O orgulho precede a queda: A história de dois profetas e duas nações inimigas – Estudo Bíblico sobre Obadias e Jonas

Texto básico: Obadias, 1:10-14; Jonas, 1:1-17

Neste estudo, abordaremos a vida de dois profetas que, embora vivessem em épocas diferentes, enfatizaram o problema do orgulho racial e também da inveja, que levou ao antissemitismo. Importantes lições podemos extrair para nossos dias pois há muitos preconceitos que atrapalham a convivência social e religiosa.

1 - Informações gerais

O profeta Jonas viveu 200 anos antes de Obadias e exerceu o seu ministério profético na época de Amós e Isaías. Jonas não conseguiu entender o plano divino e por isso tentou fugir quando foi desafiado a pregar o arrependimento em Nínive.

Os assírios se constituíam num poderoso povo e Nínive, a capital do império, continha 120 mil habitantes (Jn. 4:11). Os feitos de Jonas são mencionados por Jesus Cristo (Mt. 12:39-41) como prova cabal do plano divino na busca do gentio para o arrependimento.

O profeta Obadias foi contemporâneo de Jeremias e Habacuque. A mensagem principal do livro é o enfoque do ódio dos edomitas contra Judá. Ele viveu na época de destruição de Jerusalém e por isso viu o cumprimento das profecias (vers. 11-14).

Os edomitas eram descendentes de Esaú (Gen. 36:1-9). Desde criança Esaú (Edom) e Jacó (Judá) lutavam entre si, como se fossem duas nações (Gn. 25:22-23). Em outros textos bíblicos vemos referências aos edomitas (Ml. 1:2; Rm. 9:13; Hb. 12:15). No livro de Obadias a atitude dos edomitas foi considerada orgulhosa e impiedosa.

2 - Livro de Obadias

Estudemos primeiro o livro de Obadias para seguir a ordem dos livros conforme estão colocados na Bíblia. Eis alguns destaques básicos:

a) Obadias é o menor livro do velho testamento

Ele contém somente 21 versículos, porém, resume uma mensagem clara e vibrante. Podemos colocar Obadias ao lado dos chamados "profetas maiores” que foram responsáveis por extensas mensagens. O importante é que o profeta cumpriu a sua missão e a profecia revelou a vontade divina.

b) O pecado dos edomitas foi claramente denunciado por Obadias

Nos versículos 1-9 a humilhação de Edom foi decretada por causa da vaidade pecaminosa (vers. 3-4). O castigo seria impingido porque Edom tinha cometido violência contra o seu irmão Jacó, a ponto de encobri-lo de vergonha (vers. 10-14).

Alguns comentaristas bíblicos admitem que Edom tenha participado no saque a Jerusalém por ocasião, da invasão babilônica (II Rs. 24:2; Ex. 35:5-15).

Os edomitas dominados pelo ódio, chegaram a ajudar os inimigos de Judá a destruírem Jerusalém. A condenação proferida contra Edom foi tão dura que Deus determinou o extermínio (v. 10) como retribuição pela maldade praticada (v. 15).

c) O profeta que denunciou o ódio e proferiu a sentença de condenação contra Edom, encerrou o seu livro com uma mensagem de restauração

No "dia do Senhor”, a casa de Jacó será restaurada (v. 18). O vers. 17 anunciava um futuro vitorioso com livramento, santificação e recuperação das herdades. Tudo acontecerá gloriosamente com a intervenção divina no monte de Sião e “o reino será do Senhor" (v. 21).

3 - Livro de Jonas

O entendimento da mensagem profética está relacionado com o contexto histórico, que precisamos considerar.

a) Contexto histórico

Jonas profetizou na época de Jeroboão II, o rei perverso e idólatra (II Rs. 14:25-27). Portanto, o profeta não foi uma figura alegórica ou uma parábola, como muitos pretendem afirmar.

Os judeus, e o próprio Jesus (Mt. 12:40-41) aceitavam a mensagem de Jonas ligada a um contexto histórico. Todos os lugares citados no livro eram lugares históricos, como o porto de Jope, Tarsis, Nínive.

A narrativa do grande peixe também é confirmada por Jesus, como símbolo da sua própria morte (Mt. 12:40-41). Não vemos razão para um ataque à historicidade do livro, uma vez que todos os fatos estão comprovados e citados como exemplos espirituais alguns séculos mais tarde.

b) Mensagem profética

A mensagem que Jonas extraiu de toda a dramática e comovente história que ele viveu, foi o grande interesse de Deus pelos gentios. Jamais o profeta poderia pensar que os gentios incircuncisos e idólatras poderiam merecer a misericórdia divina.

Uma cidade com 120 mil habitantes, totalmente paganizada e constituindo uma ameaça para o povo israelita, agora é merecedora da graça divina (Is.55:8).

Toda a humanidade está no plano de salvação (Jo. 3:16) e não se pode excluir nenhum grupo por antecipação.

O apóstolo Pedro, 800 anos mais tarde, experimentou na mesma cidade de Jope, a dramática experiência de Jonas, ao ser convocado para pregar o Evangelho aos gentios (At. 10:5).

O Cristianismo entendeu que os gentios também são chamados ao arrependimento e por isso Paulo se constituiu o “apóstolo dos gentios". Jesus Cristo sempre combateu a ideia de que os gentios são mais pecadores do que os judeus (Mt. 13:1-5). Aos olhos divinos todos nós somos pecadores sujeitos ao juízo divino (Rm. 3:23).

c) Desobediência do profeta

A experiência de Jonas ainda se repete em nossos dias. O profeta tentou fugir da missão, através de justificativas pessoais, raciais e religiosas. Embora não tivesse manifestado os preconceitos, ele considerava-se “povo de Deus” e não podia admitir que a mesma fé israelita fosse compartilhada com os gentios.

O patriotismo exagerado limitou a visão profética de Jonas. Também o apóstolo Pedro, quando desafiado a pregar aos gentios, considerou uma afronta ao seu sentimento religioso (At. 10:9-16).

Quantas vezes encontramos em nossas Igrejas os Jonas e Pedros que, limitados na visão espiritual, tentam impedir a atuação da misericórdia divina (III Jo. 9-10; Lc. 9:49-50).

Quando os ninivitas se converteram (Jn. 3:10), Jonas ficou desgostoso e protestou (Jn. 4:2-3). Porém, Deus ensinou a Jonas que a vida humana tinha valor inestimável (Jn. 4:10-11) e há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende (Lc. 15:7,10,32).

d) O homem no plano divino

Verifiquemos através do livro de Jonas que Deus manifesta a sua vontade através dos fatos históricos e situações concretas. O Jonas cheio de preconceitos e insubmissão foi usado para revelar que Deus não tem preferências e exige submissão daqueles que O temem.

Nem sempre entendemos o plano divino para nossas vidas e procuramos alterá-lo (Lc. 22:42; II Cor. 12:8), mas o Senhor mostra que há um caminho definido e inalterável, traçado pela providência eterna.

Aqueles que estão nos planos divinos jamais conseguirão fugir de sua face (Sl. 139:7) e por isso a atitude mais prudente é submeter-se à vontade misericordiosa de Deus (Sl. 139:23-24).

Conclusão

Os dois livros proféticos enfocados, oferecem uma visão de duas épocas distintas, mas com mensagens semelhantes, no tocante ao futuro do povo de Deus.

Em Obadias vimos que o Senhor não permite a violência e desprezo contra o seu povo escolhido: em Jonas vimos que o povo de Deus não deve considerar-se superior aos outros povos, mas ser um instrumento de salvação para aqueles a quem Deus chamar.

Autor: Rev. Oswaldo Hack

Semeando Vida

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