Quem nunca olhou para um céu estrelado ou para a imensidão do oceano e se sentiu pequeno, maravilhado com a grandeza de um Criador?
A natureza nos fala de um poder, de uma inteligência e de uma beleza que apontam para Deus.
Era o plano original de Deus que o mundo fosse nossa primeira escola, nos ensinando sobre Seu amor e nos guiando para Ele.
Mas, após a queda, algo se quebrou. Agora, quando olhamos para a mesma criação, a experiência é diferente. Vemos beleza, mas também vemos "espinhos e abrolhos". Vemos vida, mas também vemos morte e decadência.
A própria natureza, que deveria ser um caminho claro para o Pai, parece agora nos mostrar também a maldição de Deus sobre um mundo caído.
Pior ainda, quando olhamos para dentro de nós mesmos, nossa consciência nos acusa. Sabemos que, por causa do nosso pecado, merecemos ser rejeitados por um Deus santo.
O conhecimento de Deus como Criador, por si só, agora nos leva mais ao desespero do que à esperança. Ele parece distante, um juiz, e não um pai.
Se o Deus Criador parece tão distante por causa do nosso pecado, como podemos nos reconectar com Ele como um Pai amoroso?
É aqui que a "loucura da pregação" da cruz, como Paulo a chama, se torna a única sabedoria que pode nos salvar. A pergunta que nos guiará é: por que, após a queda, o conhecimento de Deus como Criador é insuficiente, e Cristo se torna o único caminho de volta para casa?
1. A criação agora revela nossa separação
No seu estado original, o universo era um espetáculo glorioso que refletia perfeitamente a sabedoria de Deus.
Era um livro aberto que nos ensinava sobre nosso Criador e nos convidava a um relacionamento com Ele. Mas quando Adão pecou, essa conexão direta foi cortada.
A criação não mudou, mas nós mudamos. Nosso entendimento ficou tão cego pela queda que não conseguimos mais ler a mensagem de Deus corretamente.
Olhamos para Sua obra e, em nossa ingratidão, O privamos da glória que Lhe é devida. E, pior, a própria criação agora geme sob o peso da maldição do pecado, como Paulo nos diz em Romanos 8.
É como caminhar pelas ruínas de um belo palácio. Você ainda pode ver vestígios da antiga glória, mas o que domina a paisagem é a destruição e a perda.
Da mesma forma, a criação ainda mostra vislumbres da glória de Deus, mas agora ela também testifica da nossa rebelião e da maldição que trouxemos sobre ela.
Por isso, o apóstolo Paulo afirma que "o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria" (1 Coríntios 1:21). A sabedoria da filosofia e a observação da natureza não foram suficientes para levar a humanidade de volta a Deus.
Se quisermos voltar ao nosso Criador, de quem nos afastamos, precisamos de um novo caminho, um novo professor. Precisamos abraçar humildemente a pregação da cruz, que nos apresenta Deus não apenas como Criador, mas como Redentor.
Romanos 8:20-22
Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.
Aplicação
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Não pare na criação, vá para a cruz: Quando você apreciar a beleza da natureza, não termine sua adoração ali. Use a majestade da criação para lembrá-lo da santidade do Criador e, consequentemente, da seriedade do seu pecado que o separa Dele. Deixe que o pôr do sol o leve a pensar no sangue de Cristo, o único que pode reconciliá-lo com esse Deus santo.
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Reconheça a cegueira do coração natural: Entenda por que pessoas brilhantes e inteligentes podem olhar para o universo e não ver a mão de Deus. Não é uma falha de intelecto, mas uma cegueira espiritual. Isso deve gerar compaixão e um senso de urgência para compartilhar a única luz que pode abrir os olhos: o evangelho de Jesus Cristo.
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Abrace a "loucura" do evangelho: Para o mundo, a ideia de que Deus se tornou homem e morreu em uma cruz para nos salvar é loucura. Pare de tentar tornar o evangelho mais "palatável" ou "racional" para a mentalidade do mundo. Abrace sua mensagem única e radical, pois nela reside o poder de Deus para a salvação.
2. A salvação sempre teve um nome: Jesus
Desde o momento em que Adão e Eva pecaram no jardim, a humanidade precisou de um Mediador. Ninguém jamais pôde se aproximar de um Deus santo por conta própria.
Jesus deixou isso claro quando disse: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). Ele não estava falando apenas para seus discípulos, mas para todas as épocas.
É um erro pensar que o acesso a Deus sem Cristo é possível para qualquer pessoa, em qualquer tempo. As Escrituras são claras: Cristo é a única porta (João 10:9).
Qualquer religião ou filosofia que tente chegar a Deus por outro caminho está, como disse Jesus à mulher samaritana, adorando "o que não sabe" (João 4:22). A salvação sempre esteve ligada à promessa do Redentor.
Por isso, o apóstolo Paulo descreve os gentios, antes de ouvirem o evangelho, como estando "sem Cristo, separados da comunidade de Israel... sem esperança e sem Deus no mundo" (Efésios 2:12).
Isso não significa que eles não tinham alguma noção de um ser superior, mas que não tinham um relacionamento salvífico com Ele, pois estavam separados do único Mediador através do qual esse relacionamento é possível.
São João nos lembra que a vida sempre esteve em Cristo, desde o princípio (João 1:4). A queda não foi um desvio do plano; foi a ocasião para a revelação do plano de redenção que sempre existiu em Cristo.
A herança do Reino dos Céus pertence somente aos filhos de Deus, e só nos tornamos filhos de Deus quando somos unidos ao Filho único de Deus, Jesus Cristo (João 1:12).
Aplicação
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Rejeite o inclusivismo vago: A cultura moderna nos diz que "todos os caminhos levam a Deus". A Bíblia nos ensina uma verdade mais estreita, mas muito mais segura: há um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus (1 Timóteo 2:5). Sustente essa verdade com amor, mas também com firmeza, pois é uma questão de vida ou morte eterna.
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Agradeça pela sua adoção: Sua posição como filho de Deus não é um direito de nascença; é um privilégio concedido unicamente pela fé em Cristo. Reserve um tempo para agradecer a Deus não apenas pelo perdão dos seus pecados, mas pelo incrível presente de ter sido adotado em Sua família.
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Renove sua esperança no Mediador: Quando você pecar e se sentir distante de Deus, não tente se aproximar com base em suas próprias desculpas ou promessas de melhora. Corra para o seu Mediador. Lembre-se de que seu acesso ao Pai não depende de seu desempenho, mas da obra perfeita de Cristo em seu favor.
3. O Antigo Testamento sussurra o nome de Cristo
Deus nunca deixou Seu povo sem a esperança de um Mediador. Mesmo os patriarcas do Antigo Testamento não foram salvos por seus sacrifícios ou por sua obediência à Lei, mas pela fé na promessa de um Redentor que viria.
O pacto de Deus com Abraão, de que em sua descendência seriam benditas todas as nações da terra, não se referia a todos os seus descendentes físicos. Paulo explica que a "semente" prometida era, singularmente, Cristo (Gálatas 3:16).
A salvação do povo escolhido sempre dependeu de sua conexão com a Cabeça, o Messias prometido.
Quando Deus estabeleceu a realeza em Israel, Ele a concentrou na linhagem de Davi, criando uma imagem viva de Cristo. O reino de Davi se tornou um tipo, uma prefiguração do reino eterno do Messias.
É por isso que os salmos estão repletos de orações que ligam a salvação do povo à salvação do "ungido" (o Rei). O salmista ora: "Salva, Senhor! Que o Rei nos ouça no dia em que o invocarmos" (Salmo 20:9).
Mesmo quando o reino de Israel se dividiu e caiu em desolação, os profetas mantiveram viva a esperança, sempre apontando para a restauração do reino de Davi.
Jeremias prometeu um "Renovo justo" (Jeremias 23:5). Ezequiel falou de um único pastor, "meu servo Davi" (Ezequiel 34:23). Oseas previu que os filhos de Israel voltariam e buscariam "a Davi, seu rei" (Oseias 3:5).
Toda a esperança do Antigo Testamento estava firmemente ancorada em Cristo. Eles O viam através de um véu, em tipos e sombras, mas sua confiança estava Nele.
Aplicação
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Leia o Antigo Testamento com os olhos de Jesus: Jesus disse que todas as Escrituras testificam Dele (João 5:39). Ao ler o Antigo Testamento, não o veja apenas como um livro de regras ou histórias antigas. Procure por padrões, promessas e tipos que apontem para a pessoa e a obra de Cristo.
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Entenda a unidade da Bíblia: Não há dois caminhos de salvação, um no Antigo e outro no Novo Testamento. Há apenas um caminho, revelado progressivamente. Os santos do Antigo Testamento foram salvos olhando para a frente, pela fé na cruz que viria. Nós somos salvos olhando para trás, pela fé na cruz que já aconteceu. Mas o objeto da fé é o mesmo: Jesus Cristo.
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Fortaleça sua esperança nas promessas de Deus: Se Deus foi fiel em cumprir a promessa central de toda a história — a vinda do Messias — podemos confiar que Ele será fiel em cumprir todas as outras promessas que Ele fez a nós em Cristo.
Conclusão
O conhecimento de Deus como um Criador poderoso é acessível a todos através da natureza. Mas após a queda, esse conhecimento por si só não nos salva; ele apenas nos condena, pois revela nossa pecaminosidade diante de um Deus santo.
Para conhecer a Deus como um Pai amoroso, gracioso e perdoador, precisamos de um Mediador. Esse Mediador é Jesus Cristo. Ele é a lente através da qual podemos ver corretamente a Deus. Ele é a ponte sobre o abismo que nosso pecado criou. Ele é o cumprimento de todas as promessas que Deus fez desde o início dos tempos.
O caminho de volta para casa não é um caminho que construímos com nossas boas obras ou com nossa sabedoria. É um caminho que já foi construído para nós. Deus, em Sua infinita misericórdia, não nos deixou perdidos nas ruínas de nossa rebelião. Ele mesmo veio ao nosso encontro na pessoa de Seu Filho.
Portanto, não se contente com um conhecimento vago do Criador. Busque, abrace e adore o Redentor. Pois é somente em Cristo que o Deus Todo-Poderoso se torna, mais uma vez, nosso Pai.
Estudo Bíblico adaptado das Institutas da Religião Cristã - João Calvino / Livro II - Capítulo 6 - "O homem, tendo-se perdido, deve buscar sua redenção em Cristo"
Lista de estudos da série
1. O Espelho Quebrado: Redescobrindo quem somos após a queda – Estudo Bíblico sobre as Institutas2. Vontade Escravizada: Por que não somos livres para escolher a Deus – Estudo Bíblico sobre as Institutas
3. Castelo de Areia: Por que nossas melhores obras não podem nos salvar – Estudo Bíblico sobre as Institutas
4. O Cavaleiro do Coração: Como Deus governa a vontade humana – Estudo Bíblico sobre as Institutas
5. O Espelho da Lei: Por que os mandamentos de Deus nos condenam – Estudo Bíblico sobre as Institutas
6. A Ponte Sobre o Abismo: A necessidade de um Mediador divino – Estudo Bíblico sobre as Institutas
7. A Sombra e a Realidade: Como a Lei do Antigo Testamento apontava para Cristo – Estudo Bíblico sobre as Institutas
8. O Retrato do Caráter de Deus: Uma exploração profunda dos Dez Mandamentos – Estudo Bíblico sobre as Institutas
9. A Alvorada da Salvação: Como Cristo foi revelado no Evangelho – Estudo Bíblico sobre as Institutas
10. O Mesmo Retrato: A unidade fundamental do Antigo e Novo Testamento – Estudo Bíblico sobre as Institutas
11. A Melodia da Redenção: As gloriosas diferenças entre os Testamentos – Estudo Bíblico sobre as Institutas
12. Deus Conosco: Por que o Mediador precisava ser Deus e Homem – Estudo Bíblico sobre as Institutas
13. Carne da Nossa Carne: A importância da verdadeira humanidade de Jesus – Estudo Bíblico sobre as Institutas
14. O Mistério da União: Como as duas naturezas se unem em Cristo – Estudo Bíblico sobre as Institutas
15. O Salvador Completo: Os três ofícios de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei – Estudo Bíblico sobre as Institutas
16. A Obra da Redenção: A morte, ressurreição e ascensão de Cristo – Estudo Bíblico sobre as Institutas
17. O Mérito da Graça: Como a obra de Cristo satisfez a justiça de Deus – Estudo Bíblico sobre as Institutas
