O clamor por justiça: A poderosa mensagem contra a opressão dos pobres - Estudo Bíblico sobre o livro de Amós

O estudo do livro de Amós identifica um período difícil do Reino do Norte, mais conhecido como Israel. O Reino do Sul, chamado Judá, tinha alguns problemas de relacionamento político-religioso com o Reino do Norte, desde o tempo da divisão provocada pelo rei Roboão (I Rs. 12:16-19).

Portanto, Judá e Israel criticavam-se mutuamente e os profetas de um reino não eram bem recebidos pelo outro.

O que vamos descobrir neste estudo é que Deus exige a justiça no relacionamento humano, mesmo daquelas nações que se afastam dos retos caminhos ou que são pagãs. Ora, se Deus exige justiça dos pagãos muito mais exigiria da casa de Israel.

Eis a razão do apelo dramático do profeta Amós: “prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus" (Am. 4:12).

1. Informações gerais

O profeta Amós realizou o seu ministério, provavelmente no ano 760 aC, no tempo do reinado de Jeroboão II (Am. 1:1). Ele foi contemporâneo dos profetas Jonas, Miquéias e Isaías.

Embora homem do campo, como boieiro e colhedor de figos bravos ou sicômoros (Am. 7:14), sentiu o chamado de Deus e aceitou o desafio de entregar a mensagem ao povo de Israel. Revelou-se modesto e humilde, porém, grande conhecedor das Sagradas 'Escrituras e as citou com muita precisão (Am. 2:10 vide Dt. 29:5; Am. 4.6-10 vide Dt. 28:22).

A mensagem de Amós foi tão marcante para a história israelita que seu reflexo chegou até o Novo Testamento. Estevão em seu sermão vibrante recorda a mensagem de Amós (At. 7:42-43 vide Am. 5:25-27) e também Tiago aplica o texto do profeta em seu parecer perante o colégio apostólico (At. 15:16-18 vide Am. 9:11-12).

Amós demonstrou conhecimento sobre a história do povo israelita e também origens e feitos das nações circunvizinhas.

A vivência com os mercadores e as caravanas que passavam pela região permitiu a Amós uma visão político-social do período decadente e desmoralizante em que vivia. Ele profetizou com severidade e apontou os mais graves pecados no relacionamento das pessoas: exploração, desonestidade e injustiças.

2. Conteúdo do livro

O livro de Amós pode ser visto como mensagem de exortação e condenação devido as injustiças praticadas por Israel e as demais nações. Destaquemos dois pontos:

a) Profecias contra Israel

A cidade de Samaria era a capital de Israel, o reino do Norte. Ela ocupava um lugar geográfico importante pois se constituía o ponto de encontro dos mercadores que viajavam entre a Mesopotamia e o Egito.

Ali se reuniam as caravanas vindas de várias partes do mundo oriental e Samaria tornou-se o empório de mercadorias como centro comercial importante.

A prosperidade comercial de Samaria proporcionou uma vida luxuosa e muitas edificações foram realizadas.

O profeta menciona as “casas de verão”, “casas de inverno", “casas de marfim” (Am. 3:15), os palácios cheios de tesouros mal adquiridos (Am. 3:10).

A oportunidade de enriquecer tornou os comerciantes ansiosos para aumentar seus lucros, tanto por meios honestos, como por medidas desonestas.

Os ricos príncipes comerciantes se tornaram desmoralizados, corruptos e injustos; os pobres eram oprimidos e maltratados. Os próprios juízes eram influenciados pelo suborno e criavam uma sociedade injusta (Am. 8:6).

A vida religiosa também se constituía uma profanação. Os samaritanos de Betei e Gilgal estavam cheios de adoradores, porém, a injustiça continuava no relacionamento pessoal.

b) Profecias contra outras nações

Amós proclamou uma condenação geral da região inteira, constituída de oito nações: Síria, Filistia, Fenícia, Edom, Amom, Moabe, Judá e Israel. Chamou a juízo cada uma delas com a mesma frase: “Por três transgressões e por quatro”, especificando as transgressões particulares de cada uma (Am. 1:3 até 2:16).

A expressão “por três transgressões” queria dizer “por muitos crimes" ou "crime sobre crime". O profeta denunciou os crimes e proclamou o juízo divino sobre a impiedade das nações.

As nações denunciadas sofreram as consequências de seus próprios pecados, cometidos através de massacres e sacrilégios.

3. Mensagem profética

Diante de todas as calamidades, o profeta levanta a sua voz firme e convicta para denunciar o pecado.

O rei de Israel ficou irado com as condenações de Amós porque o sacerdote Amazias lhe informara que o profeta estava conspirando contra o rei e o povo (Am. 7:10-11). O sacerdote chegou a expulsar Amós da cidade porque não concordava com as profecias de condenação (Am. 7:12-13).

Estudemos a ênfase de Amós em sua mensagem:

a) Injustiças sociais

Entre os pecados apontados o profeta denunciou a escravidão: “vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sapatos” (Am. 2:6). Outra mensagem do profeta denunciava a cobiça.

Os ricos comerciantes e os príncipes exploravam os pobres. Era costume o pobre lançar sobre a sua cabeça um punhado de poeira como sinal de sua miséria, mas o ganancioso senhor de terras desejava até aquela poeira, tal era a cobiça de terra, demonstrada pelos ricos (Am. 2:7).

Os ricos entesouravam em seus palácios a violência e a destruição (Am. 3:10); os poderosos e ambiciosos pervertiam o caminho dos mansos (Am. 2:7) e não havia justiça nos tribunais (Am. 5:11-12).

A luxúria havia tomado conta das mulheres de Samaria e o profeta Amós as apelida de "vacas de Basã" (Am. 4:1). As mulheres opulentas e gananciosas foram compradas com as gordas vacas de Basă, lugar famoso por suas pastagens (Dt. 32:14; Ez. 39:18). Elas viviam luxuosamente e pisavam os pobres, oprimindo-os.

As injustiças sociais foram denunciadas desde os tempos do Éden pois Deus responsabilizou Caim pela agressão ao seu irmão Abel (Gn. 4:9-11). Há inúmeros textos bíblicos instruindo sobre a justiça e amor ao próximo (Lv. 19:18; Mt. 5:43; Tg. 2:8-9) e também contra as injustiças sociais (Tg. 5:1-6).

b) Formalismo religioso

O profeta Amós combateu o ritualismo de Israel. Os adoradores observavam com rigor as festas, mas a vida espiritual deles estava comprometida com o pecado (Am. 4:4-5). Mais tarde o mesmo pecado foi denunciado por Isaias, com referência ao reino de Judá (Is. 1:10-17).

Deus desprezava o culto vazio (Am. 5:21-27). Era mais salutar a prática da justiça do que o cântico de louvor. A religião desvinculada da vida moral e da sinceridade pessoal tornava-se um prejuízo em vez de louvor a Deus.

Jesus Cristo fez uma advertência muito pesada aos fariseus (Mt. 23:13-26) porque zelavam por religião aparente mas sem espiritualidade. O ser humano está sempre preocupado em fazer aquilo que aparece e impressiona. Ele julga as coisas pela aparência, mas Deus julga o homem pelo que ele é em si mesmo (I Sm. 16:7).

Conclusão

Apesar da mensagem de condenação, o profeta Amós foi instruído a levar o apelo ao arrependimento (Am. 5:14) para a restauração final de Israel (Am. 9:11-15).

A justiça divina foi aplicada para desmascarar o mal e responsabilizar os homens na vida social e religiosa. Deus combate incessantemente o pecado mas está sempre convidando o pecador para uma nova vida (Lc. 15:20,32).

Autor: Rev. Oswaldo Hack

Semeando Vida

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