Vivemos um período delicado na vida da igreja. De forma geral, a maioria dos cristãos vive de maneira descomprometida.
Temos um ótimo sistema de governo, de doutrinas ortodoxas, temos grandes expositores das Escrituras mas muitos não sabem o que é vida com Deus, não têm compromisso com as verdades da Palavra do Senhor.
Se não voltarmos ao Senhor de maneira integral, conforme nos ensina a Palavra, se não rasgarmos o nosso coração, certamente seremos disciplinados pelo Senhor.
É interessante observar que Deus intervém para que seu povo reconheça a crise e se volte para ele, para a Palavra, para a oração e para o compromisso. O povo precisa aprender a não só buscar as bênçãos de Deus mas, especialmente, o Deus das bênçãos.
Como Abraão deveria ser bênção, o povo de Deus precisa aprender a abençoar. Quando há volta para Deus, então há compromisso com o Senhor e, aí, Deus derrama as chuvas torrenciais sobre sua vinha murcha e seca e a faz brotar com vida, beleza, fragrância e abundância de frutos. Como poderemos assumir um compromisso com Deus?
I - Através da encarnação da verdade
Nada será mais prejudicial para a vida da igreja do que não viver aquilo que prega. É a incoerência na qual, muitas vezes, o povo de Deus vive. As igrejas se enfraquecerão, murchando porque não há coerência entre palavra falada e palavra encarnada, entre a ética bíblica e os padrões éticos dos cristãos. Os ensinos da fé não são vividos.
Uma das coisas que Cristo mais criticou na vida dos fariseus foi a hipocrisia. A eles cabia a frase: "faça o que eu mando mas não faça o que eu faço". Eles atavam fardos pesados sobre os outros e eles mesmos não os desejavam carregar. Suas 'leis' não eram vida, mas fardo, peso e morte.
Sua religião nunca encontrava o caminho da misericórdia. Faltava-lhes o que sobejava em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, isto é, prática.
O pecado do descomprometimento, da vida dupla, do "sou uma coisa na igreja e outra fora dela", tem nos ameaçado. A igreja, em muitos lugares, em muitos casos e, para muitas pessoas, é apenas um "ponto de encontro", nada mais que isso.
Devíamos corar de vergonha. O pecado, para muitos, tem se tornado algo normal, existindo tentativas de racionalizá-lo e justificá-lo. Com isso, estamos perdendo os referenciais.
O que significa encarnar a verdade? Significa viver de acordo com a Palavra de Deus. Quando se encarna a verdade, é porque a Palavra penetrou não apenas nos ouvidos, mas marcou, de maneira indelével, o coração.
Encarnar a verdade significa viver dentro dos parâmetros absolutos da Palavra de Deus. "A Bíblia é a nossa única regra infalível de fé e prática".
A princípio, todos concordam com esse ensinamento mas, temos vivido isso em nosso dia a dia? A Bíblia tem sido nossa diretriz, isto é, temos conduzido nossas vidas sob a orientação da Palavra de Deus?
II - Através da disseminação dos valores do reino
A realização, presença e impacto final do Reino sobre o mundo depende tão somente de Deus e sua vontade soberana. No entanto, Deus escolheu a igreja como o agente para disseminar os valores do Reino sobre a terra.
É, então, responsabilidade da igreja o viver e espalhar os valores do Reino, ser bênção para as nações. Para isto, é necessário que a igreja viva comprometida com os absolutos da Palavra.
Assim, a igreja, luz do mundo, poderá iluminar as trevas. Jesus Cristo disse: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida" (Jo 8.12). Cristo também disse: "Vós sois a luz do mundo." (Mt 5.14).
Quem segue a Cristo não anda mais nas trevas. Recebemos, da parte de Cristo, a luz com a qual temos que iluminar as outras pessoas que se encontram nas trevas.
Como podemos espalhar as verdades sublimes, supremas, transformadoras e libertadoras do Reino de Deus? Somente à medida em que elas estiverem incorporadas em nossa vida.
João Calvino chama isso de "verdadeira vocação". Cada cristão deve viver profundamente a Palavra em seu local de trabalho, onde mora, na sociedade que frequenta, na escola onde estuda, enfim, em todos os lugares, todo o tempo.
Quando Deus chamou a Abrão, Ele disse: "Sê tu uma bênção" (Gn 12.2). Deus não nos chamou apenas para recebermos bênçãos mas para sermos bênçãos. Deus usa seus filhos, seu povo, sua igreja para abençoar àqueles que estão em volta.
Sabemos que sociedades inteiras, nações foram abençoadas e ainda são, porque o povo de Deus agiu com integridade onde o Senhor os havia colocado. Por outro lado, onde o cristianismo começa a se misturar, secularizar e esquecer os valores do Reino, a tendência é de trazer a punição mais severa de Deus.
A pergunta que devemos responder é: Como poderemos ser abençoadores? Disseminando a Palavra de Deus com:
Firmeza doutrinária
Há muitos mercadores ambulantes, oferecendo as últimas novidades a respeito da fé. Há ventos e ventos de doutrinas, isto é, doutrinas que passam como vento; algumas como ventos tão fortes que causam muitos danos. Nossos dias estão sendo marcados pelos desvios doutrinários.
Os mercadores tem aproveitado os tempos da livre iniciativa de mercado e, através do mercantilismo, tem disseminado muitas heresias. Por isso, é tempo de permanecermos firmes na doutrina.
Intimidade com Deus
A Bíblia diz que, quando Jesus chamou os seus discípulos, os chamou para estarem com Ele, para manterem comunhão com Ele e, só depois, os enviou a pregar, só depois os enviou a fazer a Sua obra.
O profeta Jeremias nos lembra da necessidade de buscar a Deus com intensidade, com ardor, com paixão e coisas grandes e ocultas Deus estará nos mostrando, segundo a Sua Santa Vontade:
Jeremias 33.3
Invoca-me, e te responderei; anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes.
O profeta Ezequiel recorda que Deus buscou alguém que estivesse em comunhão com Ele, que se colocasse na brecha e intercedesse para que a terra não fosse destruída mas não encontrou ninguém:
Ezequiel 22.30
Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei.
III - Através do serviço cristão
Cristo nos ensina a ver, a sentir e agir em direção das necessidades do nosso próximo, sem limites para a palavra próximo. O ministério de Jesus se desenvolve dentro desse diapasão.
Veja os textos: Mt 9.36; 14.14; 15.32; Mc 1.40,41; 8.2,3; Lc 7.11-14. Tanto com indivíduos em particular ou em se tratando de multidão, a estratégia de Jesus era a mesma. O verdadeiro amor sempre está observando com atenção e, nesse caso, os olhos de Jesus jamais estiveram fechados.
Não apenas via com os olhos a superfície, mas olhava para dentro das reais necessidades das pessoas. Não era apenas uma questão de paternalismo, mas de atender pessoas reais, em circunstâncias reais e com necessidades reais.
Cristo nos ensina que amor não é sentimento, mas serviço. Amar é servir ao nosso próximo, mesmo que tal serviço nos leve ao sacrifício. O apóstolo João nos diz: "devemos dar a vida pelos irmãos" (1 Jo 3.16).
Não quer nos ensinar o apóstolo que devemos fazer atos espetaculares mas, simplesmente, atos de serviço, mesmo que sejam anônimos, mesmo que passem despercebidos porque, diante de Deus, com certeza, serão atos heróicos. João diz que quem não ama assim não pode ter o amor de Deus.
João não aprendeu essa maneira de amar nos discursos de filosofia, mas na prática de seu Mestre, Jesus Cristo.
Conclusão
É hora de assumir compromisso. É nosso dever praticar a verdade. Deus coloca desafios diante de nossos olhos. Não podemos seguir a Cristo de longe como fez, em certa ocasião, o apóstolo Pedro. Essa atitude nos levará à queda.
Para alguns, o cristianismo ensinado por Jesus inspira amor mas não justiça; oferece alívio aos sofrimentos, mas não desafios.
Quantos não querem servir a Cristo gritando o evangelho à distância para pessoas distantes, mas não querem se envolver com suas reais necessidades, não querem ajudar e ocupar-se com pobres, viúvas e órfãos. Essa atitude pode até parecer espiritual, mas não é genuinamente cristã.
Precisamos impactar o mundo e isso não pode ser feito apenas com belos discursos. Precisamos de prática, precisamos conhecer a intimidade de Jesus e, por meio desse conhecimento, pavimentar os caminhos que nos levam a ficar cara a cara com as pessoas e suas reais necessidades.
A pergunta que você precisa fazer a si mesmo é essa: Eu estou realmente preparado para isso? É esse o cristianismo que eu abracei? Estou pronto para servi-lo integralmente ou só no fim de semana?
Seguir a Cristo implica em ser de Cristo em todos os momentos, implica em fazer de nossa atividade, seja ela qual for, um meio de proclamar a mensagem da salvação. Significa não apenas ver a necessidade, mas sentir e agir sobre ela. Que Deus nos ajude! Amém.
Autor: Luiz Henrique Filho