas bênçãos de Deus. As bênçãos prometidas por Deus vêm como consequência de uma vida reta na Sua presença (Dt 28.1-14).

A tarefa do profeta era a de orientar o povo para que este pudesse viver, no presente, ao lado de Deus e, com certeza, ter um futuro melhor.

Evidentemente, o profeta tinha uma visão correta do presente. Sabia que o que estava acontecendo estava determinando o que iria acontecer, fosse em termos de bênçãos ou de castigos.

Muitas vezes o povo optava por continuar na dureza do coração e, assim, o profeta não tinha nenhuma dúvida de que a calamidade haveria de alcançar a nação (Is 9.8-21; Jn 3).

Muitas das orientações dos profetas estavam presas ao que Deus já havia revelado. O profeta tinha consciência de que necessitava ensinar ao povo sobre este fundamento passado. Muitas vezes, o profeta olhando para o passado, os erros da nação, sabia exatamente que o povo estava no caminho de repeti-los.

Não podemos perder tempo. O presente é o nosso tempo, é tempo de proclamar a Palavra de Deus, é tempo de corrigirmos nossos caminhos, de endireitarmos nossas veredas e de retornarmos a Deus que é grande em misericórdia, bondade e fidelidade (Mq 7.18-20).

O presente é o tempo da anunciação das verdades bíblicas, dos fundamentos da nossa fé. Precisamos proclamar a Palavra de Deus de forma prática, isto é, a Palavra de Deus precisa ser vivenciada no nosso meio. Só estaremos vivendo e refletindo os valores do Reino de Deus se trouxermos a Palavra de Deus para o nosso dia a dia.

O profeta tinha uma visão extremamente clara do seu presente, do seu contexto, de que estaria contribuindo para a história de seu povo. Será que nós temos essa mesma visão?

Como estamos construindo a história de nossa igreja? Será que estamos nos preparando, de fato, para o futuro? Será que não estamos vivendo apenas do passado?

Será que não estamos pregando o evangelho de um Deus que fez mas que hoje não faz mais? Será que não estamos presos ao nosso legado cultural e histórico ao ponto de nos esquecermos que nosso Deus é vivo e age nos dias de hoje?

Todas as questões acima necessitam ser respondidas com sinceridade. Se estivermos presos ao passado, cristalizando-o e achando que tudo do passado é santo, estaremos diminuindo nosso presente. Se por outro lado, nos esquecermos do passado achando que o mesmo não tem nenhum valor, também estaremos diminuindo nossa história e o trabalho de muitas pessoas que, orientadas por Deus, nos legaram muito do que temos.

Assim é que, como servos de Deus, devemos olhar para nosso passado, nossa história e interpretá-los à luz da Palavra de Deus, de maneira que possamos viver de maneira integral em nosso presente, nos preparando para um futuro melhor. Qual será o nosso futuro?

III - Visão correta do futuro

Reconhecemos que o mundo está cheio de ambiguidades, conflitos e lutas por todos os lados. Infelizmente, nem mesmo a igreja escapa desta situação caótica.

Os profetas, cada um dentro de sua realidade de vida, experimentaram os mesmos conflitos e lutas e, algumas vezes, desanimavam (Jr 12.1-4). Esse aparente desânimo não foi suficiente para arrancar da alma do profeta o sonho de dias melhores para a nação porque sua esperança não era de origem humana.

Os profetas lutavam contra tudo, contra todos e, às vezes, contra si mesmos para, então, levantando os olhos, verem além da situação do momento. Viam a possibilidade de uma transformação que culminaria em vida de melhor qualidade, em relações mais fraternas, em pessoas mais comprometidas umas com as outras, vivendo já um pouco do que será a vida na dimensão eterna, onde seremos perfeitos.

O profeta tinha uma visão correta do futuro. Orientados pelo Senhor, os profetas mostraram as catástrofes que viriam. Sabiam da dureza do coração humano e, por mais que os homens conhecessem as intervenções de Deus no passado, não mudavam sua conduta. Portanto, o que poderia se esperar do futuro?

Como esperar um futuro melhor se não nos prepararmos para ele? Como esperar mudanças significativas se o homem continua com a vida distanciada de Deus?

Será que o nosso futuro melhorará somente com inovações técnicas? Será que as mudanças governamentais nos trarão melhorias? Será que as mudanças econômicas nos darão segurança? Certamente que não.

Aliás, os profetas mesmos disseram que dos homens que estão na direção da nação nada podemos esperar (Jr 17.5,6). O profeta ainda acrescenta que a bênção do Senhor alcança aquele que confia no Senhor (Jr 17.7,8).

Entre o nosso nascimento e nossa morte, estamos inseridos no tempo. A isto chamamos de nosso tempo.

Este tempo é reconhecido por nós como passado, presente e futuro. Não vivemos especificamente no passado e nem no futuro mas, especialmente, no presente. No entanto, somos decididamente influenciados pelo nosso passado e estamos sempre na busca de um futuro melhor.

As três dimensões do tempo não podem ser esquecidas por nós. Como cristãos, temos que lembrar do nosso passado, trabalhar o nosso presente e viver a esperança do futuro prometido.

Quando a nossa ênfase se dá em cima de uma só destas dimensões, vivemos o perigo do desequilíbrio. O cristão não pode viver só do passado. Deus requer que ele viva no presente de forma intensa, vida abundante.

O cristão não pode viver só do presente. Deus requer que ele tenha uma visão abrangente do futuro, a esperança das coisas que não se veem. Deus é eterno, atemporal e, por isto, a Bíblia nos diz que ele era, é, e há de vir (Ap 1.4).

Por isto mesmo, confiando nele, vivamos de maneira equilibrada, para honra e glória de nosso Deus. Amém!

Autor: Luiz Henrique Filho

Semeando Vida

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