A filosofia da vida moderna é pródiga na resolução de todos os problemas da humanidade. Não obstante, o mundo continua mergulhado em situações tão terríveis que, em muitos casos, as pessoas são levadas ao suicídio.
Estamos inundados de todos os lados por opiniões, ideias e conselhos que oferecem soluções para questões da vida, da fé e da política.
Há muitos livros discursos, jornais, rádio, televisão, etc. No meio desta tempestade de pensamentos, ideias, opiniões e sugestões, a grande dúvida é saber: o que há de útil em tudo isso? O que se pode aproveitar? O que é realmente verdadeiro? O que, de fato, é falso e enganoso?
Se tomarmos como base os sistemas econômicos e seu proponentes, cada um deles declinará diante de nós, razões que são perfeitamente cabíveis pelas quais deve ser o sistema adotado.
Cada um se apresentará como sendo o mais justo, mais plausível, o mais correto. Com certeza dirão que os demais são injustos e inviáveis. Em alguns casos, usarão até mesmo a Bíblia para provar seu ponto de vista.
Com respeito aos profetas falsos e verdadeiros, a coisa era mais ou menos semelhante. Ambos diziam ter a Palavra do Senhor, ambos falavam em seu nome, ambos eram conhecidos pelo mesmo nome, isto é, profeta, ambos insistiam que eram chamados por Deus, ambos se opunham fortemente um ao outro.
Quem estava com a razão? De que lado iremos ficar? Como saber? Como distinguir o verdadeiro do falso? Este será nosso desafio neste estudo e, com certeza, é o desafio de nossa vida.
I - Como surgiram os falsos profetas?
Esta será a primeira questão que iremos tratar. Vamos verificar o nascimento do falso profetismo em Israel. Verificaremos as causas que fizeram com que tais profetas ficassem conhecidos na história bíblica como falsos profetas. O que os seduziu para que viessem a enganar o povo de Israel? De onde surgiram os falsos profetas?
Do meio dos profetas
Não há dúvida de que os falsos surgiram do meio dos verdadeiros. Paulo, quando escreve aos presbíteros da Igreja de Éfeso, afirma: "... dentre vós mesmos se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles" (At 20.30).
Eles nasceram do convívio com os profetas. Por que se tornaram falsos profetas? Alguns, com certeza, movidos pelo interesse (Mq 3.11; Ez 13.19), pelo desejo de agradar os homens (1Rs 22.6); outros, pela imoralidade (Is 28.7).
Da religião do estado
A monarquia de Israel governava, muitas vezes, segundo os moldes do mundo pagão. Muitos não levaram a sério a orientação de Deus (Dt 17.14-20).
O governo de Israel, nas mãos do rei, muitas vezes se tornou déspota, tirano e sanguinário. Os reis, no desejo incontrolável de aumentar o poder, deixaram de lado as orientações de Deus e oprimiam o povo para terem regalias e para se manterem no poder.
Para esse fim, contavam com a colaboração de "profetas de confiança" que falavam somente aquilo que o rei queria ouvir e que mantinham o povo satisfeito, isto é, submisso, mesmo diante da opressão e do distanciamento de Deus. Assim, esses profetas erraram porque não falavam o que Deus queria, mas o que o rei queria (1Rs 22.6-28).
Estes profetas se tornaram oportunistas, aproveitando o status que tinham. Sabiam que, enquanto agissem assim, estariam bem, teriam favores, postos importantes, riquezas.
Sua tarefa era dizer "SIM" à vontade do monarca. Diante desse fato, o profeta se tornava falso pois tinha que profetizar apenas ilusões (Is 30.10), imaginações de seus próprios corações (Jr 23.16).
Falavam em nome de Deus mas, na verdade, Deus não lhes havia falado. Eram, portanto, mentirosos (Ez 22.28). Sendo servos do rei, faziam como diz o ditado popular "quem me paga, me manda" ou "quem quiser ser meu patrão, me ofereça mais dinheiro".
Falsa interpretação da eleição de Israel
Os falsos profetas se ancoravam numa falsa visão da eleição e da aliança. Porque Deus havia escolhido a Israel no passado, nas antigas gerações, agora poderiam viver da maneira como quisessem.
Os falsos profetas faziam o povo ficar vivendo apenas do passado, apenas da história. Ensinavam que não importava a forma dissoluta e corrupta em que eles vivam agora, afinal, "o nosso Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó".
Eles achavam que isso já era o suficiente. Eles davam uma esperança enganosa ao povo.
Diziam: "Deus está no nosso meio, nenhum mal nos sobrevirá" (Mq 3.11; Jr 5.12). Não foi isto o que os Judeus disseram a Jesus em João 8?
Esta má interpretação da eleição fazia com que pregassem mensagens mentirosas. Eles achavam que o pecado não traria o juízo de Deus e, assim, faziam o povo se desviar do caminho do Senhor (Jr 6.14; 8.11; 23.27).
Estes profetas achavam que sua religiosidade fria, mecânica e destituída de vida os manteria para sempre. Criam que Deus era obrigado a salvá-los, mesmo que continuassem no mau caminho. Eles diziam: "Deus não nos entregará nas mãos dos nossos inimigos" (Jr 27.14).
II - Critérios para se descobrir o falso profeta
Os profetas do Senhor se insurgiram contra a falsidade dos demais que profetizavam coisas do seu próprio coração, fruto da imaginação e aquilo que lhes trazia benefícios.
A Palavra de Deus nos mostra alguns critérios para que possamos verificar se a palavra de um profeta era verdadeira ou falsa. No livro de Deuteronômio, já temos algumas maneiras de fazer a distinção (Dt 13.1-5; 18.20-22).
Atualmente não existem profetas como os do Antigo Testamento, o que já é um critério para sabermos da veracidade das palavras de alguns no nosso meio que dizem tão constantemente: "o Senhor me disse, o Senhor me falou..."
O que mais podemos usar como critério para avaliar uma mensagem:
Mensagem que desvia o homem de Deus
Quando a mensagem afasta o ser humano de Deus, aí está um critério para se julgar a veracidade da palavra do pregador. Esta é uma mensagem perigosa, uma vez que é um convite para a desgraça. Deixar o Senhor é a ruína do homem (Jr 23.27; 28.16; 29.32; Is 9.15,16).
O caráter é reprovável
O comportamento do profeta também era um indício para se julgar a veracidade de sua mensagem. A vida do profeta deveria refletir uma vida de conduta correta diante de Deus.
Como podemos verificar, muitos falsos profetas viviam uma vida devassa. Eram amantes do vinho, da imoralidade, da violência, da mentira e do suborno (Is 28.7; Jr 23.14; 29.23). Se vivia uma vida de devassidão, como poderia chamar o povo ao arrependimento? O mesmo podemos dizer de pregadores modernos.
Não repreende o pecado do povo
Os falsos profetas viviam pregando a "paz", dizendo que o mal não os alcançaria. Como pregar uma mensagem de paz, quando o povo está distante de Deus, em pecado?
Na verdade, os profetas mentirosos não repreendiam a infidelidade do povo. Suas mensagens não levavam o povo ao arrependimento. Eles não tocavam no erro, na ferida, deixavam o povo viver na rebeldia de seu coração.
Quando o profeta não denuncia o pecado, não fala contra a injustiça, permite que a mentira sobressaia, que o mal impere sobre o bem, este é falso profeta (Jr 23.17; 28.8-9; Mq 3.5). Da mesma forma, o falso pregador.
Precipitação no falar
Uma coisa muito importante para o profeta é saber ouvir. Ele não deve falar apressadamente, deve ouvir, cuidadosamente, a mensagem do Senhor e, só depois, comunicá-la ao povo (1Sm 3.10).
Ouvir é a primeira tarefa do profeta, interpretar a segunda e transmitir a terceira. Mas, se não ouvir corretamente, como dará sequência aos demais passos? Os profetas sabiam que haviam espíritos mentirosos, sabiam também da tendência do ser humano para se mostrar diante dos outros, a vaidade humana, o egoísmo.
Todas essas coisas da carne podiam levar o profeta a falar aquilo que era apenas sua imaginação e que Deus não havia falado (1 Rs 22.22; Jr 23.16). A mensagem do profeta deveria estar de acordo com os princípios que o próprio Deus havia determinado em relação ao culto, à vida em comunidade e à vida moral.
Pregar uma mensagem que contrariasse aquilo que Deus já havia determinado, era um critério seguro para dizer que tal profeta era falso. A mesma verdade aplica-se ao pregador dos nossos dias.
Não cumprimento de suas profecias
Enquanto os verdadeiros profetas eram conhecidos porque suas palavras eram homologadas por Deus, o falso profeta podia ser conhecido pelo não cumprimento da sua palavra.
Já em Deuteronômio, nota-se que uma das formas de se descobrir a farsa de um profeta era o cumprimento da profecia. Os profetas do Senhor, que realmente viviam de acordo com sua vontade, que experimentavam a comunhão íntima com Deus, tiveram suas palavras, na verdade Palavra de Deus, cumpridas no tempo determinado.
Só os profetas verdadeiros podiam dizer como Micaías: "Se voltares em paz, não falou o Senhor, na verdade por mim. Disse mais: Ouvi isto, vós, todos os povos!" (1Rs 22.28). Somente do profeta do Senhor as pessoas diziam: "Então disse a mulher a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é a verdade" (1Rs 17.24).
E ainda como foi dito a respeito de Samuel, "Crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor." (1Sm 3.19,20).
Veja ainda os seguintes textos: 1 Sm 9.6; Jr 20.1-6; 28.15-17; Ez 12.21-28. Não se pode dizer o mesmo dos pregadores atuais porque eles, certamente, não são como os profetas do período do Antigo Testamento. No entanto, deve-se observar aquele que prega a Palavra com convicção, manifestando todo o desígnio de Deus ao povo.
Não intercediam pelo povo
Uma das características marcantes do profeta do Senhor era sua solidariedade para com o povo. Embora o verdadeiro profeta repreendesse o pecado, jamais deixou de interceder, de se colocar como mediador, de suplicar o favor de Deus e o seu perdão.
O falso profeta não intercedia pelo povo. Ele não intercedia porque não reconhecia o pecado, portanto, não tinha como interceder. Esta falta de intercessão, levava os verdadeiros profetas a concluírem que tais profetas eram falsos (Jr 14.11; 18.20; 27.18; Ez 22.28-31; Am 7.2-5).
No tempo dos profetas havia uma infinidade de profetas movidos por interesses os mais estranhos possíveis. Não faltava quem desejasse a promoção pessoal, o status, o dinheiro, a falta de compromisso com Deus, geradora de uma interpretação equivocada da aliança e da própria eleição de Israel. Muitos eram profetas apenas por conveniência.
Ser profeta e amigo do rei e das autoridades sempre foi um bom negócio. Muitos eram profetas apenas por profissão, não por vocação, por chamado, faltando-lhes o verdadeiro amor pelo povo.
Eram, tão somente, amantes das riquezas, da vida fácil, de empreendimentos gigantescos e diziam somente aquilo que agradava, que estava na moda, que era interessante e bom para as autoridades, governantes e povo em geral.
Não falavam do pecado, da apostasia, da violência, do crime, do adultério, mensagens que nunca foram populares e nunca serão.
Em face do ensinamento bíblico, não é esta a realidade que vivemos e que leva muitas pessoas a entrarem para a religião? A religião não tem sido, hoje, uma fonte muito grande de lucro? Muitos não tem transformado igrejas em verdadeiras empresas, geradoras de dinheiro?
Qual deve ser a postura do cristão em face à falsidade que temos presenciado? Como fica o povo diante de tanta confusão? Como difundir o evangelho, quando o título de "cristão" está tão desgastado?
Vivemos um tempo de incertezas, de dúvidas, de falsos profetas mas, nosso referencial seguro sempre foi a Palavra de Deus. Temos como testemunha a história, a vida dos nossos ancestrais que, de maneira sábia, iluminados por Deus, sistematizaram as doutrinas de maneira bíblica.
Acima de tudo, não podemos nos esquecer das Escrituras, devemos estudá-las com todo afinco a fim de que possamos pregar uma mensagem pura e, sobretudo, não sermos enganados por modismos e por mensagens enganadoras.
Autor: Luiz Henrique Filho