1 João: As implicações e os desafios de ser filho de Deus (9)



1 João 3.1-6

Após João falar sobre a presença do Espírito Santo na vida do crente (2.27-29), o apóstolo retoma sua proposta de fazer testes para comprovar a veracidade de uma conversão. Ele já havia feito isso anteriormente através de dois testes; a saber, o teste moral e o social. 

O teste moral é: “Quem conhece a Deus, não vive pecando. O teste social, por sua vez é: “Quem conhece a Deus, ama o próximo e lhe socorre em suas necessidades”.

Em 1 Jo 3.1-6 retoma o teste moral mostrando as implicações e os desafios de ser filho de Deus. A seguir, refletiremos sobre o modo como João trabalha tais implicações e desafios. 

1. O filho de Deus enfrenta a hostilidade do mundo (v.1). 

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo”.

Primeiramente João convida seus leitores para se maravilharem com fato de que haviam sido constituídos e chamados de “filhos de Deus”.

Eles foram assim constituídos por causa da manifestação de Cristo. Contudo, nem todos os homens conheceram Jesus como o Messias. O verbo conhecer aqui significa ser hostil, ser contra. 

Os evangelhos mostram que muitos foram hostis a Jesus, aos seus ensinos e o crucificaram. Sendo assim, da mesma maneira como muitas pessoas foram hostis a Cristo, também serão hostis aos seguidores.

Essas pessoas são aquelas que representam esse mundo decaído, com valores corrompidos, que não creem em Cristo. Quem é assim, é contra Cristo e contra seus seguidores. 

O ensino básico aqui então é: Quem é filho de Deus sempre enfrentará oposição do mundo. Isso tem sérias implicações para todo cristão. O ato de ter fé em Jesus não é sinônimo de vida tranquila. Pelo contrário, a fé em Cristo é uma declaração de guerra contra esse mundo. 

Jesus alertou: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”(Mt 10.34). Isto é, a fé em Cristo despertará a oposição e ódio contra os cristãos.

William Hendriksen comenta:

“A fé não só cria não só cria divisão entre uma raça e outra, um povo e outro e uma igreja e outra; ainda produz divisão na família que vivem todos sob o mesmo teto” (HENDRIKSEN, 2001, p. 672). 

Portanto, entendamos que num nível maior ou menor seremos perseguidos por causa de nossa fé. Paulo declarou: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12).

Contudo, não se esqueça da promessa feita pelo Senhor: “Não temas as coisas que tens de sofrer [...].Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida (Ap 2.10).



2. O filho de Deus aguarda sua transformação completa (v. 2). 

 “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.

Nesse ponto, João fala do que ocorrerá com os crentes; isto é, sua gloriosa transformação. Algo que é desconhecido pelo mundo e que acontecerá na segunda vinda de Jesus. A glória dos filhos de Deus será semelhante aquela de Jesus. Seus corpos serão transformados (Fp 3.21). Eles não mais envelhecerão, não mais morrerão, não mais pecarão. 

Isso ocorrerá, como já foi dito, na vinda de Cristo. Na sua vinda, aqueles que já morreram ressuscitarão transformados, e aqueles que estiverem vivos serão transformados (1 Co 15.50-52). A ordem desse evento é: Cristo vai aparecer; os filhos de Deus verão como Ele é; esses filhos serão transformados para serem como Jesus. 

Portanto, os filhos de Deus já passaram por uma transformação, no entanto, sua transformação plena ocorrerá na volta de Cristo. Certamente, isso tem aspectos práticos. Vejamos alguns:

1. Essa transformação futura não significa que eu não tenha a responsabilidade de viver em santidade. Pelo contrário, o modo como eu vivo aqui reflete o desejo de como vou querer passar a eternidade. Rick Warren diz que nosso modo de viver aqui é um ensaio para a eternidade. 

Portanto, a vinda de Jesus e a nossa transformação devem ser estímulo para uma vida santa. Sobre esse assunto o apóstolo Pedro escreveu: “Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis (inculpáveis)” (2 Pe 3.14).

2. Temos que trazer à nossa mente que não somos desse mundo. Nunca seremos plenamente felizes aqui. Aqueles que mesmo sendo cristãos, se dedicam apenas à conquista de bens, de sucesso, de condição social se frustrarão. 

É lícito que o cristão deseje um bom trabalho, uma condição econômica estável, no entanto tais coisas não pode ser o centro de sua vida. Isso porque o mundo está sujeito à maldição do pecado, de modo que tudo o homem queira e conquiste, jamais encontrará satisfação plena em tais coisas. É bom que todo cristão se lembre do que escreveu Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Co 15.19).



3. O filho de Deus não vive na prática do pecado (vv. 3-6). 
”E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro. Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”.

Finalmente, João fala de um aspecto prático de ser filho de Deus. Ele não vive no pecado. O pecado na vida do crente é um acidente de percurso e não uma prática contínua. João mostra os motivos pelos quais o filho de Deus não vive pecando. 

Primeiro, porque ele tem em seu coração a esperança de que será como Cristo. Essa esperança, por sua vez, desperta o desejo de vida de pureza no filho de Deus (v. 3). 

Segundo, porque ele tem em seu coração a lei do Senhor e tem prazer em observá-la. Princípio esse que é exatamente o oposto do v. 4 que diz que quem pratica o pecado transgride a lei.

Terceiro, porque Cristo retirou dos filhos de Deus o poder que o pecado exercia sobre eles (v.5). Quarto, porque quem vive na prática do pecado, nunca conheceu a Deus verdadeiramente (v.6). 

Considerando o fato de que o filho de Deus não vive no pecado, devemos fazer a seguinte reflexão: João aborda uma questão conhecida de todos os crentes. Não basta apenas profissão de fé ou a filiação a alguma igreja, mas é necessário que a fé seja demonstrada através dos frutos. Tiago escreveu: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?” (Tg 2.1). 

Diante dessa verdade, surgem as seguintes perguntas: Quais tem sido nossas obras? Elas têm sido compatíveis com a fé que professamos? Nossas ações têm exalado o bom perfume de Cristo ou tem espalhado o odor fétido do pecado? Enfim, temos sido moldados pelo evangelho ou por esse mundo corrompido? 

Atentemos para as palavras de Paulo: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).

Conclusão
Ser filho de Deus é uma condição que tem efeitos sobre o homem. João ensina que o filho de Deus enfrenta a hostilidade do mundo, aguarda a transformação completa e que não vive na prática do pecado. Eis os testes propostos pelo apóstolo. Que Deus em sua graça nos conceda capacidade para sermos aprovados nesses testes.


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