O destino final: A gloriosa esperança da Igreja que reina com Cristo – Estudo Bíblico sobre a Igreja Triunfante

Quando se fala em morte, a maioria das pessoas teme e prefere mudar de assunto. Muitas vezes essa atitude se dá pelo fato de essas pessoas não possuírem segurança quanto ao seu destino após a morte. 

Algumas temem, pois não creem em Cristo e, portanto, não têm a certeza da salvação. Outras até mesmo creem em Jesus, mas pelo fato de terem dúvidas se serão salvas têm dificuldades em falar sobre isso. 

Para o crente esse assunto não deve causar angústia, pois a morte, em virtude da obra de Cristo, coloca o crente na presença de Cristo e o arrola como membro da igreja triunfante.

Nesta lição estudaremos o significado da doutrina da igreja triunfante e veremos que, para o crente em Cristo Jesus, as Escrituras apresentam verdades confortadoras a respeito do porvir.

I. OS MEMBROS DA IGREJA TRIUNFANTE

Quem compõe o rol de membros da igreja triunfante? Igreja triunfante não é mais uma denominação evangélica. É um termo atribuído à igreja que não mais milita aqui na terra e se encontra no céu.

Trata-se da igreja cujo rol de membros é composto de todos aqueles crentes que já morreram, partiram para estar com Cristo Jesus no céu. É chamada de igreja triunfante, pois se refere ao estado de triunfo, vitória, daqueles que já venceram suas lutas aqui na terra e partiram para repousar ao lado do Senhor.

Hebreus 12.18-29 faz um contraste entre o Sinai e Sião, entre o lugar onde havia terror, pela manifestação de Deus a Moisés, e o lugar onde há vida e alegria. 

O autor contrasta o lugar onde o povo demonstrava grande terror e o lugar onde o povo de Deus desfruta da sua companhia, a Jerusalém celestial, a cidade do Deus vivo. 

O Sinai é uma realidade passada, temporária e transitória da antiga aliança, enquanto Sião representa espiritualmente a realidade presente da nova aliança e possui efeitos duradouros. Os membros dessa igreja têm seus nomes inscritos no livro da vida.

A. Incontáveis hostes de anjos

Há no céu um número incontável de anjos. Os anjos sempre tiveram um papel importante no plano da salvação e no serviço a favor dos crentes. 

Eles foram comissionados para entregar a lei de Moisés (At 7.53; Gl 3.19; cf. Dt 33.2; Sl 68.17); constituem um ajuntamento alegre no céu (Ap 5.11-13); ali eles se alegram quando um pecador se arrepende (Lc 15.10) e são enviados para servir a todos que herdam a salvação (Hb 1.14). Tais anjos fazem companhia aos crentes que também habitam no céu.

B. Igreja dos primogênitos

Embora os crentes ainda vivam na terra, aguardando, até serem recebidos no céu, eles já têm seus nomes arrolados no céu. 

A palavra “primogênito”, na maioria das vezes em que aparece no Novo Testamento, refere-se à pessoa de Jesus. Das nove vezes em que aparece, sete se referem a ele (Mt 1.25; Lc 2.7; Rm 8.29; Cl 1.15,18; Hb 1.6; 11.28; 12.23; Ap 1.5). 

O primogênito é aquele que tem direito à herança e pode reivindicá-la. Cristo é o herdeiro de todas as coisas e nós, os crentes, somos co-herdeiros com ele (Rm 8.17). Por meio de Cristo, temos direito à primogenitura e, portanto, à herança celestial. O céu já nos pertence, embora, não o habitemos ainda.

C. Deus, o Juiz de todos

Os crentes são convocados a se apresentar diante de Deus, o Juiz de todos, não para serem condenados, mas para receberem o veredicto de sua justificação. Deus os declara justos por causa de seu Filho, que pagou suas dívidas (2Tm 4.8).

D. Espíritos dos justos aperfeiçoados

Aqui está a base para chamarmos a igreja dos crentes no céu de triunfante. Lá eles compartilham a perfeição. O pecado e a imperfeição são uma realidade passada, terrena. 

Embora os crentes no céu ainda aguardem a ressurreição final, quando serão plenamente transformados, ou seja, em sua totalidade, corpo e alma, eles já desfrutam um espírito aperfeiçoado. Essa perfeição foi alcançada graças à obra redentora de Cristo Jesus, “o Autor e Consumador da fé” (Hb 12.2).

E. Jesus, o Mediador

Jesus também habita o céu. Sua presença na Sião celestial é que estabelece uma atmosfera de alegria e confiança. Os crentes desfrutam sua presença de modo bendito, permanente e abençoador (cf. Ap 21.3).

II. O QUE FAZEM OS CRENTES NO CÉU?

A igreja triunfante não está adormecida ou inerte no céu. Lá os crentes exercem atividades. Haverá uma continuidade do estado intermediário, visto que não se trata do estado final da igreja, ou dos crentes, com o estado final. 

Os crentes no céu já tiveram sua alma aperfeiçoada, mas aguardam o estado final, quando, na ressurreição, com o retorno de Cristo, terão um corpo glorificado. 

Havendo uma continuidade do estado intermediário com o estado final, podemos dizer que as atividades que caracterizarão a vida dos glorificados, no final, servem para falar das atividades que se ocupam os crentes que compõem a igreja triunfante do presente. 

Dessa maneira, é legítimo utilizar textos que falem do estado final dos crentes glorificados para abordar como vivem e o que fazem os crentes no estado intermediário, compondo o rol da igreja triunfante.

Utilizando esse raciocínio, Wllliam Hendriksen, em seu livro A vida futura segundo a Bíblia, Editora Cultura Cristã, apresentou as atividades dos redimidos no céu.

A. Descansam (Ap 14.13)

Os corpos dos crentes que já morreram certamente se encontram repousando na sepultura, aguardando o dia da redenção, mas a alma está descansando das suas lutas terrenas, de seus sofrimentos, de sua luta mental e, sobretudo, do pecado. Não é à toa que, segundo o apóstolo Paulo, morrer e estar com Cristo é incomparavelmente melhor (Fp 1.23).

B. Veem a face de Cristo (Ap 22.4)

No céu, Cristo é objeto da adoração dos redimidos e os seus olhos estão fitos nele. Em Cristo, os redimidos poderão contemplar o Deus triuno.

C. Ouvem e louvam

Conforme Apocalipse 7.9-17, no céu, os anjos, os vinte e quatro anciões, bem como os redimidos de todas as partes do mundo, louvam a Deus e ao Cordeiro. A igreja triunfante não só participa desses louvores, como também ouve esses hinos. Hendriksen pergunta: “Não ouvirá cada redimido o que os outros redimidos, os anjos e Cristo tenham a dizer?”.

D. Desfrutam de prazeres

No céu, tudo quanto os redimidos realizam é agradável e alegre, o que justifica cantar enquanto trabalham. O céu também é chamado nas Escrituras de paraíso. Jesus disse ao ladrão na cruz que nele creu que naquele mesmo dia estariam no paraíso:

Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23.43)

O paraíso é lugar de deleite, onde os crentes desfrutam da presença bendita de Deus e gozam das alegrias celestiais.

E. Agem (Ap 7.15)

A igreja triunfante está no céu, servindo ao Senhor. Esse serviço terá continuidade pela eternidade. Na terra, os crentes são chamados a servir ao Senhor, no céu, aqueles que partiram, continuam a servi-lo. Esse serviço terá continuidade quando o Novo Céu e a Nova Terra forem estabelecidos. Para sempre serviremos ao nosso Deus, em santidade.

F. Vivem

Durante o estado intermediário, em que se encontram os membros da igreja triunfante, eles realmente vivem. Não se trata de algo ilusório. Eles vivem e desfrutam de abundante comunhão. Eles vivem com Cristo e todas as coisas que pertencem ao Senhor, ele as faz partícipes também.

G. Reinam (Ap 20.1-6)

Existem várias interpretações acerca do que significa o milênio em Apocalipse 20.1-6. Há aqueles que pensam que o milênio é uma realidade futura. 

No entanto, um exame mais apurado da passagem mencionada apontará que o milênio é um período de tempo simbólico e se refere ao tempo entre a primeira vinda de Cristo e o seu retorno. 

Mil anos representam um período de tempo completo e limitado. Conforme o texto, nesse período Satanás está amarrado (v. 2 e 3), ou seja, seu poder e ação foram limitados de tal modo que ele não mais pode enganar as nações.

Esse é o período do avanço missionário da igreja, ocasião em que o evangelho é pregado a todo mundo, sem que Satanás possa impedir tal ação. Embora o inimigo da igreja invista contra ela, o avanço desta não pode ser impedido.

 Nesse período de tempo, Cristo reina no céu, em companhia de todos aqueles que foram mortos por causa do testemunho de Jesus e por causa da palavra de Deus, todos quantos se mantiveram fiéis a Deus e não adoraram a Besta:

Vi ainda as almas dos decapitados [...] e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. (v. 4)

Estes que reinam com Cristo são referidos como almas dos decapitados, portanto, tratam-se de crentes em seu estado intermediário, ou seja, trata-se da igreja triunfante que no céu reina com Cristo. Enquanto Cristo reina no céu, os crentes que já morreram reinam com ele, participam de seu reino milenar sobre a terra e todas as coisas.

III. UM ANSEIO LEGÍTIMO

Quem não se deparou com crentes que, por causa de seu estado crítico de saúde ou pelo fato de estarem em idade avançada, desejam partir e estar com Cristo? Seria esse um anseio ilegítimo? É bem verdade que o cristão jamais deve buscar a morte. O sexto mandamento diz:

Não matarás. (Ex 20.13)

Esse mandamento é bastante abrangente, como ensina o Catecismo Maior de Westminster, na questão 135:

Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento? Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões, e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém; por meio de justa defesa dela contra a violência; por paciência em suportar a mão de Deus; sossego mental, alegria de espírito e uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios; por pensamentos caridosos, amor, compaixão, mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e corteses; a longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal, confortando e socorrendo os aflitos, e protegendo e defendendo o inocente.

Embora, de fato, todo cristão deva lutar pela preservação de sua vida, isso não quer dizer que ele não possa desejar partir e estar com Cristo. O apóstolo Paulo é um exemplo disso.

Sua vida foi marcada por grande sofrimento em favor do evangelho (2Co 11.16-33). 

Ele estava preso quando escreveu aos filipenses e, ao que parece, percebia que o final de sua carreira se aproximava. É possível que ele estivesse se sentindo cansado, desejando que o fim logo chegasse para que pudesse descansar. 

O apóstolo não estava pensando somente em si mesmo, visto que declara estar constrangido e dividido, pois, de um lado, desejava partir e estar com Cristo, o que era incomparavelmente melhor, mas de outro, desejava permanecer para auxiliar seus irmãos. Paulo diz que para ele o viver era Cristo e o morrer era lucro. Isso é verdade para todo crente. 

A morte, para o crente, deixa de ser um inimigo, pois Cristo, por meio de sua morte e ressurreição, destruiu o poder da morte. Para o crente, morrer é lucro, pois implica descansar de suas lutas, ser aperfeiçoado, descansar na presença do Salvador.

As Escrituras falam da morte do crente de um modo bastante consolador. 

Hendriksen destaca que “a morte do crente é ‘agradável aos olhos do Senhor’ (Sl 116.15); é ‘ser levado pelos anjos para o seio de Abraão’ (Lc 16.22); é ‘ir para o Pai’ (Jo 14.12, 28); é ‘estar com Cristo no paraíso’ (Lc 23.43); é ‘habitar na casa de muitas moradas’ (Jo 14.2); é ‘uma bem-aventurada partida’ (Fp 1.23; 2Tm 4.6); é ‘estar com Cristo’ (Fp 1.23); é estar ‘presente com o Senhor’ (2Co 5.8); é ‘lucro’ (Fp 1.21); é algo ‘muitíssimo melhor’ (Fp 1.23); é ‘dormir no Senhor’ (Jo 11.11; 1Ts 4.13)”. 

Considerando as propriedades benfazejas da morte para o crente, não é errado o crente desejar fazer parte do rol de membros da igreja triunfante. Esse é um desejo legítimo.

IV. AS BÊNÇÃOS E O CARÁTER PROVISÓRIO DA IGREJA TRIUNFANTE

Aqueles que fazem parte da igreja triunfante desfrutam de bênçãos superiores. Eles participam da presença de Cristo e gozam de perfeição. 

Suas almas já foram aperfeiçoadas (Hb 12.23). O pecado já não mais tem influência sobre eles. No entanto, embora esse estado seja incomparavelmente melhor do que o terreno, essas bênçãos são provisórias.

Os crentes no céu aguardam o dia do retorno de Cristo Jesus, ocasião em que todos os crentes serão plenamente transformados e revestidos da perfeição (1Ts 4.13-18). 

Na ocasião, ocorrerá a ressurreição dos mortos, quando então os crentes, em sua plenitude e unidade, ou seja, em corpo e alma, gozarão de todas as bênçãos da salvação (1Co 15.20-58).

Os crentes no céu aguardam que Cristo complete sua obra. No presente momento, os crentes que estão no céu aguardam o estabelecimento de todas as coisas, quando haverá novo céu e nova terra, e todo o universo, será restaurado do cativeiro da destruição (Rm 8.18-25).

CONCLUSÃO

Enquanto a igreja aqui na terra milita contra o pecado e seus inimigos, a igreja triunfante descansa de suas lutas e fadigas. O estado dos crentes da igreja triunfante é revestido de bênçãos, o que o torna incomparavelmente melhor do que o estado terreno. 

No entanto, embora a igreja triunfante desfrute de bênçãos, esse estado de coisas é transitório e não se compara ao estado final da igreja, quando desfrutará plenamente da salvação e da glória eterna de Deus. 

Até que tudo alcance seu estado final, no retorno de Cristo, fazer parte da igreja triunfante é, para o crente, uma bênção sem comparação, e, desse modo, a morte deixa de ser inimiga, por causa da obra de Cristo.

APLICAÇÃO

Fazer parte da igreja triunfante é uma bênção para o crente. Muitas vezes o sentimento é semelhante ao do apóstolo Paulo.

Por um lado sabemos que estar com Cristo é muito melhor, mas por outro, gostaríamos de ficar mais um pouco, seja para continuar na companhia dos nossos queridos, seja para terminar algum projeto.

O importante de tudo isso, é termos a firme segurança de que, seja partindo para compor a assembléia celestial ou ficando para continuar a fazer parte da igreja na terra, estejamos seguros em Cristo Jesus.

Você possui essa segurança? As obras que você realiza têm sido feitas com os olhos postos no céu? O que você pode fazer para tornar a realidade do paraíso celeste mais presente em seu dia a dia?


Lista de estudos da série

1. A prova de fogo: Como a fé cristã floresce em meio à perseguição – Estudo Bíblico sobre a Igreja Perseguida

Semeando Vida

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