Relevância ou rebeldia?: Uma análise bíblica do movimento emergente – Estudo Bíblico sobre a Igreja Emergente

Você já ouviu falar em “igreja emergente”? Sabe o que ela realmente é? Há muita coisa escrita, mas quando você examina os resultados encontra uma enorme discrepância entre o que se espera e o que realmente acontece. 

A partir de agora trataremos como ela se apresenta e como devemos considerá-la, de acordo com o ensino das Escrituras.

I. OS IDEAIS DA IGREJA EMERGENTE

Isso tem provocado um grande debate entre os estudiosos. 

Enquanto parece a alguns que eles buscam sinceramente algum tipo de solução para problemas reais, os quais a igreja atual se defronta, a outros fica a nítida impressão de que querem apenas parecer diferentes do que as atuais igrejas são, sem um motivo consistente que justifique a necessidade da diferença, a não ser o velho jargão de que o mundo mudou e carece que mudemos também para não perdermos a marcha da história.

A igreja emergente é “um movimento cristão onde as pessoas buscam viver sua fé em um contexto social pós-moderno”. A criatividade e uma perspectiva sem julgamento marca sua tentativa de propagar o evangelho. É possível dizer que estão “emergindo da igreja atual”.

Eles reagem (protestam) ao padrão de igrejas que conhecíamos até aqui, apresentando a proposta de um culto alternativo. 

Encontramos a segunda característica: Erram pelo lado oposto ao que criticam. Se eles criticam as igrejas e a impessoalidade, flutuam de tal modo no que são, que é difícil definir se eles são um grupo, uma denominação ou uma seita. Alguns deles chegam a dizer que são apenas uma “condição”. Existe algo mais artificial do que isto?

Alguns de seus líderes afirmam que adotar um credo, uma confissão de fé ou uma série de normas é uma negação daquilo pelo qual lutam e se empenham. 

Eles variam conforme o contexto cultural e denominacional. Ou seja, querem manter-se como uma “condição”, o que acaba gerando ambiguidade, uma vez que não possuem os mesmos valores e práticas.

II. ALGUNS VALORES DA IGREJA EMERGENTE

Esse movimento possui alguns valores que se destacam, às vezes, positivamente, ou (na maioria das vezes) negativamente.

A. Comunicação

Boa parte de seus integrantes não quebra acintosamente os valores básicos das Escrituras Sagradas — já ouvi uma exposição sobre a total depravação do homem, entretanto, a roupagem com que apresentam essa mensagem está totalmente sujeita às conveniências do público que desejam atingir. O discurso pode até mesmo desdizer o conteúdo da mensagem.

Em igrejas em que ainda há exposição discursiva, do tipo sermão, ou estudo bíblico, ou “bate-papo bíblico”, geralmente se compensa o público com música, ao gosto que prevalece (rock, por exemplo), e efeitos visuais, luzes, gelo seco e outros que caracterizam os grandes eventos mundanos, sempre com a explicação de que são “pontes culturais”. 

Porém, tais pontes culturais funcionam mais como “adornos à Palavra” e visam a criar momentos entre uma e outra atividade, ou a se tornar atividades em si mesmas. Dependendo do público, vale até bermudão e skate.

Os pastores acabam atuando como um “âncora” de TV, que conduz um bate-papo indutivo, levando seus ouvintes a participar do tema que está sendo exposto. É como se você estivesse assistindo a um verdadeiro talk show, muito parecido com o do Jay Leno ou do Jô Soares. Há quem defenda a realização de cultos ao estilo do programa Altas Horas.

Nas igrejas em que a exposição da Palavra já foi substituída por uma peça teatral, ou por uma coreografia, ou por uma peça musical, é impossível saber como aquela terminará. 

Já nas que juntam os elementos acima a uma prédica de autoajuda terminam com uma grande ênfase em um compromisso de fé. 

Ou seja: além da fala há uma parte prática, e acabam assemelhando-se a igrejas neopentecostais, pois, seja pelo alto custo da produção, seja pela necessidade do empenho na autoajuda, há necessidade de se levantar dinheiro.

B. Contemporaneidade

Para esse movimento não interessa muito aquilo que se tem a ensinar, desde que haja alguma utilidade para hoje. Não precisa ser uma autoajuda deslavada, mas precisa ser relevante.

Curiosamente, em algumas publicações que descrevem crítica ou apaixonadamente esse movimento, sempre há um cuidado, mesmo que velado, em diferenciá-lo da teologia da libertação. Porém, quem analisa com calma vê que muita coisa foi requentada. É como se o objetivo fosse: gerar outra igreja para os dias atuais.

Seus integrantes usam, via de regra, dois caminhos: o primeiro é o da ortodoxia e o segundo é o da desconstrução típica do pós-modernismo, em que se nega tudo o que já se recebeu.

Os que seguem a ortodoxia nos parecem simpáticos, entretanto, por adotarem um pressuposto pluralista, creem que tudo o que é novo deve abraçar o que lhe precedeu, mesmo que lhe seja contrário (essa é a ideia básica do livro Uma ortodoxia generosa, de Brian McLaren, Editora Palavra). Fatalmente, na tentativa de agradar a todos, acabam fazendo uma sopa de gosto intragável.

Os que seguem o caminho do pós-modernismo optam por algo tão complicado que simplesmente se recusam a receber o que herdaram. É necessário desconstruir.

C. Entendimento das necessidades atuais

Alguns estudiosos apontam como virtude a proposta de viver um cristianismo contemporâneo de forma autêntica, semelhante ao que foi proposto pelos reformadores do século 16.

De fato, os reformadores lutaram por uma igreja assim para os dias deles. Eles queriam reformar o que chamamos hoje de Igreja Católica Apostólica Romana. Saíram dela (ou melhor: foram expulsos), pois aquilo mexia com as estruturas hierárquicas mais profundas da igreja de então. 

Mas que fique bem claro: os reformadores perguntavam: “O que os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo que escreveram, responderiam a esse problema de hoje (Sec. 16)?”. 

O “movimento emergente” pergunta: “O que e como a igreja está respondendo aos problemas de hoje (séc. 21)?”. E essa resposta pode vir de diversas fontes. Inclusive da Bíblia.

III. O GRANDE PROBLEMA DO MOVIMENTO EMERGENTE

É verdade que a igreja precisa ser relevante em sua cultura, comunicando o evangelho de modo efetivo. Contudo, no intuito de alcançar isso a igreja emergente acaba se deparando com o pluralismo, típico do pós-modernismo.

Infelizmente o resultado não é nada bom e sim preocupante. Abre-se mão daquilo que deve reger a vida da igreja, a Palavra do Senhor.

Isso acontece pois a igreja emergente, querendo ou não, acaba negando a afirmação de absolutos, o que a impede de ser fiel à Escritura. O conceito de verdade absoluta é afetado, desconstruído.

O valor da Escritura está no fato de ela ser a palavra de Deus e, por isso, ser a verdade. Esse é um dos pilares do cristianismo. Embora alguns do movimento enfatizem a necessidade de se voltar à genuína pregação bíblica, na prática não é o que acontece.

Fazendo referência a Dan Kimball, um expoente do movimento emergente, Mauro Meister destaca:

Ele afirma que na igreja moderna o ‘sermão é o ponto focal do culto’ enquanto na igreja emergente ‘o sermão é uma parte da experiência do ajuntamento de culto’; ‘o pregador serve como um despenseiro das verdades bíblicas para ajudar a resolver problemas pessoais na vida moderna... [ele] ensina como a sabedoria antiga da Escritura se aplica à vivência do reino como um discípulo de Jesus’; ‘a mensagem bíblica é comunicada inicialmente por palavras... [ela] é comunicada por um misto de palavras, elementos visuais, artes, silêncio, testemunho e história’. Nesse sentido, a pregação no culto cristão deixa de ser uma exposição objetiva da verdade para ser a experiência individual de uma espiritualidade impossível de ser definida. O conteúdo da pregação emergente, para ser relevante, vê a Bíblia como ‘uma narrativa viva que ilumina a nossa história e não como uma verdade proposicional que deve ser observada’.

Jamais a igreja deve perder de vista que a Bíblia é nossa única regra de fé e prática, mesmo que às vezes ela falhe na aplicação dessa máxima. Ela deve ser o que realmente é: nosso guia eterno, Palavra imutável de Deus (cf. Sl 119.105; 2Tm 3.16-17). Isso é inegociável.

Fundados em uma cultura em que a relevância é o mais importante, a igreja emergente contém desde os que declaram o mesmo que nós, até aqueles que classificam a Bíblia como um livro que merece respeito pela tradição que representa. Como encarar um movimento assim?

¹ Cito apenas como exemplos: A igreja emergente, Dan Kimball; Proibida a entrada de pessoas perfeitas, John Burke; e A igreja na cultura emergente: cinco pontos de vista, Leonard Sweet (editor), da Editora Vida; O que é missão integral, Rene Padilla, Ultimato; Outra espiritualidade - fé graça e resistência, Ed René Kivitz, Mundo Cristão; A New Kind of Christian, Brian McLaren, San Francisco: Jossey-Bass, 2001.

CONCLUSÃO

Costuma-se dizer que a igreja é um organismo e não uma organização. Isso é verdade, mas também é uma idealização, pois, na realidade, antes de sermos um organismo, vivemos cotidianamente como organização. E, como tal, temos uma série de defeitos. 

Corrigir esses defeitos criando outra organização não é um caminho muito sensato, pois os defeitos apenas assumirão outra forma.

O movimento da igreja emergente tem considerações relevantes a serem tratadas por toda a igreja, mas jamais poderemos deixar de lado pontos básicos da fé cristã. O caminho da igreja já está presente, resta que nós, que a integramos, sejamos mais efetivos.

APLICAÇÃO

“Novos” conceitos e ideias sobre a igreja costumam mexer com você? Se isso acontece, o que faz com que você dê atenção a essas novidades, a apresentação bíblica de uma realidade que precisa ser buscada ou algo que parece ser apenas atraente?


Lista de estudos da série

1. A prova de fogo: Como a fé cristã floresce em meio à perseguição – Estudo Bíblico sobre a Igreja Perseguida

Semeando Vida

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