Neste estudo, abordaremos dois livros proféticos que estão separados cronologicamente pelo espaço de 150 anos. Miquéias antecedeu Naum em suas profecias. Verificamos que Deus não está alheio aos males existentes no mundo e que, no momento próprio, Ele os corrigirá.
1. Informações gerais
Miquéias profetizou nos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias. Entre os reis foram anotados os atos de Jotão e Ezequias como retos diante do Senhor, porém, Acaz foi mau e idólatra.
Miquéias dirigiu a sua mensagem profética a Samaria e Jerusalém, as capitais do reino do Norte e do Sul, respectivamente. Ele predisse a destruição de Samaria (Mq. 1:6) e de Jerusalém (Mq. 3:12) e também predisse o lugar exato onde Jesus iria nascer (Mq. 5:2), isto 700 anos antes do acontecimento.
Naum dirigiu a sua mensagem à cidade de Nínive. A sua missão profética foi diferente de Jonas que, 150 anos antes havia pregado o arrependimento. Naum levantou-se para anunciar a condenação e destruição de Nínive.
A profecia da destruição também foi mencionada pelo profeta Sofonias (Sf. 2:13-15). O profeta condenou Nínive, mas trouxe palavras de consolação para o seu próprio povo (Na. 1:12-13).
2. Livro de Miquéias
Vejamos alguns aspectos para a nossa compreensão do livro:
a) Denúncias
O profeta descreve nos três primeiros capítulos os problemas de idolatria e corrupção. Samaria como capital de Israel, o reino do Norte, tornara-se comprometida com o pecado. O povo havia adotado práticas idólatras dos cananeus, sírios e assírios. Deus havia enviado os profetas Elias, Eliseu e Amós para fazê-los abandonar os ídolos. Tudo foi em vão.
Além de serem idólatras (Mq. 1:5-7) as classes governantes eram impiedosas (Mq. 6:11-12). No capítulo 7 o profeta Miquéias aponta a grande corrupção moral de Israel. Também Jerusalém estava corrompida com o pecado da liderança política (Mq. 3:10-11), e religiosa.
b) Consolo
Em meio à corrupção e idolatria, o profeta vislumbra um reino glorioso em Sião. Em contraste com o castigo que viria sobre Sião, Miquéias tem uma visão da supremacia da casa de Deus (Mq. 4:1-3). A profundidade da visão profética não permite analisarmos aqui todos os aspectos, porém queremos destacar:
- as nações buscarão a Deus por não encontrarem solução para os seus problemas;
- Sião se tornará o centro decisório da terra;
- A palavra do Senhor será lei universal e todas as nações viverão em paz.
O maior consolo divino está no capítulo 5 onde é anunciada a visão do Messias. O governante eterno, que nasceria em Belém (Mq. 5:2), apresenta as mesmas características do menino anunciado pelo profeta Isaías (Is. 9:6-7). O povo aflito começou a alimentar a esperança viva de um libertador.
c) Restauração
Apesar das denúncias constantes que o profeta fez contra o seu povo, mesmo com a esperança de um consolador num futuro indefinido, encontramos uma mensagem de restauração.
Miquéias lamenta a traição e violência, mas ele anuncia o tempo futuro em que Deus e o seu povo serão reconhecidos pelas nações e as promessas feitas a Abraão e David serão cumpridas plenamente.
A conclusão do livro contém a maravilhosa promessa do perdão divino (Mq. 7:18-20). Deus perdoa e esquece dos pecados, lançando-os nas profundezas do mar. O pecado foi denunciado e combatido com veemência, mas a benignidade do Senhor iria restaurar o restante da herança (Mq. 7:18) e as promessas seriam cumpridas.
3. Livro de Naum
A mensagem de Naum contém a condenação divina sobre a cidade de Nínive, corrompida e idólatra. Assim como Deus demonstrou-se misericordioso quando a cidade ouviu a pregação do profeta Jonas (Jn. 4:10-11), agora, 150 anos mais tarde, veio a revelação da ira divina por causa da impiedade (Na. 1:3).
Podemos apontar estas lições:
a) Condenação do pecado
O profeta Naum apontou a maldade dos assírios e da cidade de Nínive como algo atroz e desumano. Deus não permitiu que perdurasse a impiedade porque demonstrou-se zeloso (Na. 1:2). O sangue inocente era derramado e as nações aniquiladas pelo poderio militar assírio (Na. 2:11-13).
Também o profeta denunciou o comércio sem escrúpulo dos ninivitas (Na. 3:1). As nações vizinhas eram corrompidas pelos conquistadores e as pessoas vendidas como escravos (Na. 3:4).
A política assíria era deportar os povos conquistados para outras terras de modo a extinguir neles o sentimento nacionalista e assim sujeitá-los mais facilmente.
Os assírios eram temidos pela crueldade que aplicavam nos povos vencidos: esfolavam vivos seus prisioneiros, cortavam-lhes as mãos, os pés, ou lhes vazavam os olhos, até mesmo arrancando a língua.
O profeta apresentou a mensagem como juízo divino sobre a maldade (Na. 3:5). As nações iriam suspirar de alívio com a derrota assíria (Na. 3.19), tal era a sua fama brutal. A queda de Nínive aconteceu no ano 618 a.C. mais ou menos 20 anos depois da profecia de Naum.
b) Juízo de Deus
A intervenção divina na história assíria é uma explicação clara dos propósitos misericordiosos e justos de Deus.
Nínive tivera uma grande oportunidade de arrependimento com a mensagem de Jonas, mas agora Deus estava enviando julgamento por causa da constante maldade. Deus é misericordioso, mas não inocenta o culpado (Na. 1:3; 2:13).
Diante do juízo divino o poderio militar assírio e as fortificações da cidade seriam aniquiladas (Na. 1:12). O profeta comparou Nínive a Nô-Amon (Na. 3:8-10) ou chamada Tebas, uma cidade do Egito. Assim como Nínive havia destruído a poderosa e fortificada cidade de Tebas, agora o juízo divino destruiria a orgulhosa Nínive.
Verificamos em outros textos bíblicos esta mesma verdade do juízo divino sobre a maldade e orgulho humanos (Gn. 6:5; 18:20-21; Mt. 7:22-23).
c) Consolo a Judá
O profeta anunciou a destruição dos assírios mas ao mesmo tempo reafirmou a misericórdia divina em relação a Judá; “eu te afligí, mas não te afligirei mais" (Na. 1:12). Agora Judá poderia celebrar as festas sem o pavor da invasão assíria tão cruel e arrasadora (Na. 1:15).
Por ocasião da profecia em estudo, o reino de Israel e a sua capital Samaria, já tinham sido arrasados pelos assírios, mas agora Deus intervém e julga a impiedade decretando o extermínio deles. O Império Babilônico se levantou para subjugar a poderosa Nínive.
O apelo do profeta é para que Judá celebre as festas e cumpra os votos diante do Senhor (Na. 1:15) para que a ira divina se aplaque e seja manifestada a misericórdia (Sl. 2:1-12). Judá seria beneficiado com a destruição dos assírios, mas devia voltar-se para Deus e cumprir os votos com fidelidade.
Conclusão
Os dois profetas, Miquéias e Naum, revelaram a severidade divina diante do pecado e a misericórdia diante do arrependimento e lealdade. Estas lições históricas devemos gravar em nossos corações (Mq. 6:8; Na. 1:12).
Autor: Rev. Oswaldo Hack